23 de set. de 2012

Capítulo 12

This could not get any better!



— Nate, por favor... — Luke pediu pela octogésima vez, enquanto jogava o corpo para trás.
Nate o estava empurrando.
— Você vai me ver lutar, Bobão. — Nate disse, arrastando Luke até a sua cozinha e fechando a porta. — Posso ir pras quartas de final hoje.
— Legal, mesmo. Mas por que eu preciso ir?
— Quero meus melhores amigos lá. — Nate deu de ombros, soltando os braços de Luke. — É mais do que justo. E ah, se você fugir eu te pego.
Luke tentou desamassar a camiseta que usava.
— Não vou fugir, você já me arrastou. — ele passou as mãos pelos braços. — Cadê o Dan? — Perguntou.
— Deve estar na sala.
— Sua irmã insuportável está na sala? — Nate revirou os olhos.
— Acho difícil... ela demora pra se arrumar.
— Vamos lá. — Luke passou pela porta que dava acesso direto a sala e Nate o seguiu.
Dan realmente estava lá, junto à Julia. A questão é que ele estava por cima dela, fazendo cócegas em sua barriga. Eles estavam deitados no sofá, e Dan fazia de tudo para imobilizá-la e enchê-la de cócegas.
— DANIEL, PRA COM ISSO, PELO AMOR DE DEUS! — Gritou Julia, entre sonoros risos. — SÉRIO, EU VOU MATAR VOCÊ! PARA!
Nate sentiu o sangue esquentar.
Como assim Dan estava por cima de Julia? Assim, no sofá de sua casa? Na maior cara de pau?
— Mas que diabos é... — Ele começou a falar, mas Luke o interrompeu com o riso.
Não agüentando mais aquela situação, Nate avançou para cima dos dois e puxou Dan para cima, fazendo-o sair de cima dela.
— Ei, Nate, qual é?
— Qual é bosta nenhuma. — Nate estava realmente irritado. Iria falar um monte de coisas para Dan, mas decidiu apenas sair dali. Não agüentaria olhar pra cara dele sem diferir um soco na mesma.
— O que aconteceu com esse menino? — Julia perguntou assim que Nate saiu, estranhando tudo aquilo.
— Tem certeza que não sabe? — Luke a encarou com o seu melhor sorriso sapeca.
— Oh... — Dan, de repente, entendeu. — Vou lá falar com ele.
— Certo, vai lá. — Luke disse, ainda rindo.
— Mas... — Julia, ainda se recuperando dos risos, estava confusa. — Eu... não entendi.
— Sério, Juzy? — Luke havia pegado intimidade o suficiente para chamá-la pelo apelido. Sentou-se no sofá e a encarou. — Ele é super a fim de você. — disse como se fosse óbvio.

***


— Nate? — Dan adentrou o porão, onde Nate depositava vários socos furiosos no saco de areia.
— Sai daqui, tô treinando. — Ele foi curto e grosso. Queria realmente descontar toda a raiva ali, naquele saco.
— Ei, cara, para aí. — Dan foi até Nate e segurou seu pulso, fazendo-o parar de bater no saco. — Quer me falar o que tá acontecendo?
Nate respirou fundo. 
Não queria falar a ninguém o que foi aquilo!

Simplesmente por que... ele também não sabia.
— Não tá acontecendo nada... eu estou... ansioso pra lutar, só isso. — Nate olhou para baixo, após encontrar a melhor desculpa que pôde.
— Que feio, Farro. Sentindo ciúme do teu amigo... — Ele sorriu de canto e encarou o mais novo.
— Não é ciúme. — Nate revirou os olhos.
— Poxa vida, hein?! Sentir ciúmes de mim, cara... logo eu! Nossa...
— Não é ciúmes, Dan, e para com isso antes que eu quebre a sua cara. — Nate bufou.
— Eu só tava fazendo cócegas na menina... Não precisa sentir ciúme de mim, sabe, ela não faz o meu tipo...
— Dan. Cala a boca. — Nate estava se segurando para não treinar boxe no nariz de Dan.
— Então assume que tá apaixonado por ela.
— Não estou. — Nate se virou.
— É sério, Nate, vai assumir ou não? — Ele gargalhou. — Por que ficou bem na cara.


***


— Fala sério, Luke. — Julia sorriu e fez que não com a cabeça. Certo, ela sabia que seus pensamentos pervertidos em relação a Nate eram incontroláveis, mas nunca imaginara que ele... poderia sentir o mesmo por ela.
— É sério. Ele tá mesmo a fim de você. A ponto de sentir um ciúme enorme só por que o Dan tava brincando contigo. — Luke sorriu, novamente. — Ou você acha que isso foi o quê? Ciúme, Julia. Encare a realidade, ele tá apaixonado por você.
Julia ficou alguns segundos sem reação.
Até que um sorriso brotou em seus lábios.
Luke gargalhou.
— E o melhor é saber que você acabou de dizer que gosta dele com esse sorriso idiota. — Ele bateu palmas, caçoando totalmente dela.
— Incrível a forma que você se dá super bem em relação aos sentimentos das outras pessoas e, quando se trata de você, dá no que dá. — Ela deu de ombros, tentando inibir mais um sorriso.
Luke apenas riu mais.
— Não me venha com isso. Sei bem o que você quer fazer: parar de falar no meu assunto pra não encarar o seu. Mas quer saber? Eu sei e você sabe melhor do que eu, que vocês dois estão caidinhos um pelo outro.


***


— Nate tá apaixonado, Nate tá apaixonado, Nate tá apaixonado, lalalala... — Dan ia cantando para Nate, que estava realmente irritado com tudo aquilo.
— Apaixonado bosta nenhuma! — Ele gritou — Cala a merda da boca, Dan!
— Nate e Julia, sentados numa árvore, primeiro vem o beijo, depois... Ai! Nate! Para de me bater! — Nate havia dado um soco enorme no braço de Dan.
— Já mandei parar. — Ele bufou.
— Isso só mostra que você realmente a quer. Não procure mentir, não adianta. Eu te conheço, moleque. Você tá apaixonado.
— Não sou obrigado a escutar isso. — Nate desenrolou as luvas das mãos, ficando apenas com as faixas, e saiu andando em passos largos dali.
— NATE TÁ APAIXONADO, NATE TÁ APAIXONADO! — Dan saiu atrás dele, cantando.
— Dan, estou avisando. — Nate disse, subindo as escadas do porão.
— Ei, vocês estão aí. — Josh disse, avistando os dois rapazes. — Vamos?
— Soph já tá pronta? — Nate perguntou.
— Sim, e sua mãe disse que vai encontrar a gente lá.
— Certo, vamos.
Josh passou na sala com os garotos e chamou a atenção de Luke e Julia. Luke estava sorrindo, até ver Sophie descendo as escadas. É claro, ela o impossibilita de sorrir, mesmo.
Todos entraram no carro, e dessa vez, Julia ficou ao lado de Sophie.
Elas conversavam sobre qualquer coisa banal, mas a cabeça de Julia não estava ali. Estava longe...
Nate, sentindo ciúmes? Dela?
Era impossível conter o sorriso.
Mais rápido do que pareceu pra ela, o carro chegou a arena. Nate foi direto com Josh para algum lugar em que os lutadores ficam antes de lutar.
Sophie e Julia se sentaram bem na primeira fila, onde Hayley já as esperava — era seu dia de trabalho mais puxado na empresa, mas não podia perder o filho lutando! Nunca!
A arena foi ficando mais e mais lotada. Alguns minutos depois, começou-se a primeira luta. Que por acaso, era a de Nate.
Ele entrou, novamente, humilde. Estava usando um sobretudo todo em tons de verde, homenageando o exército americano. Entrou no ringue, e o apresentador deu a entrada do outro garoto.
Hayley sentiu um frio na barriga ao ver o garoto entrar. Ele era... maior que Nate. Maior mesmo.
O rapaz entrou no ringue.
— Do lado esquerdo — o apresentador começou —, atual campeão da categoria -12, pesando 60 kilos, de Nashville... Nate Farro! — Nate levantou o braço, sorrindo. — E do lado direito, ex-campeão da categoria -15 pesando 75 kilos, de Herdensonville... Brian Lewis! — O rapaz sorriu e levantou os dois braços. Ele era um campeão, ainda assim.
O juiz se aproximou.
— Vocês conhecem as regras. Três... dois... um... Lutem! — Ele se afastou e os dois rapazes começaram a se rondar.
A platéia estava aos gritos. Nate se aproximou para diferir um golpe no rapaz, afinal, ele precisava se arriscar. Já estavam há quase um minuto sem se tocar.
Tentou dar um jab, mas Brian se afastou e lhe deu um esquerdo na sobrancelha. Nate tentou se defender, colocando os braços na frente do rosto, mas Brian veio com tudo e lhe deu dois ganchos.
Nate caiu.
— Um... dois... três... — A contagem deu início. Nate escutou e se levantou quando o juiz disse o número cinco. Não contava com a força de Brian! Ele era muito grande e forte para ele!
Nate voltou para o ringue. Precisava agüentar, ao menos, até o fim do round.
Conseguiu fugir da maioria dos golpes de Brian pelo primeiro round. Ainda conseguiu lhe dar um jab e fugir de outro gancho.
Até que o sino tocou. O fim do round foi anunciado.
Nate voltou até Josh, que jogou um pouco de água no seu rosto.
— Olha, eu sei que ele é grande, mas você tem que ir pela direita. Ele é canhoto, vai pela direita, você consegue...
Ele cuspiu o protetor de boca e bebeu um pouco da água que estava naquela garrafinha.
— Nate! — Ouviu-se a voz feminina ecoar. — Nate!
— Juzy. — Ele sorriu, vendo-a se aproximar. Seu olho doía um bocado, mas ainda era ótimo vê-la
— Ei — ela disse se aproximando e sorrindo. Josh se afastou um bocado. —, o que houve ali?
— Ele é muito grande. — Nate disse, olhando para baixo. — Mas o meu pai acabou de me dizer a fraqueza dele, e...
Nate teria terminado o que havia dito.
É claro, se Julia não tivesse se aproximado demais e lhe arrancado um beijo breve, que o deixou totalmente surpreso.
— Agora volta pra lá e acaba com ele. — Ela sorriu e se afastou, deixando-o com o que ele tinha certeza que era uma cara de idiota.
Pode deixar. — Pensou.


[...]


O suor escorria pelo rosto do rapaz que ainda era um tanto novo. Na sua sobrancelha, um fio de sangue caía, devido ao soco que havia sido inserido ali. Seu short em diversos tons de verde — em homenagem ao exército americano — estava colado as suas coxas ensopadas de suor.
Sua mão encapada pela luva estava sendo segurada por um homem vestido de branco e preto, um tanto maior do que ele.
Um silêncio torturante se dava na arena. Estavam todos a espera do ganhador.
Até que...
A mão de Nate vai ao alto, levantada pelo juiz, fazendo com que a platéia explodisse em gritos e assobios.
Nate, novamente, havia ganhado uma luta. Estava nas quartas de final! Depois de três rounds difíceis contra um cara maior que ele, Nate havia ganhado.
Mas ele sabia que devia sua vitória a uma pessoa.
Ele pulou o ringue e encontrou os braços do pai, que bagunçaram seus cabelos.
— Isso aí, campeão! — Josh gritou para que Nate escutasse e ele sorriu.
Josh colocou o sobretudo sobre o seu corpo e Nate saiu pelo mesmo local que entrou para lutar, ainda arrancando aplausos e gritos de todos que assistiam.
Os outros rounds foram menos difíceis. Nate havia ganhado força, energia e disposição enorme — também pudera! Quem não fica super hiper mega determinado a vitória após receber um beijo inesperado? —, e pegou Brian despreparado várias e várias vezes. Ganhou por dois votos a um.
Estava feliz.
— Certo, cara. — Josh disse, deixando-o sozinho no local de treino, onde os lutadores se arrumavam e esquentavam o sangue antes da luta. Só haviam dois rapazes do outro lado do lugar, que era bem longe. — Vou deixar a sua mãe no trabalho e já volto pra te buscar, ok?
— Ok. — Nate sorriu, orgulhoso.
— Parabéns. — Josh sorriu para ele e saiu dali, deixando-o vagando em seus pensamentos.
Estava feliz por ter ganhado, mas sabia que só havia ganhado por causa dela. Sabia que devia o que tinha a ela.
E sabia que faria qualquer coisa por ela. Como fez hoje.
— Oi — ele se virou instantaneamente ao escutar a voz de Julia —, e aí.
— Oi. — Ele começou a retirar as luvas. Se sentiu meio idiota.
Sempre sabia o que fazer com as garotas.
Por que não conseguia dizer nada além de “Oi”?
— Parabéns. — Ela disse, finalmente. — Quer dizer, você foi ótimo. Ensinou a ele.
— Só consegui por sua causa, você sabe. — Ele sorriu.
— Legal. — Ela olhou para baixo, sorrindo envergonhada assim como Nate.
— É... hum... aquele... beijo, foi... — Nate tentou encontrar coragem e as palavras certas para perguntar. — ...foi... só pra...
— Te ajudar? — Ela completou.
— É. — Ele olhou para baixo. Já tinha atingido todas as variações do vermelho agora.
— É, também. Mas... — ela sorriu, procurando palavras — ...já tem um tempo que eu queria fazer isso, e... só surgiu o momento... E ainda com hoje mais cedo, eu achei que...
Ela teria terminado a frase. Claro, teria.
Se Nate não tivesse se aproximado bruscamente e aproximado seus lábios dos dela, tomando-a num beijo um tanto urgente e ansioso.
Não sabia bem onde havia conseguido coragem para se aproximar. Na realidade, a vontade de beijá-la novamente era mais forte do que o seu medo, e acabou agindo por impulso.
Ele passou as mãos ainda enfaixadas pela sua cintura e a puxou mais para si. A sensação de tê-la assim, tão perto, lhe dava arrepios por todo o corpo. Uma corrente elétrica passava pelos dois naquele momento. Com aquele beijo que ambos queriam muito.
Nate se afastou.
— Uau — Julia disse —, eu... uau.
— É, eu geralmente causo essa sensação nas mulheres, sabe... — Ele brincou e recebeu um tapa pequeno no ombro.
— Idiota. — Ela gargalhou.
— Mas e aí — Nate sorriu, sedutoramente —, vamos tentar?
Julia sorriu e mordeu o lábio inferior.
— Vamos sim.


[...]


“Please don’t go now, please don’t fade away.
Me deixa me explicar, eu te amo demais. Por favor, não foge de mim.
O meu coração é seu, Luke, por favor, volta pra mim.
S.”
“Para de me mandar mensagem, droga. Você não me ama, e não tem o mínimo direito de usar My Heart nessas idiotices que me manda. Só tá me deixando com mais raiva.
E a partir de agora eu não vou mais responder essas merdas de mensagens.
Me larga, Stephy.
Adeus, L.”


Luke largou o celular no sofá e bufou.
Stephy estava usando de todos os truques possíveis para chamar sua atenção. Ele estava farto dela e das suas mensagens de texto, emails, ligações, cartas, e nessa manhã de segunda, a aproximação cara-a-cara.
— Ela outra vez? — Katt passou em seu salto alto fino pela sala, e viu o filho jogando o celular com raiva no sofá.
— É. — Luke fez que não com a cabeça. — E não precisa dizer “eu avisei”, ok? — Luke disse sorrindo.
Ele sabia que Katt não faria isso, mas se bem que ele achava que merecia.
— Não vou dizer — Ela sorriu com ele. —, estou feliz por você ter terminado com ela.
— Depois de saber quem ela é, eu também. — Luke sorriu e Katt se aproximou, deixando um beijo em sua bochecha.
— Se cuida, lindo. Eu vou voltar pra empresa agora.
— Certo, bom trabalho. — Luke sorriu e viu a mãe sair, toda linda e bem vestida, da sala.
Deixou-se cair no sofá.
Ainda sentia raiva de tudo. Com a pequena exceção de Nate e Julia, que finalmente tinham parado de enrolar. Com uma ajudinha básica dele, é claro, na conversa com Julia.
Mas Stephy ainda lhe dava um bocado de raiva. A traição o fazia se sentir péssimo.
Agradeceu mentalmente à Deus por Stephy não ter aceitado ir às aulas complementares.
Mas em compensação, ele ainda tinha que fingir amar Sophie.
E isso o encheu de raiva novamente.
Tudo era tão terrível que Luke riu de sua própria desgraça. Digo, ter que contracenar uma cena amorosa com a garota que ele mais odeia no mundo e ainda por cima, receber os chifres de uma loira pela qual ele havia sido todo fofo e carinhoso. E o pior: não podia fugir disso. De jeito nenhum.


***


— Sophie, para com isso, ou eu acabo com você. É sério, eu acabo com você. — Julia levou as mãos à cabeça, cheia de tudo aquilo.
— Awn, que linda! — Soph juntou as mãos. — Já está até falando igual a ele! E gente, só com um dia de namoro você já fala igualzinho ao Nate. Meu Deus, Cunhadinha, você é rápida!
Julia respirou fundo.
— Quantas vezes eu vou ter que te repetir que nós não estamos namorando sério?
— Isso é só uma questão de tempo. — Sophie deu de ombros e ajeitou a capa nos ombros. Levava com ela um teclado pequeno, como o professor havia pedido. Elas estavam na frente da casa de Sophie, esperando por Nate.
E bem, Julia estava, realmente, farta de Sophie.
Ela havia passado todo o seu tempo que teve com Julia caçoando. Chamando-a de Cunhada, cantando musicas de amor, brincando de todas as maneiras possíveis, etc.
Julia estava vendo a hora de esquecer que ela era sua melhor amiga e lhe descer o tapa no meio da cara. De verdade.
Mas... bem, ela estava feliz demais para se irritar de verdade com Sophie.
— Certo, vou passar a te ignorar a partir de agora. — Ela disse e retirou os fones de ouvido do bolso, colocando-os no ouvido e apertando o Play no Ipod.
Estava escutando o início da música até que...
— Hey, não me ignore. Eu te proíbo. — Sophie disse após arrancar os fones da orelha de Julia. — Tenho direito de zoar a minha cunhada.
— Eu vou me vingar, Sophie Williams Farro. Vou me vingar. Mesmo, eu vou me vingar.
Sophie apenas gargalhou.
Vingança. Tá bom.
— Vamos? — Nate apareceu, segurando um violão. Bem, a questão é que ele apareceu vindo da casa de Luke, com o próprio Luke atrás dele.
— Ele vai com a gente?
— Vai, ué. — Nate nem se deu ao trabalho de olhar para a irmã. Apenas avançou até Julia e lhe deu um selinho demorado, seguido de um abraço e um sussurro:
 Vamos fazer eles ficarem de vela, pra ver se muda alguma coisa.
— Ótima idéia.
Sophie pigarreou.
— Vamos? — Perguntou, impaciente.
— Deixa os dois namorarem. — Luke bufou.
— Não falei com você. — Ela bufou.
Julia e Nate se entreolharam. Isso seria difícil.
— Vamos. — Julia entrelaçou o seu braço no de Nate e começou a caminhar.
Sophie suspirou ao notar que eles estavam andando mais rápido do que o normal.
Queriam ficar sozinhos, e oras, tinham esse direito!
Mesmo que Nate tivesse atrapalhado de todas as maneiras o seu namoro com Brad, ela queria o melhor para Julia e para ele também.
Segurou bruscamente o braço de Luke e fez um gesto com a cabeça para deixar os dois andarem na frente.
— O que você...
— Cale a boca. — Ela cortou a pergunta dele. — Os dois querem ficar sozinhos. Eles já se gostam tem um tempo e só ficaram juntos agora, então, vamos deixar eles curtirem.
Luke se calou. Sabia que ela tinha razão nessa parte. Nate havia arrastado ele para aquelas aulas para conseguir aquilo, e Nate não tinha uma namorada de verdade desde...
...Nate nunca havia tido uma namorada de verdade.
Mas ter que andar tão perto de Sophie era péssimo. De verdade.
E o pior é que ela teria de ficar perto dele nas próximas duas horas! Atuando, cantando... Era muita tortura!
— Se importa se eu colocar algo pra tocar? Esqueci o meu fone. — Ele escutou a voz de Sophie... sendo agradável. Estavam a pouco menos de dois quarteirões da escola.
Ele estranhou. A ponto de ficar meio sem ação.
— Garoto, eu tô sendo legal com você pedindo pra colocar música só porque você tá do meu lado, então me responda, antes que eu me irrite de verdade com isso. Olhar pra essa sua cara de bunda não faz o meu dia também.
— Cara de... Qual é a sua, sério?
— Eu tento ser educada e agradável e tu me ignora.
— Eu tava pensando no que responder!
— Tudo bem que você é idiota, mas não é difícil responder “sim” ou “não”. — Ela deu de ombros.
— Olha aqui, você não tem a mínima moral pra me chamar de idiota. Idiota é você! — Luke respondeu, nervoso. Detestava não ter como argumentar com Sophie.
— Sério, Julia, você me paga. — Sophie disse mais para ela do que para qualquer outra pessoa.
— Vai colocar a droga da música ou não?
— Não quero mais. — Sophie deu de ombros.
Luke riu.
— Qual é a graça?
— Você é louca, complicada e idiota. Essa é a graça.
— Você é esquisito, idiota, influenciável e retardado, e nem por isso eu fico rindo de você.
— É que em você isso é engraçado, sabe. — Luke apenas deu de ombros enquanto andava e riu mais.
— Ha, ha. — Ela fez uma risada irônica. — Sua namoradinha é que deve tar gostando muito de você estar aqui rindo comigo, né?
Luke parou de sorrir.
De repente não tinha mais graça.
— Não estou mais com ela.
Dessa vez, Sophie riu.
— Por quê? — Disse, entre risadas. — Ela chifrou você?
Luke bufou e não respondeu.
Sophie, vendo o que tinha dito, apenas gargalhou mais.
— Ah meu Deus! Ela... — Ela não conseguiu terminar a frase por causa das risadas. — Bem feito!
— Vai se danar. — Luke revirou os olhos.
— Bem feito! Agora você aprende a confiar nas pessoas certas! Meu Deus, não acredito que ela te traiu. — Sophie apenas ria mais, enquanto virava o último quarteirão. Já dava para ver o colégio aberto. Nate e Julia já haviam entrado.
— Você não tem nada a ver com a minha vida. — Luke bufou.
— Tem razão — Sophie fingiu se recuperar. —, preciso ter consideração. Ser corno não deve ser nada legal.
— Cala a merda da boca, garota! — Luke se exaltou.
— Ei, não precisa ficar com raivinha. — Ela deu de ombros. — Só tô dizendo a verdade, né. Mas sabe, Luke, é nisso que dá namorar vadia. Eu avisei.
— Você não sabe o significado de ‘cale a boca’, né? — Luke perguntou, irado, chegando perto da escola.
— Saber, eu sei. Só que você não manda em mim, né? — Ela imitou o mesmo tom de voz dele e passou a rir depois.
— Menina, cala a desgraça da boca! Que inferno! — Eles adentraram o colégio. — Se eu mandasse em você, você seria uma pessoa menos deplorável.
— Antes deplorável do que corna. — Sophie voltou a rir.
— Antes corno do que ter que te aturar. — Luke rebateu e se virou para ela. — Afinal, não foi você que só ficou uma semana namorando? É, as pessoas enchem o saco de você bem rápido.
— Nós terminarmos por que eu quis — Sophie respondeu tranquilamente —, não por que eu não dava conta do recado e fiz o meu namorado sair agarrando qualquer uma.
Luke deu um sorriso fraco e parou de andar, encarando Sophie nos olhos. Após um suspiro fraco e alguns segundos pensando, disse completamente firme:
— Isso só prova mais que nem você se aguenta e que você não gostava daquele carinha como eu gostava da Stephy. Quando você levar dois pés na bunda das pessoas que você gosta, você vai saber o que é isso, Sophie. Mas, por enquanto, continue assim; Grossa, fresca, ignorante e se achando melhor do que os outros porque tem respostas na ponta da língua. — Finalizou e recomeçou a caminhar, deixando uma Sophie Williams Farro sem nenhuma resposta encarando o nada e refletindo sobre as palavras que acabara de adentrar seus ouvidos.
Soph sentia seu coração levemente acelerado, mas ao mesmo tempo sentia-o ficar apertado, seu estômago revirava levemente enquanto um único pensamento pairava por sua cabeça: como encararia Luke nas próximas aulas que teriam juntos? Estava sentindo-se um tanto quanto culpada por ter falado tantas coisas para o rapaz. Não que ela fosse a total errada da história, mas... Apesar de odiá-lo, doía nela vê-lo naquele estado e saber que ele citara também a vez em que ela o rejeitara sem saber exatamente o que estava fazendo.
Engoliu em seco e se virou para trás, onde Nate caminhava ao lado de Julia sorrindo. Ela tentou sorrir também quando eles se aproximaram, mas, obviamente, sem sucesso. Julia pensara em perguntar o que estava acontecendo, mas a coordenadora surgira do lado de fora informando-os que já estava na hora de entrar para as aulas.
— O que você tem? — Julia perguntou assim que se sentou ao lado da amiga, que se virou para ela com um sorriso no canto dos lábios.
— Nada — Soph respondeu tranquilamente.
— Não pode ser nada, Soph — Julia suspirou. — Você não costuma ficar assim.
— Não é nada — Soph sorriu mais uma vez. — Como vão as coisas com o Nate?
Julia riu, pronta para retrucar. Mas algo a parou.
Gritos.
Nate e Luke.
— Pra quê você tá irritado desse jeito? Eu te avisei, não foi? Eu avisei que ela não prestava! Mas você me escutou? Não! Você continuou todo apaixonadinho por ela! E agora tá todo irritado?
— Porra, Nate! — Ele estava vermelho de raiva. — Foda-se que você e meio mundo avisou! Eu gostava dela! É a mesma coisa que você; se eu chegar e falar que a Julia não presta e ocacete a quatro, você não vai acreditar. Não vai porque gosta dela!
— Sr. Davis! — A voz da Professora ecoou. Ela havia entrado no ginásio na hora em que Luke começara a xingar. — Que palavras são essas? — Ele bufou. Era só o que faltava! — Bem, é bom o Sr. saber que não são tolerados xingamentos na aula de teatro. Isso não é arte, meu amor. Detenção.
— O quê? — Luke se virou para a professora. — Mas eu...
— Ei. Tá decidido, ok? Detenção após a sua segunda aula aqui.
Sophie fechou os olhos.
Sabia que Nate e Luke estavam discutindo por que Nate provavelmente havia avisado ele sobre Stephy, e depois da discussão dos dois minutos antes, Nate perguntara o que aconteceu. E como uma coisa leva a outra, Luke, que já estava irritado, soltou um palavrão.
Coisa que ele nunca fazia.
E a culpa era dela.
— Certo, vamos mudar esse clima. — A professora que já estava descalça, deslizou pela sala. Eles iriam ensaiar as falas dentro da sala nesta aula. — E nada de cara feia, hein, Edward! — Ela se referiu a Luke e deu um sorrisinho agudo. Luke fez uma careta.
A aula passou rapidamente. Sophie se sentiu aliviada por não precisar contracenar com Luke, afinal, a professora Linda estava muito ocupada ensinando aos outros alunos como atuar (Adam, por exemplo, era um dos mais difíceis). Sophie e Luke nem precisaram se levantar, pois a professora sabia que eles tinham todas as falas na ponta da língua e só precisaria deles na hora de ensaiar a peça inteira.
A professora disse que os alunos podiam sair e eles o fizeram.
Sophie foi direto a sala e se sentou no lugar de sempre. Não demorou nada e Luke estava sentado ali, ao seu lado.
— Ei — ela chamou a atenção dele —, foi mal ter te xingado... eu... não devia ter feito isso.
Luke riu de canto, irônico.
— Legal, olha! Você tem consideração.
— Se não quiser aceitar minhas desculpas, que se dane. — Sophie se arrependeu um pouquinho de ter pedido desculpas. Um pouquinho. — Só falei isso por que eu me senti culpada. Mas que se dane mesmo, você ainda é um idiota.
— E é por isso que eu detesto você — ele começou a falar, passando uma mão pelo rosto. Nem se deu o trabalho de olhá-la. — Você mudou pra caramba. Não é mais uma menininha legal e meiga... virou uma adolescente grossa e imbecil. Me erra, Sophie. — Ele parou de falar no exato momento em que o professor pediu silêncio.
— Vocês trouxeram os instrumentos — o professor deu um meio sorriso —, quero ver vocês tocando logo depois da aula teórica de hoje. Vamos estudar Ligaduras.
Sophie sorriu de canto.
Pelo menos estudaria sobre o seu assunto preferido nas aulas de música!
O professor desenhou algumas figuras musicais na partitura já agregada ao quadro branco.
— E isso, pessoal, é uma ligadura de expressão, ou um legato. Vocês podem ver que essa linha curva está sobre...
Sophie levantou a mão.
— Professor! — ela chamou a atenção do homem. — Não é um Legato. Isso é uma Ligadura de Prolongamento.
— Eu acho que sei como dar a minha aula, Srta. Farro.
— Eu sei que sabe — ela sorriu falsamente. — Mas isso está errado. Um Legato é uma linha curva colocada acima ou abaixo de um grupo de notas de nomes diferentes. Aí as notas são...
— Eu sei o que é certo e o que é errado.
— Não sabe não! — Sophie levantou a voz. — Se soubesse ensinaria certo! Eu estudei com os melhores professores do mundo e Ligaduras é matéria de criança por lá! Eu sei bem diferenciar um legato de uma Ligadura de Prolongamento, e o Sr. também deveria saber!
— Você está me respondendo, Farro?
— Só estou dizendo que não está certo!
— Detenção. — O professor disse entre os dentes.
— Como assim, detenção? — Sophie elevou um oitavo a voz. — Eu não fiz nada! Você que não sabe ensinar!
— Saia da minha aula. Agora. Pode ir da sala da diretora direto para a detenção, para aprender a deixar de ser insolente. — Sophie bufou, pegou o seu teclado e saiu em passos firmes da sala.
Não era um bom dia. Estava tudo dando errado.
Foi até a sala da diretora e explicou a sua situação, mas ainda assim, não foi liberada de sua detenção. Ficou quase a hora inteira, lá, explicando para ela o contexto das ligaduras, mas a diretora simplesmente não ligou e continuou mantendo-a na detenção, com a desculpa de que “se ela não houvesse respondido o professor com grosseria, não estaria ali”.
Depois de sair da sala da diretora ela apenas adentrou a sala de detenção e se surpreendeu ao notar que não havia ninguém lá. Apenas um professor esquisito que nem a olhou quando entrou.
— Quando a detenção acaba?
— Quando acabar você saberá. Agora sente, e se fizer algo errado, mais vinte minutos.
— Mas...
— Ei, silêncio. — O professor a encarou por baixo dos óculos.
Sophie se afundou na cadeira e bufou. Aquilo tudo poderia ficar pior?!
Bem, ela se arrependeu profundamente de perguntar aquilo a si mesma.
Pois na mesma hora em que a pergunta se materializou em sua mente, um garoto alto, de olhos azuis e cabelos castanhos ondulados entrou na sala.
Não — pensou ela. — Definitivamente, não pode ficar pior que isso.

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