23 de set. de 2012

Capitulo 13

I hate you. But it was so good...



Sophie olhou para o relógio pela milésima vez naquele dia e suspirou, afundando o rosto nas mãos em seguida.
Duas horas já haviam se passado, e ela continuava ali, olhando para a cara de nerd do professor que passava todo o tempo escrevendo e lendo alguma coisa, e o pior: vendo a cara de tédio de Luke que estava sentado na cadeira do outro lado da sala.
Ao menos isso, pensou ela. Luke não havia se sentado perto dela. Estava bem longe, aliás.
Ele parecia tão entediado e farto quanto ela, era fato. Mas no momento em que Sophie tentava ter um pouco de consideração por ele, a lembrança da discussão que os dois tiveram há dois meses atrás, quando ela estava indo se declarar pra ele, vinha à tona. Assim como todas as vezes que ele fora idiota com ela. Todas as vezes que ele fora frio, e insensato. O ódio tomava conta dela de uma forma incontrolável, mesmo que ela soubesse que tinha errado em aceitar namorar com Brad em seu aniversário.
Mas... se ele gostasse mesmo dela, ele não teria a acusado daquelas coisas terríveis, certo?
E nem ela gostava mesmo dele! Ela o odiava, isso sim.
— Professor — ela escutou a voz de Luke tomar o lugar, chamando a atenção do professor —, quando a detenção acaba?
Sophie fez que não com a cabeça. Sabia que o professor o responderia com grosseria.
E ele abriu a boca para o fazer, mas uma batida na porta da sala de detenção o interrompeu.
— Ei, Draysen — uma mulher colocou apenas a cabeça para dentro da porta. Draysen?! Que raios de nomes é Draysen?! — Estamos com problemas, me mandaram te chamar.
— Problemas? — O professor ajeitou os óculos no rosto. — Que tipo de problemas?
— Problemas, ora — a mulher apontou com a cabeça para os dois alunos na sala, demonstrando que eles não deveriam saber. — Estão chamando todo mundo na diretoria.
— Certo — o professor se levantou. — Se fizerem qualquer coisa fora das regras, vão ficar aqui até o anoitecer. Ouviram? — O professor apontou um dedo para os dois e ajeitou os óculos no rosto.
E saiu da sala quase correndo, fechando a porta com força.
Passaram-se dez minutos e o professor não voltou. Sophie decidiu que não iria ficar ali esperando, sendo que podia fugir e matar a detenção.
Afinal, ela não havia feito nada de errado, certo? E o professor não estava nem ali... De certo não notaria a sua ausência. E ela não estava mais agüentando virar o rosto e ver aquela cara de tédio de Luke. Valia a pena matar aula. Valia muito a pena.
Pegou o teclado e colocou nas costas, levantando-se.
— Pensei que ele tinha dito pra você não se levantar. — Luke levantou os olhos, arqueando uma sobrancelha.
— Não vou ficar aqui esperando ele voltar. E você não tem nada a ver com a minha vida.
— Certo. Vai lá. — Luke sorriu de canto, e recostou a cabeça nos braços que estavam sobre o encosto para livros da carteira.
Sophie bufou e andou até a porta. Girou a maçaneta e a porta abriu.
— Tchau! — Ela disse com empolgação para Luke, que ficava no castigo.
Luke fez que não com a cabeça, deixando um sorriso irônico surgir nos lábios.
— Dez... nove... oito... sete... seis... cinco... quatro... três... dois...
— VOLTE PARA A SALA AGORA! O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO SAINDO DA DETENÇÃO ASSIM, GAROTA?! VAMOS, VÁ PARA A SALA! AGORA!
— Tá, tá, já escutei. — Sophie entrou bufando e largando o teclado em outra cadeira, enquanto se jogava em outra.
A mulher gorda e de voz fina que estava gritando com ela apareceu na sala e a trancou por fora. Quando isso aconteceu, Luke deixou o riso ecoar pela sala.
— Ok, eu ia te dizer que tinha gente monitorando, mas me agradou a idéia de te ver ficando mais vinte minutos aqui.
Quando Luke adentrou a sala de detenção, ele notou que a sala dos zeladores ficava em frente a sala da detenção, e sempre algum zelador vinha pegar utensílios de limpeza naquela sala.
Como qualquer funcionário da escola pode reprimir alunos nos corredores fora de hora, Sophie não sairia ilesa.
— Você sabia que... — Ela parou a pergunta no meio. — Sério, Luke, se ferra.
— Não tanto quanto você deve estar ferrada depois de tentar fugir, não é? — Luke ainda sorria.
— Eu odeio você. — Sophie disse sem nem olhá-lo, e virou o rosto para olhar no relógio outra vez.
O pior era saber que eles ficariam na detenção o quanto o professor quisesse. E agora que ele não estava ali, eles teriam de ficar esperando.
Já passavam das seis da tarde e o dia começara a escurecer. Sophie suspirou ao perceber que Josh chegaria do quartel às seis e meia. Rezou para que Nate encobrisse sua saída.
Não queria que os pais soubessem da detenção. Já bastavam os problemas que estava tendo! Mesmo que ela soubesse que Josh e Hayley não eram muito rígidos em relação a escola, uma coisa é tirar uma nota baixa em uma prova por não saber a matéria. Outra coisa completamente diferente é ficar de castigo por quase mandar um professor à merda.
Nessa questão, Luke estava um pouco menos preocupado que ela. Jeremy só chegaria da gravadora às nove da noite, e sua mãe cobriria uma festa novamente. Mas ele sabia que se chegasse aos ouvidos de Katt que ele havia xingado o próprio melhor amigo na aula de teatro e ficado detido na escola durante duas horas, ele levaria a maior bronca do mundo.
Eles ficaram sem se falar, cada um em sua carteira, durante algum tempo. Trinta minutos para ser exata.
Sophie estava impaciente. O professor não chegava! Ninguém fica duas horas e meia numa detenção, fica? E além do mais, ela não se lembrava de ver a escola aberta até a noite.
— Cadê esse professor... — Ela ouviu Luke murmurar do outro lado da sala e não respondeu. Estava assim como ele, farta. Era muito tempo! E qualquer que fosse o problema, ele já deveria ter aparecido!
Olhou para o relógio. Josh já estava em casa.
— Merda — sussurrou.
— O que foi? — Luke levantou a voz do outro lado da sala. Soph pensou em responder mal, mas desistiu.
— Meu pai... — Foi só o que respondeu, mordendo o lábio. — Não faz sentido... — Sophie murmurou. — Essa escola não só funciona até as seis e quinze?
— É? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— A escola do Joe só funciona até as seis e quinze... — Sophie se levantou e foi até a janela. A sala onde ela estava situava no quarto andar do prédio da escola, o último andar. Olhou para baixo e viu um zelador jogar o lixo fora e trancar a porta.
— O quê? — Ela desembaçou o vidro da janela para ter certeza do que via. — Merda!
— O que foi?
— Estão trancando a gente aqui! — Ela gritou para Luke que saiu de sua cadeira e foi até janela.
— EI! CARA! A GENTE TÁ AQUI AINDA! EI! — Os dois passaram a gritar para o zelador de baixo, mas o vidro das janelas que estavam trancadas não deixava suas vozes saírem.
Assim, o último zelador do colégio, depois de jogar todo o lixo fora, simplesmente se foi.
Sophie foi até a porta e bateu na mesma diversas vezes, tentando atrair a atenção de quem quer que seja. Mas não havia mais ninguém naquele prédio.
Ninguém além dos dois.
— Merda! Mil vezes merda! — Ela pegou o celular do bolso e tentou ligá-lo, mas ele estava sem carga. — Cadê o seu?
— Eu deixei em casa! — Luke explicou, sentindo a fúria e o desespero adentrarem-no. — Cara, o que eu vou fazer? — Luke já estava tão desesperado quanto ela. Passar a noite na escola? Não. — Minha mãe vai enlouquecer!
— Você acha que só você tem mãe, idiota? — Sophie disse, totalmente alterada.
— Não me xinga, imbecil! A culpa disso tudo é sua!
— Minha? — Ela se levantou, ficando na frente dele.
— Sim, sua! — Ele revirou os olhos. — Se você não tivesse tentado fugir a porta não estaria trancada!
— Se você tivesse me avisado eu não tentaria fugir, retardado! A culpa é sua! — Ela disse quase gritando, com o rosto vermelho de raiva.
— Minha bosta nenhuma! Não sou eu que insisto em quebrar todas as merdas das regras! A gente podia estar saindo daqui!
— Você tá aqui porque seguiu todas as regras, Sr. Santinho? Cala a desgraça da boca e vamos pensar num jeito de sair daqui.
— Você não tem o direito — Luke apontou um dedo pra ela —, de me mandar calar a boca.
— Dane-se — ela respondeu no mesmo tom —, cala a merda da boca. A gente tem que pensar pra poder sair daqui sem se encrencar. Eu não tô nem aí pra você, mas eu não pretendo levar uma bronca.
— Idiota.
— Psiu. — Ela colocou o dedo na frente da boca, indicando silêncio. — Vamos, Soph... pensa... pensa, vai... — ela passou a andar de um lado para o outro, com um dedo em cima dos lábios. — Certo, a escola, sendo um prédio privado, com certeza deve ter uma sala com as chaves reservas, inclusive para o portão. Essa sala deve ser justamente a sala onde guardam os aparelhos de limpeza, ou seja, a que fica aqui em frente. Eu só preciso achar um jeito de sair daqui... Mas como...
— Você é louca mesmo ou sempre pensa alto assim?
— Cala a droga da boca, retardado — ela disse no automático. — Bem... com certeza não tem um pé de cabra guardado no armário da sala.
— Piadista... — Luke zombou.
— Vai à merda. — Sophie revirou os olhos. — Mas com certeza deve ter um clipe de papel ou um grampo.
E então, os olhos dela de repente ganharam brilho.
Ela correu até o arquivo no canto da esquerda.
— Você, vê se tem clipe de papel ou qualquer coisa que dê um arame na mesa do professor. — Ela apontou para Luke, que bufou e obedeceu.
Sophie abriu o armário e vasculhou tudo ali. Mas só havia papéis sem clipes, presos em pastas. Ela praguejou baixo.
— Achei. — Escutou Luke dizer, balançando um clipe de papel na mão.
Sophie sorriu e foi até ele.
— Que bom. Pelo jeito você presta pra alguma coisa. — Ela disse tentando pegar o clipe de papel da mão dele.
Luke riu sem vontade, colocando a mão numa altura que ela não podia alcançar.
— E você presta, é claro. Presta para discutir com professores e magoar as pessoas. Parabéns, Sophie!
— Cala a boca e me dá isso! — Ela gritou irada, tentando alcançar o clipe.
— Não, você não tem o direito de me mandar calar a boca quando a culpa de nós estarmos aqui é sua!
— Minha bosta nenhuma! — Ela rebateu. — Eu não mandei você xingar o Nate na aula! Eu não mandei você não me dizer que tinha gente monitorando a sala! A culpa é sua!
— Ah, é? — Ele continuou se afastando. — Mas por que eu xinguei o Nate? Por sua causa, e por isso eu vim pra cá. Por que eu não disse que tinha gente monitorando? Por que você me mandou pra cá. No fim tudo leva a você, garota idiota!
— MAS EU PEDI DESCULPAS POR ISSO! NÃO SOU EU QUE ESTOU TENTANDO TIRAR A GENTE DAQUI? — Ela gritou, dessa vez, pulando para pegar o clipe. — Sem essa merda de clipe de papel pra fazer os arames eu não vou tirar você e eu daqui, idiota! Deixa de ser esse orgulhoso filho da mãe e me dá a desgraça do clipe!
— Pede direito! — Luke ainda mantinha a mão no alto. Sophie parou de pular e se afastou, suspirando.
— Luke, me dá essa merda.
— Isso não é pedir direito. — Ele sorriu ironicamente.
— Me dá ou passa a noite aqui. Tá bom pra você assim? — Ela o encarou sem sorrir, com uma expressão nada agradável.
Luke bufou e se aproximou dela, estendendo sua mão com clipe para ela pegar.
Mas quando ele fez isso, o clipe de papel caiu no chão, um pouco longe da porta. Luke e Sophie foram ao mesmo tempo tentar pegá-lo do chão...
...e o pé deles chutaram o único clipe de papel para baixo da porta.
— AAAAAH! — Ela gritou irada, batendo os pés no chão. — IDIOTA! VOCÊ CHUTOU O CLIPE! COMO A GENTE VAI SAIR DAQUI SEM O CLIPE, IMBECIL? IDIOTA, IDIOTA, IDIOTA!
— IDIOTA É VOCÊ, A CULPA É SUA! — Ele rebateu no mesmo tom de voz.
— EU ODEIO VOCÊ! POR SUA CAUSA A GENTE VAI FICAR AQUI A NOITE TODA!
— EU ODEIO TE ODEIO MAIS! VOCÊ É A ÚNICA IDIOTA DAQUI! — Ele gritou com fúria.
Sophie, que estava louca de raiva, lhe diferiu um soco no peito, gritando de ódio.
— Você me bateu! — Ele se sentiu ofendido.
— VOCÊ VAI ME FAZER FICAR AQUI A NOITE TODA! ARGH, INFERNO, EU ODEIO MUITO VOCÊ!
— Mas isso não te dá o direito de me bater! Nem o meu pai bate em mim!
Então ela lhe socou outra vez, e outra vez, e outra vez, e outra vez, no peito. Ela estava morta de raiva, e a única forma de descontá-la era batendo em algo. No caso, Luke, que estava bem perto.
Diferiu vários socos no peito de Luke, e farto de tudo aquilo, ele segurou os seus braços com força e a empurrou na parede.
— ME LARGA! — Ela gritou.
— Não — ele respondeu com o rosto ainda vermelho de raiva. Prendeu os braços dela na altura da cabeça, deixando-a indefesa.
Naquela posição, Sophie foi forçada a olhá-lo nos olhos. Aqueles olhos azuis nunca estiveram tão brilhantes de raiva, que ela se lembrasse.
E Luke, também foi forçado a olhar os olhos castanhos que ele um dia tanto adorou, e que agora estavam brilhantes de fúria.
E assim, eles ficaram por alguns segundos. Apenas se encarando com raiva. Presos, um no olhar do outro. Eles não conseguiam desviar. Não conseguiam parar! Mal conseguiam piscar!
— Me larga — ela sussurrou, ainda sem conseguir desviar o olhar. Ela não havia percebido que os olhos dele já estavam tão perto dos seus.
— Não — ele respondeu apenas.
A muito custo, Sophie abaixou o olhar. E então, o chutou com força na perna esquerda.
Acontece que ela usou força demais.
Luke sentiu uma dor insuportável que o impediu de colocar peso na perna. Desequilibrou-se e caiu no chão, puxando Sophie e fazendo-a cair do lado dele.
Luke gritou de dor. Apoiou a mão esquerda no chão e jogou o corpo para o lado, para equilibrar-se numa posição que geralmente usava para fazer flexões. Mas quando passou o braço para o outro lado, notou que o tinha passado por cima de Sophie, que agora não podia se levantar.
Mas ela não reclamou. Sua cabeça estava virada, olhando os músculos do braço que estava tão perto de seu ombro. Nunca havia notado antes, mas... eram tão grandes e bem definidos, mesmo com a camiseta por cima! Eram tão... perfeitos.
Deixou de prestar atenção nos braços definidos de Luke quando sentiu seu hálito no pescoço. Levantou os olhos e deparou-se com aqueles lindos olhos azuis, idênticos ao do pai, encarando-a com mistério. Eles brilhavam, sim, brilhavam muito. Como nunca haviam brilhado antes, ela podia dizer. A prendiam de forma tão intensa...
Sophie não pensava, assim como Luke. De repente não conseguia mais falar, ou pensar, e mal respirar. Seu olhar estava preso nos traços faciais de Luke que eram tão lindos e perfeitos. Sua boca, vermelha e carnuda, com os dentes perfeitamente alinhados. Seus olhos azuis penetrantes. Sua pele recém-barbeada. Ele todo.
O seu coração acelerou, assim como o dele. Luke estava muito perto dela. Não conseguia desviar o seu rosto do dela. Não conseguia mexer os braços para sair dali. Não conseguia desfazer a “gaiola” que havia feito.
Só conseguia olhá-la, e sentir...
Bem, sentir uma vontade absurda de deixar-se cair e beijá-la.
E essa mesma vontade tomava conta de Sophie gradativamente. Seu olhar ainda estava preso em seus lábios perfeitos, e o coração dela apenas aumentava os batimentos.
Luke havia crescido tanto! Aqueles traços sapecas de quando eles eram crianças tomaram formas adultas. Ele tinha traços masculinos e fortes, mas que ainda assim, mantinham aquele ar de menino.
Aquele ar de menino que ela tanto amara nele... há uns anos atrás.
Até que, enfim, os braços de Luke não se agüentaram mais, deixando-o descer e tomar os lábios daquela garota de cabelos vermelhos. Desceu de repente, direto para ela, beijando-a com ardor.
Nada mais passava pelas suas cabeças. Absolutamente nada. Eles só queriam continuar com aquele beijo, aquele beijo intenso e forte, que lhes tomava todo o ar. Suas línguas se entrelaçavam urgentemente, naquele beijo cheio de desejo e saudade; saudade do tempo em que os dois eram um do outro. Saudade da época em que eles não precisavam se importar com nada, apenas, com as brincadeiras e com a música.
Uma corrente elétrica passava pelos seus corpos, e o beijo apenas ficava mais profundo. Eles não pensavam, não raciocinavam. Não lhes passava pela cabeça que aquilo tudo era absolutamente errado — para eles. Não lhes ocorria que eles estavam na escola e que eles se odiavam. Naquele momento, isso não passava pela cabeça deles, e eles simplesmente não se importavam.
Poderia ser a saudade, a vontade, a carência, ou mesmo o extinto. Mas eles não queriam se separar. Não queriam separar suas bocas. Apenas queriam continuar sentido o gosto um do outro, viciados naquilo. Queriam continuar até o último vestígio de ar lhes faltar. Queriam apenas continuar com aquele beijo intenso e ardente que os estava consumindo.
O desejo e a vontade de continuarem lhes tomavam por inteiro, mas infelizmente, não aos seus pulmões que ainda necessitavam de ar para funcionar. E quando eles imploraram por ar, alguns minutos depois, Luke e Sophie se viram obrigados a se separarem.
Retirando sua boca delicadamente da dela, Luke levantou-se devagar.
E então a consciência do que havia acabado de fazer lhe atingiu como uma bola de boliche atinge os pinos, formando um enorme strike.
Deixou-se cair na carteira e passou uma mão pela boca vermelha pela intensidade do beijo.
— Eu... Eu... — Luke virou o rosto, e viu Sophie com o olhar vago e aparentemente amedrontado, tentando dizer alguma coisa. — VOCÊ ME BEIJOU... EU... ARGH!
— CALA A BOCA! VOCÊ ME BEIJOU TAMBÉM!
— EU... EU... — Ela falava alto. Parecia não ter coordenação de seus atos.
Luke passou as mãos pelos cabelos e se preparou para falar. Sophie também fez o mesmo, e eles acabaram falando a mesma frase ao mesmo tempo:
— Se você contar pra alguém, eu... — Eles se entreolharam. — Você o quê? — Disseram ao mesmo tempo novamente.
— Só não conte pra ninguém — Sophie bufou —, porque...
— ...Eu ainda odeio você.
— É, isso aí. Igualmente. — Ela respondeu fazendo gestos confusos com as mãos. Não parecia saber do que estava falando. Nem ligava, na verdade. — Eu te odeio de verdade.
— É, eu também. Muito mesmo.
— Aham. Te odeio pra caramba. — Ela se levantou.
Luke também se levantou.
— Isso aí. Eu também. Mas...
— ...Foi bom.
— É. Mas eu ainda te odeio.
— Eu também, eu também! — Soph levantou os braços. — Mas foi bom.
— Melhor do que eu esperava. — Luke deu um passo.
— Mas eu odeio você!
— Te odeio também. — Sophie deu mais um passo.
— Eu te odeio demais. — Luke se aproximou mais, ficando agora, em frente a ela.
— Igualmente.
— O meu ódio por você é maior que qualquer ódio que eu já senti. — Luke sussurrou, pousando os olhos em sua boca vermelha.
— O meu ódio por você é maior que qualquer sentimento que já tenha existido dentro de mim. — Sophie retrucou, aproximando-se mais, e com os olhos fixos nos lábios perfeitos de Luke. Suas palavras estavam apenas saindo da boca, devagar, e muito baixo, num sussurro.
— Eu te odeio mais do que tudo. — Luke já sentia o hálito fresco dela no queixo. Instintivamente, passou a mão esquerda pela cintura dela.
— Eu te odeio mais do que qualquer pessoa. — Depois de levantar o braço algumas vezes, ela acabou deixando-se levar e passando uma mão pelos seus cabelos bagunçados.
— Eu te odeio mais... — Luke tentou terminar a frase, mas Sophie mordeu o lábio inferior.
Ela mordeu o lábio inferior.
Luke não se controlou e se aproximou outra vez, devorando os lábios de Sophie em outro beijo — o segundo da noite! — ardente. As mãos dela passeavam pelos seus cabelos, bagunçando-os, enquanto suas línguas estavam entrelaçadas.
Uma corrente elétrica passeava livremente pelos seus corpos, deixando-os completamente animados e arrepiados.
Era como se estivessem viciados na boca um do outro. Não conseguiam se separar. Não conseguiam parar de sentir o gosto um do outro. Novamente, não pensavam. Queriam proximidade, e era exatamente por isso, que Luke apenas apertava mais a sua cintura contra si, e Sophie mantinha as mãos firmes em sua nuca.
Eles ficaram assim, se beijando calorosamente, até que um barulho enorme os fez se separar bruscamente.
— SOPHIE! VOCÊ ESTÁ AÍ?
— Sim, é, estou! — Ela respondeu confusa, passando a mão pela camiseta, tentando se ajeitar, após ter empurrado Luke rapidamente e dado dois passos para trás.
De repente a porta foi arrombada, e um rapaz de farda verde adentrou a sala. Ele puxou um rádio do cinto e começou a falar:
— Ei, General? Achamos. Quarto andar, sala de detenção. — Então o rapaz recolocou o rádio no cinto. — O que vocês estão fazendo aqui? — Ele perguntou para os dois, que ainda estavam meio pasmos com a situação.
— Olá, Harrison. — Sophie disse, levantando uma mão e cumprimentando o cadete do pelotão de seu pai que ela já havia conhecido.
— Oi, little Farro. O que você está fazendo aqui? São mais de sete e meia da noite!
— Nos esqueceram e nos trancaram aqui. — Luke tentou ajeitar os cabelos enquanto os dois conversavam.
— Seu pai vai colocar todo mundo na cadeia — O Soldado Harrison brincou, rindo um bocado. — E você, quem é?
— Luke Davis, amigo do General também. — Luke respondeu meio sem jeito, sem saber se devia estender a mão ou não. O cumprimento militar do rapaz o fez descartar a opção.
— Pode ir, Soldado. A polícia cuida do resto — Josh adentrou a sala, vestido em sua farda militar, marchando perfeitamente. — Obrigado pela ajuda.
— Sempre, General — Harrison levou uma mão a testa e Josh fez o mesmo. Ele saiu da sala.
— Eu estava quase ligando para a sua mãe — ele se virou para Sophie —, e que história é essa de detenção? E o que você está fazendo aqui, Luke?
— A culpa não foi minha, pai. — Sophie disse baixo. — O professor explicou mal a matéria, eu discordei e ele me mandou pra cá.
— Certo. — Josh os encarou mais um pouco e arqueou a sobrancelha. Luke estava com o cabelo completamente bagunçado e mal conseguia encará-lo. Ambos estavam vermelhos (a boca, principalmente) e amassados. Ele sorriu quase imperceptivelmente de canto. — Vou levar vocês pra casa. E nós temos que conversar sério, viu, mocinha? — Ele deu ombros e começou a andar, fazendo Sophie ficar ao seu lado e Luke apenas segui-lo.
Rapidamente ele entrou no carro. Sophie entrou no banco da frente, fazendo assim, Luke se sentar atrás. Decidiu que não queria proximidade com ele agora.
Havia uma viatura de policiais na frente do colégio, que conversavam com a diretora que havia sido chamada.
— Ela vai perder o cargo — Josh disse, ligando o carro. — Ninguém deixa dois adolescentes presos numa sala. Ela vai perder o cargo, e só não vai presa por que eu estou de bom humor.
Sophie suspirou. Sabia que o pai tinha poder sobre aquela cidade quase inteira.
Não demorou muito e o carro já estava estacionando na garagem dos Farro. Luke saiu antes que ele o fizesse.
— Eu não liguei pros seus pais, não sabia que você estava lá.
— Tudo bem, tio. — Luke sorriu. — Não tem problema.
— Certo, até mais. — Josh sorriu e o rapaz se foi.
Mas não antes de olhar para Sophie e compartilhar do ódio que os tomava. Ela sibilou um “Não conta pra ninguém. E eu te odeio.” e ele concordou discretamente com a cabeça.
Josh entrou na garagem, e quando Sophie se preparava para sair, ele segurou o seu braço.
— Que foi, pai? — Ela perguntou com um bocado de medo.
— A gente tem que conversar. — Ele respondeu e deu um sorriso de canto, fazendo Sophie relaxar um pouco.
— Pai, olha, aquele professor é retardado. Eu avisei que a ligadura de prolongamento não era...
— Não é sobre isso que eu quero falar com você, amor — Josh sorriu.
— Então...? — Sophie estava confusa.
— Olha — ele começou —, eu sei que você é adolescente e tudo, mas... Beijar um rapaz na sala de aula é bem errado, não é? Mesmo que vocês estivessem presos lá dentro e mesmo que o rapaz seja o Luke e mesmo que eu goste muito da idéia de vocês dois.
Sophie sentiu o sangue gelar.
— Mas eu não beijei o Luke! — Respondeu um oitavo acima da voz.
Josh sorriu.
— Não?
— Não! — Ela negou novamente. — Eu odeio ele!
— Odeia, odeia. — Ele fez que não com a cabeça. Eu já vi essa história antes.
— É sério, pai. Eu odeio aquele garoto.
— E não beijou ele?
— Não!
— Certo, Soph. Tudo bem. Mas eu só te digo uma coisa: — Josh suspirou — Fique longe de elevadores.
Sophie se confundiu.
— O quê?
— Apenas obedeça. — Josh abriu a porta e saiu do carro, deixando Sophie fazer o mesmo.
Certo, ela havia mentido para o pai. E isso não era nada certo.
Mas ela não mentiu quando disse a ele que odiava Luke! Ela odiava! O que aconteceu naquela sala foi apenas... um surto carente. É. Apenas isso. Curiosidade, talvez. Mas ela ainda o odiava com todas as forças!
Suspirou, jurando a si mesma que isso jamais aconteceria outra vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário