23 de set. de 2012

Capítulo 42

Everybody loses control



Julia fechou seu diário após narrar as partes mais e menos interessantes de seu dia como sempre fazia e acrescentar algumas palavras bobas e sentimentais sobre a saudade enorme que sentia de Nate.
Era uma segunda-feira e dia de Social (já que os alunos faziam suas festas “clandestinas” em dias incomuns para não levantarem suspeitas), mas Julia não sentia a mínima vontade de ir dessa vez. Mesmo que um punhado dos amigos que tinha feito lá houvesse chamado-a para a festa, ela não queria. Não queria se divertir, não queria ficar com nenhum daqueles meninos. Só queria... se sentar em sua cama e sentir a saudade corroê-la por completo, enquanto escrevia sobre isso e sentia o cheiro de Nate impregnado no moletom que ele havia lhe dado.
Ah, como ela detestava todo esse sentimento doído e idiota. Realmente odiava ter de sentir tanta saudade, por que isso tomava seus pensamentos de uma forma martirizante. Ela sonhava acordada relembrando os momentos perfeitos que teve com Nate ou fantasiando o dia em que eles fossem se encontrar novamente. Ou então, quando dormia, sonhava que estava com ele em seu quarto, ou no dela, ou em qualquer outro lugar. E ela sempre o abraçava e o beijava como se soubesse que aquilo era um sonho e que acabaria a qualquer momento. Então acordava com lágrimas nos olhos, odiando estar ali e não ao lado dele.
Era apenas... tão difícil.
Julia achava que estaria sendo difícil para ele também e tinha quase certeza disso. Mas cada vez que a saudade apertava e ela parecesse que fosse se deteriorar de vontade dele, repetia para si mesma que era uma situação temporária. O que seriam alguns anos de sofrimento se ela poderia ter o resto de sua vida ao lado dele?
Esse pensamento conseguia acalmá-la um pouco, aplacar um pouco da dor. Quando estava sozinha com seu caderno, era mais fácil senti-la. A dor, quero dizer. Por isso ela estava sempre em Sociais, cercada de pessoas que conhecera e convivia nas aulas, mas que na verdade só se libertavam nas festas. Havia descoberto que na realidade poucas pessoas daquele colégio interno realmente se esforçavam em aprender ou entrar para alguma boa faculdade. As regras eram muito rígidas, mas a maioria dos alunos só queria um pouco de diversão, e por isso aconteciam as Sociais; sem data marcada, sem planejamento, sem ninguém saber. Apenas alguns alunos eram convidados e ninguém dedurava as festas, levando em conta que elas eram planejadas e realizadas pelos maiores valentões e “traficantes” (que, de alguma maneira misteriosa, traziam bebidas, cigarros e utensílios de fora para dentro do internato. Foram eles que haviam conseguido o celular de Julia de volta.), e todos sabiam que quem mexesse com eles ou os contrariasse nunca se davam bem.
Felizmente a beleza exótica e a personalidade forte e engraçada de Julia fizeram com que eles a adorassem logo de cara. Na verdade, poucas pessoas realmente não haviam gostado de Julia de cara. Apenas algumas loiras de pele albina que se faziam de santas nas aulas, mas freqüentavam as Sociais e se embebedavam idiotamente. Julia as detestava também.
Mas de qualquer forma, o ódio das vadias do internato, as Sociais e as pessoas legais que conhecera, sem contar os professores esquisitos e bravos, fazem com que o seu dia-a-dia fosse menos doloroso do que a sua noite. Mesmo assim ela tentava fazer o que Nate e ela combinaram. Seguir a vida, e quando ela tiver de juntá-los, ela juntará.
Porém, sinceramente, Julia não estava a fim de uma Social agora, em plena segunda. Inventaria um mal-estar qualquer para os garotos no dia seguinte, eles acreditariam fácil, já que ela não era de dispensar uma festa.
Colocou o seu diário debaixo do colchão como fazia usualmente e pegou o celular que também estava guardado lá. O quarto seria todo dela, já que Susan estava na festa. Susan também era uma garota legal e tinha um sotaque engraçado, por que mesmo que fosse britânica, morara cinco anos no Brasil. Julia agradeceu a Deus por ter uma colega de quarto que não fosse uma loira-bêbada.
Checou os créditos e suspirou vendo que não havia muito mais do que para realizar uma ligação. Teria de comprar mais minutos com os Traficantes. Então discou o número da melhor amiga, já que fazia quatro dias que não se falavam, e ainda foi por um tempo curto, pois Sophie estava ocupada arrumando os preparativos para a festa de casamento de Josh e Hayley.
— Vaca! Saudades de você! — Julia disse animada e Sophie deu uma risada. Mesmo que Julia não estivesse lá, soube na hora que algo havia acontecido.
— E aí, maior vaca de todas — Sophie respondeu, tentando animar-se.
— Hum... aconteceu alguma coisa? Sua vozinha tá triste — Julia disse para o telefone.
— É... o dia tá sendo longo e difícil — Sophie suspirou.
— Finja que estou aí do seu lado te olhando compreensivamente — Julia arrancou outra risada da melhor amiga —, e me diga o que aconteceu.
— Stephy vadia foi o que aconteceu — Sophie disse, bufando. Stephy! Há quanto tempo Julia não pensava nessa grande vaca? Bem, fazia muito, muito tempo. Mas logo tudo de mal que ela fez lhe veio à mente junto com o ódio que sentia dela. Lembrou-se de quando lhe deu uns tapas. Bons tempos. — Passou a manhã inteira me irritando, fazendo ciúme com o Luke, me acertou duas boladas no vôlei... aí ela veio conversar e falou mal de tudo, sabe? Veio jogar na cara o tempo que passou com Luke, e, por fim, disse que sabia da história da Danna e basicamente xingou todos os meus irmãos.
— Vadia — Julia cuspiu. — Sei bem como é isso. Ela chega e atira pra todos os cantos pra procurar o teu ponto fraco, e quando acha, bate na mesma tecla. Me diga que você deu uma surra nela.
— Ah, poderia ter dado mais — Julia teve que rir do comentário da amiga. — Mas retirei um bocado de sangue da cara de merda dela. Ela saiu chorando.
Julia gargalhou com vontade.
— É assim que se faz! Tô orgulhosa de você! Ai, ai! — ela disse, ainda rindo, e escutou Sophie dar uma risada não tão animada do outro lado da linha. — Mas... bem, isso não é um motivo pra você ficar tristinha, certo? Eu acho que nem a sua mãe vai brigar contigo por isso, por que né...
— A minha mãe não, mas Luke... — ela deixou a frase morrer e Julia mordeu o lábio, de repente, entendendo.
— Ele brigou contigo?
— A gente teve, talvez, a pior discussão desde sempre — ela sussurrou num fio de voz, mas depois se permitiu dar uma risada. — Tá, a pior não. Mas fica entre a top 5.
— Mas como assim? — Julia sentou-se por cima das próprias pernas, trocando o telefone de orelha. — Eu sei que o Luke é todo certinho e tudo, mas... a vadia mereceu!
— Tenta explicar isso pra ele, Juzy — ela disse do outro lado da linha com a voz triste. — Nós discutimos muito feio. Eu disse pra ele que tinha batido e expliquei o porquê, mas ele insistiu dizendo que não era a melhor solução, e nós começamos a gritar... E também discutimos por que a Stephy disse que ele tinha contado pra ela sobre a coisa da Danna.
Julia resmungou.
— E contou? — perguntou.
— Ele disse que não. Acredito. — Ouviu a voz da amiga, ainda triste e cabisbaixa. — Luke não é de mentir, ao contrário dela, que pode ter sabido de outra maneira. Mas de qualquer forma, a gente gritou um com o outro, e ele disse algo sobre o meu lado “frio e ciumento” e eu perdi a cabeça também. Comecei a chorar, e... — Sophie deixou a frase morrer e Julia percebeu que ela estava realmente chateada com a situação.
Garotos têm o dom de serem idiotas às vezes, é sério.
— Mas gente, o Luke virou um idiota e eu não vi a transformação? — ela disse e escutou a risada de Sophie. Só Julia para fazê-la sorrir uma hora dessas. — Olha, Soph, você sabe que garotos são realmente imbecis às vezes, e o Luke não é exceção. Ele é certinho demais e pode não ter visto a coisa da briga direito...
— Disso eu sei, eu também nunca pensei que ele fosse aprovar o meu ato de brigar com ela ou algo do tipo. A questão, Juzy, é que ele deixou como se eu fosse a única culpada, e ainda disse algo sobre “eu não amo esse seu lado”. E isso me fez pensar que... ah, sei lá, ele não goste de mim como eu gosto dele. Por que mesmo sendo insuportável e confuso em alguns pontos, eu amo tudo isso nele. Mas ele não, ele quer que eu mude, mas é assim que eu sou, Juzy. Eu não vou deixar de bater ou brigar com alguém por ter mexido com a minha família. É a minha família, cara. — Sophie ia dizendo tudo se controlando para não embargar a voz. Julia soube que pelo menos uma lágrima ela havia deixado rolar.
— Olha, tira isso da cabeça. Eu já vi a relação de vocês e mesmo quando vocês diziam se odiar, tava na cara que ele te amava mais do que tudo. É um problema normal a gente querer que o outro mude por alguma coisa que a gente não concorda, entende? Não é por que ele te ame menos. É sim, idiotice dele não entender o seu ponto, por que ninguém deixaria de defender a própria família dando uns tapas na cara de uma vadia qualquer. — Julia disse. — Mas isso é uma coisa que ele vai perceber com o tempo.
— Eu... — ela escutou Sophie suspirar. — É, eu sei. Mas quer saber de uma coisa, Juzy? Eu não vou falar com ele não. Eu expliquei pra ele mas ele insiste em continuar brigando... Eu sei lá. Vou deixar, também. É melhor do que ficar correndo atrás só pra me machucar mais.
— É, eu também faria a mesma coisa — Julia disse, suspirando também. — Enfim, vamos mudar de assunto. Tirando isso, como estão as coisas por aí?
— Bem, tirando isso, tá tudo ótimo. Joe não sai do computador por que diz que chegou numa parte importante da história, meus pais viajaram ontem e o casamento foi a coisa mais linda do mundo, Juzy. Isso sem dizer que a Danna é um amor. Ela foi fazer compras agora, mas... quando eu briguei com o Luke, ela me viu mal ela conversou um bocado comigo. E ainda prometeu que ia comprar brigadeiro se eu parasse de chorar. Brincando, sabe? — Julia deu uma risada. — Ela me falou um pouco da vida dela e me distraiu. Ela... é uma pessoa incrível.
Julia ainda mantinha o sorriso no rosto, escutando Sophie falar sobre a irmã mais velha.
— Que ótimo! — ela disse, deixando o sorriso sumir aos poucos. Silenciou apenas por um ou dois segundos, entrando numa briga interna sem saber se fazia a pergunta que há dias estava em sua cabeça. — E como tá o Nate?
Ela sentiu a hesitação de Sophie.
 O Nate? — Julia já estava quase arrependida de ter perguntado. — Ele tá bem! Tá querendo entrar pro colégio militar e tá estudando demais pra prova no começo do ano que vem.
— Sério? — Julia sorriu abertamente, só pelo fato de tentar visualizar Nate enfiado nos livros. — Que ótimo! Ele sempre quis entrar, mas da última vez que nós conversamos sobre isso ele disse que não iria fazer a prova do ano que vem por que ele teria que ficar lá por tempo integral durante as aulas... — ela respirou fundo. Maldita dor. — ...e ele dizia que não iria me deixar por colégio nenhum do mundo.
Julia deu um sorriso triste, lembrando-se do quão lindo fora aquele momento. Não só ele mas todos os momentos que tivera com Nate.
Escutou Sophie suspirar.
— Ele sente sua falta — Julia sentiu o coração acelerar quando escutou a voz triste da amiga do outro lado da linha. — Ele sente desesperadamente a sua falta. E ele tenta muito inibir isso, mas a verdade é que ele sente. E ele amadureceu demais... outro dia tava dando conselho pro Dan em relação a Mary. Você mudou ele pra melhor, sei lá.
Julia sorriu.
— Ele me mudou também, e... você não faz ideia da falta que eu sinto... — disse, mordendo o lábio inferior e deixando a frase morrer. — Sabe se ele está namorando outras pessoas?
Novamente ela sentiu a hesitação da amiga.
— Namorando não seria a palavra certa. Mas ele saiu com algumas garotas, sim. Tudo que eu sei é que elas não são do bairro e nem da escola, e que ele sempre deixa bem claro que não vai se apaixonar antes de começar a sair. Falei sobre isso com ele outro dia, e na verdade é como se ele começasse a sair com a menina dizendo tipo “você é meu brinquedinho, mulher pra mim só existe uma” — Sophie disse, fazendo uma imitação da voz de Nate.
Julia teve de gargalhar. Não sentia raiva ou ciúmes — tá, talvez um pouco de ciúmes — das meninas que Nate ficava. Era perfeitamente normal, uma vez que eles combinaram isso e a própria Julia já tinha saído com uma série de garotos desde que chegara à Inglaterra.
Ela apenas sentia falta de falar com alguém sobre Nate. Claro que isso não chegava nem perto da falta que sentia dele próprio, mas ainda assim, ela sentia.
— Adoro isso nele. Sempre foi direto e sincero, quando não se tratava da idade que tinha — Sophie teve de rir da última frase da amiga. — Você pode manter segredo sobre essa conversa sobre ele? Estou quebrando uma regra, sabe.
Julia ouviu Sophie gargalhar.
— Você fala como se ele nunca perguntasse sobre você.
Depois dessa frase, o celular de Julia desligou e ela viu que seus minutos haviam esgotado. Suspirou, dividida entre a felicidade em saber que Nate ainda perguntava por ela — como uma adolescente estupidamente apaixonada que ela detestava ser — e a tristeza de simplesmente não tê-lo ali com ela. Estava passando por uma verdadeira briga interna, mas por quantas ela ainda não passaria?
Situação temporária, Julia lembrou a si mesma. Então sorriu, verdadeiramente, pela primeira vez em tanto tempo.
Mesmo que a dor fosse dilacerante — e acreditem, ela era —, Julia simplesmente amava o fato de amar tanto Nate assim. Pois mesmo que doesse, ela sentia, e ela não tinha como expressar o quão gratificante era esse sentimento. Completava-a de um jeito tão... natural. Como se o amor que ela sentia por Nate estivesse guardado dentro dela durante todo esse tempo, mas a chama só se acendesse a partir do momento em que ela o tivesse conhecido. Por que, ora, de que adiantava negar? Ela se encantara por ele no mesmo momento em que o vira e Dan dissera que ele queria conhecê-la. Lembrava-se claramente de pensar o quão bonito ele era, e após conhecê-lo naquele dia enquanto estudava na casa de Sophie ela já estava completamente “caidinha” por ele.
Ela tinha certeza. Nate era sim, o cara que ela amava. O único cara que ela amava.
— Ai, meu Deus — Julia quase caiu da cama quando escutou a porta abrindo de repente e viu Susan adentrando o quarto, suspirando e retirando os saltos com as pontas dos dedos. — Quase pegaram a gente dessa vez! Tivemos que fugir do quarto do Tarris em questão de segundos e o inspetor nem percebeu! Sério, Julie, você perdeu. Aquela Social foi uma loucura!
Julia riu.
— Minha cabeça tava doendo e eu estava meio tonta. Te falei do probleminha da minha pressão arterial abaixar demais e eu dar umas desmaiadas, né? — Susan fez que sim com a cabeça. — Então... Fiquei com medo de desmaiar no meio da loucura da Social. Mas na próxima eu vou.
Susan apenas assentiu com a cabeça novamente, apertando os lábios, e se sentou na cama de Julia.
— Você é boa nisso — ela disse, abrindo um sorriso. Julia arqueou uma sobrancelha, confusa. — Sério, Julie, diz a verdade. Por que você não foi nessa Social? Tava todo mundo perguntando por você lá, e os meninos ficaram falando coisa por causa do Tarris.
— Eu só dei um beijo no Tarris! E nem tava a fim de ficar com ele hoje de novo. — Julia disse, revirando os olhos. — Mas é sério, eu não tava me sentindo bem. Só por isso que eu não fui.
— Pare de mentir! — Susan riu. — Tipo, eu não sei o porquê de você ficar evitando o garoto. Ele é lindo, é rico, inteligente, e é um Traficante. Isso sem dizer que todas as garotas-vadias dessa prisão o querem.
Julia riu.
— Não passa pela sua cabeça que seja por isso que eu não quero? — Julia levantou uma sobrancelha.
Susan gargalhou.
— De jeito nenhum! Você faz de tudo o que pode para irritar essas vacas! — Susan quase gritou. — É sério, por que você não foi? Por causa do Tarris? Você pode me contar, todo mundo acreditou na história dos desmaios.
— Não foi por causa do Tarris, ok? Eu nunca me privo de divertimento nenhum por causa de homem — Julia revirou os olhos. — Tarris é um cara maneiro, mas não significa nada pra mim. Apenas.
Susan estremeceu.
— Você é tão fria às vezes — disse, repulsiva.
— Não sou, apenas não sou você. Toda fofinha e essas coisas. — Julia repetiu no mesmo tom. — É sério, foi por causa da pressão arterial.
— Não foi. — Susan revirou os olhos, dando outra risada. — Sério, Julia, todo mundo se pergunta o porquê de você estar aqui. Quer dizer, se tua família mora na América, por que só você está aqui?
— Não interessa, oras — Julia deu de ombros.
— Se não interessasse eu não estaria perguntando, oras — Susan respondeu no mesmo tom, mas ainda assim, rindo. — Eu estou aqui por que minha madrasta é uma vadia e meu pai que me odeia me mandou pra cá pra poder ficar com ela em paz no Rio. Mas e você? Sua mãe te liga constantemente, né? Seu pai não te odeia.
— Não — Julia concordou. — Acho que ele só queria me proteger, na verdade. — Disse, suspirando.
— Proteger de quê? — Susan torceu o lábio.
— Não é da sua conta, Suze — Julia respondeu e Susan revirou os olhos mais uma vez. Já morava com Julia durante dois meses e ainda não sabia nada sobre a garota! Na realidade, ninguémsabia nada sobre ela, mas mesmo assim ela conseguira conquistar todo mundo. Como podia? O que ela fazia para chegar ali? Por que não se segurava com um namorado? Por que era tão sigilosa em relação a sua vida?
As perguntas pareciam mais irrespondíveis a cada dia que passava.
— Então ele é um agente super ultra secreto da CIA e estavam ameaçando matar toda a família dele e então ele te enfiou nesse inferno? — ela perguntou arrancando uma risada alta de Julia.
— Não. Ele me “protegeu” na cabeça dele, mas na do resto do mundo, foi uma merda de uma injustiça. Vou resolver tudo assim que sair daqui. Agora cale a boca e me transfira uns minutos pra eu fazer uma ligação internacional.
— Eu não — Susan deu de ombros. — Paguei caríssimo pelos meus minutos. Vai comprar os seus.
Julia sorriu e deixou Susan adentrar o banheiro para trocar a roupa da Social e arrumar o uniforme para o dia seguinte. Susan era a menina mais organizada do mundo e, por isso, Julia também era obrigada a arrumar tudo antes de dormir e assim que acordar. Mas ela até que gostava da mania de limpeza e organização da colega, até mesmo por que era legal ter um quarto sempre arrumado.
Claro que isso não se aplicava ao seu armário. E Susan que se acostumasse com isso.
Mas a verdade era que Julia tinha conhecimento da personalidade misteriosa que passava para os colegas de aula e festas. Não se incomodava, entretanto. Não queria explicar para todo mundo que deixara a América por estar apaixonada por um cara e o namoro não ser consentido pelo seu pai. Seria extremamente doloroso e desconfortável.
Preferia ser a menina sempre extrovertida, meio grossa e misteriosa que conquistara todo o internato — ou prisão, como Susan gostava de chamar — na primeira semana. Era bem mais fácil assim.
Mesmo que para isso, ela tivesse que lidar com a curiosidade e chatice constantes da colega de quarto.



[...]



Danna estacionou o carro que Josh emprestara na frente da casa de Hector.
Na realidade, ela não tinha muito motivo para estar lá, e na verdade queria mesmo era falar com ele. Já estava há três dias sem fazê-lo — ou quase isso, por que no sábado eles se desencontraram, pois ele trabalhou de manhã e à tarde e ela trabalhou à noite, e eles apenas se falaram um pouco de madrugada, e no domingo ela trabalhou o dia inteiro para o casamento —, e ela estava com saudades, admitia. Além do mais, precisava pegar um documento que estava dentro do seu quarto para efetuar o resto do pagamento da câmera e do notebook que havia comprado. E isso era motivo mais do que suficiente para ir até lá.
Mas quando ela saiu do carro e procurou a chave dentro da bolsa de lado, viu que a casa estava intacta. O que era estranho, pois Hector saía do trabalho às seis e meia — no máximo — e sempre ia direto para casa. Danna notava que ele chegava, por vezes, mais cedo em casa. Agora já eram seis e quarenta e o céu estava um alaranjado escuro, pronto para anoitecer. Onde Hector estaria?
Deu de ombros, pronta para entrar na casa assim mesmo, mas de repente seus olhos bateram na esquina da mercearia do Sr. Marx e ela o avistou, conversando com três mulheres.
Danna as conhecia de vista, mas só se lembrava do nome de uma, Martha Gonsavez. Uma das outras era irmã dela, e a outra Danna sinceramente não sabia o nome. Só gravara o nome de Martha por ter escutado que ela assumia para todos estar apaixonada — apaixonada, vejam só — por Hector e pretendia se casar — Se. Casar. Que absurdo. — com ele. Tudo palavras da mãe dela, que trabalhava na parte de padaria da mercearia. Danna se lembrava bem do dia em que foi apresentada a ela pelo Sr. Marx e a mulher lhe disse toda a história sobre Martha, com a própria lá do lado, rindo como se não estivesse ouvindo nada. Danna apenas lhe sorriu simpaticamente, mas querendo matá-la por dentro (o que, claro, é um pensamento que não precisa ser externado). Foi então que a Sra. Gonsavez disse “talvez você possa ajudá-la, não? Danna está morando com Hector”.
Danna apenas rira outra vez e Martha a olhou como se fosse matá-la naquele mesmo momento. Foi nessa hora que Danna viu que mesmo que fosse uma brincadeira da mãe da garota, tinhacom certeza um fundo de verdade.
E então passou a odiá-la.
Tudo bem, não podia se culpar Martha — nem ninguém, aliás — por gostar de Hector. Ele era absolutamente educado e inteligente, fazia bem tudo o que pegava para fazer, além de ser bondoso de um jeito inacreditável, ser honesto, e... ser muito, muito lindo.
Mas Danna e Hector tinham alguma coisa. E não era nada somente físico, por que, oras, havia sentimento! Havia muito sentimento!
Porém isso não incluía Martha ou sua trupe.
E foi por esse motivo que Danna seguiu a pé até a esquina, com um enorme sorriso no rosto. Hector conversava educadamente com as moças, sorrindo e mantendo uma distância considerável delas. Não vira Danna chegando, por isso, ela logo pegou sua câmera fotográfica nova e lhe lançou um flash no rosto.
— Faz uma pose bonita, você está estreando ela! — Danna disse, com o aparelho junto aos olhos. Hector apenas riu abobalhadamente e saiu de perto das garotas para ir abraçá-la.
— Você comprou! — exclamou, abrindo os braços e apertando Danna contra si com força. Ela retribuiu o abraço e pousou o queixo em seu ombro largo, perdendo-se no seu cheiro e notando o quanto sentira saudade dele. Eles se separaram e Danna percebeu que seu sorriso só tinha se expandido. — Comprou o computador também?
— Aham! — ela concordou, sorrindo. — Comprei, tá no carro.
— Que ótimo! — ele disse. — Mas e aí, como foi o dia cuidando dos seus irmãos e me abandonando?
Danna riu não só pela piada de Hector, mas também pela cara feia que as garotas lhe faziam agora. Fingiu que não as viu por um momento.
— Ah, foi difícil — ela suspirou. — Sophie foi suspensa e brigou com o namorado, Joseph não quis comer e não larga o computador. Mas o mais complicado mesmo foi a Soph, ficou mal por causa da briga que teve com o namorado dela. Mas enfim, acho que estou me saindo bem como irmã mais velha.
Hector riu, com os olhos brilhando.
— Adolescentes são complicados. Sinto pena de você que tem que cuidar de dois — ele disse, ainda rindo.
Danna riu outra vez e concordou, fingindo que finalmente notara a presença de Martha e suas amigas ali, e lhes acenou mais do que alegre:
— Oi, gente! — disse, animada.
— Oi — disseram em uníssono, demonstrando claramente que não estavam suportando a presença de Danna ali. Curvaram levemente os lábios em um sorriso, mas seus olhos continuavam fuzilando-a.
Hector sorriu para elas também, como se demonstrasse que elas podiam confiar nela.
— Hector, eu preciso pegar meus documentos lá em casa, mas esqueci minha chave. Com a correria do trabalho acabei deixando ela lá em casa mesmo e só percebi agora, tanto que o carro que o Josh me emprestou tá lá em frente ainda... e eu tô ficando provisoriamente na casa dos meninos, mas minhas coisas estão todas aqui. — Danna disse, assumindo uma expressão mais séria, mas nem por isso menos agradável.
Hector assentiu tranquilamente.
— Ah, sim, tudo bem. Vamos lá, eu já tava indo pra casa mesmo... — ele disse com um sorriso no rosto.
Então se virou para Martha e suas amigas e deixou um beijo no rosto de cada uma, despedindo-se. Voltou-se para Danna e segurou sua mão com firmeza.
— Tchau, meninas — ela disse, ainda com o rosto simpático, e só recebeu um revirar de olhos. Hector já havia se virado.
Então, segurando sua mão, seguiu até a casa dele conversando simpaticamente. Na verdade, ela apenas respondia as perguntas automaticamente, completamente irada com aquelas vadias, e com Hector por ter ido conversar com elas todo animadinho só por que Danna não estava em casa. Ele sabia que Martha era completamente tarada por ele, não sabia?
Pelo amor de Deus! Ele devia ter um pouquinho de bom senso.
Mas Danna não disse tudo isso. Apenas deixou Hector abrir a casa e largou sua mão de uma vez, largando a câmera e a bolsa no sofá da sala e indo até a cozinha.
Ele estranhou, arqueou uma sobrancelha e fechou a porta.
— Você tá bem? — perguntou.
— Ótima! — ouviu ela dizer da cozinha com a voz alterada. — Nunca estive melhor!
Hector franziu a testa e olhou para o sofá. Danna havia esquecido a bolsa aberta e como a jogou de qualquer maneira no sofá, metade das coisas que haviam lá caíram pelo sofá.
Inclusive a chave da casa.
Hector sorriu.
— Ei, pequena Danna — chamou e ouviu Danna andar até lá, apoiando-se na parede com a maior cara de “que foi?”. — Você não disse que tinha esquecido a chave?
— Esqueci — ela respondeu seca.
— Esqueceu de procurar na sua bolsa? — ele perguntou, com um sorriso sacana no rosto, e apontando para o sofá.
Danna revirou os olhos.
— Ah, é, foi. Esqueci. — Respondeu, com a voz mais alterada ainda. — Me perdoe por ter te tirado do importantíssimo diálogo com as suas amiguinhas.
Ao escutar a confirmação das suas suspeitas, Hector gargalhou com vontade.
— VOCÊ TÁ COM CIÚME! — gritou, sem cessar suas gargalhadas.
Danna bufou.
— Não estou — ela disse ainda seca.
— Você está morrendo de ciúme! — ele gritou outra vez, rindo como nunca. — Oh, meu Deus! Danna Faith está morta de ciúmes!
— Mas claro que não! Onde é que já se viu eu, eu, sentindo ciúme de homem? Pelo amor de Deus. — Ela revirou os olhos.
Hector se colocou na frente dela, rindo.
— Ciúmes! — disse, apontando o dedo para Danna. — Danna Elizabeth está com muitos ciúmes de Juan Hector, ha!
Danna revirou os olhos outra vez.
— Já começou a falar de si mesmo na terceira pessoa, isso confirma minha suspeita de que você está doido.
— Tá com ciúme e não quer assumir! Você está com muito ciúme! — ele ria e agora fazia uma espécie de dança enquanto cantava uma melodia sem nexo.
— Eu não estava sentindo ciúmes, você nem é nada meu! Cale sua boca — ela revirou os olhos, farta.
— Sou seu se você quiser, baby — ele disse cessando as gargalhadas e piscando um dos olhos.
— Você é ridículo — ela praticamente cuspiu as palavras, enquanto Hector apenas soltava outra dose de gargalhadas. — Não estava sentindo ciúmes de você.
— Não estava? — ele aumentou o tom de voz, rindo mais alto. — Você faltou dizer que nós dormíamos na mesma cama pra deixar as gurias recalcadas!
— Que mentira! — Danna acusou.
— Mentira? — Hector aumentou o tom de voz mais ainda. — Como é que você fez? “Ai, amorzinho, eu fui comprar minha câmera cara e esqueci a chave lá na nossa casa. Hah, acho que devo ter esquecido na nossa cama, né? Ontem a noite foi uma loucura, e...”
— Cala a boca! — Danna gritou. — Deixa de ser idiota! Eu não senti ciúme de você! Você fez foi entender tudo errado. Agora cale a merda da boca que eu tenho mais o que fazer.
— Você tá com ciúmes, você tá com ciúmes... la la la la la la... — ele começou a cantar e Danna bufou outra vez, sentindo a raiva apenas aumentar dentro de si.
— Você é realmente ridículo.
— Você está com ciúmes, e sabe por quê? — Hector se aproximou dela com o sorriso sacana no rosto, e ela apenas revirou os olhos. — Porque você me ama! La la la la la la... tá com ciúmes por que me ama... la la la...
— Vai à merda, Hector! Eu não estava com ciúmes! — ela gritou, raivosa. — Quer saber? Vai se danar. Tenho que pegar minhas coisas.
Hector parou de gargalhar e deixou apenas o sorriso aflorar em sua face. Aproximou-se de Danna com uma sobrancelha arqueada e segurou seu braço para não deixá-la se virar e ir para o quarto.
— Então quer dizer que você não sentiu ciúmes de mim? — ele perguntou com a voz baixa, quase sussurrando, num tom desafiador.
— Não. — Ela respondeu autoritária.
— Nem um pouquinho? — ele perguntou novamente no mesmo tom.
— Não. — Novamente, ela respondeu, encarando-o com raiva.
— Tudo bem — ele se afastou, rindo. — Então eu acho que vou voltar lá pra falar com as meninas. Tava pensando em chamar a Martha pra sair, mesmo...
Danna deu de ombros.
— Vai. — Disse, fingindo indiferença. — Não tô nem aí para aquelas vadias.
Então ela saiu de uma vez, batendo os pés com força contra o chão até seu quarto. Hector, vendo-a sair com raiva — linda, só para frisar — deixou-se gargalhar mais uma vez.
— Tudo bem! — gritou para ela ouvir do quarto, que agora batera a porta. — Tô indo lá. Falo pra Martha que você mandou lembranças.
Fingiu estar batendo os pés contra o chão, mas ainda se controlava para não rir. Só queria ver Danna com raiva. Era... extremamente engraçado.
Mas então, para a sua surpresa, a porta do quarto dela se abriu de repente e ele a viu indo ao seu encontro ferozmente. Danna se aproximou de uma vez e juntou seus lábios de um jeito voraz, devorando-os num beijo caloroso e latejante. Ela passou suas mãos pela nuca dele, arranhando-as de leve, e fazendo com que os dois sentissem uma corrente elétrica fortíssima passando pelos seus corpos. Hector apertou sua cintura, juntando seus corpos, e deixando com que eles se alinhassem conforme suas línguas se entrelaçavam.
E assim continuaram até o máximo do limite de seus pulmões, que agora já pediam desesperadamente por oxigênio. Separaram-se com um selinho demorado e molhado, juntando suas testas em seguida.
Danna tirou as mãos da nuca dele e passou pela sua barba bem feita, para depois pousá-las em seus ombros e peito bem definido. Ofegante, sussurrou:
— Sim — ela disse, com a voz rouca pelo beijo. — Eu estava com ciúmes, e se você for se encontrar com aquela vadia, eu arranco a cabeça de vocês dois — ela sussurrou e Hector deu uma risada baixa. — E, sim. Eu estava com ciúmes por que eu te amo. E que se dane o romantismo.
Hector deu outra risada baixa.
— Você é a única pessoa que diz que me ama depois de me ameaçar de morte — ele disse, baixinho, e fazendo-a rir também. — Também te amo, minha pequena. Te amo demais.



[...]



Luke não a olhou nos olhos.
Durante todo o tempo em que ela esteve lá, tocando aquele teclado e cantando aquelas músicas, alegre e conversando com todo mundo, ele não conseguiu olhá-la nos olhos.
E já vinha sendo assim durante um tempo. Ele não podia negar que sentia falta dela, e de estar com ela, e de ficar com ela. Sim, ele sentia, e sentia de todo coração. Mas ela... havia errado, e ainda havia colocado a prova o amor dele, que era maior do que tudo. Ela sabia disso! Quantas vezes ele não a disse?
Mas ela ainda insistia em contestar, em duvidar. Luke não entendia o porquê ela fazia isso. Se ele brigou com ela, foi para o próprio bem! Afinal, no que essa briga idiota a ajudaria? Se ela continuasse com esse pensamento bobo e primitivo de violência, ela apenas se prejudicaria. Stephy era sim, realmente irritante quando queria, mas Sophie poderia ter se controlado e sido superior. Se ela não se deixasse abalar por Stephy e se mostrasse maior, Sophie ficaria sem uma suspensão, de consciência limpa, e Stephy ficaria com muito mais raiva por não ter conseguido tirá-la do eixo. Sophie tinha feito exatamente o que ela queria!
E ele queria gritar tudo isso para ela enquanto ela fingia que tudo estava ótimo. Queria, queria mesmo. Mas não iria.
De que iria adiantar? Ela achava que estava certa e defenderia sua opinião, então eles discutiriam novamente e ele iria vê-la chorar mais uma vez.
E, claro, Luke nem sequer cogitava a opção de pedir desculpas. Ela havia sido a culpada! Ela criara todo o problema fazendo o que Stephy queria!
O problema é que ele tinha a impressão de que Sophie também não iria falar com ele, e provavelmente estava bem era aproveitando o tempo de suspensão para ficar longe dele. Obviamente não estava tudo bem, e ninguém notaria isso se não a conhecesse bem.
Luke não sabia, mas nesse ponto Sophie era exatamente igual à mãe.
Quando saiu do ensaio, despediu-se de todos com um abraço e apenas deu um empurrão em Nate, brincando com ele. Para Luke, deu um “tchau” acanhado que ele retribuiu, mas sem olhá-la nos olhos.
Por que ele sabia que quando olhasse profundamente naqueles olhos castanhos, ia encontrar toda a dor que ele não queria ver.
Então ela se foi, e não demorou muito para Nate e Max irem embora também. Dan fazia um solo qualquer nos pratos da bateria enquanto Luke encapava tudo e enrolava todos os fios. Perdido em seus pensamentos, nem notou que o melhor amigo estava calado, o que era particularmente estranho.
— Na boa, Luke — ele de repente escutou a voz de Dan. Viu que ele havia se levantado e segurava as baquetas com apenas uma mão. — Tô cansado disso.
— Cansado de quê? — Luke perguntou, estranhando a seriedade na voz de Dan.
A última vez que Dan usara esse tom foi quando conversou com ele sobre Stephy e a possibilidade de Luke voltar para ela.
— Dessa idiotice sua — ele disse sério e Luke o encarou confuso. — Por que, sério, realmente parece que você é idiota ou algo do tipo. Eu deixei quieto nos últimos dias, não falei nada por que achei que você iria cair em si, e também por que você não me pediu conselho nenhum. De qualquer forma, depois desse ensaio quase exaustivo, eu sinceramente cansei.
— Mas do que diabos você tá falando?! — Luke perguntou de uma vez, aumentando o tom de voz.
— Da Sophie, retardado! — Dan respondeu no mesmo tom, talvez um pouco mais alto. Levantou-se de uma vez. — Sério, Luke, o que tem na sua cabeça? Brigar com a menina e ficar diassem falar com ela por que ela defendeu a própria família batendo na Stephy?! Caramba! A desgraça da Stephy não vale um centavo, por que diabos você fica defendendo ela?!
— Eu não tô defendendo bosta nenhuma! — Luke gritou também. — Eu briguei com a Sophie por que ela foi fraca! Ela podia ter se mostrado superior e ter ignorado as implicações da Stephy, mas ela quebrou o nariz dela ao invés disso! Sério, Dan, a gente tinha discutido antes dessa briga por causa de ciúmes dela!
— Seu idiota! — Dan disse, realmente irritado. — Ela não brigou com a Stephy por sua causa! Jenny escutou a conversa delas e me disse! Quando Stephy falou sobre você, ela apenas ignorou. A questão, Luke, é que ela xingou os irmãos da Sophie! Você não entende o quão horrível isso é, idiota? Eu tenho dois irmãos e se falassem mal de qualquer um deles, eu arrancaria a língua da pessoa com uma faca!
— E você acha isso certo, inferno?! — Luke gritou no mesmo tom. — Acha certo ser violento e idiota?! Não se resolve merda nenhuma com violência, Dan, que droga! Você só vai prejudicar a si mesmo!
Dan bufou de raiva e só esperou dois segundos para se aproximar de Luke de uma vez e dar um soco em seu rosto.
Ele gritou e cambaleou para trás, sentindo a dor insuportável se dar no canto direito de sua bochecha.
— MAS O QUE DIABOS VOCÊ TÁ FAZENDO?! — gritou a plenos pulmões, sentindo as batidas do coração aumentarem.
Dan deu uma risada alta e sarcástica.
— Tudo bem. Quer saber? Faz o que você quiser — ele disse, ainda com o sorriso no rosto e se aproximou de Luke. — É melhor que a Sophie fique solteirinha mesmo. Aposto que o sexo com ela vai continuar sendo maravilhoso.
Luke arregalou os olhos e abriu a boca dolorida, sentindo a indignação tomá-lo por inteiro. Sua respiração se desregulou imediatamente.
Dan ainda mantinha o sorriso no rosto.
— Pois é, mano, foi mal. Mas não fique chateado, tua namorada é realmente boa de cama. Claro que não é melhor do que a sua mãe, né, mas... — Dan deu uma risada alta e viu Luke fechar o punho e respirar cerrado. — É com certeza a coroa mais incrivelmente gostosa que existe! Essa é a verdade.
— Você está mentindo — Luke disse entre a respiração ofegante de raiva, quase num sussurro, sem ignorar a dor em sua face.
Dan riu outra vez.
— Me desculpa, mano. Seu pai é realmente um cara maneiro, eu adoro ele... mas fazer o quê se ele é corno? — Dan deu de ombros e se aproximou de Luke, com o sorriso malicioso no rosto. — Deve ser problema genético, não? Passa de pai para filho.
— Cala a merda da boca! — Luke gritou e se aproximou de Dan de uma vez, dando-lhe um soco no rosto e empurrando-o pelos ombros logo depois.
Dan caiu no chão sentado, e então sorriu. Luke o encarava com o lábio cortado e o peito inflando de raiva. Dan não tinha o direito de falar aquelas coisas!
— Tá vendo, imbecil? — Dan disse, sorrindo, e se levantou com um bocado de dificuldade. — Todo mundo perde o controle às vezes! Eu só precisei de poucas frases pra fazer você dar um soco no seu melhor amigo, inferno! — Ele já gritava novamente e se aproximou de Luke, que ainda estava confuso e irritado. Dan segurou o colarinho da sua camiseta num gesto violento e empurrou seu corpo contra a parede de uma vez, machucando as costas de Luke, e empurrou o colarinho de sua camiseta para cima. — Deixa de ser esse idiota mauricinho, Davis. Você não é perfeito e tá longe de ser, por isso não exija que as pessoas tenham qualidades que não se encontram nem mesmo em você.
Então Dan soltou o colarinho da camiseta de Luke e deixou que ele caísse no chão. Então, saiu pela porta da garagem tranquilamente, apenas cuspindo um pouco de sangue pelo soco que Luke o havia diferido.
Confuso, Luke não se levantou do chão. Repassou toda a cena que havia acabado de viver na cabeça e custou a acreditar que tinha realmente acontecido. Dan... havia conseguido tirá-lo do sério?!
Claro que Luke não havia agido com clareza, nem sequer pensara. Seria impossível Dan estar dormindo com Sophie e sua mãe, uma vez que ele tinha Sophie como irmãzinha e Katt jamais se deixaria levar por um adolescente com problemas alimentares, por mais músculos que ele tivesse. Era apenas um pensamento idiota.
Mas mesmo assim, Luke não se aguentara e diferira um soco no rosto de Dan. Não por que ele lhe dera outro no início da briga, mas por que ele falou das pessoas que amava.
E se Luke havia feito isso com o melhor amigo em questão de poucos minutos, para Sophie fazer isso com a pessoa que mais odeia não deveria ter sido sacrifício nenhum.
Foi nessa hora que Luke xingou a si mesmo por estar errado.

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