23 de set. de 2012

Capítulo 44


Heaven doesn't seem far away anymore




#2 meses depois#



Kathryn ajustou a rosa branca no bolso do smoking preto do filho e se afastou, colocando a mão na boca, prestes a chorar. Passou os dedos pelos olhos, emocionada, e Jeremy deu uma risada.
— Ah, mãe — fez Luke, passando a mão no rosto. — Não vem com essa de novo, por favor.
Mas Kathryn não deu ouvidos à risada idiota do marido ou à reclamação de Luke. Oras, ela como mãe tinha o direito de estar emocionada! Seu filho estava indo ao baile de formatura! Que mãe não se emocionaria vendo o menino que saiu de seu ventre, que cuidou toda a vida, trocou as fraldas, viu falar a primeira palavra e dar o primeiro passo, formando-se no ensino médio? Que mãe não sentiria vontade de chorar ao terminar de arrumar o terno do seu filho, que com — agora — dezoito anos, tornara-se um homem e estava prestes a ir para a faculdade?
Katt tinha todo o direito de chorar novamente. Sim, novamente, pois ela chorou um rio um dia antes, na colagem de grau de Luke, onde ele ficou simplesmente lindo com aquela beca, recebendo aquele diploma. Agora, arrumando-o para o baile, ela tinha certeza: Luke não era mais um bebê. Não era mais aquela criança fofa e linda que acordava às seis horas da manhã de um sábado para ver a maratona de Phineas e Ferb na Disney. Não era mais aquele menininho que pegava o violão do pai escondido e fingia que tocava até quebrar uma corda e levar uma bronca. Não era mais aquela criança que dava a vida por um pouco de sorvete. Luke estava com dezoito anos, e estava formado. Em breve sairia de sua casa e iria para a faculdade. Se tornaria independente. Seria um verdadeiro homem. Ah, droga! Jeremy e Luke que se danem! Ela iria chorar novamente, sim.
— Ah, não — Luke disse, vendo que as lágrimas já começavam a sair do rosto da mãe. Jeremy parecia que ia morrer de rir. — Não, mãe, por favor... eu ainda sou o seu filhinho, ok? Não chora. Ai, meu Deus. Não chora, mãe.
Então ele se aproximou de Katt, abraçando-a, e ela passou os braços pelo pescoço do filho, já que ele era mais alto do que ela. Droga! Ela se lembrava de quando ele era um bebezinho e ela precisava se abaixar e pegá-lo no colo para abraçá-lo! Agora não, ele estava um rapaz enorme, com um metro e oitenta de altura, forte, bonito, inteligente, de bom caráter... Ai, meu Deus. Como o tempo passou tão rápido? Quando foi que aquele menininho se tornou esse homem tão bom e sensível, pedindo-a insistentemente para ela parar de chorar? Ele estava pedindo para ela parar de chorar, como isso era irônico! Alguns — ok, muitos — anos atrás, era ela que, abraçando-o quase desesperada, pedia para ele parar de chorar, enquanto segurava-o nos braços. Droga de tempo que passa tão rápido. Droga de tempo que havia transformado Luke, a criança mais linda do mundo, em Luke, o homem mais lindo do mundo — por que, sério, existia homem mais lindo do que Luke para ela? Por favor. Para Katt, jamais existira um homem tão lindo quanto seu filho, essa era a verdade. Mesmo assim, maldito tempo por fazê-lo crescer e tirá-lo dela.
— Tudo bem, tudo bem — ela disse, passando as mãos pelos olhos, secando-os enquanto Luke ainda abraçava-a e acariciava sua cabeça.
— Parou? — Luke se afastou alguns centímetros para olhar o rosto da mãe.
— Sim — ela disse, suspirando. Passou as mãos pelos braços do filho, desamassando o smoking (que ao ver de Luke, não tinha nenhum amassado sequer, mas...). — Ai, meu Deus. Você está tão lindo! Tão homem, nesse smoking! E ainda quer que eu não chore!
— Não tem necessidade de chorar, Sra. Davis! — Luke disse, fazendo-a dar uma risada e olhar para cima, impedindo as lágrimas de cair. — Já te falei um milhão de vezes, mãe. Só vou para a faculdade no próximo semestre, você ainda tem seis meses para me agüentar. E eu não vou deixar de ser o seu filhinho só por que vou para outra cidade temporariamente, por que eu vou voltar poucos anos depois para administrar a empresa do papai.
— Ai, meu Deus! — ela gritou, botando a mão na boca e sentindo os olhos molharem novamente.
Jeremy deu outra risada.
— Belo trabalho, filho — e deu dois tapinhas no ombro de Luke, que olhou para o pai e revirou os olhos.
— Você vai voltar e vai trabalhar com o seu pai, e... vai se casar, e construir uma família, e... tudo isso começa hoje! — ela disse, ainda com a voz esganiçada. Jeremy parecia achar aquilo um grande show de stand-up comedy, ou algo parecido. — Tudo começa hoje! Você vai pro seu baile de formatura, vai dançar com a sua namorada uma música romântica, vai brincar e tomar ponche com os seus amigos, e aí você vai voltar pra casa tarde da noite e eu vou estar acordada, então você vai começar a estudar feito um doido para poder entrar numa faculdade grande de Nova York, e aí você vai pra lá e eu vou ir ao seu quarto cinco vezes por dia para matar as saudades de você, e então você vai vir nos verões, e eu não vou largar do seu pé, e...
— Mãe — Luke segurou as mãos de Katt, com um sorriso no rosto. Ela já estava quase rindo também. — Que isso, pare com essa tristeza! Isso não é algo bom? Eu vou crescer, estudar, trabalhar, ser o homem que você me ensinou que eu deveria ser. Tudo que eu sou hoje eu te devo, Sra. Camsey-Davis. E não é só por que eu vou me formar agora, ir para a faculdade, e tudo mais, que eu vou deixar de ser o Luke que você criou, ok? Eu te amo, mãe, por favor, pare de chorar.
O problema de pedir para que as pessoas parem de chorar, é que na verdade, o pedido apenas aumenta a vontade. Obviamente, Katt não agüentou e chorou já na metade da frase.
Luke sibilou um “own” e a abraçou mais uma vez, dessa vez, rindo, mas claro que não tanto quanto Jeremy.
Ele não ria apenas pela comicidade do momento, mas sim por que estava realmente feliz. Havia se formado! Recebera o diploma um dia antes na colagem de grau, e de presente de formatura, ganhara um carro de seus pais! Finalmente, ele tinha que dizer. A super-proteção de Kathryn achava que Luke era muito novo para dirigir, mesmo que ele tivesse passado no exame logo na primeira vez que o fizera, ainda com dezesseis anos. Mas ela sempre usava como argumento que “existem países onde os jovens só podem dirigir com dezoito anos! E ainda assim, nem podem direito. Precisam rodar um ano com a carteira para serem verdadeiramente habilitados!”, e não existia um “mas isso é a América, mãe, pelo amor de Deus!” que a fizesse mudar de ideia.
E não era só por isso. Luke ria por que, sim, era esse o passo para a sua independência, para uma vida nova. Era o primeiro passo para o seu futuro, que ele verdadeiramente esperava passar bem sucedido, ao lado da garota que amava. E que só por acaso era a que ele levaria ao baile, mesmo que ela tivesse acabado de cursar o segundo ano.
— Ei, cara — Jeremy colocou uma mão no ombro de Luke, finalmente parando de rir. — É melhor você ir, se não sua mãe vai te segurar aqui o resto da noite. Você lembra da colagem de grau.
Kathryn ignorou Jeremy e se afastou do filho, desamassando seu blazer mais uma vez. Coçou os olhos e respirou fundo, tentando parar de chorar.
— Você está lindo — ela disse, e Luke riu, sem jeito, mais uma vez. — Divirta-se lá no baile. E tenha juízo, ok?
— Sempre, mãe — ele riu e deixou um beijo na testa da mulher. Voltou-se para Jeremy e lhe deu um grande aperto de mão, puxando-o para um abraço logo depois. Trocou alguns tapas nas costas com o pai.
— Bom baile pra você, Luke — Jeremy disse, segurando o rosto do filho, logo depois de abraçá-lo. — Tenho orgulho de você.
Luke sorriu, dando mais um tapinha no ombro do pai.
— Obrigado — ele disse a única coisa que pôde, e então saiu.
Na garagem, ele entrou em seu carro que ainda não tinha cinqüenta quilômetros rodados marcados no relógio e saiu dirigindo, sentindo-se tremendamente bem.
Mas, claro, seu percurso com o carro não durou mais do que vinte metros. Logo ele estava em frente à casa da garota que iria levar ao seu baile de formatura, e um frio na barriga que Luke julgou ser normal se instalou nele. Querendo ou não, ele estava realizando um sonho. Quer dizer, quantas vezes ele não havia imaginado a si mesmo, num carro legal, vestido, pronto para levar Sophie ao baile? Tudo bem que ele não tinha mais do que doze anos de idade quando fantasiava esse tipo de coisa boba, mas ainda assim, fantasiava. Queria que acontecesse. E agora, estava acontecendo. Só que com muito mais responsabilidade, afinal, Luke sabia muito mais da vida do que quando tinha doze anos de idade. Sabia que não iria conseguir nada fácil, e teria de trabalhar duro para manter a vida independente que não tardaria a ter.
Mesmo sabendo que ia ser difícil, Luke continuava feliz. Estava animado para tudo isso!
Ainda assim, agora era hora de festa. Obrigou a si mesmo a parar de pensar nisso enquanto saía e apertava o botão que ativava o alarme do carro, e deu uma última arrumada no blazer antes de apertar a campainha da casa de Sophie. Não demorou até a porta ser aberta.
— Mas olha só — disse o rapaz que a abriu. — Sr. Farro! Chegou o agente funerário!
Luke deu uma risada. Estava todo vestido de preto, com um smoking e uma rosa branca presa ao bolso do peito esquerdo. Não parecia com um agente funerário!
Mas é claro que para Hector tudo era motivo de piada.
— Pare de inveja por não estar tão bonito quanto eu — Luke disse, arrancando uma outra risada do rapaz latino que ainda estava parado na porta.
— Olha, eu até te deixaria entrar, mas sabe... essa é uma permissão que o pai da sua acompanhante tem que dar. — Ele torceu os lábios e Luke sorriu.
— Certo, né. Mesmo que o pai da minha acompanhante me conheça desde o tempo que eu usava fraldas, mas tudo bem. — E arrancou outra risada de Hector, que virou a cabeça para o lado. Logo Josh entrou no campo de visão de Luke.
— E então — disse Josh, fazendo sua melhor expressão carrancuda. — Quem é esse aí?
Luke assumiu o personagem:
— Sou Luke Noah Davis, Senhor. Estou aqui para levar sua filha ao baile de formatura, Senhor. — E estendeu a mão, parecendo nervoso, repetindo a palavra “senhor” a toda hora.
Hector saiu só para rir.
— Noah é nome de mulher, sabia, garoto? — Josh disse ainda carrancudo e eles puderam escutar a gargalhada alta que Hector deu. — Você é uma mulher, garoto?
Luke não se agüentou.
— “Você é uma mulher, garoto?” — repetiu ele, e Josh acabou rindo também. — Que contradição!
— Noah é... nome... — Hector tentou repetir, mas as gargalhadas ainda não deixavam. Luke revirou os olhos, mas ainda rindo.
— Entra aí, Luke — Josh disse, fazendo que não com a cabeça e pousando a mão no ombro do genro. Afinal, uma pequena cena comum de um pai furioso com o namorado da filha fez com que os garotos ali rissem bastante.
Mas todos sabiam que Josh não era assim — ok, talvez fosse com Brad, mas ele viu Luke crescer! Sabia que o rapaz tinha bom caráter e tinha juízo, além de tê-lo quase como um filho. Tanto que Luke ainda não havia deixado a mania de chamá-lo de “tio”, uma vez que aprendera isso ainda criança.
E, na verdade, Josh já havia se acostumado com a ideia de ter um genro. Na verdade, agora, conversava com os seus dois genros, e agradecia por suas duas filhas terem escolhido bons rapazes para namorar. Josh nem precisou conhecer Hector para gostar dele quando soube o que ele fez por Danna, e Luke, oras, era o pequeno Luke que viu crescer! As meninas tinham feito boas escolhas.
O que era ótimo, assim Josh não precisava matar ninguém, como ameaçava usualmente. De brincadeira, claro.
— Então... — Hector disse, quando os rapazes se jogaram no sofá da sala de estar. — Nervoso, bonitão?
Luke revirou os olhos.
— Um pouco — respondeu a pergunta de Hector, respirando fundo. Onde estava Sophie?!
— Quer uma cerveja? — Josh perguntou, e só então Luke notou que ele estava com uma Heineken na mão.
— Estou dirigindo, e ainda não tenho vinte e um — Luke esclareceu e viu Hector sibilar para ele um “você passou no teste!”. Sorriu. — Onde está a Sophie?
— Danna a carregou — Hector respondeu, revirando os olhos. — Quando a viu, queria levá-la pro estúdio pra tirar fotos com o vestido dela!
— E ela ia — Josh interveio —, se Sophie não tivesse dito que não queria e que você chegaria a qualquer momento. Aí Danna pegou a câmera dela e subiu com Sophie pro quarto de hóspedes, por que era o mais iluminado, ou qualquer coisa assim. Pudemos escutar o barulho dos móveis se arrastando e, talvez, sendo quebrados.
— Ela disse que precisava de um lugar iluminado e não deixou nós entrarmos lá — Hector disse, expressivo.
— Mas por quê? — Luke franziu a testa, confuso.
— Ela disse: nenhum artista cria uma obra com um bando de pessoas o olhando! — Hector fez uma imitação da voz de Danna, fazendo com que os rapazes ali dessem uma risada alta.
— É, foi o que ela disse, depois de discutir um bocado, mas Hayley e Joe ainda entraram no quarto com ela — Josh disse. — Danna é uma figura.
— Se é — Luke concordou, tentando parar de tremer a perna. Sophie parecia que não ia descer! Quanto tempo essa sessão de fotos com Danna ainda iria durar?
— Reunião de rapazes? — Nate apareceu, retirando as faixas das mãos. Lutando, como sempre. — Opa!
— Reunião de rapazes por que suas garotas estão no quarto de hóspedes fazendo fotos — Hector ressaltou. — E que deixaram o rapaz menor entrar pelo simples fato de ser uma criança.
Nate riu e se sentou ao lado de Josh.
— Nem tanto, eu acho. Joe entende de fotos, e poses, e roupas, e essas coisas chatas — ele disse num tom quase enojado. — Mas de qualquer forma, eu não vou ficar aqui vendo os rapazes bobos falando de seus pares. Tomarei um banho. Boa sorte no baile, Luke, irmão.
Luke sorriu e agradeceu, sentindo-se um pouco mal por Nate. Obviamente não era legal ele ver casais felizes, ou ver as pessoas falando de casais, por que ele só se lembrava da garota que amava e que não estava ali com ele.
Mas não teve tempo de pensar mais sobre isso, por que logo o barulho de alguém descendo pelo corrimão da escada se deu no lugar e Luke viu Joe, se mover rapidamente e pular já na sala de estar, encarando-o com um sorriso grande no rosto.
— Você é um cara de sorte, pseudo-primo — ele disse, ainda com o sorriso no rosto, assentindo com a cabeça a cada palavra que dizia.
Luke não precisou perguntar por que. Logo depois, acompanhada de Danna e Hayley, ela apareceu, com um sorriso radiante no rosto. Com o seu vestido, Sophie estava simplesmente encantadora. Linda. Perfeita aos seus olhos.
E encarando seus olhos castanhos chocolates, Luke simplesmente se esqueceu de como se dizia essas palavras.
— Você... — ele começou a dizer, ainda extasiado, pasmo, encantado. Sorriu de orelha a orelha e umedeceu os lábios, sentindo o coração bater mais forte contra o peito. — Você está linda.
Sophie riu, meio nervosa, e desceu as escadas devagar, escutando as tagarelices de Danna e Hayley que diziam o quanto as fotos tinham ficado maravilhosas, e outras coisas que elas vinham falando desde que Sophie começara a se arrumar.
Até que, enfim, ela terminou de descer as escadas e chegou até de frente para Luke, com um sorriso enorme no rosto.
— Obrigada — sibilou. — Você também está lindo.
E ela não estava mentindo. Não se lembrava de ver Luke tão elegantemente vestido, e ela tinha de admitir que ele fosse absolutamente lindo com a bermuda e os cabelos bagunçados, mas o smoking e o penteado lhe caíram muito bem.
— Uma foto dos dois! — Danna disse, colocando sua câmera profissional nos olhos. Luke se aproximou de Sophie, sorrindo, e deixou que o flash da câmera o cegasse por alguns momentos. Danna parecia que havia tirado umas trinta fotos de uma vez, e não apenas uma. Na verdade Luke suspeitava disso mesmo. — Ótimo!
— Não, não — Joe discordou. — Vocês estão apaixonados, pelo amor de Deus! Nessa foto parecem que mal se conhecem! — ele esbravejou, revirando os olhos, e Danna riu. — Luke, segure a mão dela e eu quero que vocês olhem um para o outro, com o olhar mais brilhante e apaixonado que puderem. Vamos dar vida a essa foto, por favor. Danna, trate de dar o zoom certo.
— Eu sou a fotógrafa aqui — Danna relembrou pela trigésima vez, pelo menos, no dia, e revirou os olhos. Joe era um amorzinho de pessoa, mas poderia ser menos autoritário.
— E é por isso que você vai dar o zoom certo, não é? — ele a encarou com aqueles olhos verdes arrogantes. Danna bufou, e acabou deixando-se sorrir. Assim como Hayley, que apenas ria também. — Por que ainda não estão fazendo a pose?
Luke franziu a testa e Sophie deu uma risada.
— É melhor não fazer objeção — ela aconselhou, e Luke deu uma risada e concordou. Segurou a mão dela e a olhou da forma mais apaixonada que podia, como pediu — ordenou — Joe. Não que aquilo fosse um sacrifício, é claro. Luke ainda estava fascinado por Sophie, agora.
Depois de tirar as fotos com a namorada, Luke se virou para cumprimentar Hayley, que riu.
— Você está elegante! — ela disse, ainda rindo. — Sua mãe deve estar morrendo. Já parou de chorar?
Luke riu.
— Parou nada. E nem vai parar, sei lá, ela é muito emocional com essas coisas. — Explicou ele.
— Eu sei. Essa semana foi quase insuportável, por que ela não parava de repetir a mesma coisa sobre ver o meninozinho dela virando um homem, e coisa e tal — Hayley sibilou com a mão e abraçou Sophie.
— Você só diz isso por que Soph ainda não tá no terceiro ano, né, tia — Luke comentou e Hayley riu.
— Não vou sofrer antes da hora, ok? Ok. — Ela disse, fazendo com que as pessoas ali rissem.
— Se eles não forem logo vão perder a festa — foi Hector que lembrou, já abraçando a cintura de Danna, que parecia mais entretida na sua máquina fotográfica.
As pessoas que ali estavam concordaram.
— Certo, preciso repassar as regras? — Josh disse e Sophie deu uma risada.
— Nada de brigas, álcool, drogas, cigarro, sexo, ou chegar em casa depois das quatro da manhã — repetiu com um tom quase entediado.
Josh apertou os olhos.
— Quatro?
— Três — Sophie deu um sorriso amarelo.
— Três? — Josh apertou seus olhos mais ainda.
— Tá certo — ela bufou. — Duas.
Josh assentiu e se virou para Luke.
— Se chegar à uma e meia, você ganha pontos comigo — ele disse, fazendo Luke e todo mundo ali rir.
— Pode deixar — ele garantiu.
Então eles se despediram de todos os que ali estavam e deixaram um “tchau” para Nate, que ainda estava no banho. Ao chegarem ao carro de Luke, ele abriu a porta por onde Sophie entraria, como um perfeito cavalheiro.
— Mas olha só isso — ela disse, admirada.
— Sou um cavalheiro, rapaz — ele disse e ela riu, apoiando a mão na porta do carro.
— Gosto da ideia de estar namorando e indo para o baile com um cavalheiro — ela disse, e Luke se aproximou devagar, roubando seus lábios rapidamente apenas para prová-los e matar a saudade. Não vira Sophie ao longo do dia, e vê-la tão linda dessa forma com certeza fez com que ele sentisse vontade de beijá-la, oras.
Mas ele tinha que se lembrar de que ainda estava na frente da casa dela, por isso, logo encerrou o beijo com um selinho demorado e deixou que ela entrasse no carro, fechando sua porta logo em seguida.
— Sabe — ele começou a dizer, assim que deu a partida no carro e começou a andar os primeiros metros —, estava pensando sobre essa noite. Tipo, é quase a realização de um sonho. Desde pequeno que eu queria ir ao meu baile de formatura com você.
Sophie deixou-se rir, mesmo que não o olhasse. Luke se concentrava no caminho até o colégio.
— Sério? — perguntou.
— Sério — ele disse, rindo. — Eu imaginava como seria um pouco antes de você ir embora para a Inglaterra. Mas... eu não sei, eu não imaginava que passaria por tantas coisas antes de que o meu “sonho” se tornasse realidade.
Ela ainda ria.
— Com certeza passamos por muita coisa — disse pensativa, mas ainda com o sorriso no rosto.
Luke riu.
— Lembra do dia da detenção? — perguntou, arrancando dela uma risada alta.
— Sim! — respondeu ela entre risos. — Deus! Aquele foi um dia complicado. Você era tão irritante!
— Ainda assim você ficou comigo duas vezes — ele disse com uma imitação boa de uma voz sedutora, fazendo-a rir novamente. — Mas sério, eu também te odiava demais.
— Odiava nada — Sophie deu ombros. — Você sempre me amou. Só inibia isso.
— Exatamente como você fazia — ele rebateu.
Sophie deu uma risada.
— É — concordou, assumindo. — Mais ou menos assim.
Luke retirou uma das mãos do volante e pousou-a na coxa da namorada, que estava coberta pelo vestido que usava.
— Esse é o início — ele disse baixo.
— De quê? — ela perguntou, apertando sua mão.
— Do nosso futuro — eles riram. — Quer dizer... o que minha mãe disse, mesmo que fosse no calor do momento, tinha um fundamento, sabe? Depois do segundo grau vem a faculdade, e... nossa vida independente.
— É, mas eu ainda não me formei — Sophie deu um meio sorriso.
— Mesmo assim, só falta um ano pra você se formar — ele disse, ainda com os olhos na estrada que agora estava reta. — E eu disse que quero passar meu futuro com você. E é isso que vai acontecer. E o início de tudo isso é hoje.
Ela apertou a mão dele mais uma vez, sorrindo sem olhá-lo.
— Eu sei que vou gostar do meu futuro, seja ele qual for, se estiver com você — ela fez um carinho na mão dele com o polegar e olhou seu rosto corado, vendo que ele havia diferido um sorriso bobo. — E a vida sabe o que faz, sei lá. Nosso futuro não é motivo de preocupação.
— Não estou preocupado — ele disse imediatamente. — Estou animado.
Ela riu novamente e virou o rosto para o vidro do carro de Luke, vendo que eles já estavam estacionando em frente ao colégio. Quando o carro parou e a mão de Luke saiu da sua para puxar o freio de mão, não demorou até ela sentir seus dedos macios contornarem sua nuca. Sentiu os pelos se arrepiarem imediatamente e parte de seus músculos relaxarem pelo toque. E por instinto, virou o rosto e levou sua mão até a nuca do namorado, encontrando seus lábios macios sem dificuldade.
O beijo já se iniciou sem muita calma e nem muita pressa, apenas sentindo o gosto da boca um do outro, que eles já haviam sentido um milhão de vezes mas por alguma razão, sempre queriam mais. Era mesmo como se fosse um vício, afinal. Sophie não podia negar que não conseguia mais viver sem os toques, os beijos, os abraços, as conversas, a presença de Luke. Ela não podia negar que tudo nele lhe era essencial, e cada momento sem isso lhe fazia uma grande falta. Sophie não podia negar que estava viciada em Luke, completamente viciada. Assim como ele estava viciado nela.
E o beijo demorou ainda mais alguns minutos, dentro do carro novo do garoto. Sophie parou os beijos quando sentiu as mãos nada espertas — sintam a ironia — do namorado tocarem levemente seu seio. Sorriu, ainda com a sua testa colada na dele.
— Melhor pararmos, senão nunca mais vamos sair daqui — ela relembrou, selando seus lábios. — Temos uma festa pra ir ainda.
— Tá — ele disse, submisso, buscando seus lábios mais uma vez e mordendo-os levemente após terminar o beijo curto. — Pelo menos estreamos o carro oficialmente.
Sophie riu e se afastou, diferindo um tapa no ombro dele, enquanto ele mesmo ria.
— Depravado — ela disse, procurando o espelho do quebra-sol do carro e conferindo se sua aparência continuava a mesma.
Luke saiu do carro e correu até a sua porta, abrindo-a, pegando sua mão e levando-a aos lábios. Deixou um beijo delicado nela.
— Posso até ser. Mas sou um cavalheiro também — e então ajudou-a a se levantar.
Sophie se levantou e deu um sorriso debochado.
— Vamos ver até onde isso vai durar — e então entrelaçou seu braço com o de Luke, começando a andar para dentro da festa.
A festa de formatura do ensino médio da escola deles, na realidade, não aconteceria dentro da escola. O ginásio — o mesmo em que eles haviam apresentado a peça de Twilight — estava caprichosamente decorado com tons de branco e azul bebê, as cores de formatura decididas pelas turmas do terceiro ano. Os representantes das três salas, junto aos voluntários — que eram, na verdade, alunos que precisam de nota para se formar e fazem atividades extracurriculares, como por exemplo trabalhar como escravos na decoração do ginásio do baile —, haviam passado a última semana trabalhando duro na decoração, música e aperitivos do baile de formatura.
Seria bem típico, como todas as garotas do lugar sonhavam e viam em filmes. Teriam musicas animadas e lentas para os casais, ponche e aperitivos, um DJ e banda ao vivo, e obviamente, uma votação para rei e rainha do baile. As apostas estavam em Jess Galehan e Bradley Phillips ou Marie Jane Farro e Daniel Fletcher, que já namoravam desde o início do ano e certamente ganhariam muitos votos, além de serem consideravelmente populares. Dan era quase um imprestável, verdade, mas era o rapaz mais bonito do colégio, e já havia ficado com pelo menos metade das garotas de lá. Marie fora a única que conseguira fazer com que ele “tomasse jeito”, e todos notavam que ele havia mudado, estava mais responsável. Brad era um jogador de basquete e ótimo aluno, mas tinha sérios problemas geeks. Ainda assim, boa parte das meninas do colégio também o admiravam. E, claro, apesar de os dois casais serem os favoritos, não eram os únicos. Por isso era difícil saber quem ganharia.
Não que o casal que estava na porta do ginásio agora se importasse com isso. Sophie estava feliz apenas por estar no baile de Luke, acompanhada dele, fazendo parte de tudo aquilo. Estava mais do que feliz por estar com o rapaz que amava ali. Por não ser formanda, ela não poderia ganhar a coroa, mas sinceramente não se importava, uma vez que ser rainha do baile nunca fora uma de suas vontades. Estava feliz por estar ali. Estava muito feliz.
— Mas veja só — eles escutaram uma voz feminina familiar e se viraram imediatamente para ela. — Que coisa mais curiosa de se acontecer com duas pessoas que se odeiam.
Os sorrisos de ambos se ampliaram, surpresos e felizes. Sophie largou o braço de Luke para poder abraçar a mulher.
— Srta. Jones! — ela quase gritou, passando os braços pela cintura da professora que já não lhe dava mais aulas.
— Ei, Soph — ela disse, abraçando de volta a adolescente por quem havia criado um grande afeto. — Já não sou mais Srta., você sabe.
Sophie riu, mas foi Luke que disse:
— Velhos hábitos são difíceis de mudar — ele deixou que Sophie soltasse Lilian para abraçá-la igualmente. Notou o quão mais magra ela estava desde a última vez que a vira, no nascimento de Jodie, a pequena filhinha dela.
— Eu sei — ela disse, rindo, e saiu do abraço de Luke, vendo-o entrelaçar seu braço com o de Sophie novamente. — Mas como vocês estão?
— Estamos ótimos — Luke respondeu, sorrindo. — Depois da correria da formatura e das provas finais pra mim... e Soph também quase rodou em uma matéria, né, babe?
— Inglês — ela disse, revirando os olhos. — Aulas de inglês nunca mais serão as mesmas sem a Sra., sério mesmo. Sentimos sua falta tremendamente.
Lilian deixou um sorriso enorme aflorar em seu rosto.
— Eu sinto falta de dar aula pra vocês, também. Mas é complicado com a Jodie, por que ela ainda é muito pequena, e o Benny continua trabalhando...
— Em geografia eu me dei bem, pelo menos — Sophie comentou.
— Ele foi um dos professores que trabalhou aqui na formatura, também. Ele trabalhou demais esses últimos dias, deu até dó — Luke comentou e Lilian riu.
— Ele gosta disso — ela comentou, revirando os olhos. — Essa correria, e tudo mais.
— Isso não é normal — Sophie comentou, fazendo-os rir.
Lilian apenas ria, feliz por estar ali. Deixara Jodie com sua irmã por que não podia perder a formatura de alunos que ela tanto considerava, como Luke, por exemplo. Ouvira Ben dizer que ele e Sophie estavam namorando e quase não acreditara, relembrando o ódio mortal que um sentia pelo outro.
Por isso não estava surpresa por vê-los se tratarem tão intimamente e amistosamente.
— Mas então... — ela recomeçou, lançando um olhar malicioso para os braços dos dois que estavam entrelaçados. — Vocês estão juntos mesmo?
Luke gargalhou.
— Fazer o quê se ela é a mulher da minha vida? — perguntou, fazendo Sophie corar e Lilian gargalhar.
— Gente! Que coisa mais linda! — exclamou ela. — Eu sempre soube que aquele ódio interminável, irritante e que dava dor de cabeça era incomum! Sempre soube!
Sophie gargalhou.
— É — comentou. — Pois é. A verdade é que a gente tinha brigado muito feio e por isso dizia que se odiava. Na verdade acreditávamos nisso.
— Aham, mesmo que naquele dia mesmo em que discutimos na barraca a gente já tinha ficado há menos de uma semana — Luke comentou e Lilian começou a rir.
— E também ficamos quando nos perdemos na floresta... — Sophie comentou novamente, pensativa, e Lilian apenas aumentou o tom de sua risada.
— Ai, meu Deus! — exclamou ela, acalmando-se. — Mas e agora, melhoraram? É sério mesmo?
— Ainda discutimos — Sophie explicou —, mas agora assumimos que a gente se ama, né. Estamos bem... por que agora a gente não mente mais um pro outro, nem pra si mesmos.
— E como eu disse há pouco — Luke interveio —, ela é a mulher da minha vida.
Sophie sorriu meio envergonhada.
— Awn! — Lilian exclamou. — Quando vocês tiverem um filho, se for menina terá de se chamar Lilian. — Ela brincou, fazendo-os rir.
— Não — Sophie respondeu dando de ombros. — O nome dela será Nichole. Em homenagem a minha mãe.
— Não! — Luke revirou os olhos. — O nome dela será Kathryn, em homenagem a minha mãe.
— Não vai! — Sophie se virou para ele, apertando os olhos.
Lilian revirou os olhos. Sério mesmo que mesmo namorando eles estavam discutindo? Sobre, tipo, nome da futura filha que eles só talvez teriam depois de muitos anos?
— Gente! — Lilian bateu palmas, atraindo a atenção deles. — Peguem os dois nomes. Kathryn Nichole. Pronto, é só isso.
Eles ficaram pensativos.
— É — Sophie disse por fim. — Gostei, pode ser.
E então ela começou a rir, atraindo Luke com ela. É só que às vezes era tão bom discutir com Luke que eles arranjavam qualquer desculpa, sendo ela a mais improvável ou boba possível.
Lilian fez que não com a cabeça. Esses meninos...
— Mas então, Luke, o que você vai fazer depois que se formar? — ela perguntou, iniciando outro assunto.
— Estudar — ele disse, revirando os olhos, e sorriu. — Quero entrar em alguma universidade de Nova York, talvez a Brown. Então... comprei um curso, e vou estudar esse semestre para o vestibular. Preciso me matar de estudar, na verdade.
Ele torceu os lábios e ela assentiu com a cabeça.
— E Soph? — perguntou a ela.
— Ainda estou vendo isso — ela umedeceu os lábios. — Estou pensando seriamente em procurar entrar na Julliard.
Lilian sorriu.
— Julliard? — perguntou, maravilhada. — Mas... que coisa incrível!
— Não vou conseguir viver de outra coisa senão música — Sophie deu um meio sorriso. — Espero mesmo conseguir entrar. Seria também uma forma de não me separar dele, entende? Nós dois moraríamos em Nova York.
— Entendi — Lilian comentou, ainda com o sorriso no rosto. — Enfim. Tô segurando vocês aqui enquanto poderiam estar aproveitando o baile. Vão se divertir, vejo vocês depois.
Eles sorriram para a professora e lhe abraçaram uma última vez antes de entrar de vez no salão, felizes por terem encontrado-a ali. Com tudo o que haviam passado com ela, era inevitável que eles criassem um vínculo especial com a mulher. Eles apenas lamentaram o fato de ela não poder mais dar aulas para eles, mas estavam felizes por ela ter firmado um compromisso sério com o Sr. Marshwell e estar feliz cuidando de sua pequena bebê.
Logo a música alta do DJ fez com que seus pensamentos se esvaíssem. Uma música eletrônica tocava e alguns corpos se movimentavam no meio do que era o salão. Havia também o palco, completamente equipado com instrumentos musicais, mas agora apenas ocupado pelo DJ contratado pelo colégio, que mexia seu corpo de acordo com a música enquanto passava os dedos pelo seu equipamento.
— É isso aí, pessoal! — eles escutaram uma voz ampliada. Era Cassie Kingston, a representante principal da formatura e ex-presidente do grêmio estudantil. Líder nata. Ouvia-se dizer que ela já estava aceita em Yale. — Parabéns para os formandos! O baile está apenas no começo, por isso, brinquem e dancem. As votações para o rei e a rainha do baile já está rolando. Vocês podem votar nos cinco casais indicados aqui na urna do lado do palco principal. Have fun!
Então Cassie saiu do palco dançando, com um copo de ponche na mão, e a música eletrônica que ecoava ficou ainda mais alta. Luke sorriu para Sophie e começou a arrastá-la pelo braço até onde ele vira Dan e Marie conversando com um bocado de pessoas, ao lado da mesa dos ponches coloridos. Não demorou muito para eles chegarem até lá.
— Olha só o segundo cara mais elegante do baile! — foi o que Dan disse assim que avistou Luke, abraçando o melhor amigo logo depois. — Mas sério, cara, você tá bonito. Quem foi que arrumou o seu cabelo? A sua mãe?
Luke riu.
— Sabia que é feio tentar abaixar a autoestima das pessoas por se sentir ameaçado por uma pessoa que claramente é mais bonita, inteligente, maneira e elegante do que você? — Luke perguntou, arrancando uma risada das garotas que já haviam se cumprimentado. Marie estava realmente linda, também, com o seu vestido de formatura. Dan também não estava menos elegante, com um smoking igual o de Luke e o cabelo preto bem cortado.
— Aham, Sr. Bonitão. Não é você que está na votação para o rei do baile. A propósito, vá votar em mim — Dan segurou o ombro de Luke e mostrou a urna, fazendo-o rir. — Certo, em mim apenas não. Em nós. A rainha do baile também será a rainha da minha vida e do meu coração, awn.
Marie deu uma risada debochada e se aproximou do namorado, abraçando-o.
— Você é tão engraçado quando tenta ser romântico — disse, dando-lhe um selinho.
— Ah, qual é, essa frase foi a coisa mais romântica que existe — ele passou a abraçá-la por trás. — Não foi, Red Soph?
— Ah, se foi — ela respondeu a pergunta de Dan, rindo, sentindo as mãos de Luke passarem pela sua cintura assim como Dan fazia com sua prima. — A coisa mais romântica que eu já vi.
Luke apenas riu, fazendo que não com a cabeça, e notou que Marie havia sorrido e olhado consideravelmente para Dan, como se quisesse dizer alguma coisa com aquele olhar.
— Devemos contar? — ela perguntou para o namorado, fazendo com que Luke e Sophie se entreolhassem confusos.
— Você que sabe — ele riu de um jeito que Luke e Sophie quase nunca o viam rir. Como... se fosse um daqueles sorrisos abobalhados, cheio de brilho, ou sei lá. Eles não sabiam descrever. Mas era raro para Dan.
— Contar o quê? — Sophie levantou a voz e Marie olhou novamente para Dan antes de sorrir de orelha a orelha e mostrar a mão direita para a prima.
Sophie arregalou os olhos e levou uma mão a boca. Luke também não ficou menos surpreso.
— Meu Deus! — ela exclamou quase num grito. — Isso é um... um...
— Anel — Marie completou. — Um anel de noivado.
Sophie abriu a boca, completamente surpresa, e Luke soltou um palavrão. Dan havia... pedido Marie em casamento? Casamento?
— Mas... — ela tentava dizer alguma coisa, mas a surpresa era tanta que as palavras não saíam.
— Não é para agora — Dan foi explicando. — Eu a pedi em casamento hoje, e nos casaremos assim que terminarmos a faculdade. Pedi a mão dela ao pai dela, e ele me concedeu.
— Foi... — Marie interrompeu. — Inacreditável. Meu Deus do Céu.
— Lembra que eu te disse, irmão, que ela disse que precisava de uma prova de que eu realmente a amava? — Dan perguntou a Luke e ele fez que sim com a cabeça, ainda pasmo. — É isso. Eu amo Marie Jane Farro com todo o meu coração, e vou me casar com ela.
Marie sorriu do modo mais sincero que podia.
— Eu nunca imaginei que fosse me casar com Dan na primeira vez que o vi — ela disse, consideravelmente alto, já que a música estava latejante. — Mas quando eu disse “sim”, eu... tive certeza de que fiz a coisa certa.
Dan riu e deu um beijo na bochecha da namorada.
— Estamos noivos! — gritou, fazendo com que Luke soltasse outro palavrão e levasse um tapa de Sophie.
— Caramba — ela disse —, parabéns. Meu Deus, parabéns, mesmo, pra vocês! — Soph saiu dos braços de Luke e foi abraçar a prima com toda a força que tinha, ainda custando a acreditar naquela história.
Dan era... completamente louco e imprevisível. Meu Deus. Pedi-la em casamento! Com dezoito anos de idade!
Loucura.
Luke se aproximou de Dan e o abraçou, também, apertando-o e dando tapinhas em seu ombro.
— Parabéns, irmão — ele disse, rindo. — Parabéns mesmo. Eu... caramba, parabéns, sério. Você é o cara.
— Valeu, cara — ele disse, correspondendo ao abraço do amigo.
Luke não podia negar que ficara realmente surpreso com tudo aquilo, uma vez que Dan não lhe dissera nada sobre seus planos. Provavelmente não o havia traçado há muito tempo, mas ainda assim... era perfeito.
Dan andara angustiado por causa de uma discussão que tivera com a namorada há pouco tempo. Eles haviam ficado uma semana sem se falar e Luke sinceramente nunca tinha visto Dan tão triste. Eles voltaram e se acertaram, mas Marie não sabia se acreditava que Dan a amava, mesmo que ele houvesse se declarado completamente para ela.
Desde então Dan andara pensando numa forma de reverter a situação, de mostrar para a namorada que ele a amava mais do que tudo e que queria passar o resto de sua vida com ela. Firmar um noivado com ela antes do tempo era genial, além de ser extremamente romântico. Era perfeito, por certo.
— Vamos fazer um brinde aos noivos? — Sophie gritou, enchendo alguns copos de ponche, já que eles estavam perto da mesa. Luke sorriu e pegou dois copos da mão da namorada, entregando-lhes ao casal e logo depois pegando o seu próprio. Todos ergueram seus copos.
— Aos noivos! — Luke gritou e eles repetiram, batendo seus copos de plástico e tomando um gole do ponche de frutas vermelhas, brindando não apenas o noivado de Dan e Marie, mas o futuro de ambos. Esse futuro que não estava tão longe, e que se Deus quisesse seria ótimo não só para os noivos, mas como para todos ali.





[...]




Uma gota no oceano,
Uma mudança no tempo.
Eu estava rezando, para que você e eu,
pudéssemos ficar juntos.



Luke colocou as mãos em sua cintura e deixou que a música calma tomasse o ritmo de seus corpos.
Faltavam seis minutos para a meia noite e logo o resultado da votação para rei e rainha do baile seria divulgado. Não que Luke e Sophie estivessem ligando para isso naquele momento.
A música havia acabado de começar, e eles já estavam há mais de uma hora na pista de dança, pulando e dançando com a música eletrônica do lugar e se divertindo o máximo que podiam. O DJ parecia não gostar exatamente de músicas lentas, e as pessoas do lugar também pareciam não ligar. Mas agora que ele finalmente deixou que a melodia calma de A Drop In The Ocean – Ron Rope tocar, ninguém fez uma objeção. Ao contrário. Cada um pegou seu par e, juntando seus corpos, deixou que a música lhes domassem, assim como a companhia um do outro.
A diferença de Sophie e Luke para os outros casais era, certamente, o tempo que os dois passaram querendo fazer exatamente isso que estavam fazendo agora. Numa verdadeira festa, ela com as mãos em seus ombros largos e descansando o queixo em seu peito, ele com as mãos em sua cintura e sentindo o seu perfume, sem nada dizer, sem nada pensar a não ser que tudo o que eles queriam era que aquele momento durasse um pouco mais que os três minutos e meio da música. A diferença era que eles se amavam, e se amavam desde sempre, e se amariam para sempre. Eles viajavam na música, sentindo o calor do corpo um do outro, e não precisavam dizer nada para que aquele momento ficasse mais perfeito. Não precisavam dizer nada para saberem que eram um do outro, e que só estavam se divertindo realmente por que estavam juntos.


É como desejar a chuva,
enquanto eu estou no meio do deserto.
Mas estou te segurando mais perto do que nunca,
porque você é meu paraíso.



Sophie deixava que seus pés se movessem delicadamente, rodando pela pista de dança junto a Luke. Ele estava calado e segurava sua cintura com uma firmeza que ela não podia descrever, mas isso não a incomodava de modo algum. O silêncio do momento fazia com que ele se tornasse inesquecível, e ela sabia. Sabia que enquanto eles moviam seus corpos sem se importar com o resto do mundo, tudo estava bem. Da mesma forma que sempre esteve quando os dois estavam juntos.
Sophie apertou os braços em volta de seus ombros e sentiu a firmeza das mãos de Luke em sua cintura também aumentar. Sorriu, deixando um beijo em seu peito coberto pelo smoking, e pousando a bochecha novamente naquele lugar. Ainda dançando e sem tirar a mão de sua cintura, ela sentiu os lábios de Luke alcançarem sua bochecha e instintivamente virou o rosto, encostando suas bocas e iniciando um beijo no ritmo da música.
Com as mãos em volta do seu pescoço e sentindo os lábios de Luke junto aos seus, Sophie não podia se sentir mais completa. A felicidade que havia em seu corpo era tão grande que irradiava, transbordava. Enquanto sua língua se entrelaçava a de Luke, ela sentia uma paz indescritível nascer na boca do estômago e tomar todo o seu coração, corpo e alma. Aquele beijo era muito mais do que um simples beijo. Era uma demonstração de puro amor que ela sentia por Luke, e ele por ela. Ela sentia, enquanto tinha seus lábios tomados pelos dele, que não havia como aquilo ficar mais perfeito do que já estava. Sabia, completamente, que estava entregue. Completamente entregue a um rapaz que há pouco tempo atrás dizia odiar. Mas, oras, a quem ela queria enganar?
Sempre amou Luke. Sempre, desde que não sabia sequer o que era amar como um homem ama uma mulher. Lembrava-se de suas brincadeiras inocentes com ele, que de inocentes já não tinham muita coisa. Lembrava-se de quando se casou com ele, e de quando ele começou a ensiná-la a tocar violão e andar de bicicleta. Lembrava-se de quando eles iam à escola e Luke sempre a esperava fora da sala, para abraçá-la e esperar alguém vir buscá-los. Lembrava-se claramente de que Luke não era apenas seu melhor amigo, e eles faziam planos para o futuro, quando se casariam seriamente e trabalhariam como músicos. Lembrava-se de uma vez que Luke lhe pediu um beijo e ela negou, por que achava nojento, e lembrava-se de quando ela o beijou antes de ir para a Inglaterra. Lembrava-se das noites em claro que passou chorando de saudade e lembrava-se de quando ao longo dos anos que estava na Inglaterra, convenceu a si mesma que era tudo uma coisa de criança apenas para não se machucar. Lembrava-se do arrepio que sentiu quando o viu pela primeira vez assim que voltara para Nashville, e do quanto o achou bonito, e lembrava-se também de ter afastado esse pensamento assim que ele surgiu por achar que era tudo uma brincadeira de crianças. Lembrava-se das tardes que passavam juntos, de Adore, da briga, dos ciúmes, dos beijos. De terminar o que sequer havia começado. De que ele foi seu único verdadeiro amigo quando passou por sérios problemas com Joe. Lembrava-se das músicas, da noite em que assumiram que se amavam e fizeram amor pela primeira vez.
Sophie se lembrava de tudo. De todas as lembranças que tinha na vida, a maioria incluía Luke de alguma maneira. Sua jornada com ele já vinha de muito tempo, e desde isso tudo, ela sempre o amou. O amou com todo o coração e alma, e não importa o que acontecesse daqui para frente nesse futuro que os dois tanto almejavam, esse sentimento jamais mudaria.
Sophie Farro só pertencia a uma pessoa. E essa pessoa era Luke. Nada, nem ninguém, jamais irá mudar isso.


Ainda não posso te deixar em paz.

Na maioria das noites quase não dormi.
Não pegue de mim, o que você não precisa.

Uma gota no oceano.

Uma mudança no tempo.
Eu estava rezando, para que você e eu,

pudéssemos ficar juntos.




Quando seus lábios se separaram devagar, ela abriu seus olhos e encontrou os olhos azuis dele que estavam brilhantes à luz dos flashes do baile. Sorriu verdadeiramente, como se quisesse dizê-lo tudo o que sentia apenas com aquilo. Como se quisesse mostrar toda a sua felicidade, satisfação e amor com apenas aquele sorriso sincero.
Ele também sorriu daquele jeito antes de aproximar seus lábios mais uma vez.


Enquanto as folhas mudam,
a última desculpa que eu vou reivindicar,
Eu era um garoto, que amava uma mulher, como se fosse uma menininha.



E esse beijo não foi nada diferente dos outros que eles já haviam dado, mas ainda assim, conseguia provocar o mesmo efeito cativante. O mesmo arrepio, a mesma sensação de que sempre haveria um pouco mais de ar para eles dois, a mesma vontade de querer sempre mais. O mesmo efeito de estar tão junto, mas ao mesmo tempo tão longe, e procurar apenas saciar essa vontade que tomava conta um do outro avassaladoramente. Na verdade, era apenas uma grande confusão de sentimentos que explodiam dentro um do outro como fogos de artifícios, e que eles não se importavam nem um pouco em sentir, pois isso os deixava felizes de uma maneira revigorante, até mesmo mágica. E não era apenas o beijo que fazia isso com eles. Era a simples presença um do outro.
A dança, os beijos, a diversão, tudo fazia com que o momento fosse mágico e perfeito.
Luke mordeu de leve o lábio inferior de Sophie no fim do beijo, apenas para se aproximar novamente e lhe dar mais um selinho molhado. Ela sorriu, deixou um beijo em seu pescoço, e voltou a apoiar a cabeça em seu peito, sem perder o compasso da música que já acabava o segundo refrão. Ele sorriu, sentindo a cabeça daquela garota tão pequena e tão amável pousar em seu peito, e apertou as mãos em sua cintura. Apoiou o queixo em sua cabeça, ainda dançando, sabendo que aquele momento ficaria em sua memória para sempre. Agradeceu a Deus por deixar com que tudo aquilo fosse possível. Ele sabia que era um cara de sorte por ter encontrado o amor tão cedo e por ter conseguido conservá-lo, mesmo que com muito esforço, mesmo que com muita dor. Oras! Ele estava mais do que feliz naquele momento! Estava com a garotinha que sempre amara, durante toda a sua vida, beijando-a apaixonadamente e dançando uma música lenta com ela. Amava-a, com toda a certeza que existia no mundo, e ela o amava também.
Tudo tinha valido a pena. Todo o sofrimento, toda a dor, toda a saudade. Agora Sophie estava em seus braços, e ela era dele.
E Luke não a deixaria ir.



O paraíso não parece mais estar longe, não, não. O paraíso não parece estar longe...
O paraíso não parece mais estar longe, não, não. O paraíso não parece estar longe...
Ah... ah...
Uma gota no oceano.
Uma mudança no tempo.
Eu estava rezando, para que você e eu,
pudéssemos ficar juntos. É como desejar a chuva,
enquanto eu estou no meio do deserto.
Mas estou te segurando mais perto do que nunca,
porque você é meu paraíso.
Você é o meu paraíso.



— Muito bem — eles reconheceram a voz de Cassie ampliada assim que a música acabou. — Faltam dois minutos para a meia-noite, e isso significa que está na hora que todo mundo estava esperando. É hora de coroar o rei e a rainha do baile! — ela disse, seguida dos gritos das pessoas que ali estavam. — A equipe de contagem dos votos é constituída pelos professores, galera! Nem eu sei o que tem nesse envelope — ela riu, mostrando o envelope azul-bebê. — Antes de tudo, eu quero agradecer a todos que estão aqui, e dizer aos casais que foram indicados e os que não foram, que independente do resultado que for divulgado aqui, todos vocês são verdadeiros reis. Isso é na verdade uma grande brincadeira, pra deixar o nosso baile mais legal do que já está. Inclusive, daqui a pouco tem banda ao vivo para nós! — ela disse com entusiasmo e todas as pessoas gritaram, novamente. — E antes de abrir o tão esperado envelope, eu quero pedir que todos deem uma grande salva de palmas para Dan e Marie Jane, que estão noivos, minha gente! — ela gritou e todos bateram palmas, assobiando, gritando, enquanto Dan e Marie sorriam agradecidos. — É muito amor, vou dizer. Marie Jane fez dezoito anos não tem um mês, não é, querida? — Cassie perguntou diretamente a ela, que assentiu com a cabeça. — Que coisa mais linda. Mais palmas, sério! — e, novamente, as pessoas bateram palmas para o casal. Os que estavam perto deles, davam-lhe tapinhas amigáveis nos ombros. — Certo. Agora é oficialmente meia-noite! Sem mais delongas, o rei e a rainha do baile são... — Cassie abriu o envelope de uma vez, deixando que seu sorriso branco se ampliasse mais ainda — ...mas veja só! Daniel Fletcher e Marie Jane Farro!
Novamente, todos ali passaram a gritar e Dan e Marie disseram algo um para o outro que as pessoas não puderam entender, e se beijaram. Obviamente os gritos apenas aumentaram, encorajando e parabenizando o casal.
Abrindo espaço para que eles passassem, Dan e Marie foram até o palco onde Cassie se encontrava com seu cabelo loiro estridente e seu sorriso sempre aberto. As palmas ainda ecoavam quando ela colocou as coroas em cada um deles, abraçando-os separadamente e dizendo “parabéns pelo noivado” no ouvido de cada um.
— Ok! — gritou Cassie no microfone. — Todos saudemos os reis do baile, Daniel Fletcher e Marie Jane Farro. — Ela disse e deu uma risada da própria piada, de bom humor. — Certo, isso foi realmente legal. Parabéns pela coroação para vocês, e principalmente, pelo noivado. Que vocês tenham muito amor e muita luz ao longo da vida de vocês — ela disse, sincera, ainda com o sorriso aberto no rosto. — Agora é a hora da dança dos reis, não é, galera?! Dan e Mary, os dois para o centro da pista de dança. DJ, nós queremos a sua melhor música lenta e de amor, por favor.
As pessoas deixaram que Marie e Dan fossem até o centro da pista de dança, e divertidos, começassem a rodopiar e dançar a música. Luke e Sophie, após ver aquela cena e gritar o máximo que puderam, se abraçaram novamente para iniciar mais uma dança lenta. E teriam começado a dançar se uma mão em seus ombros não os fizesse parar.
— Luke! Soph! — disse o Sr. Marshwell, com o olhar meio desesperado. — Eu preciso da ajuda de vocês, garotos.
Eles se entreolharam.
— Hum... tudo bem, para quê? — foi Luke quem respondeu, ainda confuso. Sophie torceu os lábios.
Benjamin Marshwell sorriu.
— Me digam, vocês têm uma banda, não é?
Luke coçou a nuca, ainda confuso, e foi Sophie que respondeu:
— Temos, sim — disse, torcendo os lábios novamente.
— Então, meninos — ele foi dizendo, abrindo um meio sorriso. — A banda que ia tocar aqui até agora não chegou. Eles vinham, mas o vocalista perdeu a voz, e eles não tocam sem o vocalista, obviamente. A questão é que eles não avisaram que não iriam tocar até dez minutos atrás. — Ele revirou os olhos. — O problema é que estamos sem nenhuma banda, e estão todos ansiosos por música ao vivo. Vocês poderiam tocar algumas músicas e acalmar esses adolescentes?
Luke entreolhou Sophie com um meio sorriso no rosto, e ela respondeu:
— Bem, eu... eu acho que sim — ela disse, rindo. — Mas a banda não está completa! Nate, o guitarrista base e Max, o baixista, não estão aqui. E Dan está dançando...
— Quanto ao Daniel não há problema, já que a banda não vai entrar exatamente agora — ele explicou. — Vocês poderiam ligar para Nate e Max? Eles viriam?
Luke torceu os lábios.
— Max eu sei que sim, por que ele não é de perder farra. Ainda mais uma apresentação com a banda — ele respondeu, pensativo. — Mas Nate...
— Se eu pedir direitinho e prometer pegar a roupa na lavanderia sozinha pelo próximo mês, talvez ele venha — Sophie solucionou com um sorriso no rosto.
— Ótimo! Faça isso! — Ben disse, entusiasmado. — Liguem e peça para que eles venham rápido. Podem dizer que tá tudo pronto, só precisamos dos músicos, e eles não precisam vir arrumados para isso. Só precisam vir tocar.
Sophie gargalhou com o desespero do professor.
— Certo, vamos sair daqui para ligarmos, então — Luke disse, entrelaçando sua mão na da namorada e seguindo com o professor até o fim do ginásio, onde a música lenta já estava longe e eles poderiam falar ao celular tranquilamente.
Luke e Sophie ficaram animados com a apresentação repentina. Tudo bem, era arriscado, mas eles ensaiam quatro dias por semana desde que a banda ficou completa, e já têm várias músicas compostas. Além de sonharem em tocar para um público desde sempre, é claro. Montar a setlist na hora não seria um problema, eles sabiam todas as músicas, e isso tudo não deixaria de ser uma aventura.
A preocupação era apenas esperar que as pessoas gostassem da apresentação deles. Confiavam que sim, mas... bem, nunca se sabe. Uma coisa é a opinião dos seus pais. A opinião do público adolescente é outra coisa completamente diferente.
De qualquer maneira, Max atendeu a ligação de Luke:
— E AÍ, MOLEQUE! — gritou, e Sophie riu, já que o telefone estava com o alto-falante ligado.
— Acho que não preciso perguntar se te acordei — Luke disse, acompanhando Sophie na risada.
— Cara — Max foi dizendo. — Já jogou Point Blank¹? É MUITO LOUCO, MANO!
— Você está jogando? — Luke ergueu uma sobrancelha.
— DESDE AS TRÊS DA TARDE! — Max gritava, e podia se escutar o barulho de tiros por trás de sua voz alterada. — QUANDO COMECEI A FICAR COM SONO TOMEI UMAS LATAS DE REDBULL DA MINHA MÃE. MANO, ESSA COISA FUNCIONA. TALVEZ NEM DÊ PRA NOTAR, TIPO, MAS EU TÔ ELÉTRICO. MORRE, DESGRAÇADO!
Sophie gargalhou.
— Escuta, Max, aqui é a Soph. A gente tá no baile aqui de formatura do Luke e do Dan e eles precisam de uma banda pra tocar. Você pode dar um pause no seu jogo, tomar mais umaRedbull e vir tocar baixo com a banda?
— TOCAR? Ai, porcaria, morri. MAS TIPO, TOCAR NA BANDA, BAIXO, AS MÚSICAS, PARA PESSOAS?
— Tipo isso — Sophie repetiu, rindo. — Dá pra você vir?
— MAS CLARO! — ele disse, e o som de tiros pararam de repente. — Só preciso achar minhas calças jeans.
Luke fez uma careta e decidiu não perguntar. Sophie gargalhou.
— Ache — ele disse. — E venha rápido. Preciso de você aqui em dez minutos, no máximo. Quando entramos, Sr. Marshwell?
— O professor de geografia tá aí?
— Quando estiverem prontos, mas quanto menos demorarem, melhor — Benjamin foi explicando, rindo pela conversa daqueles garotos.
— Dez minutos, Max — Sophie ressaltou. — Vamos ligar para o Nate agora. Mas se você enrolar, eu vou aí te buscar pela orelha.
 Tá, tá, já tô chegando. Nós vamos tocar aquela nova? — ele disse, com a voz menos alterada. — Aquela, tipo, I NOTICE YOUR EYES ARE ALWAYS...
— Vamos montar a setlist na hora, Max, agora ande e venha logo. Tchau. — Sophie revirou os olhos e desligou o telefone de Luke, que estava rindo.
— A imitação da sua voz dele foi a melhor — Luke disse. — É isso que o Redbull faz com as pessoas.
— Ou um jogo alucinante de guerra online — o professor disse, torcendo os lábios, e os dois adolescentes olharam-no confusos.
— Liga pro Nate — Sophie disse, revirando os olhos.





[...]






Foram quatro atritos das baquetas com os pratos até que, pelas mãos de Dan, elas atingissem os tambores e as guitarras ampliadas começassem a ecoar.
As pessoas estavam em frente ao palco, escutando, sem muita ação. Mas quando Luke e Nate fizeram a sinfonia com as guitarras do colégio e Max entrou logo em seguida, as pessoas se entreolharam, com um sorriso admirado e balançaram suas cabeças levemente na batida quatro por quatro da música que Sophie havia composto há poucos meses atrás.
Fazendo um headbanging, ela tentou aliviar o medo que estava sentindo naquele momento dos próprios colegas escolares. Notou que nas mãos de alguns deles havia uma câmera, provavelmente gravando a apresentação da banda que eles haviam chamado de Paramore depois de seus pais muito insistirem. Mas aqueles garotos sabiam que a Paramore verdadeira, na realidade, era a banda que Hayley, Josh, Zac, Jeremy e Taylor montaram há muitos anos atrás, e que cativava aqueles jovens que agora, tentavam dar continuidade ao trabalho incrível que foi feito.
E foi por isso que, pedindo para os colegas pularem com ela, Sophie pegou o microfone — que até então não havia notado que era de um laranja engraçado — e iniciou a letra da música que compusera para Luke.



You say the sweetest things and I can’t keep my heart from singing, along to the sound of your song, my stupid feet keep moving.
With this 4/4 beat I'm in time with you, oh. With this 4/4 beat I would die for you.
(Você fala as coisas mais doces e eu não posso evitar que meu coração cante, junto com o som da sua música, meus pés idiotas continuam se movendo.

Com essa batida 4/4 estou sincronizada com você. Com essa batida 4/4 eu morreria por você.)



Dançando ao ritmo da música, ela não retirou o microfone do suporte. As pessoas que antes estavam mais afastadas pelos cantos do ginásio já se aproximavam curiosamente, contagiadas pela batida da música, pelas guitarras bem colocadas, pela bateria bem ritmada, pela linha de contrabaixo bem feita, pela voz marcante e contagiante daquela pequena garota ruiva. E, claro, também havia a letra da música, que mesmo de uma forma diferente, fazia com que todos ali se identificassem.
Sophie olhou de relance para Luke e sorriu, sem que ele notasse. Estava completamente vidrado e concentrado em sua guitarra, com um meio sorriso no rosto por estar tocando para aquele tanto de gente. Quer dizer, tinham pelo menos umas trezentas pessoas ali. Já era bastante coisa! A maior parte de seus colegas não sabia que eles sabiam tocar alguma coisa. Agora, estavam vendo sua banda, completamente surpresos pela qualidade, balançando a cabeça e alguns grupinhos de garotas mais animadas já pulavam.
Passando os dedos pelo suporte do microfone delicadamente, Sophie continuou a cantar.



Someone stop this...
I've gone too far to come back from here, but you don't have a clue. You don't know what you do... to me.

Won't someone stop this song? So I won't sing along. Someone stop this song! So I won't sing.
(Alguém pare essa...
Eu fui muito longe pra voltar aqui, mas você não tem ideia. Você não sabe o que você faz... comigo.
Alguém não vai parar essa música? Para eu não cantar junto. Alguém pare essa música! Para eu não cantar.)



Sophie pulava e fazia seus headbangings, e agora todo o ginásio já fazia o mesmo com ela. As pessoas haviam se aproximado do palco principal e agora pulavam com as mãos para cima, como fariam num show convencional de rock. Alguns gritavam, por não saberem a letra da música, mas ainda assim completamente contagiados pela melodiosidade, pela letra forte e pela presença de palco que aqueles meninos tinham. Sophie, mesmo parada em seu canto, cantava com toda a impostação que podia e dançava, mas sem tirar o microfone laranja do suporte. Luke e Max, que estavam perto um do outro, balançavam seus cabelos consideravelmente grandes e pulavam, mexendo seus instrumentos, contagiados pela música que eles mesmos haviam feito. Vez ou outra, Luke se aproximava de seu microfone para fazer a segunda voz para a namorada, que se entregava por completo àquela música. Dan, em sua bateria, deixava suas baquetas e mexia seus pés, fazendo atrito e ditando a batida quatro por quatro da música que eles haviam nomeado de Stop This Song, mesmo que Luke a chamasse de Lovesick Melody. Na verdade, a discussão para o nome da música pareceu mais uma desculpa qualquer para uma discussão daquele casal esquisito. Nate, com sua guitarra fazendo a base da música, pulava de um lado para o outro, tocando com perfeição.
Era mesmo impossível não se deixar curtir por aquela música e não pular com todo mundo, gritando, balançando a cabeça. A batida era apenas boa demais.



I never let love in so I can keep my heart from hurting, but the longer that I live with this idea, the more I sink in.

With this 4/4 beat I'm in time with you, oh. With this 4/4 beat I would die for you.
(Let’s stop this song…)

I've gone too far to come back from here, but you don't have a clue. You don't know what you do... to me.
I've gone too far to get over you, but you don't have a clue. You don't know what you do... to me.
Won't someone stop this song? So I won't sing along. Someone stop this song! So I won't sing your lovesick melody, it’s gonna get the best of me tonight. But you won't get to me… if I don't sing.
(Eu nunca deixei o amor entrar pra evitar que meu coração sofra, mas com quanto mais tempo eu vivo com essa ideia, mais eu me afundo.

Com essa batida 4/4 estou sincronizada com você, oh. Com essa batida 4/4 eu morreria por você.
(Vamos parar essa música...)

Eu fui muito longe pra voltar aqui. Mas você não tem nem ideia. Você não sabe o que você faz...comigo.
Eu fui muito longe para esquecer você, e você não tem ideia. Você não sabe o que você faz... comigo.

Alguém não vai parar essa música? Para eu não cantar junto. Alguém pare essa música! Para eu não cantar a sua canção para doentes de amor, vai conseguir o melhor de mim essa noite. Mas você não chegará a mim... se eu não cantá-la)

Sophie retirou o microfone do suporte e saiu pulando pelo palco, até alcançar onde Max e Luke estavam, rindo para eles. Aproximou-se, acompanhando o ritmo da guitarra e cantando, mexendo a cabeça como os garotos faziam, sentindo-se eletrificada pelos gritos e pela animação dos colegas de escola que pulavam e balançavam os cabelos e as mãos como se estivessem num show de verdade. Colocou uma mão no ombro de Max, que olhou e riu para ela, fez um headbanging e passou a pular com o baixo colado ao corpo, apertando as cordas espertamente. Ela passou a mão pelo ombro de Luke com um pouco mais de malícia no mesmo momento em que a frase “you don’t know what you do to me” saiu de sua boca, e isso fez com que as pessoas apenas gritassem com toda a força que tinham na garganta. Sophie riu, como se aquilo fosse uma piada, e começou a pular enquanto cantava o refrão. Pulando no mesmo ritmo que as pessoas que assistiam, ela parou apenas para apoiar a perna direita na caixa de som que estava em frente ao suporte do microfone, e fez vários headbangings enquanto deixava que a letra da música saísse firmemente de sua garganta. Quando o refrão acabou, ela retirou o pé da caixa de som e recolocou o microfone no gancho.



Well, it creeps in like a spider, can’t be killed. Although I’ve tried and tried too… Well, don’t you see I’m falling? Don’t wanna love you, but I do.
(Bem, isso rasteja como uma aranha, não pode ser morto. Mesmo que eu já tenha tentado... Bem, você não vê que eu estou caindo? Não quero amar você, mas eu amo.)



Ela parou de pular e voltou com os movimentos dançantes enquanto passava a mão pelo suporte do microfone e cantava a ponte da música. As pessoas continuavam pulando, com seus punhos para cima fazendo o símbolo do rock, sentindo cada palavra que aquela garota de cabelos vermelhos cantava. Luke e os garotos também pararam com seus headbangings para prestar atenção e não errar o solo da música naquele momento. Dan, lá atrás, empolgava-se e tocava com toda a força e precisão que tinha, fazendo a alma da música, dando àqueles adolescentes uma razão para pular.
Quando a melodia ficou mais forte, Sophie se afastou do microfone e balançou a cabeça com toda a força que tinha, de um lado para o outro, e imitou as batidas de Dan com os punhos fechados antes de voltar para o microfone.



Lovesick melody! (Won’t someone stop this song? So I won’t sing along…)
Lovesick melody! Whooa… (Won’t someone stop this song?)
Your lovesick melody, It's gonna get the best of me tonight. But you won't get to me, no, you won't get to me.
'Cause I won't sing!
(Canção para doentes de amor! (Alguém não vai parar essa música? Para que eu não cante junto...)
Sua canção para doentes de amor, vai ter o melhor de mim essa noite. Mas você não chegará até mim, não, você não chegará até mim.
Porque eu não cantarei!)



Conforme ela cantava a segunda parte do refrão, Luke se aproximou do microfone e fez o backing vocal, sem perder o ritmo perfeito de sua guitarra solo. Sophie pulava, balançava a cabeça, enquanto cantava com mais intensidade o último refrão da música. Os formandos e seus acompanhantes, já ensandecidos, pulavam o mais alto que podiam e gritavam, com os punhos no alto, sorrindo, extasiados. O que era o sonho de qualquer músico, verdade. Os rostos e gritos animados dos colegas faziam com que aquela banda apenas se sentisse mais animada para continuar tocando e dando tudo de si.
Sophie cantou a última parte do refrão com toda a força que tinha na garganta, e quando a última palavra da música que compôs foi dita, ela levantou seus braços e gritou, impulsionada apenas pela energia que estava recebendo naquele palco.
“We are Paramore!”
Foi essa a frase que saiu de sua boca como grito alto e extasiante. Foi esse o grito que fez seus amigos que tocavam com ela rissem e gritassem, sem nexo, completamente animados. Foi essa a frase que fez com que as pessoas que estavam assistindo àquela apresentação deixassem com que gritos completamente ensandecidos saíssem de suas gargantas, reconhecendo o ótimo trabalho daquela banda de rock que eles não sabiam ser uma nova geração da melhor banda que já existiu.
Por isso, quando a parte instrumental da música acabou de vez, eles começaram a aplaudir, gritar e assobiar como se não houvesse amanhã. Sophie entreolhou os amigos, que pareciam tão felizes que era impossível dizer. Esperou um minuto até que a maioria dos aplausos e gritos cessassem, e sorriu, retirando o microfone do suporte mais uma vez.
— Wow! — ela gritou, deixando uma risada sair de sua boca. — Boa noite, formandos! — gritou novamente e os colegas gritaram junto. — Well... não tenho certeza se vocês nos conhecem, mas nós somos a Paramore. Essa última música se chama Stop This Song, e é composição nossa. — Os colegas gritaram mais uma vez, e ela sorriu. — Bem, vocês estão muito felizes por estarem se formando, certo? Dentro da Paramore, nós temos dois formandos, também! Na bateria, o rei do baile e mais novo noivo do colégio, Dan Fletcher! — as pessoas gritaram e aplaudiram novamente. — Na guitarra solo, Luke Davis, outro formando! E o resto da banda, ainda no ensino médio, temos o baixista, Max Thomas! Meu irmão, Nate Farro, na guitarra base. — ela apontou para cada um, e as pessoas não paravam de aplaudir. — E eu sou Sophie Farro. A próxima música, também composição nossa... — ela olhou para Dan, que sibilou uma palavra que Sophie não entendeu, mas compreendeu quando ele levantou três dedos da mão — ...se chama CrushCrushCrush. Hope you enjoy.
Dan começou seu solo de bateria antes do resto da banda entrar em ação e Sophie começar a cantar a música que ela, Luke e Max haviam composto por pura diversão há duas semanas atrás.
Não é uma surpresa de que a música foi bem aceita também pelo público, assim como as que eles cantaram em seguida. A Paramore, ou melhor, a segunda geração da Paramore, realmente havia conquistado aqueles jovens que haviam se formado e estavam prestes a iniciar sua vida independente. Assim como conquistaria qualquer plateia, como a boa banda de rock que era.
E enquanto cantava a letra de Let The Flames Begin, a última música da setlist feita na hora, Sophie não pode deixar de pensar que queria que a música em sua vida durasse para sempre, e fizesse parte de seu futuro. Assim como seus amigos, sua família, e claro, Luke.
Enquanto cantava e balançava seus cabelos, ela não sentia medo desse futuro tão próximo. Ao contrário. Assim como Luke, estava animada para sCoua nova vida, trouxesse ela quantos problemas trouxesse. Como as palavras que saíam de sua boca agora, deixe as chamas começarem. Assim como o futuro dela. Dela, de Luke, de Dan, e de todas aquelas pessoas que estavam naquele salão naquele momento. This is what will be, oh, glory.



¹ Point Blank é um jogo de tiro em primeira pessoa on-line, no formato Massively Multiplayer Online Game. Sua produtora é a Zepetto, uma desenvolvedora de jogos coreana. Um salve para o primo da Sarinha, Jefferson, por dar a ideia.

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