23 de set. de 2012

Capítulo 46

A really important day



Pov. Sophie


Sentei-me no tapete, aninhando-me ao seu corpo e sentindo seus braços passarem em minha volta carinhosamente. Deixei meus músculos relaxarem quando senti que ele havia deixado um beijo no topo da minha cabeça e fechei os olhos, apenas aproveitando o seu calor, segurando sua mão, escutando nossas respirações calmas. Não precisávamos dizer nada, eu acho. Só precisávamos... estar juntos, quietos, nos amando mas sem estarmos falando nada, ou fazendo nada. A simples companhia dele me completava, e eu sabia que ele sentia o mesmo. Sinceramente, poderia ficar assim o dia inteiro.
Mas não iria. Hoje, excepcionalmente, é um dia... importante. Sim, importante é a palavra que descreve perfeitamente o dia de hoje. Primeiro de tudo, hoje é dia dez. Dez de janeiro. Além de ser aniversário do Nate, é aniversário também do Nate Vanderburg, que salvou a vida do meu pai há exatos vinte e dois anos atrás. Pela manhã eu compareci a tradicional cerimônia de homenagem aos jovens mortos na guerra, e como sempre, meu pai contou a história sobre como Nate salvou sua vida. Só que dessa vez, ele levou também o Nate (Deus! Isso pode ficar complicado de entender), meu irmão, para a cerimônia. E, na verdade, ele falou um pouco mais do que o meu pai, contando sobre como a história de Nate Vanderburg o fizera querer seguir carreira no exército dos Estados Unidos, e ele estaria indo para o colégio militar de Louisville em apenas dois dias.
Então, bem, hoje também é um dia importante por que é, tecnicamente, o último dia de Nate em casa. Minha mãe está quase morrendo, pra te dizer a verdade, mas eu acho que ela entende o porquê de ele querer ir para o colégio de uma vez e não se alistar aos dezoito como meu pai fez.
Quer dizer, eu li sobre a rotina de um colégio militar. Não existe nada mais puxado! Nate provavelmente vai trabalhar ou estudar o dia inteiro e não vai ter tempo nem para os próprios pensamentos.
O que, talvez, seja exatamente o que ele esteja procurando.
Por isso, acho, nem eu tentei fazê-lo ficar em casa e se alistar mais tarde. Por que... bem, dói olhar pros olhos do meu irmão e ver que ele está sofrendo, mesmo que iniba isso pro mundo inteiro. E... talvez, muito provavelmente, isso realmente seja melhor para ele. Ocupar-se completamente, quero dizer. E ele está animado, além disso.
O que é bom, por que o que mais vamos precisar hoje é de animação. Como eu disse, hoje é um dia importante, mas não apenas pelo aniversário de quinze anos do Nate. Hoje é um dia importante, também, por que Joe finalizou seu livro.
Não o primeiro que será lançado oficialmente daqui a seis meses — na realidade, já era para ter sido lançado, mas nós descobrimos que a editora é uma verdadeira enrolada e adiou mais o lançamento —, mas sim, a história sobre Jon Foster e Alison, denominada Overturn. Joe havia me contado, naquele dia, sobre o resumo completo do livro, mas eu sinceramente não tenho ideia de como é o final. Ninguém sabe, nem mesmo o seu agente. Tudo o que nós sabemos é que Joe está mais do que animado por ter terminado a história — mesmo que, anteontem, quando ele realmente finalizou, ele ficou meio deprimido. Não entendo bem o porquê, mas quando me aproximei e perguntei, ele me disse apenas que havia se apegado demais a história e se sentiria meio mal por não escrevê-la mais. Quando perguntei se isso não seria uma boa coisa, uma vez que ele começara a história no intuito de terminar, ele colocou a mão no meu ombro, e suspirando, disse: “eu não espero que você entenda, Soph”, e saiu. Bem, de qualquer forma, depois que ele imprimiu dez exemplares e mandou encadernar, ele estava completamente animado. Agora, andava de um lado para outro segurando o manuscrito debaixo do braço, perguntando a si mesmo se Danna já havia chegado.
Isso por que Joe se recusava a deixar que outros familiares lessem antes de Danna. Ele já havia ligado para seu agente e dito que lhe mandaria o livro por e-mail assim que possível. Ele leria, aprovaria ou não, e começaria a trabalhar para o livro ser aceito por alguma editora. Até essa editora fazer um contrato, eles fizerem a arte da capa, editarem, imprimirem e lançarem o livro, vão-se dois anos facilmente. Como por exemplo, a primeira história de Joe, que ele escreveu quando tinha dez anos, e vai completar doze antes de ela ser lançada.
Bem, só isso somado ao fato de Nate estar fazendo aniversário seria suficientemente importante para hoje, mas ainda há outra razão para o dia dez de janeiro deste ano ser mais importante do que alguns outros.
E esta razão, é simplesmente, por que hoje é sexta-feira. E segundo o pequeno contrato que Luke e Dan tiveram de assinar — por serem maiores de idade, ficaram responsáveis —, hoje é o dia da segunda geração da Paramore levantar uns adolescentes naquela casa de shows.
Caramba! Eu ainda nem acredito, é sério. Eu só preciso pensar nisso para sentir um arrepio de excitação, misturado com uma pontinha de medo e um mundo de nervosismo passar por mim e fazer meu estômago revirar. Depois do anunciado de Joe, que acontecerá assim que Danna chegar, eu, Luke e Nate teremos que ir para a casa noturna para passarmos o som. E logo mais, às nove da noite, é que a mágica vai acontecer.
Preciso ressaltar que o arrepio passou por mim nesse exato momento? Acho que não, né.
Mas isso é realmente maluco, e... bem, maluco é a palavra. Eu quase entrei em colapso quando vi o folheto que o Norton, o dono da casa de shows, fez. Tinha uma arte realmente incrível com uma guitarra Les Paul, ao canto esquerdo um rapaz de cabelo meio ruivo todo tatuado, e no canto, uma foto minha (minha!) enquanto eu fazia o headbanging de Let The Flames Begin. No centro superior do folheto, em letra destacada, estava escrito bem grande “ROCK FRIDAY NIGHTS!”. O endereço do local, telefone, bebidas e demais informações estavam no canto inferior. No meio, meio destacado, estava escrito: “Com apresentações de HOT CHELLE RAY e PARAMORE!”.
Sim, isso é o mais maluco. Nós vamos dividir o palco (claro, cada um à sua vez), com uma outra banda, a Hot Chelle Ray, que eu já conhecia por alto. Eles tem um MySpace, e além do mais, já tocaram várias vezes no festival de música que tem em Franklin. Pode ser inacreditável, mas eles são de lá, e muito provavelmente minha mãe possa ter conhecido a mãe de algum deles, ou algo assim.
E isso tira um pouco do meu medo, posso dizer. Qualquer um que tenha visto o folheto me viu como uma garota rocker com o cabelo malucamente colorido e o microfone laranja (sério, simplesmente amei aquele microfone), e provavelmente vai se interessar, mesmo que nunca tenha visto a banda. O pessoal talvez só vá para ver a HCR, mas escutando a nossa música primeiro...
Bem, se pudemos animar a galera do baile, também poderemos animar aqueles roqueiros, não é?
Eu espero que sim. E, olá pra você, arrepio que está passando agora novamente.
Além do mais, oras! Nós vamos subir num palco de verdade e tocar para pessoas que nós não conhecemos. Quem é que pode julgar meu nervosismo, droga?!
Sinceramente, eu não sei se essa Rock Friday Night me deixa mais ansiosa ou nervosa. Estou uma verdadeira bagunça de emoções, vou te contar.
Mesmo assim, qualquer tensão que havia em meu corpo simplesmente sumiu quando eu senti os lábios quentes de Luke atingirem o meu pescoço, após ele ter afastado o cabelo de lá com os dedos delicadamente. Senti-me arrepiar imediatamente e por instinto, projetei a cabeça para o outro lado, e meus lábios se curvaram em um sorriso sem que eu percebesse. Meu coração começou a palpitar com força dentro do peito, e ele sabia. Ele sabia, por que eu pude ouvir a sua risada sonora enquanto continuava seus movimentos na extensão do meu pescoço. Filho da mãe. Ele faz isso por que ele sabeele sabe o efeito que causa em mim.
— Pare com isso, você — disse, colocando uma mão e impedindo os lábios dele de tocarem o meu pescoço.
Luke riu, subindo seus beijinhos até minha bochecha.
— Ah, por favor, larga de ser chata — ele disse, ainda tentando me beijar ali. Tentei impedir seus beijos com as minhas mãos.
— Mandei parar — eu disse, tentando ser autoritária. Luke ainda tentava me dar um beijo no rosto, mas eu o virava para um lado e para o outro, tentando impedi-lo. Ele ria, enquanto passava os lábios pela minha mão, que estava sempre atrapalhando o seu trabalho.
Coloquei uma mão no seu rosto e empurrei pro outro lado, fazendo-o dar uma espécie de gemido indignado. Ele tentou aproximar seu rosto até o meu pescoço novamente, mas eu o cobri com a minha mão e empurrei seu rosto mais uma vez.
— Você é insuportável — ele disse, indignado, segurou uma das minhas mãos com a dele, afastando-a e me dando um beijo na bochecha, enquanto eu tentava me esquivar. — Chata, boba.
— Me solta! — grunhi, puxando minha mão e tentando fazer com que ele me soltasse.
Mas ele, por algum motivo, encarou como um desafio e puxou meu braço para trás da minha cabeça. Gritei, mesmo que uma risada tivesse saído junto.
Tentei bater nele com a outra mão, mas meus golpes com a mão esquerda pareciam não surtir efeito algum. Enquanto isso, ele apenas ria e me chamava de chata. Deixou mais um bocado de beijinhos ousados no meu pescoço, enquanto eu me remexia no seu colo, procurando me soltar. Mas se eu puxasse meu braço com mais força, ia doer mais.
— Veja você agora — ele disse no meu ouvido, segurando meu braço para trás. Senti um arrepio passar pela minha espinha e o xinguei. Ele riu. — Imobilizada, impossibilitada de fazer qualquer coisa contra mim.
— Quando eu sair daqui, eu juro que te mato. Me larga. — Eu disse, ameaçando-o, mas ele apenas riu. O sorriso do meu rosto também não havia saído.
— Oh, minha chatinha — ele disse, beijando o lóbulo da minha orelha. Dei outro tapa na perna dele com a mão esquerda, mas parece que ele mal sentiu. — Então você quer sair?
— Você me paga, Luke Noah Davis — sussurrei e ele apenas riu daquele jeito sedutor mais uma vez.
Filho da mãe.
— Você quer sair, então... hum... — ele deu mais uma sequência de pequenos beijos no meu pescoço e eu me remexi, como se não estivesse gostando de tudo aquilo. — Tudo bem, tudo bem. Você pode sair. Mas só se disser que me ama.
Eu ri, como se estivesse debochando dele.
— Eu não amo você — disse, desafiando-o.
Luke fez um barulho de reprovação.
— Ah, então você vai ficar com o braço pra trás para sempre — ele disse, roucamente, sabendo que aquele tipo de voz me fazia perder a sanidade. Deixou um beijo molhado no meu pescoço e eu mordi o lábio, prendendo a respiração. Deixar meu braço imobilizado era jogo sujo, ok? — Diz que me ama, sua chata.
— Não — respondi apenas, ainda no tom desafiador. A mão de Luke que não segurava meu braço para trás atingiu minha cintura, fazendo um carinho por debaixo da blusa.
Golpe. Baixo.
 Diz que me ama, Sophie Williams Farro — ele sussurrou novamente, deixando uma mordida no lóbulo da minha orelha.
— Não — sinceramente, não sei onde achei voz para responder. Mas que droga, viu, Luke. Isso não é legal, é sério. Maltrata.
Então ele riu, tirando os lábios do meu pescoço. De verdade, não sei se eu queria que ele continuasse ou que parasse. Olá, confusão, bom dia para você.
— Então tá — ele disse, dando de ombros. — Seja feliz com seu braço atrofiado. Chata.
— Me solte, Luke — grunhi novamente, puxando meu braço mais uma vez e gritando pela dor que senti. Ele riu.
Certo, hora do plano de ataque.
Levei minha mão esquerda até a cintura dele, cutucando-o bem onde seu ponto de cócegas é apurado (descobri isso de uma maneira engraçada, mas isso já é outra história). Ele deu um pulo e soltou meu braço de uma vez, e eu me inclinei para frente, fugindo dele.
— Ah! — ele disse, me vendo engatinhar rapidamente para longe dele. — Agora você vai ver!
Tentei me levantar, mas ele agarrou meu pé e me fez cair no tapete novamente. Rolei para o lado, mas ele puxou meu braço e me fez rolar de volta. Segurou meus dois braços no chão ao lado da minha cabeça, e como ele é bem mais forte que eu, não consegui me mexer.
— Me solta! — gritei novamente, ofegante, com ele por cima de mim fazendo uma espécie de “gaiola”. Exatamente da mesma forma em que ele estava quando nos beijamos a primeira vez naquela bendita sala de detenção.
Ele riu, abaixando o rosto e enfiando-o no meu pescoço, beijando-o ali.
— Você ainda não disse que me ama — ele disse, sussurrando, enquanto eu sentia o mesmo arrepio triplicado passando por mim agora. Ele retirou a boca do meu pescoço e levantou o rosto, encarando-me com aqueles olhos azuis grandes, brilhantes e sapecas. Mordeu o lábio inferior.
Ele mordeu o lábio inferior.
Fechei os olhos por um segundo, procurando manter minha sanidade bem certinha dentro da mente, e tentando mandar aquela vontade absurda de beijá-lo para o quinto dos infernos. O que, obviamente, não aconteceu. Ainda mais quando senti seus lábios roçarem nos meus.
— Say you love me — ele sussurrou mais uma vez ainda roçando nossos lábios, e então mordeu meu lábio inferior levemente. Ai, que se dane. Impulsionei minha boca contra a dele, iniciando aquele beijo de uma vez por todas.
E isso pareceu diverti-lo a beça, vou dizer. Além de deixar uma risadinha escapar, ele retribuiu o beijo a altura, aumentando o aperto nos meus braços imobilizados e mordendo meu lábio inferior vez ou outra. Tomada por aquele arrepio e pela sensação de felicidade que me invade toda vez que Luke está perto, deixei-me ser beijada tranquilamente por ele, sentindo seus movimentos espertos e estando meio encurralada porque, afinal, ele ainda segurava meus braços. Não que eu achasse aquilo exatamente ruim naquele momento. Por mais que parecesse desconfortável... simplesmente não era. Não era por que, bem, era Luke que estava segurando, e tudo isso era fruto de uma das nossas brincadeiras eventuais.
E, meu Deus, como eu gostava disso. O tremor, os arrepios, meu estômago revirando e meu coração batendo como se fosse sair do peito a qualquer momento apenas demonstravam em uma pequena margem o quanto eu realmente amava. Esses beijos, esses toques, essas brincadeiras bobas que no final sempre acabavam na mesma coisa. Eu amava de todo o meu coração poder implicar com ele e ouvi-lo me chamar de “minha chata, boba, insuportável”. E mesmo que eu não quisesse admitir, por pura implicância, ele sabia. Ele sabia que eu o amo mais do que tudo. Ele sabia, ele sabe, e ele sempre saberá. Esse insuportável e estúpido sabe e faz esse tipo de coisa só para me implicar, também.
Talvez ele ame tudo isso tanto quanto eu.
Ainda com o corpo apoiado no meu, ele me beijava com ardor, até que nossos pulmões realmente pediram por ar, não se aguentando mais. Ele devagar separou seus lábios dos meus e afrouxou o aperto nos meus braços, usando a mão para acariciar a maçã do meu rosto enquanto me olhava nos olhos. Droga. Eu sou apenas... tão apaixonada por esses olhos azuis perfeitos. Essas sobrancelhas bem desenhadas, esse rosto longo, esse cabelo ridículo, essa barba por fazer. Esses lábios bem desenhados, agora meio avermelhados. Esse sorriso estúpido, como se ele estivesse pensando a mesma coisa que eu nesse momento. Sou tão apaixonada por tudo. Sou tão apaixonada por ele.
Com as mãos finalmente livres, embrenhei meus dedos nos seus cabelos naturalmente bagunçados com uma mão e com a outra segurei firmemente a sua nuca. Aproximei meus lábios dos dele num selinho molhado e demorado, e dessa vez, eu mordi o lábio inferior dele delicadamente, sem nenhuma pressa. Olhei em seus olhos azuis, lindos e brilhantes, e dei uma risadinha sonora.
— Eu te amo — sussurrei, olhando bem no fundo dos olhos dele, e fazendo-o sorrir também. — Seu chato, bobo, estúpido, insuportável. Meu chato, bobo, estúpido e insuportável. Eu te amo.
Luke sorriu mais uma vez e beijou a maçã do meu rosto, a minha bochecha, e o canto da minha boca, antes de me deixar mais um selinho demorado, molhado e apaixonado.
— Minha chata, boba, estúpida e insuportável — ele sussurrou, encarando meus olhos novamente. Mordi meu lábio inferior. — Tá vendo como eu sempre consigo que você faça o que eu quero?
Eu ri.
— Consegue nada — neguei, rindo novamente. — Só disse que te amo por que é o que eu sinto de verdade. Não por que você mandou.
Luke sorriu. Seus olhos estavam... hipnotizantes, cara.
— Se quer saber, eu te amo também. Mais do que tudo que existe e o ar que eu respiro — ele disse, fazendo-me dar mais um sorriso bobo. Não me culpe, tá legal. Não tem como não sorrir abobalhadamente quando ele diz essas coisas.
Isso por que o Luke tem um jeito engraçado de fazer... eu me sentir a pessoa mais desejada e amada do mundo, com apenas um olhar e umas palavrinhas. Ele... ele é... tão... incrível. Mesmo sendo um idiota às vezes, ele é... o meu idiota. Não tem como entender. Na verdade, eu mesma mal consigo entender essas coisas que eu sinto e que passam por mim. E nem preciso, oras! Eu sei que o amo, e é isso que importa. É o que sempre importou.
— A DANNA CHEGOU! — meus pensamentos foram interrompidos pela voz aguda de Joe gritando tão alto que tenho certeza que meus vizinhos até os próximos quatro quarteirões puderam escutar. — A DANNA CHEGOU, É O CARRO DELA! A DANNA CHEGOU, GENTE, CORRE!
Luke riu, deixando mais um selinho rápido nos meus lábios até sair de cima de mim. Olhei para os meus braços e vi que eles estavam marcados pelos dedos dele.
— Tá vendo o que você fez? — perguntei pra ele num tom acusatório, mostrando meu braço avermelhado.
Ele deu uma risada alta e se levantou, pegando minha cintura e fazendo-me levantar também.
— Eu segurei fraco, Soph. Você que é branca demais. Ninguém pode triscar em você que vai parecer que você levou uma surra — ele deu de ombros, segurando minha mão.
— Você fala como se fosse super moreno, e tal — debochei, fazendo-o rir.
Joe apareceu na porta da sala do piano, onde estávamos, com o rosto iluminado de animação.
— Vamos, gente! A Danna já chegou! Eu tô doido pra poder falar do livro pra vocês! — ele disse, quase pulando. — Vamos, anda! Rápido!
Luke riu.
— Se acalme, Joseph! — ele gritou com a voz mais grossa que tinha, e eu acabei dando uma gargalhada.
Joe abaixou os ombros e semicerrou os olhos para Luke.
— Não tente expor sua puberdade falhada para mim, Luke. Meu pai é um General. — Ele disse, imponente, e minha gargalhada só ficou mais escandalosa. — Vamos logo.
Então Joe saiu, deixando-me morrendo de rir e Luke meio surpreso, mas rindo quase tanto quanto eu.
— Esse seu irmão é uma... figura — ele disse, seguindo comigo até a sala de estar, onde Danna discutia com Joe. Claramente ela deveria estar no trabalho uma hora dessas, afinal, está com a câmera no pescoço.
Imagino o quanto Joe deve ter importunado tia Dakotah para liberá-la. Pobrezinha.
E Luke tinha razão. Este Joseph é realmente uma figura. Digo, ele sempre teve seus truques e artifícios para escapar de uma bronca e conseguir o que quer. Sempre foi persistente e, ao mesmo tempo, sensível. A verdade é que Joe tinha todos que queria na palma da mão. Às vezes parecia um adulto da maneira que falava, mas às vezes, era apenas uma criança assustada. Isso sem dizer de sua autoridade, pose, e conhecimento sobre milhares de coisas que homens como Luke ou Nate dormiam só em ouvir falar o nome.
Joe era uma verdadeira figura. Sempre disposto a dar uma alfinetada, é claro. Como as várias que ele dera em Nate enquanto todo mundo se acomodava na sala de estar.
Acabei sentada no tapete novamente, com o corpo junto ao de Luke. Danna estava no sofá ao lado dos meus pais, e Nate estava jogado de qualquer jeito na poltrona.
Joe subiu e desceu as escadas, trazendo uma montanha do que pareciam apostilas, que na verdade eram apenas cópias do manuscrito de seu mais novo livro. Ele deixou tudo ao lado da poltrona de Nate e ameaçou-o de morte caso tocasse nos manuscritos antes da hora, fazendo com que eu e meu pai ríssemos e minha mãe lhe desse uma bronca.
— Certo — Joe disse, com um dos manuscritos em mãos, em pé. — Bem, vocês podem se considerar privilegiados por que vão ser os primeiríssimos ao ver esse livro pronto. — Luke fez um “uhu!” e levantou o punho, fazendo com que todos nós ríssemos. — Tudo bem. Como todo mundo sabe... esse livro não é apenas a história sobre o garoto Jon Foster Jr., que fica cansado dos problemas em sua casa e foge. Esse livro... que eu escrevi tem pouco tempo... foi na verdade uma grande terapia para mim, por tudo o que a nossa família passou ultimamente. Por que mesmo que tenha sido muito difícil, e Deus, Luke e Sophie sabem como foi... cara, eu sinceramente não posso imaginar o quão bom foi isso ter acontecido, por que os maus pontos foram todos cobertos pelos bons. Não, Danna, fica quieta que eu não estou falando de você — ele revirou os olhos com a piada, fazendo com que nós déssemos outra risada. — Tá, brincadeira, tô falando de você sim, mas eu fugi do ponto. A questão é que a Overturn passou a significar muito pra mim justamente por que foi ela que me ajudou nos momentos difíceis, e ela que me fez ver que a vida sabe o que faz. Por que com isso tudo, eu ganhei uma nova história, Sophie e Luke finalmente se juntaram, o que me fez ganhar um cunhado, e ainda por cima ganhei uma nova irmã. E isso é incrível demais.
— Awn, seu lindo — Danna disse, fazendo-o erguer o dedo para ela num gesto autoritário e rir em seguida. Voltou à atenção para o manuscrito que estava consigo e leu a sinopse em voz alta, deixando-nos completamente absortos em sua leitura cativante. Até mesmo Nate estava sereno, escutando com atenção.
Joe tinha esse poder pelas pessoas. Acho que ele lia tanto que acabou pegando os macetes de manter uma plateia. De repente me peguei imaginando ele lendo o primeiro capítulo desse livro daqui a um tempo em uma daquelas turnês de lançamento que o autor quase sempre faz.
Quando ele terminou a sinopse, eu puxei palmas e todos nós aplaudimos. Nate deu um daqueles assobios escandalosos que todos odeiam.
— Valeu, gente, mas foi só a sinopse — ele disse, meio corado. Que bonitinho. — Eu vou... ler a dedicatória. Não escrevi os agradecimentos, por que pra isso, preciso ver se o Martin vai conseguir mandar esse livro pra alguma editora, aí vou poder agradecê-lo também. — Ele deu uma risada nervosa. — Aliás, vou entregar logo os manuscritos.
Com a ajuda de Nate, ele pegou as impressões no chão e foi distribuindo para cada um de nós. Eu e Luke fomos os primeiros a receber, e eu abri o meu de uma vez, e vi que ele também estava olhando. Virei a página até a dedicatória e acabei rindo após lê-la.


“Para Sophie e Danna, irmãs lindas e queridas... E Luke, pseudo-primo e cunhado.”


— Olha, eu! — Luke apontou para o livro e me fez rir novamente. Danna, meio emocionada, leu a dedicatória em voz alta e fez com que todos ali fizessem um “own” em uníssono. Ela se levantou e puxou Joe, abraçando-o com toda a força que tinha, e eu pude ver que ela havia deixado uma ou duas lágrimas caírem. Vi ela sussurrar um “obrigada” para Joe, que apenas riu e disse um pouco mais alto: “obrigado você por ser minha irmã.”
Então ela oficialmente começou a chorar.
E não posso culpá-la, por que o nó já estava formado na minha garganta também.
Bem... eu sei o que foram aqueles dias. Me lembro perfeitamente de quando meu pai foi embora de casa, após nos dizer sobre a existência da nossa meia-irmã mais velha que eu agora amava assim como amava qualquer um dos meus outros irmãos. A questão é que eu sei a dor que senti quando vi minha mãe se afastando, e eu lembro muito bem da sensação horrível de impotência, medo e tristeza que eu sentia a cada vez que via Joe dando um ataque de pânico, ou acordando de um pesadelo com lágrimas nos olhos, ou pior. Isso sem mencionar Nate, se isolando com seu sofrimento, não apenas por isso mas também pela partida inoportuna de Julia.
E, agora, tudo parecia... tão bem. Tão certo. Joe estava ali, todo ele, falando sobre uma história que havia escrito pensando nele mesmo, e abraçando nossa meia-irmã, agradecendo-a por fazer parte da vida dele. Tudo estava bem. Perfeitamente bem.
Foi por isso que, quando eu o abracei, apenas deixei com que umas poucas lágrimas saíssem dos meus olhos também.
Mas isso só aconteceu por que eu estava feliz. Feliz demais.



[...]



Sentada no bumbo da bateria de Dan, eu sorri quando os meninos terminaram o que seria a introdução do nosso show, se posso assim dizer. Iríamos iniciar a setlist com a Brand New Eyes (o que, na verdade, não é realmente o nome da música, mas vamos deixar assim mesmo), e estávamos trabalhando no resto das músicas. Norton acabou de passar por nós e está animadíssimo com a nossa apresentação. E, ah, Marie e Jenny estão nos assistindo nesse instante, num canto pouco afastado, e agora aplaudiam e gritavam. Jenny assobiou.
— Yeah! — eu disse, animada, jogando os braços para cima e ignorando as meninas mais à frente. — Essa música foi feita para a introdução de um show.
— Show... — Max ecoou minha última palavra, com o olhar vago. Depois soltou um palavrão.
Dei uma risada, passando os dedos pelo cabo do microfone laranja. Sim, o mesmo microfone! Descobri que, na verdade, ele não era propriedade da escola, e sim de Cassie Kingston. Acabou que eu consegui comprá-lo dela, já que ela não havia se apaixonado por ele como eu (também usei isso como argumento).
— Eu acho que a frequência das guitarras ainda não tá boa o suficiente nessa música — Luke opinou, abaixando-se e mexendo em seu pedal. — O que acha, Nate?
— Sei lá, eu achei que tava bom assim... — Nate opinou, se abaixando também.
Luke se abaixou e mexeu durante mais alguns minutos na pedaleira, tomando cuidado com a guitarra nos ombros. Levantou-se e fez uma nota qualquer, seguida do solo inicial da música de abertura.
— Wow! — Max exclamou, jogando uma parte de seu cabelo ondulado para fora dos olhos. — Bem melhor. Qual é a frequência? Vamos arrumar isso aqui.
Então, tanto Max quanto Nate voltaram a mexer nas frequências das guitarras, e como eu não entendo muita coisa disso (entenda, meu instrumento é o piano), coloquei o microfone no suporte e deixei os garotos trabalhando, indo em direção à Jenny e Marie que pareciam estar fofocando. Com toda a certeza, estavam falando mal de alguém, só pela forma em que elevavam as vozes.
— Não, por favor! — a voz de Marie tomou forma assim que me aproximei. — Eles fazem isso sempre! Dá raiva, é sério. Tudo bem que eles gostam de tocar, a gente entende, mas... sempre?
— E aí — cumprimentei-as, recostando-me no balcão. Elas estavam no lugar onde as pessoas geralmente compravam as bebidas nas festas. Não tenho certeza se esse lugar continua aberto nas Rock Friday Nights, mas tenho quase certeza que sim. Elas responderam meu cumprimento com um “e aí, Soph”. — Sobre o quê estão falando?
Jenny bufou, mexendo na franja que ela havia cortado no ano novo. Agora vivia caindo no olho, e ela realmente detestava isso. Mas seu cabelo estava realmente bonito com duas mexas azuis pelos fios castanhos claros.
— Estamos falando sobre nossos namorados e suas obsessões pelos seus instrumentos musicais — ela respondeu, retirando o cabelo dos olhos outra vez. — Franja do inferno! É sério, da próxima vez que você estiver fazendo um corte repicado na cabeleireira e ela disser “vamos fazer a franja?”, você responda: “não, filha da...”
— Eu já entendi — Marie interrompeu-a, fazendo-me dar uma risada. Jenny bufou outra vez.
— Não sei por que vocês reclamam tanto de cabelo no olho — dei de ombros, indiferente ao mau-humor de Jenny. — Quando eu tô no palco, são raras as vezes que não tem cabelo no meu olho. Acho que vocês morreriam se fizessem um headbanging.
— Ah, qual é — Jenny rebateu, encarando-me. — Seu cabelo é liso e fácil de tirar do rosto. Isso aqui — ela puxou uma mecha do seu próprio cabelo —, é pura escova permanente e chapinha, meu amor.
Eu ri outra vez e Marie ergueu uma sobrancelha.
— Seu cabelo é cacheado? — perguntou, atônita.
Jenny negou com a cabeça.
— Não. Quem dera se fosse! — ela exclamou e retirou a franja do olho outra vez. — As pessoas diziam que ele era ondulado, mas ele tava mais para um acabei-de-levar-um-puta-choque-de-um-desfibrilador. Não segurava nenhum tipo de penteado! Minha avó dizia que ele era daquele tipo de cabelo que tem mais amor à Deus do que à própria raiz, por que uns fios insistiam ficar para cima, levantados e esquisitos.
Deixei com que minha risada se fortalecesse lindamente e fui acompanhada de minha prima. Jenny tem um jeito esquisito de fazer tudo ficar engraçado quando ela está com raiva, alem de ter um talento nato para fazer piada de si mesma. Impossível seria não rir.
— Ai, por favor — Marie disse, procurando se acalmar da pequena crise de risos. — Você nem exagera, né, Jennifer.
— Tô falando sério — ela reforçou seu argumento com um revirar de olhos. — Bem, pelo menos, com a permanente e as mechas coloridas ele ficou mais bonitinho, ok. Mas aí, é claro, a vadiada cabeleireira teve que cortar a franja errado, e ferrar com tudo outra vez, vou te contar!
Tentei controlar minhas risadas também, dizendo:
— Poxa, não xingue a pobre mulher. Você sabe que os cabeleireiros têm problemas de vista e sempre cortam muito mais do que a gente pede.
Marie riu outra vez.
— Como é que o assunto foi evoluir de raiva dos nossos namorados músicos para cabeleireiras míopes e vadias? — ela perguntou com a voz oitavada, rindo escandalosamente em seguida.
Jenny se deixou rir conosco.
— Pois é! — ela exclamou, acalmando-se. — Vocês são esquisitas, vou te contar. Mudam de assunto sem nem ver.
Neguei com a cabeça sem retirar meu sorriso do rosto.
— Foi você que começou a falar do cabelo que tem mais amor à Deus do que à própria raiz, não nós — rebati, o que fez Marie fortalecer o meu argumento. — Além do mais, eu nem participei do outro assunto.
— Verdade — Marie disse, assentindo. — Você estava tocando a musiquinha do mal, lá. Mal no seu coração que gosta de brincar. Ou algo assim.
— There’s evil in your heart, and it wants out to play… tan tan tan… — Jenny cantarolou a letra e fez uma imitação do solo de guitarra, fazendo-me rir alto, mas minha risada foi meio abafada pelo som alto de guitarra que começou a ecoar. — Eu gostei, mano! Gostei mesmo dessa música, tipo, wow! Ficou dá hora, na boa.
Marie franziu o cenho e torceu o nariz, olhando para Jenny.
— Você falou mesmo cinco gírias em apenas uma frase? — ela perguntou, encarando Jenny.
Dei uma risada.
— Ela anda passando tempo demais com o Max — disse, dando um tapinha em seu ombro. — Daqui a pouco quando formos procurá-la ela vai estar em coma, apagada na cama por causa do baque que as trinta latas de Red Bull que ela havia tomado para poder ficar acordada para jogar Point Blank deram nela. — Eu disse, e ri junto à Marie.
— Até parece! Nunca que isso aconteceria comigo, ok? Eu não gosto de Point Blank! — Jenny negou com a cabeça, bufando. — Prefiro Left 4 Dead.
Eu e Marie rimos novamente.
— Tão vendo? — perguntei, ainda rindo. — O assunto agora evoluiu para jogos de computador que eu nunca nem ouvi falar.
— Não se esqueça das trinta latas de Red Bull — Marie disse, fazendo com que todas nós déssemos uma crise de risadas extremamente esquisitas. Os garotos provavelmente nos olhavam agora com aquela cara confusa.
Mas fala sério, essas meninas são completamente malucas! Todo mundo sabe que quando nos juntamos não sai absolutamente nada que preste.
Se Julia estivesse aqui, provavelmente faria alguma piada para deixar uma de nós envergonhada, e nós revidaríamos utilizando o Nate como arma. Sempre funcionava.
Suspirei, parando de rir subitamente. Caramba. Juzy faz tanta falta que não tem nem ideia. Não só para Nate, mas também para surtar e falar besteira, como estamos fazendo agora. Ou fazer uma noite do pijama regada à pipoca, brigadeiro e outras coisas que engordam que é uma beleza. Ou simplesmente dar um daqueles abraços apertados que só a melhor amiga sabe dar.
Olhei para Nate, que estava com um sorriso no rosto enquanto fazia a introdução de Brighter, que não estava na set, só para mostrar para Luke que ele sabia fazer. Mesmo que ele não houvesse dito nenhuma vez, eu vi inúmeras vezes em seus olhos o quanto ele queria que Julia simplesmente estivesse aqui para ver nosso primeiro show de verdade.
Julia estava fazendo uma falta enorme, e eu sabia que a falta que todos nós fazíamos a ela provavelmente era bem maior.
— Veja só — Mary fez uma observação, acompanhando meu olhar para Nate. — Nate sabe tocar Brighter. Que orgulho, não?
Jenny deu ombros.
— Ele não deve largar aquela guitarra idiota — ela disse, bufando. — Max também sabe essa música de trás pra frente, e todas as outras da Paramore antiga, e da Paramore nova, e da Paramore do futuro, se existir.
Marie riu, enquanto eu murmurava um “exagerada”.
— É exagerada mesmo — ela reforçou meu argumento. — Mas eu tenho que reconhecer que é realmente chato essa obsessão deles com os instrumentos. Meu Deus do Céu, eu não aguento mais escutar os mesmos batuques o dia inteiro!
— Ok, voltamos ao assunto “falar mal de nossos namorados obcecados por seus instrumentos musicais” — disse baixo e fiz aspas com as mãos, mas elas apenas deram um risinho como resposta.
— Vocês não sabem o que aquele filho da mãe fez na semana passada! — Jenny disse, abrindo a boca levemente em indignação. Marie se mostrou totalmente interessada e eu ri. — Tipo, vocês sabem que ele ficou uma semana lá não-sei-aonde com o pai dele, né? — Fizemos que sim com a cabeça. — Pois então. Quando o infeliz voltou pra cá, dizendo morrer de saudades, com eumorrendo de saudades, ao invés de ir me ver ele foi tocar guitarra?! Guitarra?!
Eu dei uma risada baixa e Marie fez que não com a cabeça, reprovando o ato.
— Não, é sério, isso é uma sacanagem. Sabe quantas vezes eu já fiquei esperando o Daniel me ligar à toa, por que ele esqueceu por estar tocando bateria?
— Ah, amiga, isso é normal pra mim — Jenny revirou os olhos e só a expressão de Marie já concordava com ela.
Não cessei minha risada.
— Meninas, isso é normal, eles são músicos! — chamei a atenção delas, tentando defender meus meninos. — O instrumento musical tem muito valor pra um músico, tentem entender. Por exemplo... se me perguntassem, tipo: “Sophie, escolha ou o Luke ou o piano, você pode viver com apenas um”, eu ainda iria pensar no assunto!
Marie deixou uma risada alta escapar e Jenny me encarou como se eu fosse uma retardada mental.
— Sophie — ela chamou minha atenção, enquanto Marie ainda morria de rir. Só começou a falar quando minha prima começou a se acalmar: — O piano não tem um pênis.
Encarei-a da mesma forma que ela me encarava.
— É exatamente por isso que eu teria que pensar no assunto — respondi com o tom de voz parecido com o tom que se usa quando diz “você não entendeu a piada”, e Marie desatou a rir desesperadamente outra vez.
Não demorou muito e estávamos todas as três rindo, como três adolescentes bobas falando porcaria que éramos.
— Som, som, testando... — escutei a voz de Luke ampliada e vi ele segurando meu microfone laranja, a alguns metros de distancia. — Sophie Farro, sua presença está sendo solicitada no palco para a finalização da setlist. Compareça até o palco, Sophie Farro. Sophie Farro...
E ele continuou falando até eu sair de perto das meninas risonhas e chegar até lá, onde ele continuava repetindo meu nome e sobrenome e relembrando o quanto minha presença estava sendo solicitada naquele momento. Cheguei lá já um pouco irritada com a idiotice do meu namorado.
— Você é um bobão, sabia? — disse, bufando.
Luke riu.
— A senhorita é a senhorita Sophie Farro? Por que se for, sua presença está sendo solicitada neste palco para a finalização...
— Cale a boca — eu o interrompi, fulminando-o com os olhos. — Ok?
— Então a senhorita é a senhorita Sophie Farro? Por que, caso for, sua presença está sendo solicitada no meu coração — ele finalizou com um sorrisinho no rosto e eu tive que desfazer minha cara de má e dar uma risada alta.
— Pelo amor de Deus! — Dan exclamou, erguendo as baquetas e pronunciando cada palavra bem corretamente. — Que coisa mais tosca, cara!
Max e Nate riram, e eu pude ver Marie e Jenny simplesmente morrendo mais à frente.
— É tosco, ok, mas as gatas se amarram — Luke disse e deu uma piscadela para Dan. Se aproximou de mim, que ainda não havia parado de rir. — Você não se amarrou, linda? — ele me perguntou, passando a mão pela minha cintura.
— Primeiro que “se amarrar” não é nem uma expressão válida nos dias de hoje — Nate disse, revirando os olhos. — Segundo que, meu Deus, eu concordo completamente com o Dan, que coisa mais tosca!
Luke negou com a cabeça, deixando um beijo na minha cabeça.
— Fala sério, vocês têm inveja do meu poder inegável de sedução.
Me afastei do seu abraço, encarei-o com uma expressão quase séria e depois bufei, olhando diretamente para Dan e apontando-lhe um dedo.
— Viu só o que a convivência com você fez com o meu namorado, seu bobão?! — acusei-o, fazendo os outros meninos darem uma risada.
— A questão é que eu tenho um poder inegável de sedução. O geek esquisito aí, não — Dan apontou para Luke, revirando os olhos. — E eu não fiz nada com ele. Ser o Daniel é tão incrível que todo mundo quer ser o Daniel, eu não tenho a mínima culpa.
Revirei os olhos e ignorei o fato de ele ter falado de si mesmo na terceira pessoa duas vezes. — Vamos finalizar logo essa setlist.
E finalizamos. Tínhamos sessenta minutos para nos apresentarmos, o que já era um tempo e tanto, levando em conta que tocamos apenas cinco minutos no baile de formatura. A lista de músicas ficou o seguinte: começaríamos com a Brand New Eyes e já embalaríamos com Emergency e Ignorance. Depois, CrushCrushCrush, para cortar o clima e fazer as pessoas dançarem, e depois seguiríamos com Stop This Song, pra que todo mundo pule. Quebraríamos o clima novamente com Decode. Tocaríamos The Only Exception, a primeira da Paramore original, e faríamos um cover da banda Failure com Stuck On You, dando o ar romântico para o show. Turn It Off em seguida, para fazê-los pensar, então Let The Flames Begin (a versão “estendida”, digamos assim. Eu e Luke trabalhamos novamente no fim dela e colocamos uma oração no fim), e para finalizar, Misery Business.
Onze músicas. O suficiente para entreter essas pessoas por uma hora, creio eu. Se der tempo de tocar mais algo, tocaremos, mas decidimos deixar Misery Business para o fim.
Quando terminamos a set, fizemos a passagem de som oficialmente, dando algumas paradas quando eu sentia que minha garganta estava começando a sofrer mais do que deveria. Tudo o que nós menos precisávamos era de uma Sophie rouca agora.
Mas ao fim da passagem, eu sabia que o incômodo na minha garganta seria facilmente resolvido com um pouco de água e uma hora de repouso. Às dez e meia da noite de hoje, eu vou estar oficialmente nova em folha para poder dar tudo de mim nesse palco.
E, bem, novamente aquele arrepio passou por mim. Mas por algum motivo, eu não estava mais morrendo de medo. Na verdade, estava mesmo era ansiosa pelo momento em que fosse subir no palco. Let the flames begin!
***
— Vinte minutos! — Max gritou, fazendo meus ouvidos ressoarem. Suspirei. — Estão com medo?
Enquanto Dan dizia um “medo é para os fracos”, Luke era irônico com um “medo? Que isso...”, e Nate esboçava um sorriso animado, eu senti vontade de socar aquela criatura. Mas ao invés disso, apenas desejei em voz alta que ele fosse para o inferno por contar os minutos com um grito escandaloso.
É sério, eu não estava sentindo medo nenhum até ainda agora. Mas aí, sabe, eu decidi ver se haviam muitas pessoas, por que estava um barulho enorme lá fora, e deixe-me dizer uma coisa:
O salão está lotado de gente.
Meu Deus, tem duas vezes mais pessoas do que haviam no baile do Luke. Quando apareci pelo palco e olhei para os rostos daquele mar de gente, meu coração simplesmente decidiu que não ia mais ficar dentro do peito e queria ir embora. Estava tentando sair pela boca há provavelmente trinta minutos.
O pior é que eu sei que desde que eu olhei já chegaram mais gente. Eu deveria ter imaginado que viriam muitas pessoas. Norton foi super inteligente com o marketing, além de ter cobrado bem barato nos ingressos. Quer dizer, eu com certeza pagaria dez dólares para ver duas bandas de rock, mesmo que fossem locais. Qualquer outra banda que vem tocar aqui cobra no mínimo cinquenta dólares, e isso só para quem vai ficar longe do palco. Então...
Bem, eu não sei se sei lidar com isso. E não ligo se ficou confuso.
Cara, é muita gente. E o maior medo que me abateu agora, além, é claro, de ter que me apresentar na frente deles, é: como eles vão reagir?
Eles não nos conhecem, nem as nossas músicas. Nós não temos MySpace e nem publicamos nada no PureVolume, Youtube, ou qualquer uma dessas outras redes sociais que promovem artistas. Somos completamente ocultos, a não ser, talvez, pelas pessoas da minha rua que escutam nossa barulheira durante algumas tardes. Mas eu sinceramente não sei se eles gostam, exatamente.
E isso gera uma preocupação. Não pelos meus vizinhos, mas sim pelas pessoas que estão aqui. E se eles ficarem paradões demais? E se eles não gostarem das músicas e forem embora e voltar depois para a outra banda? E se, Deus nos livre, eles nos vaiarem?
O dia importante não seria exatamente bom, é verdade. Mas acho que essa possibilidade não tinha passado pela cabeça dos meninos até ainda a pouco — e, para ser sincera, nem na minha —, mas agora parecia que todos nós estávamos alimentando a ideia de tudo dar errado.
Ai, pelo amor de Deus, Sophie, onde está toda a sua positividade? So let the flames begin, right?
— Garotos! — escutamos a voz de Norton e nos viramos, já vendo sua estatura mediana e sua blusa social que parecia sempre estar apertada na barriga. — E aí? Estão animados?
— SIM! — Max respondeu por todos nós, pulando de cá para lá. Norton riu enquanto eu fazia que não com a cabeça para meu colega maluco e esboçava um sorriso.
— Estamos morrendo de nervosismo, mas estamos animados, sim — eu disse, juntando as mãos para não mostrar o quanto elas estavam tremendo para ele.
— Ah, mas o nervosismo é bom! — o dono da casa de shows disse, com seu sorriso amarelo bem aberto no rosto. — Por experiência própria, às vezes é muito melhor trabalhar sob pressão.
Luke deu uma risadinha baixa.
— I can feel the pressure; it’s getting closer now... — ele cantarolou, me fazendo dar a mesma risadinha dele.
Norton, com seu jeito notavelmente empresarial, juntou as mãos e brilhou seus olhos cinzentos.
— Opa! Música que vou escutar hoje? — perguntou com a sua voz de locutor de rádio, cheio de animação.
Luke riu, negando com a cabeça.
— Ah, não. Essa é outra, não está na set — ele explicou, mas sem conseguir ofuscar a euforia do homem.
Acho que eu também estaria eufórica se minha casa de shows estivesse com pelo menos quinhentos adolescentes que pagaram dez dólares cada um e gastariam ainda mais dinheiro com as bebidas, quando todo o capital que ele gastara era pagando um cachê bem pequeno para as duas bandas de músicos rockers adolescentes. Norton parecia o tipo de homem que via em tudo uma oportunidade de ganhar dinheiro.
— Bem, garotos, vão se preparando aí por que daqui a cinco minutos eu quero vocês no palco. Como vocês não tem nada na internet, e eu fiz uma bela propaganda, está todo mundo querendo ouvir o som da Paramore! — ele deu ênfase no nome da banda, fazendo um arrepio de puro medo correr por mim inteira, e então saiu pela porta do nosso “camarim”.
Olhei para os meninos e sorri.
— Vamos fazer uma oração? — sugeri, e eles concordaram com um aceno de cabeça.
Num abraço coletivo, todos nós abaixamos a cabeça e fechamos nossos olhos, deixando o ambiente em completo silêncio. Então Luke começou a oração, agradecendo a Deus por nós estarmos juntos agora, e por termos a oportunidade de passar nossa paixão para essas pessoas pela primeira vez. Pediu a benção para conduzirmos o concerto sem nenhum contratempo e pediu que Ele abençoasse também nossos colegas e as pessoas que estavam no salão agora. Agradeceu novamente, e então rezamos o Pai Nosso.
Com o último “amém”, nós nos vimos obrigados a ir direto para o palco. As cortinas estavam cobrindo-o todo, e eu não sei onde achei forças nas pernas para andar até lá. O nervosismo era tanto que elas estavam quase dormentes, e minha mente estava bastante enevoada.
Não disse nada e esperei no fim do palco, enquanto Dan se posicionava em sua bateria e os meninos colocavam as correias de seus instrumentos nos ombros. Pude ver o microfone laranja já posicionado no suporte no meio do palco, e atrás da bateria de Dan, havia uma faixa com o nome da banda. Senti meus joelhos falharem.
Norton apareceu do meu lado e me deu três tapinhas nas costas, sibilando um “arrasa!”, e eu sorri para ele, respirando fundo em seguida.
As luzes que iluminavam o salão foram apagadas e as cortinas se abriram de repente. A introdução de Brand New Eyes começou a ecoar pelas mãos de Luke e Max. Não havia nenhuma luz no palco, mas o pessoal havia se dirigido para mais perto dele e começou a gritar sem tanto entusiasmo, acompanhado de algumas poucas palmas.
Esfreguei uma mão na outra e me dirigi sem nenhuma força nas pernas até o meio do palco, segurando o microfone com o coração pulando a mil por hora dentro do peito.
Enchi o diafragma com todo o ar que ele podia suportar e as palavras começaram a ecoar de minha boca, enquanto uma luz forte refletiu no meu rosto.



So your father told you once, that you were his princess. But you won't see the castle… You cannot find your prince.
And now you've grown a lot, and your dresses don't fit right… Daddy's not a hero. He stole your chariot.




Os tambores da bateria de Dan deram a alma do início da música e as luzes ofuscaram. Separei-me do microfone e comecei a pular e bater o pé fortemente contra o chão, fazendo algunsheadbangins completamente involuntários, sem nem perceber o que eu realmente estava fazendo. Com o cabelo passando pelo olho e toda aquela luz, eu mal conseguia ver os rostos a minha frente, por isso me virei para Nate que havia começado a tocar também e me mexi conforme a batida, assim como ele, que na verdade parecia bem menos nervoso que eu.
Algumas pessoas gritaram e elevaram seus punhos fazendo o símbolo do rock, e então, quando foi o momento, voltei para o microfone e alisei o suporte com os dedos até onde meu braço pôde alcançar.



So here you are in pieces trying to prove to us it's real… The softness of your smile… And the lies you want to feel.
The scales beneath your skin are showing off today… There's evil in your heart.
And it wants out to play.



Com apenas a guitarra de Luke e o baixo de Max ecoando, cantei, finalmente encarando aquelas pessoas nos olhos. E vi, enquanto eles me encaravam, alguns estavam com um sorriso no rosto, outros não. Alguns gritavam, outros apenas se viravam para o amigo e colega e murmurava algumas palavras sobre a música.
Eles estavam sentindo. Eu sabia que eles estavam sentindo minha música. Eu sabia que minhas palavras estavam entrando em suas cabeças e enevoando seus pensamentos. Eu sabia que estava causando grande impacto.
Nós estávamos causando impacto na mente daqueles jovens.
Dan começou a tocar novamente, junto à Nate, e eu pulei com mais intensidade, sentindo um pouco mais de confiança do que antes. Como anteriormente os jovens estavam atônitos pelo impacto das palavras, a bateria os puxava para a realidade e os faziam gritar com cada vez mais intensidade. Repeti a última frase no microfone e voltei a pular, enquanto eles balançavam sua cabeça e faziam barulho, confusos com os sentimentos que o impacto que a Paramore os causava.
Impactante. É um bom adjetivo para essa nossa apresentação.



And I made a home here, for me! But you'll burn it down with your fantasy, and I… Made, a home here… for me! But you’ll burn it down… with your fantasy.




Usei de toda a potência que havia em minha voz para cantar o refrão, e quando a bateria de Dan ficou mais suave (ou menos agressiva), achei que meus tímpanos fossem estourar por causa do barulho de gritos, assobios e palmas proferidas por aquelas pessoas. Aquelas pessoas que eu nunca vi na vida, e que nunca nos viram na vida, mas que gostaram da nossa música a ponto de fazer as paredes tremerem e as caixas de som ficarem baixas.
Quando o último som foi arrancado da guitarra de Luke, ele já engatou para o solo inicial de Emergency. Pulei, mexendo a cabeça de um lado para outro, e sabia que os meninos estavam fazendo o mesmo. As pessoas apenas gritaram mais.
— This song is called Emergency! — gritei com toda a força, fazendo-os gritar mais uma vez, e comecei a cantar a letra da música que Nate havia escrito.
Então eles começaram a se aproximar do palco e começaram a pular, amontoados, enquanto gritavam por não saberem as músicas.
E, ok, meu medo não estava mais comigo agora. Eu havia ganhado uma confiança considerável, e dava o máximo que podia de mim agora. Mexia minha cabeça, tirava e colocava o microfone no suporte, pulava, pedia para eles gritarem ou pularem comigo, e o melhor era que eles faziam. Ainda não sentia minhas pernas, é verdade, mas agora eu estava dormente e enevoada de pura animação, não medo. A energia passada pelas pessoas que estavam ali, gritando, pulando só por que queriam pular, era simplesmente viciosa e revigorante. Deliciosa, arrisco a dizer.
No refrão fui para perto de Luke e cantamos juntos o “deserve to be alive”. Dan parecia empolgadíssimo, também, em sua bateria, batendo com tanta força que eu vi ele trocando de baquetas duas vezes no decorrer dessa música. Max andava de um lado para outro no palco, pulando, e na segunda parte da música chegou perto de mim só para imitar o meu headbanging, o que gerou mais uns gritos da plateia e uma risada no meio da música. Nate também exagerava no headbanging, já que seu cabelo estava relativamente grande, e ajudava no backing vocal assim como Luke. Enquanto isso, é claro, os jovens a nossa frente riam, gritavam e pulavam com animação.
Só não estavam mais animados do que Norton, no canto do palco, visível apenas para nós, fazendo “joinha” com as duas mãos.
Depois de Emergency e Ignorance acabarem, os meninos alongaram o instrumental e eu subi na caixa de som a minha frente, ficando totalmente visível à todo mundo ali. Eles gritaram com força e eu ri.
— Thank you! — gritei, e Dan acompanhou meu agradecimento com um solo especial nos pratos da bateria. Gritos. — Boa noite, galera! — gritei outra vez e eles retribuíram contentemente. — Cara, que energia maravilhosa que tem aqui, hein?! Eu estou completamente animada. Vocês não estão animados? — perguntei e eles gritaram de volta, fazendo-me rir. — Eu pensei que estivessem. Bom, bom... vamos às apresentações, onde estão os meus modos? — algumas risadas e mais gritos foram o que recebi de volta. Ri outra vez, apontando para a bateria. — Na bateria, nós temos Dan Fletcher! Na linha de contra-baixo, Max Thomas! Na guitarra-base, Nate Farro! E, na guitarra-solo, Luke Davis! — falei, apontando para cada um deles, que se mostrou da sua forma, ou fazendo um solo ou esboçando uma nota equalizada. Eles gritaram e eu pude escutar uma voz fina se sobressair, gritando com toda a força: “O Nate é lindo!”. Precisei dar uma risada alta. — Olha só! Nosso primeiro show aqui e já tem alguém de olho no guitarrista? Wow! Acho que Nate vai gostar disso.
Nate riu, aproximando-se de seu microfone.
— Opa — ele disse. — Vou gostar demais, hein.
As meninas que haviam lá gritaram, falando mais sobre o quanto Nate era bonito. Eu apenas deixei as risadas saírem da minha garganta.
Loucas. Roqueiras loucas.
— Ok! Ok! Acalmem-se, meninas, tem Nate para todo mundo no fim do show — eu disse, fazendo os meninos rirem. Dan começou a tocar a bateria no ritmo de CrushCrushCrush, e Luke começou a fazer um solinho bem tranquilo. Max acompanhou, junto à Nate em seguida, fazendo um instrumental super bem feito. Alguns corpos começaram a se mexer lá embaixo. — Isso... isso... é um ritmo legal, não? Não dá vontade de dançar? — recebi gritos como resposta, novamente. Dei uma risada. — Yeah. Dá vontade de dançar. E é por isso que eu quero todo mundo dançando ao som dessa nossa música, que é chamada de CrushCrushCrush — sussurrei o nome da música fazendo-os gritar outra vez. — So let’s dance!
Comecei a pular e os meninos começaram oficialmente a introdução da música, e eu me aproximei do microfone, mexendo-me conforme o som da batida.



I got a lot to say to you. Yeah, I got a lot to say. I notice your eyes are always glued to me, keeping them here and it makes no sense at all…
(Eu tenho muito a dizer pra você. Yeah, eu tenho muito a dizer. Eu percebi que seus olhos estão sempre grudados em mim, mantendo-os aqui e isso não faz sentido...).

They've taped over your mouth, scribbled out the truth with their lies. Your little spies.
They've taped over your mouth, scribbled out the truth with their lies. Your little spies.
Crush... Crush… Crush... Crush! 
Crush! Crush!
(2, 3, 4).

(Eles taparam sua boca, reescreveram a verdade com as mentiras deles. Seus pequenos espiões.
Eles taparam sua boca, reescreveram a verdade com as mentiras deles. Seus pequenos espiões.
Paixão... Paixão... Paixão... Paixão! Paixão! Paixão!
2, 3, 4).



Comecei a cantar segurando microfone ainda no suporte, segurando com uma mão e dançando enquanto cantava. As pessoas lá embaixo dançavam a sua maneira, olhando para mim e comentando com os seus amigos sobre o show. Eles sorriam, gritavam, jogavam seus punhos para cima conforme a batida da bateria. Se divertiam, em suma. E essa diversão deles era passada para mim de uma forma tão intensa, que era impossível eu simplesmente não dar tudo de mim naquela música, naquela apresentação em si.
Quando comecei o pré-refrão, retirei o microfone do suporte e fui até Luke, que tocava e agora fazia a segunda voz da música comigo. Por algum motivo (qual será?) as pessoas gritaram quando eu toquei seu ombro e sussurrei o crush crush crush. Sorrindo, comecei a pular para cantar o refrão.



Nothing compares to a quiet evening alone. Just the one, two, of us, who's counting on?
That never happens. I guess I'm dreaming again…
Let's be more than, this!

(Nada se compara a uma noite calma sozinho. Apenas uma, duas, de nós, quem estava contando?
Isso nunca acontece. Acho que estou sonhando de novo...
Vamos ser mais do que, isso!)

If you wanna play it like a game… well, come on, come on, let's play! Cause I'd rather waste my life pretending, than have to forget you for one whole minute.

(Se você quer jogar isso como um jogo... bom, vamos lá, vamos lá, vamos jogar! Porque eu prefiro desperdiçar minha vida fingindo, a ter que te esquecer por um minuto sequer).



Agora, com certeza, todos estavam pulando o mais alto que podiam e gritando como num grito de guerra, compassado, a cada batida da música. Eu ainda dançava, cantando o refrão provocante de CrushCrushCrush e dando tudo de mim, e os meninos não estavam muito diferentes. Max pulava de um canto para outro, subia nas caixas de som, dançava, completamente eletrizado e movido à energia que a plateia nos dava. Nate, por vezes seguia Max, fazendo o mesmo tipo de headbanging e cantarolando a letra, enquanto fazia suas notas. Dan não é preciso nem citar, por que mesmo que estivesse sentado lá no fundo, fazia um trabalho magnífico e se empolgava quando podia. E Luke, mesmo que do seu modo mais reservado, sem sair muito do palco, não parara de sorrir um segundo sequer. Cantava o backing e subia nas caixas quando era a parte de seu solo especial.
Quando fui cantar o refrão pela segunda vez, comecei a pular e os meninos chegaram mais perto, me acompanhando. Fiz um movimento com a mão para cima e as pessoas de lá me imitaram, gritando a letra do refrão, que incrivelmente eles já haviam decorado.
Após gritar o “this now!”, subi em cima da caixa de som e o ritmo da música ficou menos pesado. Bati palmas ao som da batida dos pratos na bateria e todos me acompanharam. Não parei de bater as mãos nem mesmo quando peguei o microfone para cantar novamente.




Rock and roll, baby. Don't you know that we're all alone now? I need something to sing about.
Rock and roll, hey! Don't you know, baby, we're all alone now? I need something to sing about.
Rock and roll, hey! Don't you know, baby, we're all alone now? Gimme something to sing about!
(Rock and roll, baby. Você não sabe que estamos sozinhos agora? Eu preciso de algo para cantar.
Rock and roll, hey! Você não sabe, baby, que estamos sozinhos agora? Eu preciso de algo para cantar.
Rock and roll, hey! Você não sabe, baby, que estamos sozinhos agora? Me dê algo para cantar!
Nothing compares to a quiet evening alone. Just the one, two, of us, who's counting on?
That never happens. I guess I'm dreaming again…
Let's be more than… oh-oh…
Nothing compares to a quiet evening alone. Just the one, two, of us, who's counting on?
That never happens. I guess I'm dreaming again…
Let's be more than, more than this… oh…


(Nada se compara a uma noite calma sozinho. Apenas uma, duas, de nós, quem estava contando?
Isso nunca acontece. Acho que estou sonhando de novo...
Vamos ser mais do que... oh-oh..
Nada se compara a uma noite calma sozinho. Apenas uma, duas, de nós, quem estava contando?
Isso nunca acontece. Acho que estou sonhando de novo...
Vamos ser mais do que, mais do que isso... oh...)




Movida a gritos daqueles jovens loucos, terminei de cantar a música com o corpo queimando de euforia. Quando a última nota foi arrancada da guitarra, eu subi novamente na caixa de som, encarando aquelas pessoas com o peito inflando gradativamente, mostrando minha respiração desregulada. Com um sorriso enorme no rosto, agradeci, gritando no microfone, demonstrando com certeza toda a minha emoção por estar ali.
Mesmo que meu corpo já estivesse cansado, eu ainda não sentia os efeitos. Estava completamente tomada pela energia revigorante do palco, da música, dos gritos, das pessoas. E enquanto começava a introdução de Stop This Song, eu tive mais uma vez a certeza de que a música é o que eu quero para a minha vida.

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