22 de set. de 2012

Capítulo 4

Trying to get on with life


— Sophie? — Ela ouviu seu nome logo depois de Luke virar a rua com Stephy. Estava tão perdida em seus pensamentos que não notou a presença de Brad ali.
— Ah, oi Brad. — Ela disse pouco animada. Também pudera. Ela se levantou da calçada e lhe deu um selinho, sentando-se no mesmo lugar logo em seguida. Ele fez o mesmo.
— Eu ia vir aqui mais cedo, mas tive que formatar umas máquinas...
— Tudo bem. — Ela respondeu ainda sem o olhar.
— Mesmo que eu tenha que ir daqui a meia hora... acho que vale a pena vir até aqui. — Ele sorriu de canto e segurou sua cintura, tentando levá-la para mais perto dele.
Ela se afastou devagar.
— Você tá bem?
— Sim, estou. — Ela pigarreou e suspirou. Esse estado estranho já estava afetando aos outros. Não podia deixar isso acontecer. — Não se preocupa. — Ela sorriu para ele, que retribuiu.
— Sabe... eu acho que a gente precisa conversar...
— Acha que precisa? — Ela sorriu. — Sobre o quê?
Ele hesitou.
— Qual é o problema?
— Eu vi... — Ele começou e suspirou. — Eu vi você falando com o Luke, do segundo ano. De verdade, ele não me agrada. Não gostava nem um pouco quando você falava dele nas nossas conversas pelo computador e ainda não gosto de te ver conversando com ele. Sabe, eu sou o seu namorado, e...
— Ei, Brad, pare. — Ela bufou. — O Luke é meu amigo desde que eu nasci. Eu conheço ele mais do que tudo e ele conhece a mim. Nós somos muito unidos sim, desde pequenos, e me desculpa, mas eu não vou deixar de falar com ele por causa de você nem por causa de ninguém. Se você não gosta dele, o problema é seu com ele. Ele ainda é o meu melhor amigo.
— Eu sei, mas eu sou o seu namorado! Eu tenho que cuidar de você, eu amo você.
— Se me ama — ela novamente o cortou —, aprenda a confiar. E o fato de você ser meu namorado quer dizer apenas que nós estamos juntos como um casal. Isso não te dá o mínimo direito de dizer com quem ou não eu devo falar e de quem ou não eu devo gostar.
— Eu não estou dizendo que você é minha propriedade! Eu só não gosto de te ver falando com ele!
— E eu sinto muito! Eu já disse, e digo outra vez: ele é meu amigo desde sempre. E nem você e nem ninguém vai mudar isso ou me fazer parar com minha amizade.
— Que merda, Sophie! Qualquer coisa pra você é motivo de briga!
— Eu que comecei essa briga, Brad? — Ela aumentou um oitavo no tom de voz. — Sério? Eu que comecei com ciúme bobo? O motivo da briga sou eu?
— O motivo da briga é ele!
Sophie sorriu, debochadamente.
— Ele? — Ela disse. — Sério, Brad.
— Eu só não te quero passando a tarde toda com ele como você fazia.
— Por quê? — Ela perguntou. — Só me diz por quê! — Ela praticamente gritou, furiosa, e ele engoliu seco. — Por que você tem medo de ser traído? Por que você acha que vão falar mal de você? Quer saber? Se você não confia em mim e se importa com o que esse bando de invejosos fofoca, sinceramente, não sei se isso pode dar certo.
Sophie se levantou da calçada e foi em direção à porta.
— Ei, espera. — Brad segurou seu braço.
— Vai pra casa, antes que meu pai venha te forçar a ir. — Ela disse rápido e soltou seu braço, abrindo a porta e fechando-a em seguida.
Brad bufou, com raiva, e seguiu para a sua casa.
Sophie seguiu até o seu quarto sem falar com ninguém. É muita coisa ruim acontecendo em menos de meia hora.
Ela estava com raiva de Stephy por sair com Luke. Estava com raiva de Brad por duvidar dela. Estava com raiva dela mesma por sentir raiva. Ela estava uma bagunça.
— Mana? — Escutou a voz fina de Joe abrindo de leve a porta. Sorriu.
— Oi, Joseph. Entra. — Ela disse docemente.
Seu pequeno irmão era como uma forma de felicidade ambulante. Ela também amava Nate, mas... Joe era seu irmãozinho.
Ele se sentou ao lado da irmã na cama e colocou uma mecha de seu cabelo vermelho atrás da orelha.
— Você tá bem?
Ela sorriu.
— Não sei. E você é a terceira pessoa que me pergunta isso em menos de vinte minutos.
— Aposto que sou a única que você disse a verdade.
— Espertinho. — Ela sorriu e bagunçou seu cabelo loiro.
— Você brigou com o Brad, né?
— Só discutimos, relaxe.
— Ah... De qualquer forma, fique bem, tá? — Ele a olhou nos olhos e Sophie sorriu de canto, dando um abraço apertado em seguida. — Eu posso ver desenho aqui? Nate está vendo um filme daquelas guerras de novo e não quer me deixar assistir TV.
— Claro que pode, vem.
Sophie deu espaço para o irmão se sentar em sua cama e pegou o controle remoto no criado mudo. Logo Joe estava assistindo seu desenho com a irmã.
Ela gostava de passar um tempo com Joe. Ele era esperto e inocente, e lembrava ela de certa forma. Ela se lembrava de sua infância e (quase) se sentia uma criança novamente. E apesar da pouca idade, ele era o único naquela casa que conversava tranquilamente com ela, depois de sua mãe.
Acabou sua noite assistindo desenhos e um filme com Joe. E quase se esqueceu dos problemas dessa noite.
Quase.

*****


— Cara, que filme ruim. — Stephy sorriu gostosamente do seu próprio comentário e Luke a acompanhou. — Desculpa te fazer passar por isso.
— Não, tudo bem. — Ele sorriu de canto. — Eu me diverti. Foi engraçado te ver xingar a pobre mocinha a todo momento. Sério, estava vendo a hora de sermos expulsos.
Novamente, Stephy gargalhou.
O sorriso dela era muito contagiante. Era verdadeiro e espontâneo. Vê-la sorrindo fazia Luke... se esquecer de suas aflições por dois ou três segundos.
— Ela foi burra mesmo. — Ela deu de ombros e puxou a mão dele, fazendo-o descer com ela a escada rolante. — Ninguém abandona um cara perfeito assim, do nada. E ainda fez ele sofrer pra caramba. Ela é uma imbecil.
Luke sorriu de canto, escondendo o efeito que aquelas palavras sofreram nele.
— Me desculpa. Eu disse sem pensar. — Ela disse, ainda sorrindo de canto.
— Desculpar por quê? — Luke, novamente, forçou um sorriso.
— O filme é parecido com sua história com a Sophie. — Ela disse baixinho. — Eu percebi, por causa daquela música... Bem, você não quer falar sobre isso. — Ela concluiu, fazendo Luke sorrir (dessa vez, verdadeiramente). Ela entendia as necessidades dele e conseguia dar um ar... descontraído pra quase tudo. — Tá com fome?
— Um pouco.
— Estou morrendo. — Ela sorriu novamente e Luke gargalhou. — Conheço um lugar legal na rua de baixo.
— Vamos lá, então.
Eles saíram do shopping e Stephy, delicadamente, pegou sua mão.
Luke... gostou do toque das mãos dela. Ela o havia arrastado pelo shopping algumas vezes, fazendo-o gargalhar. Mas agora ela havia pegado sua mão não porque precisava chegar mais rápido a tal lugar. Ela só... queria tocá-lo. E ele gostou disso.
Pela primeira vez naquela noite, Stephy parou de falar. Pouco a pouco ela aprofundava o toque.
Quando eles viraram a rua, ela já estava com o braço agarrado ao dele.
— Está frio, né? — Ela perguntou.
— Está. — Ele disse, olhando para o lado. — Onde fica o lugar?
— Ali. — Ela sorriu, apontando para o fim da rua.
Luke avistou o lugar. Parecia um restaurante daqueles bem antigos, ou com um design assim mesmo. Havia portas de madeira e vidro e ele podia escutar uma música tocar conforme se aproximava do lugar.
O cheiro de pizza encheu suas narinas ao adentrá-lo. Stephy soltou seu braço e voltou a segurar sua mão, levando-o para uma mesa no fundo do lugar.
Era tudo muito bem organizado. Quase tudo era de madeira bem vernizada, inclusive as mesas e o balcão de atendimento. Os bancos eram confortáveis e no fim do lugar, que era bem grande, havia um pequeno palco de karaokê.
Stephy, já sentada, pegou o cardápio.
— Qual é a sua preferida?
— Pode escolher. Confio em você. — Ele disse com um meio sorriso no rosto.
— Ok. — Ela sorriu. — E... bebida?
— Coca. Isso eu faço questão. — Stephy novamente sorriu.
— Certo.
— O que vão querer? — Disse uma garçonete parando na frente dos dois.
— Portuguesa pequena e coca-cola. Ah, traga os saches de ketchup, por favor?
— Ok. Só isso?
— Aham.
— Certo.
A garçonete ficou por mais um quarto de minuto anotando os pedidos ao lado da mesa dos dois, para logo depois, sair.
— Ei, você lembra?
— Lembrar? Do quê?
— Você tem que mostrar a música do seu pai pra mim. — Ela sorriu.
— Ah é. — Ele sorriu fraco. — Ok, vem cá.
Pegou seu celular do bolso enquanto Stephy se aproximava e escolheu a primeira música da playlist Paramore. Era My Heart.
Sua preferida desde que se entendia por gente.
— Essa se chama My Heart. — Luke disse enquanto pousava o aparelho no ouvido da moça. — Ela foi composta a bastante tempo pelo tio Josh e a tia Hayley... É a minha preferida desde sempre, sabe? Meu pai costumava cantar pra eu dormir a noite, quando eu era um bebê.
— Você devia ser um bebê lindo. — Ela disse sorrindo. — Awn, que linda essa música.
— É linda mesmo.
— Eles devem se amar muito...
— Quem?
— Seus tios. Josh e...
— ...Hayley. — Completou.
— É. — Ela sorriu. — A voz dela é perfeita.
— É. — Luke concordou sorrindo.
— A música é toda perfeita... se for isolar cada instrumento você percebe o talento nato, meu Deus... A guitarra... A linha do baixo, totalmente perfeita... A bateria perfeitamente sincronizada, e pra melhorar a voz forte... Isso sem dizer da letra e da melodia que é uma das melhores que eu já ouvi.
Luke a olhou assustado.
— Que foi? — Ela gargalhou. — Eu não sei tocar nada mas gosto de música. E sei apreciar cada instrumento, tá?
— Tá. — Ele sorriu. — E só que você me surpreende cada vez mais.
— Costumo fazer isso com as pessoas. — Ela sorriu. — Seu pai é o guitarrista, o baterista ou o baixista?
— O baixista.
— Ah. — Ela fechou os olhos por alguns segundos, enquanto escutava melhor a melodia da música que adentrava os seus ouvidos. — Ele tem uma maestria incrível. É tudo tão perfeitamente sincronizado...
Luke não respondeu. Apenas a olhou admirar a música que ele tanto amava. Afinal, não existia banda no mundo melhor do que Paramore. Não mesmo.
— Acabou. — Ela disse, colocando a mão sobre a de Luke e retirando delicadamente o celular do seu ouvido. O encarou.
Ele era... lindo. Apenas isso.
Luke sentiu suas bochechas esquentarem pela forma que estavam se olhando. Stephany riu, indo em direção a sua cadeira e fazendo de conta que não tinha notado.
— Ahn... me fala de você. — Puxou assunto. — Eu só sei que seu nome é Luke, você é um geek do segundo ano, toca violão e seu pai é um ótimo baixista.
Luke sorriu.
— Não tem muito o que falar sobre mim...
— Claro que tem. — Ela disse. — São coisas pequenas que formam quem você é. Por exemplo: Eu adoro skate, mas nunca andei em um. Tenho uma mania irritante de colocar o cabelo atrás da orelha quando fico envergonhada, o que não tem nada a ver, por que eu só mostro mais o meu rosto vermelho. E eu não consigo pintar minhas próprias unhas. — Novamente, Luke gargalhou.
— Acho que eu não tenho essas “coisas pequenas”.
— Tem, Luke. — Ela afirmou. — Você adora coca-cola e é bem calado. Sempre sorri quando eu fico gargalhando feito uma louca... Agora você completa a lista.
— Ok. — Luke olhou pro lado, sorrindo. — Eu... nunca consegui usar uma palheta durante muito tempo, ela sempre some. Às vezes eu acho que elas criam pernas e fogem. E eu geralmente coço a nuca quando fico nervoso ou envergonhado. É bobo, eu sei, mas eu não comando... quando vejo já estou coçando.
— Isso! — Stephy gargalhou. — Você está indo bem.
— Obrigado...? — Luke sorriu com ela.
— Sim, você deve me agradecer por ajudar a descobrir como se auto-definir.
— Então, obrigado. — Luke sorriu novamente.
A companhia de Stephany estava sendo para Luke melhor do que ele imaginara. Ela sempre o fazia rir e falar. Ele se sentia a vontade.
Estava, de fato, se divertindo.
Logo a garçonete se aproximou da mesa, deixando dois pratos, dois copos e os sachês que Stephy havia pedido.
Luke encheu os copos de refrigerante.
— Pra que você quer o ketchup mesmo?
— Me diz qual é a graça de vir em uma pizzaria e não escrever com ketchup nos pratos? — Luke gargalhou com o modo sapeca que Stephy disse. Parecia uma criança. — E eu sei o que você está pensando. Isso não me torna uma criança.
— Mutante. — Eles sorriram alto.
— Você quer? — Ela ofereceu um sachê para ele.
— Não, obrigado.
— Você perde. — Ela deu ombros e ele a viu abrir o sachê.
— O que você está escrevendo?
— Você já vai ver, calma.
— Hm... — Ele revirou os olhos, sorrindo.
— Pronto. — Ela colocou o sachê vazio no canto da mesa e Luke se inclinou para frente para ver o que ela havia escrito.


“Can I give you a kiss? X)”


Luke sorriu ao encará-la. Ela levou um dedo à boca, fazendo um rosto sapeca. Ele gargalhou e se aproximou lentamente, juntando seus lábios por poucos segundos e dando-lhe um selinho demorado.
Afastou-se sorrindo — sorria mais por olhar o sorriso abobalhado de Stephy do que o seu próprio.
— Eu disse que isso não me tornava uma criança. — Ela abriu mais o seu sorriso (se é que isso era possível).
— Tenho que aprender a não discordar de você. — Ele deu um meio sorriso.
Logo a pizza chegou. Eles comeram ainda rindo, falando bobagens e escutando as músicas do lugar.
Stephy tinha algo que o atraía. Ela sorria lindamente e sempre. Era meiga e tinha suas próprias opiniões.
Não estava nos planos dele se apaixonar e ele não iria fazer isso. Mas... ela parecia perfeita para Luke se esquecer de Sophie e tentar falar com ela normalmente outra vez. Como apenas... um amigo.
Depois de comerem e eles racharem a conta, eles saíram da pizzaria. Ela novamente se agarrou ao braço dele.
Passavam das 22h30 da noite.
— Então... onde você mora? — Ele perguntou, ainda andando calmamente com ela.
— Duas ruas acima da sua. — Ela sorriu.
— Vou te levar até a sua casa, então.
— Que cavalheiro. — Ela gargalhou.
— Você ainda não viu nada. — Ele gargalhou da própria piada. Stephy riu.
— Legal! — Ela disse um oitavo acima da voz.
— O quê?
— Te fiz fazer uma piada. Aposto que você não faz toda hora.
— Não, não faço. Mas... estar com você me dá uma certa liberdade para fazer.
Ela riu novamente e apertou seu braço, involuntariamente.
— Gosto disso. Sinto que você vai estar mais aberto depois dessa noite.
— É. Acho que sim. — Ele riu de canto.
— Mas eu acho melhor você não me levar até a minha casa. Sabe, eu disse pro meu pai que ia sair com a Jenny...
— Ahn, entendi. — Luke a cortou.
Continuaram a andar. Pouco tempo depois, Luke avistou seu bairro — que descobrira que também era o bairro de Stephy.
Ainda conversando, eles viraram a rua de Luke. Stephy o acompanhou até a sua casa. Luke viu que as luzes estavam acesas, o que queria dizer que algum de seus pais (provavelmente Jeremy) havia chegado.
— Ainda acho que deveria te deixar em casa...
— Não tem problema, Luke, eu já disse. — Ela riu, nervosa.
— Então... — Eles pararam de andar, quando chegaram a casa. — ...Você quer entrar?
Stephy olhou para dentro e para os lados. Parecia decidir.
— Eu... — Ele começou a coçar a nuca, atrapalhado. — Não me entenda mal! O meu pai tá em casa, eu não vou fazer nada pra te fazer mal...
Stephy gargalhou.
— Essa era a última coisa com a qual eu me preocuparia. — Ela ainda sorria. — E você está coçando a nuca de novo.
Luke retirou a mão da cabeça.
— Tenho que parar com isso. — Ele olhou para baixo.
— Não pare, é lindo. — Ela riu. — E tudo bem, eu quero conhecer o seu pai.
Luke deu outro meio sorriso e subiu as três escadinhas que davam acesso à porta. A abriu e pegou a mão de Stephy, guiando-a pela casa.
Jeremy sorriu ao ver a bela loira adentrar a cozinha — onde ele estava.
— Hey! — Ele disse, feliz.
— Oi, pai. — Luke controlou-se para não coçar a nuca novamente. — Essa é a Stephy.
— Oi, Sr. Davis. — Stephy se apresentou sorrindo e apertou a mão de Jeremy.
— Jeremy, por favor.
— Ok. — Ela deu um sorrisinho fraco.
— Mas... vocês se divertiram?
— Ah sim, bastante. — Stephy respondeu, com seu belo sorriso no rosto. — Luke é uma ótima companhia.
— É, eu sei. Ninguém melhor pra assistir jogos de beisebol como Luke. Essa timidez dele vai toda pro espaço quando o juiz nos rouba.
Luke gargalhou.
— Você gosta de beisebol e não me disse? — Ela olhou pra ele, fingindo indignação.
— Não teve como. — Ele sorriu. — Mas eu sou RedSox desde pequeno.
— Incrível. — Ela riu. — Minha mãe também costumava a ver jogos de beisebol.
— Mãe? — Luke.
— É. Minha família não é normal. — Ela gargalhou novamente.
— Qual seria a graça de ter uma? — Jeremy disse, sorrindo.
— Bem... eu vou levar a Stephy lá pra cima, tá pai? A gente já desce.
— Certo. Juízo, hein.
— Pai! — Luke o repreendeu bufando e Stephy apenas sorriu de canto.
Ele subiu as escadas com ela e adentrou seu quarto.
Stephy olhou vagarosamente cada canto do lugar.
As paredes eram azuis e brancas. Havia uma cama forrada com um lençol preto. Uma guitarra e um amplificador ao canto, junto com um violão. Nas paredes, algumas fotos e pôsteres de bandas de rock e um pôster bem grande do RedSox. Num dos cantos, uma mesa. Alguns livros estavam espalhados e havia um computador também.
Stephy se aproximou da mesa e pegou o bicho de pelúcia verde que estava em cima da impressora.
— Awn, que lindo! Como se chama?
Luke sorriu.
— Perry. — Ele se aproximou. — Do desenho Phineas e Ferb. Poucas pessoas assistem hoje, mas já foi uma febre da Disney durante um tempo. Eu amava quando era pequeno. Aliás, ainda amo.
— Desde quando você tem ele? — Ela passou uma mão pelo bico do bicho, ainda sem tirar os olhos dele.
— Desde os meus dois anos, eu acho... — Ele sorriu.
— Mentira! — Ela disse, duvidando. — Uma coisa com mais de quatorze anos de idade não estaria tão bem conservada.
— Eu... gosto de cuidar do que é meu. — Luke deu um meio sorriso e ela o encarou, sorrindo de canto também.
— Bom saber. — Ela disse arqueando uma sobrancelha rapidamente. — Bem... já são quase onze da noite... eu preciso ir. — Ela disse baixo, ainda o encarando.
— Te deixo na porta, já que você não quer que eu te leve em casa.
— Ok. — Ela abriu um pouco mais o sorriso, mas ainda sem tirar seus olhos dele.
Luke quebrou o contato visual por um tempo para abrir a porta do quarto. Eles desceram as escadas rapidamente.
— Tchau, Jeremy! — Ela gritou.
— Tchau Stephy. — Ele gritou de volta com a voz rouca. Devia estar comendo algo.
Stephy riu e Luke abriu a porta, deixando-a de frente para ele.
— Então... eu me diverti bastante. Obrigada. — Ela disse, olhando para baixo.
— Obrigado você. Eu me diverti muito também.
— A gente se vê amanhã, então? — Ela disse levantando o olhar e encarando-o novamente.
— Ok.
Ficaram por alguns segundos se encarando. Luke não sabia ao certo o que fazer. Deveria abraçá-la? Apenas dizer tchau e fechar a porta? Lhe beijar?
Eram infinitas as coisas que ele poderia fazer naquele momento, e ele ainda escolhia encará-la com cara de bobo.
Stephy sorriu e colocou suas mãos no rosto dele, puxando-o para um beijo rápido e um tanto urgente. Ele abriu levemente a boca, dando-lhe um bocado de espaço, e pode sentir o gosto da língua dela por alguns segundos.
Sem tirar as mãos do rosto dele, Stephy finalizou o beijo com dois selinhos e sorriu.
— Até amanhã, Luke. — Ela deslizou as mãos pela face recém barbeada dele.
— Até amanhã. — Ele sorriu de canto.
Stephy deu de ombros e passou a andar em direção a rua. Luke sorriu e fechou a porta.
— Então... — Jeremy disse, com um grande sorriso no rosto, ao ver que Luke havia fechado a porta. — ...Stephy, é?
Luke deu um meio sorriso.
— É. — Luke deu ombros. — Ela gosta de mim... ela é legal e... sei lá, estar com ela é divertido. — Ou menos doloroso.
— E você gosta dela?
— Acho que é cedo pra dizer isso. — Luke disse, sentando-se no sofá onde seu pai estava. — Mas... acho que você estava certo. Eu nunca gostei de outra garota pra poder comparar o que havia com a Soph, e eu devo encarar essa situação... Stephy talvez possa me ajudar nisso...
— É uma boa maneira de encarar a situação por enquanto. — Jeremy ainda sorria. — E ela é bem bonita.
— É. — Luke concordou. — Well, acho melhor eu ir dormir. Amanhã tenho aula, ainda.
— Pois é. — Jeremy concordou, tomando um gole de... algo que estava em seu copo.
— Vai esperar a mãe chegar?
— Só se ela chegar antes de uma da manhã. Mas acho difícil.
— Certo. Boa noite.
— Boa noite, garotão.
Luke sorriu e começou a subir as escadas. Adentrou seu quarto e fechou a porta.
Andou devagar até o espelho que estava em seu guarda-roupa, dando de cara com o seu reflexo.
Mesmo com a bela noite que teve, ainda estava abatido. Bufou. Não podia ficar assim a vida toda!
Mas... se passaram apenas poucos dias e... aquela dor ainda o consumia de forma tão intensa... tão profunda...
Tentou se concentrar em Stephy, mas quem disse que conseguiu?
Logo seu pensamento se direcionou a Sophie. Logo, tudo nele estava direcionado a ela. Novamente.



“— Sabe, estava pensando... o que vamos fazer quando crescermos? — Sophie declarou, olhando para o alto. Estava deitada no tapete de Luke, olhando para o teto e com as mãos atrás da cabeça. Ela estava de pijama. Dormiria ali.
Luke, que estava ao seu lado, respondeu:
— Não combinamos que vamos nos casar?
— Sim, mas... Digo, no que vamos trabalhar, sabe. Minha mãe trabalha fazendo festas... meu pai trabalha no exército... o que você quer ser quando crescer, Luke?
— Quero ser um guitarrista de sucesso. — Luke disse e seus olhos brilharam.
— É uma boa idéia. — Sophie sorriu. — Acho que também vou querer trabalhar com isso. Só que vou trabalhar com o piano. E talvez cantando... minha mãe disse que minha voz é boa...
— Sua voz é legal demais, Soph. — Luke disse e bocejou.
— Obrigada. — Ela sorriu fininho. — Você também toca muito bem pra quem só tem onze anos. Vai ser o melhor guitarrista de Nashville!
— E então, seremos uma pianista e vocalista e um guitarrista casados... Gostei, todo mundo trabalhando com música, né...
— Aham. — Ela bocejou. A noite começava a cair e o sono já tomava conta das duas crianças.
— Acho melhor a gente dormir. — Luke disse, passando uma mão pelo rosto. Sophie apenas fez que sim com a cabeça.
Luke se virou um pouco e lhe deixou um beijo no rosto.
— Boa noite, meu anjo. — Ele disse e Sophie o encarou, dando um sorriso feliz.
— Durma bem, eu te amo. — Respondeu, inclinando-se um pouco e retribuindo o beijo na bochecha logo depois.
— Eu também te amo.”



“— Ela realmente toca muito para uma criança de nove anos! — Brendon disse, olhando para a afilhada tocar uma música clássica em seu piano de calda.
— Eu sei. É um orgulho! — Hayley disse olhando a filha tocar. Seus olhos brilhavam de emoção. Mas ela não iria chorar vendo Sophie tocar.
Pelo menos, não de novo.
Luke assistia a tudo aquilo sentado com Nate. Sophie deixava seus pequenos dedos dançarem pelas teclas suavemente. Sua cabeça acompanhava o ritmo da música e vez ou outra seus olhos se prendiam nas partituras que estavam à sua frente.
Tocava com maestria e perfeição. Deixando muitos adultos com inveja.
— Estou com inveja. — Sarah disse, olhando aquela pequena criatura terminar sua melodia e dar um sorriso sem graça. — Minha linda! Você foi ótima! — Ela disse, aproximando-se de Sophie e lhe deixando um beijo forte e maternal.
Sophie era para Sarah e Brendon como uma verdadeira filha. Eles eram os padrinhos oficiais de Sophie. Não puderam ser os padrinhos do casamento de Josh e Hayley (por que, afinal, foi um casamento surpresa!), mas fizeram questão de ter Sophie como afilhada. Com o nascimento de Nate e Joe, eles também se tornaram padrinhos.
— Obrigada.
— Hayley, falando sério. Tanto talento não pode ficar preso nessa casa... nessa cidade... Nós temos que prepará-la. Ela é praticamente um prodígio.
— Mãe, posso ir brincar com o Luke?
— Claro, querida.
Sophie se levantou do banco em frente ao piano e foi até o amigo, que assistia a sua apresentação. Puxou o seu braço para ele se levantar e saiu foi andando de mãos dadas com ele até a cozinha da casa.
— Eu tenho um amigo... ele é um dos diretores da melhor escola de música da Europa... Acho que ele poderia vê-la tocar. Com certeza ela seria aceita.
— Não sei não, Brend.
— Vamos, Luke! Deixa de enrolação! — Sophie puxava o braço do amigo, forçando-o a andar mais rápido.
Mas a verdade é que aquela conversa de seus tios o intrigou.
Mal sabia ele que ela seria decisiva para a sua vida.”


As lembranças, novamente, o invadiam como um raio. Luke passou as mãos pelo rosto.
É hora de esquecer.

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