22 de set. de 2012

Capítulo 7

Come back, and come on.


— Olha, eu sinto muito, mas ou você produz isso ou sai da empresa. — Katt disse calmamente para a promoter que estava à frente dela. — Você anda recusando muitas festas e isso não está nos ajudando.
— Certo. — Ela olhou para baixo.
Hayley torceu os lábios. Detestava colocar os funcionários na parede daquela forma. Ela sabia o quanto era ruim.
— Pode ir agora. — Katt finalizou e a moça saiu da sala, cabisbaixa.
— Detesto fazer isso. — Hayley declarou. Katt sorriu.
— Se Nicky não tivesse feito isso contigo, amiga, você nem casada estava. Então, pare de reclamar. — Elas gargalharam.
— É, você tem razão nesse ponto.
— Eu sei. — Ela deu de ombros e se sentou à sua mesa, passando a mexer em seu computador. Suspirou alto.
— Ih... que foi?
— O quê?
— Você suspirou. Alguma coisa te incomoda? — Hayley perguntou sem olhá-la. Com uma amizade de tantos anos ela conseguia decifrar os sentimentos de Katt sem ao menos olhar para ela.
— Sim, na verdade. — Ela bufou. — Luke começou a namorar.
Hayley torceu os lábios.
— E a garota não é legal?
— Ela é uma cobra! — Katt praticamente gritou e suspirou logo depois. — Quer dizer, ela foi amável, e legal com todo mundo. Mas... não sei não, Hayley. Ela tem alguma coisa... que não me agradou. Só digo uma coisa: Aí tem. E eu não confio nela. — Katt disse revirando os olhos e Hayley sorriu.
— É por que ela é a namorada dele, você não gosta dela por isso.
— Não tem nada a ver. — Katt retrucou. — Ela esconde alguma coisa. Ela... tem maldade nos olhos. Não gosto dela, não gosto dela e não gosto dela. E não gosto dela! — Ela bufou e Hayley sorriu. — Você ficou sabendo dessa história de que nossos filhos se odeiam?
— Sim, fiquei. — Hayley disse. — E... meu Deus, eu me senti assistindo a história da minha vida acontecendo com a minha pequena. — Ela gargalhou.
— Você tá dizendo que...
— ...Sophie é apaixonada pelo Luke e odeia a si mesma por isso, assim como eu na idade dela com o Josh? Exato.
Katt sorriu.
— Sua filha seria mil vezes melhor do que aquele projeto de oxigenada, viu. Stephy... ai, que horror.
— Sophie me disse que ela é uma whore. — Hayley disse.
— Não duvido que ela esteja falando a verdade. Mas o que eu posso fazer? Proibir o Luke de visitá-la? Não posso fazer nada, droga. Eu só não queria ela perto do meu filho.
— O Josh fazia isso com ela, praticamente. — Hayley sorriu. — Acho que eles terminaram por causa das regras dele.
— Sophie terminou com o namorado?
— Aham. — Ela suspirou. — E eu não posso esconder que fiquei feliz por isso.
— O bom de ter filhas está aí. A gente pode controlar melhor.
— É... — Hayley torceu os lábios. O telefone delas tocou. — Já atendi. — Hayley disse, retirando o telefone que estava em sua mesa do gancho. — Alô... OH MEU DEUS, ESTÁ BRINCANDO?!
— O que foi? — Katt parou o que estava fazendo e olhou a amiga, que fez um sinal de silêncio com a mão.
— MAS É CLARO QUE É PRA MANDAR SUBIR! — Ela ordenou alto e Katt se assustou, sentindo sua curiosidade aumentar mais do que consideravelmente. — Ok, obrigada. — Ela recolocou o telefone no gancho.
— O que foi? — Ela refez a pergunta.
— Você simplesmente não vai acreditar! — Hayley disse animada.
— Em quê?
— Ah, meu Deus. — Ela vibrou novamente e se levantou da sua cadeira, ficando em pé.
— Hayley, fala logo, eu vou ter um ataque de curiosidade. Acreditar em quê?
— Que eu estou aqui, talvez. — Katt escutou a voz desconhecida e olhou para a porta imediatamente.
E, de verdade, ela não acreditou no que viu.
— Não acredito. — Ela disse, pasma.
— Vim visitar vocês. — Ela disse e sorriu.
— OH MEU DEUS, SUA LOUCA! — Hayley correu para abraçar a amiga. — COMO VOCÊ APARECE ASSIM DO NADA, ALLY? — Gritou, ainda sem soltá-la.
— Quis fazer uma surpresa, calma. — Ela se soltou de Hayley e abraçou Katt.
— Não acredito, Alana, é você mesmo?! Caramba!
— Sim, sou eu. — Ela sorriu. — Decidimos nos mudar pra cá... não tínhamos mais nada pra nós na Inglaterra mesmo.
— Eu não acredito! Meu Deus! Como você está? — Hayley.
— Ótima! — Ela disse, empolgada. — Mas não tanto quanto vocês, não é, presidentes?
Katt e Hayley sorriram.
— Fomos promovidas semana passada. — Ela disse.
— Fiquei sabendo que você e Josh se casaram e tiveram filhos, meu Deus, eu fiquei pasma quando soube! Na verdade eu já tinha uma idéia de que ele ia te pedir em casamento, o Nicky me disse antes de ir, mas... Eu sinceramente não acreditei quando soube da história inteira.
— Foi perfeito. — Hayley sorriu. — Perfeito mesmo, sabe? Já tem muitos anos, mas... Eu ainda não consigo me lembrar sem sorrir.
— E as suas crianças?
— Sophie, a mais velha, tem 15 anos. Nate, do meio, tem 13, e o Joseph, mais novo, tem 10.
— Ah, que lindos! E... o Luke, meu deus, deve estar enorme!
— Está. — Katt disse, sorrindo. — Enorme, lindo, estudioso, educado... é um orgulho de filho.
— Lá vem a mãe babona, olha. — Hayley brincou e sorriu.
— Você não pode falar nada. Sou eu que chora sempre que a Sophie toca Paramore no piano?
Hayley a fuzilou com os olhos.
— Minha filha cantando Breathe no piano mata qualquer pessoa que tenha um coração de chorar.
Alana gargalhou, vendo que aquelas mulheres, depois de tantos anos, ainda continuavam loucas.
— Mas e você, Ally? Teve filhos?
— Dois. — Ela sorriu. — Um casal... Uma mais velha e o mais novinho. Também são o meu orgulho.
— Awn, devem ser tão lindos. Uma mistura de Jasy e Alana, awn. — Katt disse juntando as mãos e as fazendo rir. — E falando nisso, como está o Jason?
— Está ótimo. — Alana disse, ainda sorrindo.
— Mas o que a gente tá fazendo aqui? Vamos tomar um café e conversar melhor, Ally. — Hayley disse e as três amigas saíram do prédio, indo tomar um café e conversar sobre a vida e o que aconteceu nesses tantos anos que estavam separadas.



[...]


“1º HORÁRIO: Biologia – Sala b1”


A garota morena re-olhou o papel em suas mãos e novamente, olhou em volta de si mesma.
Sala b2, b3, b4 e b5. Mas não havia b1. Seu primeiro dia de aula e chegaria atrasada por não achar a sala. Bonito, muito bonito.
Passou uma mão pelos cabelos lisos e andou um pouco, em direção a outra ala, que já havia visitado, mas decidiu olhar melhor.
No caminho viu um garoto passar. Ele deveria saber qual era a bendita Sala b1 inexistente. Correu até ele.
— Ei, peraí. — Gritou e o garoto se virou. Tinha olhos azuis como o céu e o cabelo castanho ondulado. Parecia legal. Julia parou de correr ofegante e sorriu. — Me desculpa te parar, é que eu sou aluna nova, e a coordenadora deu esse lindo papel pra minha mãe quando ela veio fazer a minha matrícula, e ele diz que meu primeiro horário é na sala b1, mas eu não sei onde ela está! — O garoto riu. — Já procurei em todo lugar. É algum portal secreto, ou coisa assim? É sério. — Julia brincou e o garoto aprofundou o sorriso, achando engraçado o jeito dela.
— Sinto dizer, mas não, não é um portal secreto. — Ele sorriu. — A Sala b1 fica ali, entre a Sala A5 e a b2, viu? É que alguma coisa aconteceu e eles tiraram o identificador da sala. Enfim.
— Dã. É lógico que a sala b1 tem que ser entre a a5 e a b2. Oh meu Deus. — Ela falou consigo mesma e o garoto continuou sorrindo. Estendeu a mão para ele. — Sou Julia. Desculpa te incomodar.
Ele a apertou.
— Sou Luke. Incomodou nada, você é legal.
— Sou atrapalhada, isso sim. — Ela deu ombros. — Isso não é ser legal. Mas enfim, vou me atrasar mais. Tchau, Luke. — Ela acenou rapidamente para o rapaz e virou o corredor, em direção a sala tão difícil de se encontrar.
Porém, foi impedida. Uma garota parou a sua frente e não a deixou passar.
— Oh, uma aluna nova. — Ela disse.
— Bingo! Pode me dar licença?
— Já que você é nova aqui, queridinha, eu vou te dizer uma coisa.
— Diga. Mas seja rápida, preciso ir para a aula. — Julia cortou a loira. Notou que ela queria discussão assim que bateu os olhos nela.
— Se você dar em cima do meu namorado outra vez, eu...
— Olha, eu não te devo satisfação nenhuma — Julia a cortou —, mas fique sabendo que eu não dei em cima de ninguém. Só pedi a ajuda daquele menino por que ele era o único no corredor.
Stephy riu debochadamente.
— Só estou dizendo que se você fizer de novo, eu acabo com você.
Ela sentiu o sangue esquentar. Aquilo era uma ameaça? Não, aquilo não podia ser uma ameaça. Ah, aquilo era uma ameaça. E Julia não aceita ameaças.
— Amiga, você é surda? Eu já disse que não dei em cima de ninguém. E veja, eu prometi pro meu pai que não arranjaria briga esse ano, mas já que você faz tanta questão, me espera na saída. Vamos ver se você tem peito pra brigar do mesmo jeito que tem pra “fazer medo”. — Julia fez aspas com as mãos e fechou a cara, avançando e batendo seu ombro fortemente com o de Stephy, deixando-a para trás. Stephy viu que precisava dar uma lição na garota nova.
Julia foi em direção a sala e bateu na porta acanhada, por estar atrasada. Após o professor apresentá-la como aluna nova, e ela dizer que não havia achado a sala, o seu atraso foi perdoado, por ela ser aluna nova.
— Quero duplas. — O Sr. Marshwell disse. Era um rapaz alto, no máximo 28 anos. Usava camiseta pólo e tinha os olhos verdes. Corpo bonito. É claro que Julia notou isso assim que o viu. — E eu disse duplas. Não são trios, ou grupos de quatro, são duplas, Carman, duplas. — Ele disse se referindo a Carman, que já havia aberto a boca para retrucar. Ele bufou.
Julia olhou para a garota de cabelos extremamente vermelhos que estava ao seu lado e fez um gesto com a cabeça.
Ela assentiu e arrastou sua cadeira até a menina, que julgou ser legal apenas pela cor do cabelo.
— Oi... Julia, certo?
— Sim. — Ela sorriu.
— Sou Sophie. — Ela sorriu de volta.
— Vocês vão copiar o texto e os exercícios das páginas 154 e 155, e façam a pesquisa do final. Para amanhã. — O professor disse, sentando-se em sua cadeira.
— Tenho que dizer, adorei o seu cabelo, Sophie. — Julia disse e Sophie sorriu.
— Obrigada. Adorei o seu corte também.
— Valeu. — Julia sorriu e abriu o caderno. — Você é britânica? Seu sotaque...
— Não... eu nasci aqui. Mas eu vivi uns anos lá, por isso o sotaque... e você? É britânica?
— Sou. — Julia sorriu. — Meus pais são americanos... decidiram voltar.
— Entendo. — Sophie sorriu. — Mas e aí, tá gostando de estudar aqui?
— É, eu vi que do mesmo jeito que existem pessoas legais, existem vacas. — Sophie mordeu o lábio para não gargalhar com a frase de Julia.
— Concordo plenamente. Mas... é o seu primeiro dia e você já discutiu?
— Não discuti, ela veio discutir comigo. — Julia bufou. — Só por que eu perguntei pro menino onde ficava essa sala, ela veio me ameaçando. Não aturo isso não, é sério.
Sophie não se agüentou e riu.
— Qual é o nome dela?
— Sei lá. — Ela deu ombros. — O nome do garoto é Luke.
— Luke... tipo, olhos azuis, cabelo castanho...?
— É. — Julia assentiu e Sophie sentiu uma sensação ruim. — Ele foi legal, sabe. Mas isso não quis dizer que eu estava a fim dele, fala sério.
— Legal. — Ela repetiu, debochada. — Só até o momento em que você realmente o conhece. De verdade? Odeio aquele garoto. — Ela bufou. — E se você falou com o Luke, provavelmente, quem te intimou foi a Stephy. Sou doida pra dar uns bons tapas nela.
— Eu falei pra ela ir resolver os problemas comigo na saída, então. — Julia sorriu.
— Se precisar de ajuda não precisa nem pedir. — Sophie retribuiu o sorriso e começou a copiar. — Inimigo do meu inimigo é meu amigo. — Julia gargalhou.
— Isso aí, amiguinha. — Sophie sorriu novamente.
— Algum problema com as meninas aí? Quero rir também. — O professor levantou os olhos de seus papeis e olhou para Sophie e Julia.
— Nada não, fessor. — Julia quem respondeu. Sophie mordeu o lábio inferior, reprimindo uma outra risada. O professor voltou os olhos para os papeis. — Tudo bem, ele é gostoso, mas é um chato. — Julia sussurrou e Sophie nunca se segurou tanto para não rir.
— Você é louca. — Sussurrou.
— Só sei curtir a vida. — Ela sorriu. — Meus pais me ensinaram isso. Tem que ser feliz, acima de tudo.
— Seus pais devem ser incríveis.
— São! — Julia disse sorrindo. — Meu pai é o meu herói, sem brincadeira.
— Meus pais também são muitos legais.
— Não duvido. Pra sua mãe te deixar pintar o cabelo assim, meu amor. — Julia novamente, sorriu.
— O cabelo dela é laranja, meu amor. — Ela sorriu baixo.
— Incrível. — Elas ficaram um tempo em silêncio, copiando apenas. — Mas... mudando completamente o assunto de água benta à cerveja... — Sophie sorriu alto por um segundo, sem se controlar. — ...por que você odeia o Luke? Ele me pareceu tão amigável.
— Meu Deus. — Ela continuava rindo. — Ok, ok. Bem... sabe a Stephy?
— A whore que vou bater, sei.
— Isso. — Sophie fez que não com a cabeça. — Eu era a melhor amiga do Luke, desde criança. Aí eu fui pra Londres, fiquei lá quatro anos, voltei faz três meses.
— Aham. — Julia copiava.
— Aí tá. Acontece que... bem, ele começou a gostar de mim.
— Hm... danada. — Sophie sorriu novamente. Garota louca.
— Louca. — Ela pigarreou, limpando a garganta. — Enfim, ele não me disse, e eu nem desconfiei. Tudo bem, eu fui lerda, ficou na cara, mas... sei lá, eu acho que não queria ver que isso tava acontecendo...
— Sei.
— Então... bem, eu fiz minha festa de 15 anos na minha casa mesmo... E um garoto me pediu em namoro. Eu aceitei.
— Ah, nem, Sophie, fala sério. — Ela fez que não com a cabeça.
— É. — ela torceu os lábios — Eu juro que não tinha percebido que Luke gostava de mim... Eu sabia lá se gostava mesmo dele. Aí, ele conheceu a whore.
— Bleh. — Julia bufou.
— Não teria graça contar nada se não fossem os seus comentários, juro.
— Continua!
— Ok. — Ela fez que não com a cabeça. — Ela fez a cabeça dele, como se fosse uma pessoa legal. A máscara dela caiu pra mim quando ela começou a me intimar na aula. E depois, ela começou a sair com o Luke. Aí... bem, com ele afastado de mim, eu comecei a sentir falta e saquei que... — Ela suspirou, reprovando a si mesma. — ...gostava dele.
— Que lindo.
— Não, não é. — Ela discordou. — Aí, pensar que não, quando eu finalmente vou falar com o Luke sobre o que eu sinto, ele me entrega uma carta. Nessa carta, dizia que eu estava dispensando ele, sendo que eu nem tinha escrito bosta nenhuma. Agora me diz, quem mais escreveria essa carta?
— Que. Bitch.
— Nem me fale! — Ela olhou para o lado. — O Luke foi um grosso. Não acreditou em uma palavra que eu disse e me ofendeu. Foi frio, bobo e debochado. Outra pessoa, sabe? Ele faltou dizer “você é a vadia daqui”, quer dizer, ele disse isso em outras palavras. Me xingou mesmo, sem dó nenhuma. Desde então, eu o odeio, e nós não conseguimos mais nos ver sem discutirmos.
— Agora faz sentido. — Julia suspirou fraco. — E agora que eu quero bater mesmo nessa vaca. — Julia sorriu como se estivesse feliz. — A única coisa chata disso tudo é que eu prometi pro Sr. Jason que eu não arranjaria encrenca esse ano. No primeiro dia é sacanagem. — Ela torceu os lábios.
— Sr. Jason é seu pai?
— Year. — Ela concordou, copiando. — E eu pretendia cumprir minha promessa... Ele me prometeu comprar meu Fender Precision... eu necessito dele... Mas... Stephy necessita tanto de umas na cara... Oh, dúvida!
— Fender? — Sophie sorriu. — Guitarrista?
— Baixista. — Julia sorriu. — Desde pequena.
— Sou pianista. — Sophie disse. — Estudei piano na Inglaterra, inclusive... Eu sei tocar... bem, assim. Os professores eram rígidos pra caramba e eu aprendi tanta coisa! Quero me formar em música.
— Não sei se minha parada com a música é definitiva... — Julia mordeu o lábio. — Eu gosto muito do baixo... Mas acho que vou me formar em outra coisa.
— Quem te ensinou a tocar?
— Meu pai. — Ela riu. — Eu toco guitarra também, mas nada comparado ao baixo. Tipo, o meu pai tinha uma banda quando era jovem... e a música é tão boa! Ele tem umas demos gravadas lá em casa e eu escuto quase todo dia...
— Meus pais também tiveram uma banda! — Sophie se empolgou.
— Sério? Eles tocam?
— Minha mãe toca piano, violão, guitarra, tudo. — Ela sorriu de canto. — Mas ela era a vocalista, assim. O meu pai também toca tudo... mas ele é um dos melhores guitarristas que já vi. Ele junto com meu tio Taylor é uma coisa de cair o queixo, sério.
Julia sorriu.
— Coincidência. Tinha um Taylor na banda do meu pai, e ele era guitarrista.
Sophie sorriu também.
— É, né. Tinha um Jason na banda dos meus pais, e ele era baixista, antes do tio Jerm entrar...
Julia a olhou assustada.
— Wait. — Ela passou uma mão pelos cabelos. — Cabelo vermelho... não vai me dizer que o nome da sua mãe é...
— Hayley. — Sophie completou e Julia levou uma mão a boca. — Não vai me dizer que o sobrenome do seu pai é...
— Bynum. — Julia estava sorrindo como nunca. — TU É FILHA DO JOSH FARRO COM A HAYLEY WILLIAMS?! — Ela disse muito alto e a sala inteira olhou para ela.
— SIM! — ela gargalhou alto. — VOCÊ É FILHA DO JASON BYNUM COM A ALANA SMITH?!
— SIM! — Ela novamente sorriu.
— CARA, COMO ASSIM?! MEU PAI VAI ENDOIDAR QUANDO TE VER, MENINA!
— EU SEI, OH MEU DEUS! MINHA MÃE VAI ENLOUQUECER QUANDO TE CONHECER!
— O que tá acontecendo aí? — Sr. Marshwell disse completamente confuso.
Elas passaram a contar a história dos pais delas ao mesmo tempo, dizendo o porquê de estarem tão eufóricas ao se encontrarem. É claro que ninguém entendeu nada, pois elas estavam falando ao mesmo tempo.
— Chega! — O professor levou uma mão a cabeça. — Calem a boca, sim? Ou mudo vocês de dupla.
Julia fez que fechou a boca com um zíper, trancou e a jogou fora. Sophie sorriu.
É claro que o resto da sala ficou cochichando sobre as duas doidas. Como se elas se importassem.
Julia pegou a última folha do caderno e a caneta. Sophie entendeu que ela ia escrever um recado.


“Eu disse! Gostoso, porém, chatinho :x”


Sophie sorriu.
E... bem, esse era o início de uma estranha amizade.


[...]


— Ainda não acredito que eu encontrei a filha da vocalista da Paramore, meu Deus! — Julia disse, sorrindo. As duas estavam no intervalo. Elas quase foram expulsas da sala de Biologia por conversarem alto.
— E eu?! A sua mãe trabalhou com a minha, cara! E... Paramore é a melhor coisa do mundo, sempre. Eu adoro muitas bandas, mas a banda dos meus pais é a melhor. Não tem jeito.
— Concordo plenamente! Qual é a sua música favorita?
— Ahn, difícil. — Sophie pensou, enquanto andava com Julia até a cantina. — Breathe é linda... That’s What You Get é perfeita. My Heart, awn. Misery Business é tão gritante! E…
— Meu amor, tu vai falar de todas as músicas deles assim. — Julia a cortou, sorrindo.
— Fazer o quê. Eu sou uma Parafã.
— Detestei! — Julia disse, sorrindo.
— Ah, qual é, foi legal.
— Não foi! Foi bobo... Tipo, a banda é tão legal, tem que ter um nome legal pro fãclube também.
— Tipo... Paralovers. — Ela sorriu, sugerindo.
— Parawhores. — Julia fez a cara mais maliciosa do mundo. Sophie gargalhou.
— Você é má.
— Eu sei. — Julia juntou as mãos. — É essa a graça. Ter um apelido legal para fãs legais.
— Ok. Julia, você é uma FDP. — Ela disse sorrindo.
— Eu prefiro pensar que isso não é um insulto e não entender, então... ahn? — Julia fez uma cara confusa.
— FDP. Fã de Paramore. — Sophie disse e as duas gargalharam.
— Somos todas FDP’s!— Julia disse consideravelmente alto e um garoto com um gorro azul na cabeça as olhou estranho. Sophie sentiu o rosto esquentar de vergonha. Após o garoto sair, fazendo que não com a cabeça, elas desataram a rir desesperadamente.
— Você não presta, Juzy. — Sophie disse assim que se recuperou.
— Não é a primeira vez que escuto isso. — Julia se fez de pensativa. — E pra constar, adorei meu apelido novo.
— De nada. — Sophie brincou.
Ainda conversando e rindo, elas pagaram o lanche foram para uma das mesas no refeitório.
— Ei, Red Soph! — Dan e Nate sentaram-se na mesa das duas garotas.
— Você não para com esse apelido estranho? — Ela perguntou, comendo uma batata frita.
— Nunca fica chato. — Dan sorriu.
— Vai apresentar pra gente a sua amiga? — Nate foi direto ao ponto.
Sophie sorriu.
— Julia, esses são Dan e Nate. O Nate é meu irmão.
— SÉRIO?! — Ela disse alto. — Oi! — Ela estendeu a mão para Nate que a apertou.
— Olá.
— Oi Dan. — Ela apertou a mão dele também.
— Oi... Julia?
— Isso. — Ela sorriu. — Sophie, quantos irmãos mais você tem?
— Só o Nate e o mais novo, Joseph. Não estuda aqui.
— Awn. Meu pai vai enlouquecer! — Ela tomou um gole de suco.
— Por quê? — Nate.
— Meu pai era amigo dos seus pais.
— Lembra, Nate? Jason Bynum?
— Sério? Você é filha dele? — Nate perguntou.
— Sim!
— Estou boiando. — Dan.
— Fica quietinho, Dan. — Sophie revirou os olhos.
— Quieto? Qual é. — Dan deu ombros. — Eu não preciso disso. Só vim aqui por que Nate insistia em conhecer a mina nova.
— Cala a boca, retardado. — Nate sussurrou, dando-lhe um chute. Julia sorriu de canto e avaliou Nate por um segundo.
Mordeu o lábio inferior.
— Na verdade, o Luke largou a gente, então a gente veio pra cá por isso. — Nate contornou a situação. Sophie bufou.
— Dá pra não mencionar o nome dessa criatura enquanto eu estiver comendo, por favor? — Sophie disse e Julia sorriu.
— Por quê? You love him. — Dan disse e Sophie lhe deu um soco no braço. É, ele não cansa de apanhar.
— Ama? — Julia perguntou interessada.
— Não. Eu o odeio. O Dan é um idiota que vê idiotices por onde passa, só isso.
Nate sorriu de canto e fez que não com a cabeça.
— Você ainda não viu os dois discutindo, Julia. — Ele disse. — É a coisa mais estranhamente fofa que existe.
— Nate, não me obrigue a bater em você também. — Ela bufou enquanto terminava de comer sua batata frita.
Julia deixou o sorriso se alargar.
Ela percebeu que talvez o ódio que Sophie havia descrito para ela não fosse totalmente verdadeiro. Não seria se o seu próprio irmão discordasse.
O resto do intervalo passou rapidamente. Como as aulas de Julia não eram mais com Sophie, ela seguiu para a turma de história. Stephy estava nela.
— Ora, ora. A garotinha nova. — Ela disse assim que viu Julia entrar na sala.
— Já falei que nós resolvemos o que temos pra resolver no fim da aula, não enche.
— Ah, você acha que vai simplesmente dar em cima do meu namorado e eu vou deixar barato?
— Você é retardada, né? — Julia revirou os olhos. — Eu já disse que não dei em cima de ninguém! E eu não quero brigar dentro da escola, então, me espera na saída, inferno.
— Stephy, deixa isso quieto, daqui a pouco o professor chega. — Jenny sussurrou para a prima.
— Não. — Ela respondeu apenas. — Eu acho, sinceramente, que você está com medo de me encarar e quer esperar até a saída pra fugir.
— De você? Não. Por que diferente de você, eu não sou desonesta. E por causa de umas coisas que fiquei sabendo hoje, eu jamais fugiria de você.
— Virou amiguinha da Farro, né? — Ela riu, debochadamente. — Pois você vai quebrar a cara! Aquela menina é falsa, e você vai ver, ela vai te enganar. Assim como fez com o meu namorado e com o próprio namorado dela.
— Garota, a única pessoa que eu conheço que manipula e engana as pessoas aqui é você, e olha que eu nem te conheço direito. Sei muito bem que a carta que o Luke recebeu foi você quem escreveu.
— O quê? — Jenny perguntou, incrédula.
— Você não sabe de nada!
— Não sei? Oh. — Julia aumentou seu tom de voz, igualando-o ao de Stephy. — Pois é, menina. — Ela se referiu a Jenny. — Parece que quem não sabe de nada aqui não sou eu, e nem esse projeto de vaca, mas sim, você. Por que quem escreveu aquela carta foi ela. — Julia bufou. — E eu já disse uma vez, digo outra: Vamos resolver isso lá fora. — Julia virou as costas e saiu em direção a sua cadeira.
— Stephany, eu só vou perguntar uma vez. — Jenny começou. — Você escreveu aquela carta que o Luke recebeu?
— Você acha que eu escrevi, Jen?
— Desculpa, mas realmente parece do seu feitio. — Ela a olhou mais sério. Jenny conhecia bem o gênio mau da prima. Sabia que ela já havia feito coisas parecidas antes e, mesmo que ela houvesse prometido parar, Jenny sabia que ela seria capaz novamente. — E você não me respondeu: Você escreveu?
— Não, droga. — Ela bufou. Jenny, naquele momento, só teve uma certeza: Stephy estava mentindo.
Ela avançou até a cadeira onde estavam as coisas de Stephy e puxou a mochila dela.
— O que você está fazendo?! — Ela se exaltou. Jenny não respondeu. Apenas a abriu.
Haviam dois cadernos, algumas canetas e um papel. Jenny o puxou.
Era uma redação.
De Sophie.
Jenny riu, debochadamente e jogou a mochila de volta para a prima.
— “Não, droga”? Então me explica o que a redação assinada como Sophie Farro está fazendo na tua mochila? — Ela bronqueou sussurrando, para que os outros não escutassem. — Você vai contar isso pro Luke.
— Não vou contar nada!
— Se você não contar, eu conto. E se você brigar com a aluna nova, eu espalho pra escola inteira. Você escolhe, a prova tá comigo.
— Droga, Jen! Você devia me ajudar! A gente é família.
— Somos família, somos. Mas eu não vou deixar você cometer tuas injustiças de novo, Stephy. Não de novo. Você escolhe: ou fala, ou eu falo.
— Você não poderia.
— Duvida de mim? — Ela chegou perto. — Você acha que o Luke vai acreditar em você depois de saber disso?
— Ele vai achar que você quer me irritar.
— E qual seria o meu motivo? — Jenny bufou. — Eu já disse, a escolha é sua. E brigue com a aluna nova pra você ver se amanhã a escola inteira não está sabendo das suas malandragens. — Ela deu as costas e se sentou na sua cadeira.
Julia, a seu canto, no fundo da sala, se esforçou pra escutar um pouco da discussão. Mas não conseguiu, infelizmente para ela.
Logo o professor chegou à sala e deu início a aula.
Mais três aulas se passaram. Julia não chegou a ver Sophie novamente, e depois daquela aula de história, nem Stephy. E... foi, provavelmente, o primeiro dia de aula mais agitado da história!
Em uma manhã, ela se atrasou, brigou com uma garota, fez três amigos (e por acaso, dois deles eram filhos de amigos dos seus pais), levou bronca de um professor e ainda prometeu brigar na saída do colégio! Coisas que pessoas levam um ano inteiro para fazer, ela fez na metade de um dia.
O sinal bateu, avisando aos alunos que era hora de ir para a casa. Para Julia, um pouco a mais do que isso. A única coisa a qual a perturbava era o fato de seu pai dizer que provavelmente iria buscá-la. Rezou para que isso não acontecesse.
— Ei! Achei você! — Sophie disse acenando e passando entre todas as pessoas que tentavam sair do colégio.
— Oi. Eu descobri com a Stephy de novo. — Julia foi direto ao assunto e Sophie riu.
— E aí?
— Vamos sair. Quero ver se ela tem peito pra brigar como tem pra falar merda.
— Se ela bater em você eu bato nela, só isso. — Sophie bufou. — Tu é a menina mais maneira que eu já conheci e o estranho é que eu te conheci hoje.
— É por que somos almas gêmeas, querida. — Julia disse com voz cômica e Sophie gargalhou.
— Com certeza. — Elas continuavam andando.
Finalmente, saíram do colégio.
— Ué, onde tá ela? — Julia passou os olhos por toda a frente da escola.
Stephy não estava lá.
— Não acredito que ela amarelou. — Sophie riu baixinho.
— Nem eu! — Julia disse, comicamente.
— Onde você mora?
— Um pouco longe daqui, num condomínio.
— Vamos lá pra casa? Não é tão longe, e é calmo. Isso sem dizer que a gente não fez a nossa pesquisa...
— Ok. Só vou ligar pro meu pai, ele disse que vinha me buscar... — Julia pegou o celular do bolso e começou a discar o número, mas parou ao ver uma moto parar entre alguns carros. — Não precisa mais.
Jason saiu da moto e tirou o capacete azul.
— Oi pai! — Ela o abraçou e Sophie apenas observou, envergonhada. De fato, estava curiosa para saber quem era Jason. Uma vez, Katt havia lhe contado que ele namorou sério com sua mãe. Morando junto com ela, e tudo.
— Hey linda. — Ele se soltou dela. — Quem é a sua amiga?
— Ah, sim. Pai, essa é a Sophie WILLIAMS FARRO. Soph, esse é o meu pai.
— Oi, prazer em conhece-lo. — Sophie disse sorrindo.
Jason ficou completamente estático. Completamente.
— Fi-filha de Ha-hayley? — Ele gaguejou.
— Sim! E de Josh. — Ela abriu mais o seu sorriso. O sorriso com dentes levemente separados, idêntico ao de Hayley. Idêntico.
— Ei, Soph. Oi Julia. Vamos pra... Oi! Sou Nate. — Nate disse, chegando e falando com as colegas, mas parou assim que viu que um homem estava conversando com elas.
Jason nunca ficou tão estático e assustado em sua vida. Mais um?
— É o seu irmão?
— Sim, é.
— Meu Deus! Eu não posso acreditar que vocês são tão parecidos com os seus pais! — Ele finalmente conseguiu proferir alguma palavra.
— É, já me disseram isso. — Nate disse, corando um bocado.
— É sério! Nossa!
— Não é legal, pai? Tipo, eu conheci a Soph por acaso. Quando eu soube que ela era filha de quem era...
— Sim, muito legal. — Jason sorriu um pouco. — Ainda não acredito.
— Bem, acredite. — Sophie disse. — E ah, Julia pode ir lá pra casa? Tem umas coisas da aula de Biologia que temos que terminar...
— Claro, pode sim. — Ele sorriu. — Eu... Nossa. — Ele passou uma mão pelo rosto. — Querem uma carona?
— Não, valeu. Eu tenho que ir com o Nate, e é bem perto, então a gente vai andando mesmo.
— Eu te ligo quando terminarmos, tá pai?
— Certo. — Jason sorriu. — Prazer em conhecer vocês, meninos.
— O prazer é nosso, Sr. Bynum. — Nate.
— Pode me chamar de Jason... Nate?
— É. — Ele sorriu. — De Nathaniel, sabe? Não sei se você conhece a história do soldado que morreu na guerra pelo meu pai.
— Conheço. — Ele assentiu. — Legal ele ter colocado o seu nome em homenagem a ele.
— Me orgulho do meu nome. — Nate sorriu e, novamente, Jason viu outra pessoa naquele sorriso. Era Josh sem o piercing.
— Você se parece muito com o seu pai.
— Obrigado! — Jason riu do entusiasmo que Nate expressou.
— Enfim... não esquece de ligar pra sua mãe, Julia... E... tchau, garotos.
— Tchau pai.
— Tchau, Jason. — Nate apertou a mão dele fortemente e Jason sorriu.
Os três começaram a andar e conversar besteiras no caminho para a casa dos Farro.
É, apenas uma manhã. Isso foi o suficiente para Julia fazer novos amigos... e esses ela soube que seriam de verdade.

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