Darling, don't be afraid.
PlayNOW: A Thousand Years - Christina Perri
Há muito tempo atrás, ele prometera a
si mesmo que a partir dali, seria dono de si mesmo. Sustentaria a si próprio
como o homem que estava se tornando, criaria responsabilidade e prosperaria
profissionalmente, como queriam seus pais. Não abandonaria suas paixões, se
tornaria um músico e jamais abandonaria os palcos, ou as composições. Acima de
tudo isso, cuidaria de não se descontrolar emocionalmente outra vez. Não se apaixonaria novamente, e se por acaso isso
acontecesse, teria total controle sobre seus sentimentos e suas emoções.
Pensaria muito bem antes de fazer alguma coisa. Não se sentiria confuso, como
um idiota, novamente. Saberia sempre o que se passaria com seu coração e sua
mente, mantendo-os num nível aceitável e controlável.
Sua promessa fora fielmente cumprida
por quase seis anos e meio, e ele tornara-se tudo o que um dia almejara ser.
Tinha um bom — na realidade, uns bons — emprego, tocava pelo menos duas
vezes por mês para um público considerável, produzia, compunha, e até mesmo
passava seu conhecimento adiante para crianças em sua escola de música.
Controlara o carinho que sentira por sua última quase-namorada, tivera muitas
outras mulheres, pequenos casos, todos com um início, meio e fim. Um fim que
não fazia diferença e não chegava nem perto de machucá-lo. Suas emoções,
sensações e sentimentos, estavam bem manuseados e controlados.
Mas isso mudou.
Ele percebeu, enquanto apertava o
volante de seu carro com uma força exagerada, que estava entupido de tipo de
sentimento que ele podia imaginar. Podia sentir em si mesmo o perfume dela, e
quando freava o carro em um sinal vermelho, via os flashes da tarde que tiveram
juntos passarem pela sua cabeça com toda a liberdade. Via os olhos dela
chorarem enquanto ela assumia, sentidamente, que ainda o amava. Via-a, tão
linda, entregue a ele de corpo e alma. Via seus cabelos flamejantes e
maravilhosos, seu corpo sexy, seus olhos castanhos penetrantes, seus lábios chamativos
e bem delineados. Quase podia sentir o gosto do beijo dela, a sensação de ter
suas peles em choque, a explosão de estar dentro
dela. Então o sinal se abria, e com um suspiro ele pisava no acelerador,
decididamente chegando à conclusão de que sua promessa jamais daria certo. Luke a amava. Sabia disso. Sempre
soubera disso. Idiotice era pensar que não. Inocência
era pensar que não.
Heart beats fast.
Colors and promises.
How to be brave?
How can I love when I'm afraid to fall?
But watching you
stand alone… All of my doubt suddenly goes away somehow.
(O coração
acelerado.
Cores e promessas.
Como ser corajoso?
Como posso amar quando tenho medo de me apaixonar?
Mas ao ver você
na solidão... Toda a minha dúvida de repente se vai de alguma maneira.)
Ela estava em seu carro. Abraçava o
próprio corpo com os dois braços e encarava as ruas iluminadas pelos postes e
pela luz da lua, pensando. Sophie admitira essa posição desde que entrara no
Audi. Na realidade, estava quieta desde o momento em que eles começaram a
vestir-se na sala de aula. No início ela tentou falar, muitas e muitas vezes,
mas nada saíra de sua boca. Luke também não conseguiu dizer nada, como quando
da vez em que ele beijou-a, após terminar de compor Franklin. Agora, porém, a
situação era bem mais crítica e profunda.
Uma criança estava envolvida em tudo
isso.
Quando Sophie finalmente conseguiu
dizer alguma coisa, disse que aquilo não poderia ter acontecido. Luke apenas
fechou os olhos, sentindo as palavras atingirem-lhe como um soco, e ela continuou
falando. Disse que não queria fazer Henry passar por aquilo, disse que se
descontrolara, disse que embora amasse Luke, simplesmente estava com medo de
enfrentar uma vida com ele. Tinha medo de que tudo desse errado outra vez e que
isso refletisse principalmente em seu filho.
Luke não respondeu. Não conseguiu
fazê-lo. Não conseguia controlar seus sentimentos, conciliar seus pensamentos.
Não conseguia dizer o que pensava, por que não pensava com clareza. Sentiu
vontade de chorar e apenas gritar para Sophie que ele a queria novamente, mas
isso lhe pareceu insensato demais. Por isso ele apenas suspirou e perguntou se
poderia falar com Henry ainda esta noite.
Agora, lá estavam eles. Sophie e Luke,
ambos enfiados no carro, morrendo de amor um pelo outro, sem conseguirem se
falar. Sem saber, simplesmente, o que fazer.
— Alô, Julia... — Luke virou o rosto,
vendo que Sophie iniciara uma ligação. Nem sequer notara que ela estava com o
telefone. Ela não virara para ele, entretanto, e continuava encarando a
Nashville que se movia fora do carro. — Sim, estou bem, acalme-se... Eu sei,
Julia, eu sei... Eu... eu estou com o Luke... — Sophie mexera em sua franja,
suspirando. — Olha, eu conto tudo quando chegar... eu conto tudo quando chegar.
Henry está acordado? — ela fez uma pausa por um minuto, e Luke sentiu sua
barriga revirar com mais um batalhão de emoções que ele não sabia diferenciar. Henry. Seu filho Henry. Ele não pôde
ver, mas soube que um meio sorriso se fez no rosto de Sophie. — Certo... não o
deixe dormir, chegamos num minuto. Temos que conversar com ele... Sim. Ele
descobriu. Apenas mantenha o Henry acordado, tudo bem? Nos falamos depois... eu
prometo, ok... Tchau, também te amo — Sophie apertou um botão e encarou o
celular por um quarto de minuto antes de suspirar e finalmente olhar para Luke,
que alternava seu olhar entre ela e a estrada.
— Tudo bem por lá? — perguntou ele, sem
saber o que dizer.
Sophie fez que sim com a cabeça.
— Henry passou o dia brincando com
Cowboy e Anna, por isso dormiu boa parte da tarde e acordou para assistir os
filmes que Julia havia alugado — ela deixou que um meio sorriso se fizesse em
seu rosto novamente. — Pude ouvir sua voz. Quando ele dorme à tarde, fica a
noite inteira perambulando... completamente elétrico...
Luke sorriu também.
— Você sempre sorri quando o simples
nome dele é mencionado — comentou ele, virando o volante para a esquerda. —
Mesmo que não esteja feliz.
Sophie olhou para as próprias mãos.
— Ele é a coisa mais valiosa que tenho
na vida — disse ela, devagar. — Desde que o tive, ele passou a ser a minha vida. Ele é... minha...
salvação — Sophie sorriu outra vez, timidamente, ainda encarando seus dedos,
iniciando um pequeno período de silêncio.
— Eu... — Luke começou, sem saber como
prosseguir. Deixou uma risada nervosa escapar de sua garganta, fazendo com que
Sophie levantasse seus olhos para encará-lo. Mas dessa vez Luke fez questão de
focar sua atenção na estrada e apertou o volante com as duas mãos. — Eu...
estou... feliz — disse ele, jogando os ombros para trás. — Estou feliz por...
saber... sabe, de Henry. Meu... filho. Meu filho Henry. Meu... filho —
novamente, outra risada escapou de Luke, quase descontraída. Dizer aquelas
palavras era como tornar toda a situação real. A ficha ainda não havia caído
completamente; Luke era o pai daquele garoto! Aquele garoto maravilhoso, que
Luke se afeiçoara de maneira tão profunda, desde o primeiro momento em que o
viu. Seu filho! Deus, isso não podia
ser mais incrível! Quantas vezes inconscientemente — ou conscientemente, eventualmente
— Luke não desejara que Henry fosse de
fato seu filho? Pela sua esperteza, sua amabilidade pela música, sua
personalidade notável para uma criança de cinco anos. Caramba, na relação dos
dois, sempre tivera algo a mais,
mesmo que Luke não soubesse diferenciar. Henry era seu filho! Seu!
E Luke se sentiu bem por saber disso.
Sentiu-se como um novo homem, que agora tinha um filho para cuidar. Imaginou-se
jogando beisebol com Henry no parque, ou concertando o motor de um carro, ou
conversando sobre garotas. Percebeu que queria, queria muito, participar
ativamente da vida do filho de agora em diante. Por que o amava.
— Eu estou feliz por saber que ele é
meu filho — Luke finalmente formulou sua frase de uma maneira eficiente, e
novamente Sophie parou de encará-lo. — Cara! Eu tenho um filho! Não consigo
esconder minha euforia, por que... eu sempre... sei lá, senti como se houvesse
uma ligação maior entre aquele moleque e eu. E... meu Deus, eu sou pai. Eu... quero... quero ser o pai dele. Quero muito. Você entende?
Sophie não respondeu e Luke viu que ela
deixou um pequeno, mas existente, soluço escapar de sua garganta. Seus ombros
estavam encolhidos e a expressão dele de pura felicidade foi convertida para a
preocupação em um milésimo de segundo. Com a mão que não dirigia, ele segurou o
ombro dela, desesperado.
— Não chora... — murmurou a voz dele
antes que seu cérebro pudesse mandá-la sair. Sophie fungou e secou os olhos com
as mãos rapidamente, forçando-se a engolir o choro de um jeito quase
torturador, e ainda assim não conseguiu encarar Luke.
— Me desculpe — sussurrou ela, a voz
embargada demais, a tristeza e o arrependimento aparentes demais. Luke não
sabia se ela pedia desculpas por chorar naquela hora, ou por todo o resto.
Suspeitou que fossem os dois. — Eu... sei... que você vai ser um pai incrível,
Luke.
Havia sinceridade em suas palavras, e
talvez fosse isso que a fizesse chorar mais um pouco. Dessa vez, Luke
limitou-se a agradecer e murmurar para que ela parasse de chorar novamente.
Deixou-se perder em seus próprios pensamentos posteriormente, angustiados e
alegres, tristes e eufóricos, medrosos e corajosos, ansiosos e melancólicos,
tudo isso ao mesmo tempo. Deus, ele estava uma bagunça.
Não demorou muito e logo seu carro
estava parado no estacionamento do prédio que ele já estava habituado a visitar
para dar aulinhas de violão para o melhor aluno que já teve. Sophie secou as
lágrimas com as mãos novamente e ambos saíram do carro, em silêncio, prontos
para seguirem em direção à recepção do prédio. Mas quando Luke aproximou-se de
Sophie e a abraçou, instintivamente, ela não se esquivou. Logo estava lá,
chorando mais uma vez, desabando sobre ele, despejando todos os sentimentos que
inundavam sua cabeça e seu coração.
Ela queria gritar. Queria dizer para ele
se afastar. Caramba, ele não via o quão perigoso isso era?! Deus! Ela já havia
fugido e escondido um filho dele! Já o machucara de todas as formas possíveis!
Fizera amor com ele ainda essa tarde! E agora, estava ali, chorando enquanto
ele a abraçava e a confortava, da mesma maneira que sempre fizera quando ela
precisava. Droga, ele não percebia que acabaria saindo machucado novamente se
voltasse a se aproximar?! Não entendia que Sophie só o traria mágoas?! Por que
ele não ficava longe dela?! Por que ele ainda a amava mesmo depois de tudo?!
Sophie queria gritar tudo isso para
ele, mas ao invés disso, soluçou e molhou sua camiseta com as suas lágrimas
sentidas. Apertou os seus ombros e gemeu, angustiada, fazendo com que ele
segurasse sua cintura com uma força inimaginável, como se dissesse que ainda a
amava, e que sempre a confortaria quando ela precisasse, mesmo que ela dissesse
que não. Mesmo depois de tudo.
Lentamente, acalmando-se, ela
separou-se de seu abraço apertado e reconfortador. Não se deu ao trabalho de
secar os olhos com muita delicadeza e transformou o suspiro que queria dar em
uma fungada, como uma criança.
— Deixe que eu fale com ele primeiro,
tudo bem? — ela perguntou depois de um ou dois minutos procurando normalizar
sua respiração, os lábios ainda tremendo, o nó formado na garganta. Luke, com
um semblante quase calmo, assentiu com a cabeça.
— Tudo bem — disse ele, sereno. Sophie
fez que sim com a cabeça em um gesto de agradecimento e começou a andar,
finalmente, para longe daquele estacionamento.
Quando Luke apertou sua mão, ela
apertou de volta.
One step closer…
I have died every day waiting for you. Darling, don't
be afraid, I have loved you for a thousand years.
I'll love you for a thousand more.
(Um passo mais perto…
Eu morri todos os dias esperando por você. Amor, não
tenha medo, eu te amei por mil anos.
Eu te amarei por mais mil.)
Sua cabeça girava em torno de tudo o
que estava acontecendo naquele momento. Estava com medo, estava triste, estava
emocionada demais. Não queria que isso estivesse acontecendo. Não queria fazer
o que iria fazer, por que isso mudaria sua vida novamente, e Sophie... já
estava cansada de mudanças.
Mudanças doíam. Ela não queria que
doesse mais.
Mas Luke segurava sua mão, e ela podia
sentir seu suor, o calor de sua pele sobre a dela. Podia sentir seu carinho,
sua amizade, sua preocupação, e... até mesmo seu amor. Podia sentir um arrepio
apoderar-se dela, acompanhado de uma tênue sensação de que tudo estava bem,
mesmo que ali, naquele breve momento. Se ele estivesse perto, e estaria, não
haveria dor. Luke massageava o polegar nas costas de sua mão direita, e Sophie
foi guiada por ele até o elevador, entorpecida. Sentia-se segura, quase feliz,
quando estava com ele. Tudo por conta do poder que ele tinha sobre ela.
Então a realidade a atingia, e
novamente ela se lembrava de que seu filho estava em algum lugar lá em cima,
brincando com um cachorro enquanto assistia um desenho animado. Mal sabia ele o
quanto o momento a seguir teria influência em sua vida. Detestava ter de
submetê-lo a isso, e mais, tinha medo de sua reação. Sabia que Henry era apenas
uma criança, mas ele conseguia ser muito esperto e sensato, e isso a
aterrorizava.
Por isso ela queria falar com ele
primeiro. Talvez, se ela o fizesse, ele não ficaria chateado — oras, no que
Sophie estava pensando? Henry iria ficar feliz. Quantas foram as vezes em que
ele não falara de Luke, e do que Luke havia ensinado-lhe, ou do que Luke
comprara para ele, ou do que Luke dissera para ele? Henry tornara-se o melhor
amigo de Luke. Quando soubesse que ele era seu pai, com certeza ficaria mais do
que feliz.
E faria perguntas. Muitas perguntas,
afinal, ele ainda era só um menino. Sophie pegou-se temendo-as. “Por que você não disse que Luke era meu
pai, mamãe?”. Ela estremeceu, a voz fina do filho ecoando na cabeça, seu
rostinho confuso e indignado, com seis pontos sarando no queixo. Olhando Sophie
com seus olhos azuis chateados, como se ele percebesse, finalmente, que ela não
era aquela mulher incrível que ele acreditava veemente. Dando-se conta,
lentamente, de que ela fora injusta por tê-lo separado de seu pai, que era um
homem tão legal e que só queria o seu próprio bem. Entendendo que ele fora uma
vítima da irresponsabilidade e do medo insano da própria mãe.
Sophie prendeu a respiração, sentindo
os olhos começarem a molhar novamente, o nó na garganta sufocá-la sem nenhuma
pena. O elevador se abriu e Luke olhou-a nos olhos, ainda segurando suas mãos,
mas não disse nada. Seu olhar azul e sereno queria transmitir para Sophie uma
mensagem que não precisava sair de seus lábios para ser assimilada. Você é forte. Você consegue. Isso é o certo
a se fazer.
Com um suspiro, ela apertou a mão dele
num agradecimento e ambos saíram do elevador antes que as portas se fechassem
novamente. Seguiram, em silêncio, até o apartamento, no fim do amplo corredor.
Com o coração querendo sair pela boca, Sophie girou a maçaneta e soltou a mão
de Luke, sentindo-se instantaneamente sozinha. Logo a luz e o barulho inundaram
sua mente. Duas risadas altas, a televisão, e um latido fino de um cachorro
pequeno.
— Mamãe chegou! — Henry gritou assim
que a porta bateu e Sophie pôde escutar seus passinhos ligeiros em direção a
onde ela estava. Logo ele apareceu em seu campo de visão, com o pijama azul
claro com estampa do Mickey Mouse, seu cabelo loiro completamente bagunçado,
seu sorriso com dois dentinhos inferiores crescidos pelo meio, e seu queixo
suturado. Sophie se agachou e Henry pulou em seu colo, abraçando seu pescoço e
beijando seu rosto, perguntando inocentemente onde ela estava. Com lágrimas nos
olhos, ela apertou o corpo pequeno do filho contra o seu, sussurrou que o
amava, e agradeceu a Deus por tê-lo em pensamento. Henry ainda beijava seu
rosto enquanto ria, como em uma brincadeira que só existe entre um filho e uma
mãe. Sophie beijou seu rosto de volta, afastando seu pequeno corpinho dela de
uma vez, encarando os traços lindos de seu rosto.
— Como está o queixo? — perguntou ela,
sem nem perceber que estava com um sorriso no rosto.
— Tá legal — disse ele, dando ombros,
mas subitamente pareceu preocupado. — Mamãe, você ‘tava chorando?
Sophie sorriu e o abraçou novamente,
deixando um beijo sentido em seu rosto, mas dessa vez o aperto de Henry no seu
pescoço ficou bem menor. Ela sabia que preocupara o filho — não havia nada no
mundo que Henry detestasse mais do que ver Sophie chorando, desde sempre. Na
primeira vez que ela o segurou, chorou sentidamente, e se lembrava com clareza
de que assim que Henry percebeu que sua mãe chorava, chorou junto, e só parou
quando Sophie forçou-se a engolir o nó na garganta. Assim se seguiu até que ele
aprendesse a falar; toda vez que Sophie chorava, seu filho chorava com ela. Com
o tempo, aprendeu a abraçá-la e pedir para que ela não chorasse, de seu jeito
mais típico: “não chora, mamãe, eu te
amo”. Mesmo que ele não soubesse, na maior parte das vezes, Henry conseguia
consolá-la melhor do que qualquer outra pessoa. Com a exceção de, talvez, Luke.
Quando ela finalmente soltou seu filho,
sua expressão preocupada ainda estava bem estampada no rosto jovial. Mas antes
que ele perguntasse novamente, viu que Luke estava atrás de Sophie, com as mãos
nos bolsos, assistindo a cena. Ninguém notou que sua barriga revirava e sua
pele estava toda arrepiada.
— Luke! — Henry estendeu sua pequena
mãozinha para tocar a de Luke com um sorriso. Sophie ainda estava agachada,
segurando o filho pela cintura.
— Ei, garotão — disse o homem, sorrindo
alegremente, dando alguma serenidade ao rosto do pequeno Henry.
Sophie suspirou e ajeitou o cabelo de Henry
em uma só direção, atraindo sua atenção e segurando seu rostinho em seguida.
Olhou no fundo dos olhos do filho antes de suspirar.
— Amor, a mamãe precisa falar com você,
sobre uma coisa... muito séria — disse ela, tentando sorrir, mas com sua
expressão de seriedade ao mesmo tempo. Henry franziu a testa, confuso.
— O quê? — perguntou ele.
Sophie mexeu em seu cabelo novamente.
— Vamos para o meu quarto? Eu prometo
te explicar tudinho — disse ela, tranquilamente, fazendo com que Henry
assentisse. Com os olhos ardendo, ela levantou-se e segurou a mão do pequeno,
guiando-o até seu quarto. Passou por Julia e segurou a mão dela por um momento,
como se precisasse de força. Viu o semblante preocupado da amiga e viu que ela
sibilou para que Sophie fosse forte. Quando adentrou seu quarto quase pequeno, Sophie
fechou a porta e sentou Henry em sua cama macia.
— O que aconteceu, mamãe? Você ‘tá com
o olho grande. Você ‘tava chorando, não ‘tava? — disse ele, ainda preocupado,
mas dessa vez quase exigindo ser explicado. Sophie suspirou, as lágrimas
querendo voltar a rolar, o nó na garganta se apertando. Ela sentou-se na frente
do filho, enquanto ele encarava-a, querendo uma explicação naquele exato
momento.
— Eu... — ela começou, sem saber como
proceder. Fechou os olhos por alguns segundos e voltou a abri-los, encontrando
o filho confuso. As lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto e ela voltou a
arrumar o cabelo de Henry, passando os dedos pelo seu rosto tão bonito. — Você
lembra quando... lembra quando você me perguntou sobre o seu pai?
Henry ainda pareceu confuso, mas fez
que sim com a cabeça. Não fazia tanto tempo que isso acontecera, na realidade,
por isso seria impossível ele não se lembrar.
— Aham — assentiu ele, subitamente
percebendo o porquê de sua mãe estar chorando. Sophie sempre chorava quando
falava do pai dele. Tia Julia dissera que era um assunto muito delicado, e que
um dia ela conversaria com Henry direitinho sobre isso, mas ele não fazia muita
questão. Se isso fazia sua mãe chorar, era melhor evitar o assunto, ele achava.
— Você lembra que eu disse... — Sophie
fungou, sentindo-se fraca por não conseguir se controlar. — Lembra que eu disse
que eu... eu e seu pai... éramos namorados, e eu o amava muito, mas nós tivemos
que nos separar?
Henry assentiu com a cabeça novamente.
— E depois eu nasci — disse ele,
concluindo, e Sophie assentiu. Henry já não se aguentava mais ao vê-la chorando
daquele jeito. — Por favor, mamãe, por que você ‘tá chorando? Não precisa...
não precisa chorar...
Sophie percebeu que seus olhinhos
estavam ganhando mais brilho que o comum. Se continuasse chorando, seu filho
sentimental e incrível, assim como o pai, iria acabar chorando também. Secou
suas lágrimas e respirou fundo. Tudo bem.
Você está fazendo a coisa certa.
Mais calma, ela tentou dar um meio
sorriso. Arrumou a camisetinha do filho, desamassando-a em seus pequenos
ombros. Olhou em seus olhos logo depois.
— Você... — começou ela, decidida a não
deixar com que sua voz se embargasse pelo choro novamente — Você quer ver uma
foto dele?
Os olhos de Henry brilharam,
esperançosos, lindos, como nunca tinham brilhado antes. Mesmo que ainda visse
Sophie chorando, os lábios do menino ganharam um sorriso sincero.
— Do meu pai? — perguntou ele,
incrédulo.
Sophie sorriu por impulso e assentiu com
a cabeça.
— Sim, do seu pai — disse ela, sentindo
seu coração se apertar quando as palavras foram ditas. Henry deixou com que seu
sorriso se ampliasse, esbelto, ansioso.
— Claro! — exclamou alto o menino,
ainda sem acreditar que estava mesmo tendo aquela conversa. Após deixar um
beijo em seu rosto, Sophie levantou-se e foi até o guarda-roupa, retirando de
lá uma pequena caixa de plástico azul. Henry assistiu tudo aquilo abismado e
absurdamente ansioso.
Sophie sentou-se à sua frente mais uma
vez, com os olhos marejados de lágrimas que queriam rolar. Abriu a caixa,
controlando-se para não soluçar, e de lá retirou um pequeno porta-retratos. Duas
lágrimas escaparam quando seus olhos bateram na foto. Um casal de adolescentes,
completamente apaixonado, embaixo de uma árvore no Central Park, abraçados. O
cabelo dele estava bagunçado por que ela embrenhara seus dedos nele pouco tempo
antes, e a foto estava meio fora de foco por que o garoto que a tirou devia ter
uns nove anos. Mesmo assim podia-se ver com clareza que o sorriso no rosto da
menina era verdadeiro, e podia-se concluir também que o olhar azul e penetrante
do garoto queria dizer que ele estava realmente apaixonado por ela. Olhando
para a foto, Sophie mal podia acreditar que aquela garota, tão feliz e aparentemente
inocente, fora ela própria, seis anos atrás.
Sem conseguir mais olhar para a foto,
Sophie virou-a para o filho pequeno que esperava ansiosamente. Viu que seus
dedinhos envolveram a moldura com leveza, e seus olhos tentavam analisar a
informação que a foto lhe passava. Viu que ele apertou o olhar, provavelmente
por que estava sem óculos e não via com clareza. Seu rosto confuso, dado por um
quarto de minuto, lentamente foi dando a expressão de incredulidade, como se
seu cérebro precisasse de um tempo para entender o que estava acontecendo.
— Mamãe... esse é o Luke... — disse
ele, muito devagar, sem retirar os olhos do porta-retratos. Estava surpreso
demais para parar de olhar, sua mamãe ali, só que mais nova, sorrindo. Luke
estava lá também, abraçando-a. Eles estavam em um lugar bem bonito, de um jeito
que ele nunca tinha visto antes, nem lá em Londres e nem aqui nos Estados
Unidos. Além disso, eles estavam felizes, como namorados. — O Luke é meu pai?
Os olhos esperançosos e surpresos de
Henry pararam nela, esperando uma resposta. Sophie, controlando-se pra não
chorar novamente, assentiu com a cabeça.
— Sim — disse ela em seguida. — Ele é.
Henry voltou os olhos para a foto e
abriu a boca, pasmo. Caramba! Luke e sua mamãe foram namorados! Luke era seu
pai! Ele tinha um pai, e seu pai era
Luke! Era isso que ela disse, não? Que Luke era seu pai?
— Sério?! — perguntou ele, extasiado
demais. Ainda não acreditava.
Sophie deu um meio sorriso, secando
suas lágrimas pela milésima vez.
— Sim, sério — disse ela, vendo que
Henry estava com o sorriso mais feliz que Sophie já tinha visto nele. O menino
não acreditava que finalmente ganhara um pai, e esse pai era o seu melhor
amigo. — Me... desculpe por não ter contado antes, ok?
Henry riu, extasiado.
— This
is awesome! — exclamou ele, quase sem acreditar. Luke era seu pai! Henry não conseguia pensar com clareza. Apenas
pensava o quão incrível aquilo era.
De todas as pessoas no mundo, a que Henry mais queria como pai era Luke, e
agora... ele era mesmo seu pai! De
uns tempos para cá, ele sempre quisera um pai, mas achava que não tinha pai
nenhum, mesmo que sua mãe houvesse dito-lhe que eles eram namorados e se
separaram depois de um tempo. Mas agora eles estavam juntos de novo! E Luke era
seu pai de verdade! Como todos os garotos, Henry também tinha um pai, e esse pai
era o pai mais legal de todos! Isso era... incrível!
Foi por isso que o único ímpeto do
garoto foi descer da cama, da maneira mais desajeitada possível, com um sorriso
impagável no rosto. Sophie tapou parte do rosto com as mãos quando viu o menino
começar a gritar o nome de Luke e abrir a porta de uma vez. Saiu porta afora e
viu Henry correr, gritando, até a sala de estar onde Luke conversava com Julia.
O rapaz sorriu, vendo Henry se aproximar, e colocou-o em seu colo.
Henry estava ofegante e animado.
Sentado sobre as pernas de Luke, ele olhou no fundo dos olhos do rapaz,
respirando freneticamente.
— Luke! — gritou ele novamente,
soltando uma risada animada. — Você é meu pai! — mais uma vez Henry gritou,
encarando Luke como se esperasse uma confirmação dele próprio. Seu peito ainda
inflava pela pequena corrida, e ele ainda segurava o porta-retratos entre seus
dedinhos.
Luke riu.
— Sou! — gritou ele no mesmo tom de
Henry, fazendo o menino rir também e pular em cima dele, abraçando-o, feliz. Pego
de surpresa, Luke apertou-o contra si, sentindo seu coração se inundar de todo
sentimento existente. Mas dentre eles, o maior e mais persistente, era a paz. A
paz que sentia por segurar seu filho nos
braços. A paz que sentia por ver que Henry era mesmo seu filho, e Luke era
mesmo pai dele, e que eles tinham a relação mais bonita que existia. A paz por
saber que Luke agora tinha mais responsabilidade. Por perceber que sua vida, de
repente, ficara muito mais feliz e
valia muito mais a pena. A paz por saber que amava seu filho, mesmo que só o
conhecesse há um mês, e só soubesse de seu parentesco há poucas horas. Não
conseguia distinguir a satisfação, mas era a melhor coisa pela qual um homem
pode passar. Luke sabia disso.
— Eu não acredito que você é meu pai! —
disse Henry, sem soltá-lo, completamente eufórico. — Isso é incrível! Você é
meu pai!
— Sou — Luke também riu, mexendo no
cabelo do menino. — E também nem posso acreditar que você é meu filho. Quer
dizer, como o menino mais forte do mundo iria ser meu filho?
Henry achou graça.
— Você é o cara mais forte do mundo
também, aí eu me tornei o menino mais forte do mundo! — disse ele,
solucionando, fazendo com que Luke risse outra vez e apertasse mais o menino
contra ele. Com certeza, ele nunca estivera tão feliz como estava naquele
momento. Nunca se sentira tão completo. Tão em paz. Mesmo depois de todas as
revelações e acontecimentos, ali estava ele, brincando e fazendo piadas com
Henry, seu filhinho. — Isso é tão legal...
Henry apoiara a bochecha no ombro de
Luke, e ele fez encarou as costas do filho, cobertas pelo pijama. Fechou os
olhos momentaneamente, sentindo o cheiro de xampu do cabelo dele, ignorando os
latidos de Cowboy que começara a morder seu tênis. Sorriu em seguida, segurando
os ombros de Henry e o afastando dele de uma vez, fazendo com que o rosto do
menino se divertisse.
— E sabe o que é o mais legal? —
perguntou Luke, os olhos azuis brilhando, a felicidade irradiando de seu
coração. Henry fez que não com a cabeça. — De agora em diante, eu vou mesmo ser
o seu pai. Prometo que vou sempre te ajudar quando você precisar. Vou sempre
aparecer no dia da profissão no seu colégio. E... vou até jogar beisebol e
futebol no parque com você.
— Sério?! — Henry gritou, com um sorriso
enorme no rosto. — E eu vou ter uma luva?!
Luke gargalhou, sem se conter, e
bagunçou o cabelo do filho.
— Com certeza! E um bastão — disse ele,
piscando, fazendo com que Henry gritasse em pura euforia novamente e voltasse a
abraçá-lo.
Enquanto isso, Sophie assistia à cena
com lágrimas que escorriam livremente pelo rosto. Sentia-se péssima por ter
escondido aquela relação tão linda durante tanto tempo. Via que Henry nunca
estivera tão feliz como estava agora, e não podia deixar de sentir-se culpada
por ele não ter sido feliz assim todos os anos de sua vida. Mas apesar disso,
dentro dela, crescia uma sensação de alívio. Como se ela houvesse tirado um
piano de suas costas. Como se agora, tudo estivesse caminhando em direção à
normalidade e, consequentemente, a felicidade. Vendo o relacionamento lindo de
Luke e Henry, ela percebia que tudo acontecera do jeito certo com eles.
Eles se amavam. Mereciam ser, de fato,
pai e filho que eram. Sophie sabia que esse momento chegaria, e sabia também
que mesmo após tanta reviravolta, tudo estava decorrendo como tinha de ser.
Julia aproximou-se dela lentamente e
Sophie abraçou a melhor amiga com toda a força que tinha, segurando-se para não
chorar mais uma vez. Deixou, ainda, que algumas lágrimas saíssem pelos seus
olhos cansados, mas Julia afastou-se e limpou o rosto da amiga. Estava
preocupada.
— O que aconteceu? — sussurrou ela para
Sophie, torcendo os próprios lábios.
Sophie fungou, passando ela própria os
punhos pelo rosto.
— Ele descobriu... trancou a minha sala
de aula e perguntou se Henry era seu filho... eu disse que sim, nós discutimos,
eu expliquei para ele por que fui para Londres. Expliquei por que não o
entreguei para a adoção... e então... ele me beijou, e...
— Meu Deus! — exclamou Julia, com os
olhos arregalados. Levou as duas mãos à boca, pasma, já entendendo todo o rumo
do assunto. — Na sala de aula?
Sophie coçou os olhos, exausta, e fez
que sim com a cabeça.
— Eu disse tudo — disse ela,
controlando-se para não chorar novamente. Sua voz estava embargada.
— Tudo...? Tipo, o quê?
— Disse que ele foi meu único. Disse
que ainda o amava — Sophie respirou fundo, enquanto Julia levantava uma
sobrancelha. — Ele disse que me ainda me amava também.
Julia abraçou Sophie de novo, notando
que a amiga precisava de um ombro para chorar, mas ela carregava um sorriso nos
lábios. Caramba, isso era maravilhoso! Finalmente
esses dois deixaram de ser cabeças duras e assumiram a verdade um para o outro!
Oh, Nate precisava saber disso.
— Estou orgulhosa de você — sussurrou
ela, afagando o cabelo da amiga. Era verdade. — Você sabia que a verdade um dia
voltaria, e... é melhor que seja dessa maneira. Quanto ao Luke, deixe de ser
boba, Sophie, e agarre-o novamente. Vocês são feitos um para o outro e você
sabe.
Sophie, porém, deixou-se fungar mais
uma vez.
— Não tem como, Juzy — sussurrou ela
entre seu choro. — Nós... e se não der certo? Não quero mais... não quero mais
sofrer... E isso traria um abalo muito grande para o Henry... você lembra de
como o Joe ficou quando meus pais se separaram naquela época? Meu Deus, eu não
aguentaria ver aquilo acontecendo de novo com meu filho... não conseguiria...
não dá, Julia, eu não... não dá...
Julia suspirou e apertou o abraço em
Sophie. Se bem a conhecia, seria impossível conversar com ela agora. Tinha
tomado uma decisão, e muito dificilmente voltaria atrás — poucas eram as
exceções de quando ela o fizera. O melhor era deixar a poeira abaixar e
conversar com Sophie sensatamente, procurar acender o lado corajoso e forte de
seu cérebro.
Ou então ela se deixaria controlar pelo
medo para sempre.
— Escuta — Julia separou-se de novo
para olhar nos olhos castanhos da amiga —, você é uma mulher forte, eu já te
disse isso um milhão de vezes. Você tem capacidade de pensar por cima desses
medos bobos. Você pode. Sabe que pode
— sussurrou ela, séria, fazendo com que Sophie suspirasse. — Eu prometi que
iria para a casa do Nate assim que você chegasse, e vocês três têm muito o que conversar. Então estou indo. Me ligue amanhã
assim que acordar, certo? — ela perguntou e Sophie secou um dos olhos,
assentindo com a cabeça. Julia suspirou. — Ótimo. Tenha força. Eu te amo. — Ela
terminou e abraçou a amiga outra vez, antes de sair dali e pegar uma bolsa que
já estava arrumada em cima do sofá. Deu um beijo em Henry, que conversava
animadamente com Luke, e saiu porta afora.
Tomando coragem e escutando os gritos
de Luke para que Cowboy parasse de morder seu tênis, Sophie seguiu até o ponto
máximo da sala, onde ele e Henry riam e brincavam.
— Mamãe! — Henry exclamou assim que a
viu. Bateu na almofada ao lado de Luke para que ela se sentasse, com um sorriso
enorme no rosto. — Agora eu tenho uma mamãe e um papai também. Isso é tão maneiro.
Maneiro. Essa era uma palavra nova no vocabulário de Henry, Sophie refletiu
com um sorriso no rosto. Luke também sorria, subitamente sem saber como se
comportar agora que ela sentara-se ao seu lado. Sophie percebera que o
porta-retratos estava em suas mãos.
— Eu lembro disso — Luke sussurrou,
notando que a atenção dela se virara para a foto. — Pipoca e sorvete de
pistache. Agora tudo está explicado.
— Eu gostaria de sorvete agora — disse
Henry, interrompendo, fazendo com que Sophie desse uma risada meio desajeitada.
— Aqui faz tanto calor! Lá em Londres eu tinha que vestir dois casacos para ir pra
escolinha.
— É, mas já está na hora de criança
dormir — Sophie lembrou, apontando para o relógio de parede, mesmo que Henry
não soubesse ver as horas. Infelizmente, essa era a frase que o menino mais
odiava, e toda a sua felicidade foi por água abaixo nesse exato momento.
— Mas mamãe! — reclamou ele. — Não
posso conversar um pouco mais com o meu pai?
Luke sorriu, dando-se conta de que era
a primeira vez que Henry referia-se a ele diretamente como pai. Em uma reclamação, para convencer sua mãe a
dormir mais tarde. Isso era apenas tão... incrível.
— Por que você não vai dormir cedo, e
amanhã eu te levo para tomar sorvete e você conversa comigo o tempo que quiser?
— perguntou ele, fazendo a proposta. Sophie sorriu e fez que não com a cabeça.
Luke não sabia que negociar com uma criança nunca era a melhor saída, certo?
Se bem que, às vezes, era a única
maneira de fazer Henry seguir as regras.
Ainda assim, o menino pareceu
hesitante. Como se tivesse alguma saída.
— Tudo bem — disse ele, assentindo com
a cabeça. — Posso chamar a Anna também? — perguntou ele, o brilho voltando aos
olhos que anteriormente estavam chateados.
Luke gargalhou.
— Claro que pode — disse ele. Henry
também sorriu, finalmente satisfeito, e Sophie levantou-se para pegá-lo no colo
e voltar ao mesmo ritual de colocá-lo para dormir. Mas dessa vez, Luke também
se levantou, e olhou para ela como se dissesse que queria ajudar de alguma
maneira.
— Vamos lá — Sophie disse, segurando o
filho pelas axilas e colocando-o no colo, enquanto ele falava mais um milhão de
coisas sobre como o dia seguinte seria maneiro. Sophie queria saber onde ele
aprendera a nova gíria, mas achava tão bonitinho quando ele pronunciava que
preferiu não perguntar.
Levou-o ao banheiro, tendo certeza de
que Julia não escovara os dentes dele. Agora a simples tarefa exigia um cuidado
especial por causa de seu queixo. Luke, só para atrapalhar, fez o menino rir
umas duas vezes enquanto Sophie fazia espuma dentro da boca dele. Quando Henry
bochechou a água, o espelho do banheiro estava cheio de pasta dental, mas isso
fez com que ele desse uma crise gostosa de risadas.
Sophie entregou o menino para o colo de
Luke em seguida e disse para ele levá-lo para o quarto enquanto ela limpava a
bagunça que ele fizera. Jogou um pouco de água no espelho e lavou a pia da
melhor maneira que pôde. Secou as mãos, mecanicamente, para seguir para o
quarto do filho logo em seguida. Quando chegou lá, viu que Luke já o colocara
na cama, e agora estendia um cobertor por cima dele. Sophie recostou seu corpo
na porta, vendo Luke estender o cobertor no ar e deixá-lo cair. Quando
encostava no corpo do pequeno, Luke tornava a levantar o cobertor, e isso causava
uma crise riso aguda em Henry, que já mantinha as mãos na barriga de tanto rir.
A cena fez Sophie querer sorrir e chorar ao mesmo tempo.
Finalmente Luke estendeu a coberta
sobre o filho, mas isso tomou todo o seu corpo. Afastou a parte que tapava seu
rosto e viu Henry, rindo sem parar, novamente. Só quando ele gritou “mamãe”,
Luke percebeu que Sophie assistia à cena.
Ela adentrou o quarto de vez e
sentou-se na cama do filho, dando-lhe um último abraço, desejando-o boa noite e
falando para ele dormir com Papai do Céu e com os anjinhos da guarda, como
fazia toda noite. Ele sorriu, disse “você também, mamãe”, como sempre fazia,
mas dessa vez levantou os olhos para Luke, que os encarava com as mãos nos
bolsos e um sorriso encantador nos lábios.
— Mãe... — começou Henry, com a mesma
tonalidade que usava para pedir qualquer coisa — agora que eu tenho um pai,
vocês dois vão ficar juntos? Meu pai vai vir morar com a gente?
Pega de surpresa, Sophie não conseguiu
ensaiar um sorriso. Olhou para Luke, meio desesperada, e viu que ele estava tão
pasmo quanto ela com aquela pergunta. Recuperando-se, Sophie suspirou, vendo o
rosto de Luke que subitamente ficara mais triste.
— Não, amor — disse ela, bem devagar,
cortando seu próprio coração. — Mas... nós somos grandes amigos, ok? Você pode
ver seu pai a hora que quiser. Ele vai sempre vir aqui pra te ensinar a tocar,
e você também vai poder visitá-lo.
Henry não pareceu exatamente
satisfeito, mas torceu os lábios e assentiu com a cabeça.
— Tudo bem, mamãe — disse ele,
inocentemente, lindamente, para Sophie. Ela beijou-o no rosto outra vez antes
de se levantar e ver Luke sentar-se onde ela estava anteriormente.
— Boa noite, Henry — disse ele, com um
sorriso no rosto, mexendo no cabelo do menino. — Quanto ao que a sua mãe disse,
é verdade, ok? Você pode contar comigo a hora que quiser. É só me ligar que eu
venho, certo?
Henry assentiu com a cabeça de novo e
se levantou para abraçar o pescoço de Luke, sentidamente.
— Boa noite, papai — disse ele, bem
baixinho.
Luke sentiu seu coração se inundar e
controlou-se para não deixar as lágrimas saírem.
— Boa noite, filho.
Depois disso, Sophie e Luke apagaram as
luzes — com a única exceção do abajur fluorescente — e fecharam a porta do
quarto do filho, deixando-o quieto em sua cama. Sophie sabia, felizmente, que
Henry sempre fora muito bom para dormir, desde muito cedo. Mesmo que houvesse
dado muito trabalho em muitas madrugadas quando pequeno, agora ele dormia com a
maior facilidade do mundo.
Uma vez no corredor, Sophie suspirou e
procurou dar um meio sorriso.
— Quer ver uma coisa? — disse ela,
encontrando o rosto surpreso de Luke. Sem saber como lidar, ele sorriu.
— Claro — disse, tranquilamente.
Sophie fez menção de que ele deveria
segui-la, e assim Luke fez. Seguiu-a até outro quarto, não muito longe do
quarto de Henry, que ficava de frente para a sala de estar, na realidade. Notou
logo de uma vez que era o quarto de Sophie. Podia ver uma mesa de estudos
amontoada de papéis, e dois livros estavam amontoados no criado-mudo. Sua cama
estava levemente bagunçada, por que talvez ela tivesse acordado cansada demais
para arrumá-la, e depois não teve tempo para fazê-lo. Luke podia quase ver a
cena.
Por cima de sua cama, havia uma caixa
azul, e foi para ela que a atenção de Luke foi voltada. Sophie sentou-se na
cama e Luke acompanhou-a, enquanto ela abria a caixa azul e, suspirando,
retirou de dentro dela um pedaço de papel amarelado por causa do tempo. Era
apenas um recorte pequeno, amassado, que há muito tempo atrás fora um pequeno
círculo, grudado com cola de papel.
— Lembra disso? — perguntou ela,
entregando para Luke, que segurou o pedacinho de papel com muita delicadeza.
— Sua aliança de casamento — disse ele,
um sorriso enorme pairando no rosto, sem acreditar no que estava vendo. Não
acreditava que Sophie guardara aquilo, não perdera, não fizera nada com ela. —
Como... Você nunca me disse que ainda tinha! Nem quando namoramos...
— Eu queria... fazer uma surpresa —
disse ela, dando ombros. — Não deu certo, de qualquer forma, mas gosto de...
tê-la. É como se ela me transportasse para um época da minha vida em que eu era
inteiramente feliz — os olhos dela brilhavam levemente, e Luke não conseguia
esconder a fascinação e a ansiedade para ver tudo o que havia naquela caixa. —
Dentro daqui... eu posso dizer que está toda a minha vida. Mas como cada fato
importante da minha vida tem um pouco de você, isso acabou sendo tudo o que nós
passamos e tivemos.
Sophie virou a caixa para Luke. Ela
estava abarrotada de cartas, papéis, partituras, cartões, embalagens, fotos...
tanta coisa. Luke podia ver também o Woodstock de pelúcia que dera para Sophie
pouco antes de ela embarcar. Isso lembrou-lhe uma coisa, e ele não precisou
procurar muito para achar o pen drive. Não notou quando prendeu a respiração.
— Você não sabe o quanto eu chorei
vendo isso — disse ela, comentando. — Estava no avião, e um garotinho perguntou
se eu estava bem. Fiquei encantada com ele, ainda mais por que... ele parecia
muito com você, fisicamente. O nome dele era Henry, e por isso... decidi que
esse seria o nome do meu filho. Acompanhado do Lucas, que era o nome que nós...
decidimos juntos, mais ou menos — Sophie terminou, torcendo os lábios, com a
voz quase calma. Luke ainda encarava o pen drive, tentando imaginar a cena de
Sophie em uma poltrona de avião, soluçando enquanto assistia ao vídeo, e um
garotinho vir perguntar como ela estava. De alguma maneira, tudo parecia
nítido. Inclusive a dor que ela deveria estar sentindo.
— Eu falei para você assistir só quando
a saudade ficasse insuportável — disse Luke, girando o pen drive nos dedos.
Levantou o olhar e encontrou uma Sophie quase sorrindo, tranquilamente.
— Mas ela estava — disse ela,
encarando-o. — Sobretudo quando eu sabia que nunca teria você de novo.
Luke suspirou, voltando a atenção para
a caixa. Lembrou-se de quando leu a carta de Sophie e do quão perdido ficou.
Lembrou-se de ter queimado tudo o que a lembrava numa lixeira, enquanto ela
havia guardado cada coisinha. Sentiu seu coração se comprimir lentamente, a dor
e a nostalgia apoderando-se dele a cada item que ele reconhecia. Fotos que eles
tiraram, músicas, bilhetinhos de aula. Luke viu o primeiro escrito de Oh Star e
lembrou-se do dia em que a compôs com Sophie, sem nem ter a mínima ideia de
que, sete anos depois, ali estaria ele. Com ela, amando-a sem poder, após
colocar o filho de ambos para dormir.
Como sua vida mudara dessa maneira?
— Uma das coisas que mais me fizeram
chorar nesse dia foi... o seu último vídeo, sabe? — Sophie chamou sua atenção
novamente. Luke olhou para ela. — Você disse que estava com medo de que, se eu
fosse embora, você me perderia. Provavelmente, se eu tivesse visto isso três
dias antes, acharia uma idiotice... mas naquela hora eu apenas detestei o seu
instinto.
Luke se lembrava. Se lembrava
claramente da dor que sentira e da angústia por deixá-la partir naquele avião.
Por algum motivo, ele sabia que Sophie não iria voltar para Nova Iorque.
Repetiu o mesmo mantra para si mesmo, de que era bobagem dele, umas mil vezes.
Mas... Luke sabia. Sempre soube.
Sempre soube que a perdera a partir do
momento que ela entrara no avião.
Porém, agora, tudo fazia sentido. Luke
não a perdera da maneira que pensou — não, Sophie foi embora por que precisava
se afastar de verdade, e não por que não o amava. Sozinha, ela havia enfrentado
toda uma gravidez e havia dado à luz o filho que não era só dela, mas assumindo
unicamente a responsabilidade.
— Como... foi? — Luke pegou-se
perguntando antes que pudesse pensar melhor sobre o assunto, e Sophie o encarou
com um semblante confuso. Ergueu uma sobrancelha.
— Como foi o quê? — perguntou ela.
— A gravidez — esclareceu Luke, pegando
Sophie de surpresa, aparentemente. Ele tentou sorrir. — Como foi a gravidez? Lá
em Londres, como foi?
Sophie respirou fundo, pensando que
ninguém jamais lhe perguntara isso. Não tinha bem uma resposta para aquela
pergunta. Nunca sequer pensara sobre ela.
— Bem... foi... uma experiência bem...
intensa — disse ela, escolhendo as palavras com cuidado, sem saber bem o que
dizer. — Mas... eu passei a maior parte da gravidez estudando e tocando para
fugir dos problemas... cheguei a ficar sete horas seguidas na frente do piano,
então...
— Você enjoou muito? — perguntou Luke,
curioso. Sophie sorriu, sem entender por que ele subitamente quis saber sobre
tudo isso.
— Nos primeiros meses, sim, demais —
disse ela, sem retirar o sorriso do rosto. — Julia teve de trocar de perfume
seis vezes por que eu não os aguentava. Não podia ver alho... ou café. Ou
queijo. Até hoje não consigo mais chegar perto de pizzas.
Luke riu de um jeito sincero, achando
graça.
— Então lá se vão os meus planos de te
levar para uma pizzaria, né? — disse ele, obviamente brincando. Sophie deu uma
risada. — Como foi a primeira vez que ele mexeu?
Sophie cessou sua risada lentamente,
encarando Luke com os olhos provavelmente brilhando. Não entendia o porquê de
tanto interesse, mas... isso confortava-a. Deixava-a à vontade. Sophie pegou-se
gostando daquele interrogatório.
— Foi mágico — disse ela, com um
sorriso no rosto. — Quer dizer... eu sabia que estava grávida, obviamente.
Mas... acho que a ficha só cai de verdade quando o bebê mexe. Eu senti os
chutezinhos, e pensei... “caramba, tem um bebê dentro de mim”. Fiquei bem
emocionada, e a Julia tava na minha frente e correu pra colocar a mão e
sentir... o Tarris apareceu bem nessa hora também, e tropeçou em tudo, pulou
sofá, caiu no chão umas duas vezes até empurrar a Julia e sentir o Henry
mexendo. Foi engraçado, e... inesquecível. Mágico. De verdade.
— Quem é Tarris? — Luke perguntou,
encantado com as confissões de Sophie. Seu rosto parecia iluminado.
— O melhor amigo colorido da Julia, na
época — disse Sophie, arrancando uma risada de Luke. — Ele era filho do meu
médico e o suposto casal que adotaria Henry. Raphael e Camie. Uns amores, todos
eles, mas Tarris em especial foi... um anjo. Ninguém nos ajudou tanto quanto
ele, até poucos meses atrás, sabe? Ele foi realmente um anjo na minha vida, na
do Henry... e principalmente na da Julia — ela terminou, torcendo os lábios.
Luke assentiu lentamente.
— Nate sabe sobre ele?
— Sabe — Sophie sorriu. — Tarris se
casou, e ele e a esposa vão vir para o casamento da Julia e do Nate. Não creio
que Nate sinta ciúmes do Tarris, por que... bem, sem ele, talvez Julia tivesse
desistido. Foram muitos problemas, enfrentados todos ao mesmo tempo, e de
alguma maneira, Tarris fazia com que o amor dela por Nate se renovasse. Até
mesmo por que Tarris passou por uma situação parecida com a garota com quem ele
se casou.
Luke novamente fez que sim com a
cabeça, tentando imaginar como seria o tal Tarris. Se ele ajudara tanto Sophie
e Julia, não podia ser nada menos que um cara incrível. Pegou-se ansioso para
conhecê-lo.
— E como foi o parto? — ele fez outra
pergunta.
— Ah, meu Deus, não me lembre! — Sophie
disse, abandonando a expressão alegre e fazendo algo parecido como sofrimento.
Luke riu. — Dor, dor, dor!
— Nossa, doeu tanto assim?
— Pelo amor de Deus, Luke, você não
pode imaginar quanta dor eu senti! —
ela quase gritou, fazendo com que ele risse mais. — Sério, foi horrível! As
contrações pareciam que iam me matar, e... sangue. Muito sangue. A Julia
desmaiou! E eu queria a minha mãe, e... Caramba, me cortaram. E Henry não saía!
Deus, dor, muita dor... — disse ela, o olhar vago, lembrando-se da dor terrível que foi dar à luz. Fez que não
com a cabeça, ignorando as risadas de Luke, tentando afastar o pensamento da
cabeça.
— “Eu queria a minha mãe” — Luke refez
as palavras dela, deixando-se gargalhar em seguida. Sophie também riu, achando
graça, sobretudo quando era realmente verdade.
— Eu queria mesmo! — reforçou ela, as
risadas ainda ecoando. — Eu estava sozinha, Julia não estava mais comigo, e
estava doendo tanto. Era uma criança dando à luz outra criança. Se minha mãe
estivesse comigo, Deus, eu me sentiria muito
mais segura.
Luke cessou suas risadas muito
lentamente, ainda achando graça da situação. Com certeza, o momento do parto
não tivera nada de engraçado, mas a maneira como Sophie o colocava deixava a
situação cômica.
— E quando você decidiu não entregá-lo
para a adoção?
Sophie encarou Luke, encolhendo os
ombros, dando um meio sorriso.
— Quando ele me olhou, ué, eu já disse
— ela esclareceu, torcendo os lábios lentamente. Luke a encarou furtivamente,
como se pedisse para ela ser mais específica. Ele queria detalhes. — Bem... eu
não queria olhar para ele. Pensava que, se olhasse para ele... aconteceria tudo
o que aconteceu — Sophie deu uma meia risada. — Depois que ele nasceu, eu
estava me sentindo suja por ter de dá-lo. Todos me falavam o quanto ele era
bonitinho e encantava os enfermeiros, era o mais sorridente do berçário, e...
eu só escutava falar sobre ele. Então, o médico, Dr. Felton, disse que eu tinha
de amamentá-lo. Eu hesitei, mas... fui colocada na berlinda — ela olhou para baixo, lembrando-se claramente do dia,
da expressão de Raphael, do medo que sentiu quando a enfermeira apareceu
carregando Henry nos braços. — A enfermeira me ajudou a segurá-lo e fazer com
que ele se alimentasse sozinho. Então ele começou a sugar, tão inocentemente, e
a enfermeira me deixou sozinha com ele. Eu não consegui me segurar e olhei para
o seu rosto, e então... ele abriu aqueles olhos azuis e lindos, olhou para mim,
e sorriu — Sophie fechou os olhos por um momento, lembrando daquele rostinho
perfeito de Henry, encarando-a, sorrindo para ela, enquanto se alimentava. Céus. Tanta emoção. — Então eu...
comecei a chorar, e... pensei... “meu Deus, o que eu estou fazendo?”... Henry
era meu, e... eu... não podia entregá-lo. Era meu filho. Meu.
O rosto de Luke estava iluminado, sua
mente trabalhando na imagem de uma Sophie chorosa, segurando um bebê
recém-nascido nos braços, apaixonando-se por ele simplesmente por que ele
sorrira. Seu coração, ao saber de todas aquelas coisas, parecia inflar com uma
emoção sem distinção. Por algum motivo, Luke estava gostando muito de saber
daquilo tudo. De estar conversando abertamente com Sophie daquela maneira,
regada a risadas, como não fazia há muito tempo.
— E como foi, depois disso? A vida de
vocês? — Luke perguntou novamente, querendo saber como Henry crescera. Sophie o
olhou, o rosto sereno, os lábios levemente comprimidos.
— Foi difícil — disse ela, relaxando os
ombros.
— E depois?
— Piorou — ela sorriu. Passou uma das
mãos pela franja, encarando o rosto quase preocupado de Luke, com certeza
querendo saber de mais detalhes. — Lembra de como eu fiquei quando Henry rasgou
o queixo? — ele fez que sim com a cabeça. — Imagine, agora, como eu possa ter
ficado quando ele contraiu pneumonia aos três aninhos de idade — ela deixou a
frase no ar e fechou os olhos, detestando aquela época simplesmente por
existir. Não conseguia lembrar-se daquilo sem sentir a angustia tomar conta de todo
o seu coração. — Eu nunca me senti tão impotente na vida. Me afundei em tudo
quanto é dívida pra comprar os remédios dele... Julia estava sem emprego, ambas
estávamos estudando, e nós duas... ficamos exaustas com a situação. Ele tossia
muito, às vezes ficava sem ar, e dava crises de choro por que dizia que “seu
coração estava doendo”. Eu... meu Deus, foi a pior época de toda a minha vida —
Sophie suspirou e abaixou os olhos, fugindo do rosto penoso de Luke que ouvia
tudo com muita paciência.
— Mas ele melhorou? — perguntou ele,
preocupado.
— Sim, ele sarou, e pra dizer a
verdade, até hoje eu o faço comer uma certa quantidade de frutas e legumes para
prevenir que a doença volte — Sophie comprimiu os lábios de novo e levantou os
olhos, voltando a encará-lo. — E depois Julia começou a ganhar dinheiro com o
site. Então as coisas ficaram mais fáceis, apesar de não totalmente. Acredite,
eu não teria voltado para Nashville se tivesse outra escolha.
Luke assentiu, sem reação ao escutar
toda a história. Sophie passara por tantas dificuldades e aflições, e ele nem
se dera ao trabalho de procurar saber realmente o porquê de tudo isso. Estava
cego demais alimentando sua própria dor, trabalhando em seu próprio sucesso
para fugir da lembrança dela que o atormentava.
Estava tão errado. Detestava-se por
estar errado.
— Posso fazer uma pergunta, Luke? — a
voz dela voltou a ecoar, e Luke levantou os olhos para encará-la. Curvou os
lábios em um sorriso e disse que sim, claro. Sophie torceu seus lábios. — Por
que essas perguntas? Por que você quer saber de tudo isso?
Luke deu um sorriso. Para dizer a
verdade, nem ele sabia bem o porquê de estar perguntando tudo aquilo. Talvez
estivesse enlouquecendo de vez.
— Acho que... simplesmente quero saber
— respondeu ele, ainda sorrindo. — De alguma maneira, isso me torna mais
próximo de você e do Henry.
Sophie sorriu.
— Bem... o Henry puxou muito à você, em
muitas coisas — disse ela, fazendo os olhos de Luke brilharem. — Além da
aparência, ele é muito teimoso. Quando acha que está certo, não há quem o faça
mudar de ideia, e apesar de eu nunca bater nele... às vezes dá vontade — o
sorriso dela se ampliou e Luke riu também.
— Eu não sou teimoso.
— Claro que não é — ela ironizou,
fazendo-o rir. — Ele também é sensível e carinhoso. Encanta a todos que o
conhecem, por que na verdade ele sempre foi assim. Às vezes, quando ele diz que
me ama, eu me lembro claramente de você quando era mais novo. Suas vozes são
praticamente iguais — Sophie sorriu. Luke também sorria, encarando-a e
escutando tudo com muita paciência. Encantava-o saber mais do filho, sobre o
quanto ele parecia com Luke, sobre suas manias e maiores qualidades. — Tudo de
errado que eu fiz na vida se torna certo quando eu olho para ele. Quando ele me
abraça, ou beija meu rosto, ou acorda no meio da noite e vem dormir na minha
cama. Eu não posso dizer o quanto ele significa para mim, por que... ele é
tudo.
Luke sorriu, encarando o rosto
iluminado da mulher que ele amava. O que Sophie sentia pelo filho era muito
maior do que Luke jamais vira em qualquer situação, e ainda assim, conseguia
entendê-la perfeitamente. Mesmo que só conhecesse Henry há pouco tempo e só
soubesse de sua paternidade há algumas horas, sua vida subitamente tornara-se
mais importante, e cada pedacinho de seu mundo parecia valer a pena. Mesmo que
Luke já se sentisse como responsável pelo menino, ter certeza de que era o pai dele enchia-lhe de felicidade.
Era como se Luke, nesse tempo todo,
nunca fosse uma peça inteira. E agora que Henry entrara em sua vida, ele estava
completo. Como um
quebra-cabeça.
Time stands still. Beauty in all she is.
I will be brave, I will not let anything take away
what's standing in front of me…
Every breath.
Every hour has come to this.
One step closer…
(O tempo fica parado. Há beleza em tudo que ela é.
Eu serei corajoso. Eu não deixarei nada levar embora
o que está na minha frente...
Cada suspiro,
Cada momento trouxe a isso.
Um passo mais perto...)
— Bem, agora eu acho que é minha vez de
fazer as perguntas, certo? — disse Sophie de repente, atraindo a atenção dele e
sorrindo de uma maneira que aquecia Luke por dentro. Céus, ele a queria, a amava. Por que... não podia tê-la? — Já que
você sabe de toda a minha vida desde o momento que saí daqui, é mais do que
justo que eu saiba da sua também.
Ele sorriu, dando ombros.
— Bem... eu não engravidei, nem nada,
então minha vida não foi emocionante — disse ele, fazendo piada, e Sophie
gargalhou. Deu-lhe um tapa no ombro, murmurando um “idiota”, e Luke quis
beijá-la ali mesmo. Quanto tempo tinha que ela não lhe chamava de idiota?
Lembranças, flashes, tudo vindo à cabeça nesse momento. — Ok, ok. O que quer
saber?
Sophie torceu os lábios.
— Humm... algo que eu não tenha visto
na Wikipédia — disse ela, sorrindo. — Senhor Famoso.
Luke abriu a boca, fingindo-se de
surpreso.
— Você viu meu artigo na Wikipédia? Meu
Deus, eu não sabia que estava falando com uma stalker — disse ele, com um tom de voz ofendido. Sophie gargalhou.
— Sim, mas eu só o vi semana passada,
então não sou uma perseguidora ou algo do tipo — ela deu ombros. — Se bem que
há uns dois anos atrás, Julia achou seu perfil no Facebook e fez questão de me
mostrar. Mas eu saí e deixei que ela te perseguisse tranquilamente. Fiquei meio
abalada quando vi seu status de relacionamento.
Luke franziu o cenho, tentando se
lembrar de quando mudara seu status no Facebook. Já havia pelo menos uma semana
que ele não o atualizava, mas na época das turnês da Feeling Of Feeling, ele
estava sempre entrando.
— Mas eu não namorei ninguém — disse
ele, encolhendo os ombros.
— Não é o que a Wikipédia diz — Sophie
deu de ombros, fechando a cara como uma menina ciumenta. Isso fez Luke rir. —
Lá diz claramente que você teve um caso com a baixista ruiva e metida a
gostosa, não é? Megan Curtis.
Isso fez com que Luke gargalhasse, e
logo suas risadas foram acompanhadas pelas de Sophie também.
— Eu não tive um caso com ela! — Luke
protestou, fazendo com que Sophie o olhasse como se não acreditasse em uma só
palavra. — Tudo bem, eu tive. Mas nós não namoramos. Megan é uma pessoa incrível,
nós dois fundamos a FOF, e eu realmente gostava dela... Mas...
— Não a amava — Sophie terminou, com um
vestígio de sorriso no rosto. Algo parecido com triunfo.
Luke deu um sorriso, achando graça da
expressão dela.
— Não — concordou ele. — E ela sabia
disso. Por isso, quando a faculdade acabou, nós acabamos também. Ainda somos
bons amigos. Ela está noiva.
— Meus parabéns para ela — Sophie
mordeu um lábio inferior, encarando Luke com uma expressão quase sapeca. Ele
não soube como interpretar aquilo, uma vez que estava extasiado demais. — Ela
sabe sobre mim?
Luke sorriu.
— Sabe — disse ele. — Mesmo assim, eu
acho que vocês duas se dariam bem. São meio parecidas em muitos pontos.
Sophie riu do que Luke disse, como se
ele acabasse de contar uma piada.
— Eu duvido — disse ela, dando ombros.
— Não sou muito sociável em relação às suas ex-namoradas. Tome Stephy Stewart
como exemplo.
Luke gargalhou.
— Meu Deus, Stephy Stewart! Eu nem
sequer me lembrava dela! — exclamou ele. — Como será que ela está?
Sophie deu ombros.
— Não sei e não me importo — disse ela,
fazendo com que Luke risse. Não entendia como Sophie ainda conseguia alimentar
raiva depois de tanto tempo, mas no fundo acreditava que ela só estivesse
brincando. Suas suspeitas foram confirmadas quando Sophie começou a rir. —
Estou com fome.
Luke sorriu e deu uma olhada em seu
relógio de pulso. Já passavam das dez e meia da noite, e na realidade, ele
também estava faminto. Não comia nada há horas.
— Acho que podemos pedir uma... oh,
não, você não gosta — disse ele, descartando a ideia da pizza. Sophie riu,
percebendo o que ele queria dizer.
— Posso cozinhar alguma coisa rápida —
disse ela. — Você espera?
Mas ao invés de responder, Luke
encarou-a como se ela tivesse dito a maior asneira de todos os tempos.
— Você? Cozinhando? — ele franziu o
cenho. — Não sei se posso confiar nisso.
Sophie riu e lhe deu outro tapa,
revirando os olhos.
— Entenda que quando você tem um filho
e mora com uma amiga, ou aprende a cozinhar ou morre de fome — esclareceu ela,
ainda desprezando Luke com o olhar. Ele sorriu, encolhendo os ombros.
— Tudo bem, então — concordou ele. —
Confio em você. Eu acho.
Luke levantou-se da cama de Sophie num
pulo, fazendo-a rir. Ele estendeu sua mão para ajudá-la a levantar-se também,
curvando levemente o corpo, numa brincadeira boba. As risadas escapavam de sua
garganta quando ela segurou a mão firme dele, pronta para ser erguida e
levantar-se. Mas assim que os dedos de Luke fecharam em volta da sua mão, ele a
puxou com uma força exagerada, e em milésimos de segundos o seu corpo estava
colado ao dele. Sophie riu gostosamente, pensando no quanto aquilo era
infantil, e viu os olhos de Luke penetrarem sua alma em seguida. Não retirou o
sorriso do rosto quando sentiu o braço dele envolvendo sua cintura lentamente,
apertando seu corpo contra o dele e fazendo com que uma corrente elétrica
deliciosa percorresse sua espinha. Com as duas mãos, ela acariciou o rosto
dele, sentindo os pelos de sua barba malfeita pinicar contra a pele de seus
dedos. Ainda sorria quando ele colocou uma mecha de cabelo dela por trás de sua
orelha e juntou suas testas, sentindo suas respirações se misturarem e o cheiro
dela inundá-lo completamente.
— Eu te amo — ele sussurrou, bem
lentamente. Roubou um selinho dela, apertando sua cintura com mais força,
sentindo os dedos macios de suas mãos tocarem seu rosto com muita delicadeza.
— Eu já te expliquei o porquê, Luke —
disse ela, abandonando seu sorriso, sentindo-o tão perto dela, mas sem
conseguir se afastar. — Não... podemos.
Dessa vez, Luke sorriu. Roubou outro
selinho da boca dela, beijou seu queixo, e deixou um beijo em sua mandíbula
também. Voltou a colar suas testas e abriu os olhos, encontrando os dela,
queimando.
— Eu entendo — disse ele. — Só não
aceito.
One step closer… One step closer…
(Um passo mais perto... Um passo mais perto...)
I have died every day waiting for you. Darling, don't
be afraid, I have loved you for a thousand years.
I'll love you for a thousand more.
And all along I believed I would find you. Time has
brought your heart to me. I have loved you for a thousand years.
I'll love you for a thousand more…
(Eu morri todos os dias esperando por você. Amor,
não tenha medo, eu te amei por mil anos.
Eu te amarei por mais mil.
O tempo todo eu acreditei que te encontraria. O
tempo trouxe o seu coração ao meu, eu te amei por mil anos.
Eu te amarei por mais mil...)
[...]
Por que Tereza aceitara acompanhar seu
chefe bobo e seu irmão mais bobo ainda até aquele lugar? Por que não ficara no
colégio, aproveitando o wi-fi grátis, ou fazendo qualquer outra coisa mais
interessante do que assistir a um ensaio de casamento sem a mínima graça?
Bem, ao menos já havia acabado. Não que
ela tivesse prestado atenção em muita coisa, é claro. Luke e Dan ficaram
parados em um certo canto, como padrinhos dos dois casais que estavam se
casando, e o resto do ensaio simplesmente ocorreu. Uma menina de cabelos
louros, de uns nove anos, fingiu estar jogando flores pelo caminho, e outra bem
menor — filha de um casal que estava se casando — andou bem devagar com uma
almofadinha, onde supostamente deveriam estar as alianças. Um padre de pele
quase transparente mantinha um sorriso no rosto o tempo todo. E um moleque com
cara de bandido não parava de secá-la.
Chatice sem fim. No
meio da cerimônia chata, Tereza decidiu procurar algum wi-fi para roubar e
felizmente achou — o idiota do dono da internet colocou seu próprio nome como
senha. Sentindo-se um pouco mais feliz, com a internet extremamente lenta, ela
checou seus perfis nas redes sociais e ainda deu uma olhada em um site de
notícias, para saber se alguma banda que prestasse faria show em Nashville. Não
ligava se alguém a estava vendo, mas sabia que dificilmente isso aconteceria.
Agora que o ensaio acabara, os padrinhos, parentes e noivos conversavam
animadamente, e além do mais, a igreja era enorme e Tereza estava sentada na
última fileira. Ninguém ligaria para ela ali. Ótimo.
— Oi — ela levantou os olhos de deu
celular, vendo que o garoto de olhos azuis, sorriso maroto e jaqueta de couro sentara-se
à sua frente. Bandidinho. — Tudo bem?
— Oi — ela limitou-se a dizer, ignorando-o
e voltando a checar seu Twitter. Sabia que quando fazia sua cara de poucos
amigos, os moleques geralmente saíam do seu pé. Exceto quando eles eram
grudentos. Aí ela tinha que ser um pouco mais radical.
— Sou Leon Bynum. Eu vi que você passou
o ensaio todo aqui sozinha — comentou ele, sem parar de encará-la. Tereza
conseguia sentir o peso do seu olhar. — E não entendo. Por que uma menina linda
como você ficaria sozinha?
Ok, ok. Tenha calma. Respire fundo. Conte até dez. Tereza retirou os olhos de seu celular, muito lentamente, só
para fulminar o moleque metido a bandido com os olhos.
— Com licença — disse ela, indignada —,
você está tentando me cantar?
Leon franziu o cenho e comprimiu os
lábios, despreocupadamente. Deu de ombros.
— Estou — disse ele, com a voz mais
tranquila que Tereza já havia escutado.
Ela arregalou os olhos, vendo o sorriso
sapeca do garoto permanecer intacto. Bufou e decidiu não responder, voltando à
atenção ao seu celular.
— Sabe — Leon puxou conversa de novo,
fazendo Tereza bufar como se o mandasse sair dali naquele exato momento —,
agora que o ensaio acabou, eu estava pensando em dar uma volta de moto. Quer ir
comigo?
Tereza retirou os olhos do telefone
outra vez e voltou a encarar o garoto, sem acreditar que ele ainda estava ali.
Sinceramente, por que ele não ia embora azarar outra garota qualquer?
— Você ainda está tentando me cantar? — perguntou ela, indignada.
Leon, novamente, deu ombros.
— Sim, estou — disse ele,
despreocupado.
Tereza bufou, com raiva, e contou de um
até três para não enfiar sua mão na cara do bandidinho. Olhou para fora, vendo
uma moto bem legal, imaginando que
ela seria dele.
Hum. Tudo bem, uma volta. Uma volta de
moto. Parecia bom.
— Tem carteira? — ela perguntou,
desligando o celular e encarando o garoto sem se dar ao trabalho de ser
simpática.
— Não — disse ele, sem ligar.
— Sabe empinar? — Tereza tornou a
perguntar. Leon assentiu com a cabeça, como se para ele isso não fosse o menor
problema.
— Sei — ele confirmou. Tereza olhou
para um lado, para outro, e guardou o celular no bolso. Levantou-se, fazendo
com que Leon Bynum desse um sorriso triunfante.
— Luke! Dan! — ela gritou-os. Sua voz
fez um eco. — Seu bobões, eu estou indo dar uma volta de moto com o irmão da
Julia! — disse ela, e viu que Luke olhou-a como se ela não devesse fazer isso,
mas Dan fez um joinha com a mão. Tereza deu de ombros, saindo em direção à
porta da igreja católica.
— Você chama seu chefe de bobo assim? — perguntou Leon, uma vez que eles já estavam
fora da igreja, e entregou-lhe um capacete.
— Eu faço o que eu quero — disse ela,
sem se importar, encaixando o capacete no rosto.
Leon sorriu sedutoramente.
— Gosto de pessoas sinceras.
Sem que ele visse, Tereza deixou-se
rir.
— Eu também.
Luke fez que não com a cabeça.
— Você não deveria deixar sua irmã sair
na garupa de uma moto sem a sua supervisão — disse ele, bronqueando Dan, que
simplesmente deu de ombros, despreocupado.
— Ela já é bem grandinha e sabe o que
quer da vida — disse Dan.
— Não se preocupa, Luke — ele ouviu a
voz de Julia, sorrindo. — Leonard pilota aquela moto tão bem quanto qualquer
Bynum.
Luke suspirou, passando as mãos pelos
olhos. Já perdera quase toda a tarde nesse ensaio, e precisava voltar para a
escola antes que ela fechasse. Não ficaria esperando Tereza voltar de sua
aventura.
— Ok, mande uma mensagem de texto para
ela pedindo para que Leonard a leve para a escola. Nós temos que ir — disse
ele, olhando para Dan, e fazendo com que o amigo assentisse tranquilamente.
Depois disso, ambos se despediram de
todos ali, dentre padrinhos, noivos, parentes e amigos, e saíram em direção ao Audi
A4 de Luke. Após fechar o teto do carro, ambos estavam na estrada, direcionados
à escola de música em que eles trabalhavam. Luke esperava que nada de ruim
houvesse acontecido enquanto nenhum dos diretores estava presente.
— Por que Red Soph não veio? Ela não é madrinha da Danna? — perguntou Dan,
como se o pensamento houvesse acabado de passar pela sua cabeça.
— É da Julia também — disse ele,
virando o volante, calmamente. — Mas ela tem que aplicar uma atividade
avaliativa para a turma hoje, e é apenas o primeiro ensaio. Soph só precisa
ficar parada num canto.
Dan deu uma risada tranquila.
— E o pequeno Davis? — perguntou ele,
sem parar de sorrir. Mas isso fez com que Luke risse também.
Só fazia uma semana desde que ele
soubera que era pai de Henry, mas obviamente, agora Deus e o mundo já sabiam
disso. Claro que a família de Sophie e sua própria família tiveram prioridade,
por isso eles reuniram todo mundo na casa de Josh logo no dia seguinte da
descoberta de Luke, e abriram o jogo com todo mundo. Obviamente, Nate, Joe e
Danna já sabiam, mas Hayley quase desmaiou e passou quase uma hora discutindo
com Sophie. Luke teve de se meter em seguida, depois de terminar de discutir
com sua própria mãe.
Ah, Kathryn havia ficado uma fera. Ela
já não era muito simpática à Sophie desde que ela fora embora — na realidade,
sua mãe a odiava —, e saber que a menina havia escondido um neto dela foi quase
como se houvessem lhe quebrado as costelas. Para dizer a verdade, Kathryn fora
tão dramática quanto possível, mas agora já estava cheia de mimos com Henry.
Jeremy ficou tão calmo sobre a situação que Luke até estranhou, mas sabia que
seu pai era muito esperto e talvez já suspeitasse. Josh também assumira a mesma
posição de Jeremy, e chegou a parabenizar Luke por sua paternidade.
Mas para o alívio de Luke e Sophie, os
ânimos haviam se acalmado mais rápido do que eles poderiam imaginar, e agora,
uma semana depois, Dan estava fazendo piada com a situação.
— Está na casa da minha mãe — respondeu
Luke à sua pergunta. — Ela está toda babona com o menino, você precisa ver. Acho
que consegui convencê-la a deixar de odiar a Sophie usando o argumento de que
ela tinha de ser uma boa pessoa para educá-lo bem e sozinha.
Dan gargalhou.
— Tia Katt é muito legal, e ela já
adorava a Red Soph — disse ele, dando
ombros. — Não dou dois meses para elas se tornarem melhores amigas de novo.
Luke deixou-se gargalhar com isso
também. Passar uns poucos minutos com Dan já fazia com que sua cota de risadas
por dia fosse alcançada.
— Deus te ouça — disse Luke, levantando
as mãos aos céus. Dan riu durante alguns segundos, relaxou seu corpo no banco
de couro do Audi de Luke, e depois deixou-se dar três tapinhas simpáticos nas
costas do amigo.
— Sabia que você está apaixonadinho
como um pinguim? — disse ele, dando dois tapas no rosto de Luke.
Isso fê-lo rir.
— Pinguins se apaixonam? — perguntou
Luke.
— Claro que se apaixonam! — Dan pareceu
se ofender. — Eles se apaixonam, encontram uma parceira, e ficam juntos até o
fim da vida — terminou ele, pronunciando cada palavra muito bem, como um
orador. Luke retirou os olhos da estrada por um momento para encarar Dan como
se ele houvesse sido abduzido por alienígenas. — O que foi? Eu tenho uma esposa
que tem uma biblioteca. Preciso saber dessas coisas.
Luke franziu o cenho, achando aquilo
estranho demais, e voltou a atenção para as estradas de Nashville à sua frente.
Reduziu perante a um sinal amarelo.
— Tudo bem, Senhor Romantismo — disse
ele em tom de gozação.
— Mas não fuja do assunto — Dan retomou.
— Você está apaixonado. Da mesma maneira que estava há não sei quantos anos
atrás, pela mesma mulher. Vai negar?
Luke sorriu, sem saber o que responder.
Queria mentir, mas, oras, Dan era seu melhor amigo e saberia se ele o fizesse.
Além do mais, o próprio Luke já assumira essa mesma máxima para Sophie pelo
menos meio milhão de vezes nessa última semana. Ou talvez não tanto.
— Não, não vou negar — disse ele,
baixo. Apenas esse pequeno murmúrio foi o suficiente para que Dan gargalhasse
com gosto, bem alto, para fazer com que Luke se irritasse.
— Eu sabia! — gritou ele. — Sempre
soube!
Luke revirou os olhos para o amigo
enquanto ele continuava a rir em tom de gozação. Quando ele finalmente se
cansou, deu um belo tapa nas costas de Luke, fazendo-o chegar para frente e
apertar o freio com mais força do que deveria.
— Ok — disse Dan, acalmando-se,
enquanto Luke fulminava-o com os olhos. — Mas me explique, Luke. Por que vocês
ainda não estão juntos?
Luke respirou fundo, procurando as
palavras certas para responder o amigo. Sinceramente, não estava com vontade de
falar sobre isso agora.
— É complicado... — respondeu ele,
deixando a frase no ar. Suspirou outra vez, apertando o volante com mais força
do que o necessário antes de virá-lo para a esquerda.
Mas sua resposta fez Dan bufar de
raiva.
— Ah, claro — disse ele, ironizando. —
Você a ama, ela te ama, e vocês têm um filho lindo juntos. Nada poderia ser
mais complicado.
A ironia de Dan fez com que Luke desse
uma risada por impulso, mas nem por isso ela estava feliz. Suspirou em seguida
e mudou de marcha.
— Eu a amo, e ela me ama, sim, mas é
justamente o Henry que nos faz ter medo — disse ele. — Aliás, ela tem medo, não
eu.
Dan fez uma careta.
— Medo de quê, afinal? — perguntou ele,
quase enojado.
— Ela tem medo de que nós nos
machuquemos e nossa relação não dê certo, então vamos acostumar Henry a uma
rotina que vai simplesmente acabar — disse ele, quase repetindo as palavras de
Sophie em sua mente. — Ela comparou com a situação ao Joe, alguns anos atrás. Ele
entrou em depressão por causa da separação do Josh com a Hayley, e quem cuidou
dele foi a Sophie. Ela diz que não aguentaria ver isso acontecendo com Henry —
Luke explicava tudo no automático, respirando bem fundo, repetindo o mesmo
mantra para si mesmo sem conseguir parar. Mesmo com a decisão de Sophie,
eles... simplesmente não conseguiam ficar longe um do outro. Mas Luke não disse
isso a Dan. — Eu até entendo a situação e o medo dela. Mas... bem, eu vejo as
coisas de um jeito diferente.
— Se não visse, eu te esmurraria — Dan
bufou e Luke deu uma risada gostosa. — Mulheres. Sinceramente, estão sempre complicando
tudo.
— Eu que o diga — Luke deu ombros,
fazendo que não com a cabeça.
— Mas sabe, irmão — Dan começou a falar
novamente. — Eu sou casado há quase três anos, e vou te dizer uma coisa: às
vezes dá vontade de morrer —
novamente, os dois rapazes riram. Dan continuou: — Mas... quando eu acordo de
manhã, bem cedo, pra ir pro colégio... e eu vejo ela, toda esparramada do meu
lado na cama, me abraçando com a mão... eu... penso que não pode existir
criatura mais linda no mundo inteiro. E isso faz tudo valer a pena — Dan
terminou tudo com um suspiro pequeno, e Luke não teve reação. Geralmente não
pegava Dan falando sobre coisas desse tipo. — O que eu quero dizer, é que se
ela tem medo, tire esse medo dela. Corra atrás. Vocês nasceram um para o outro,
irmão. Todo mundo pode ver isso.
Luke não teve reação de início.
Continuou dirigindo, mecanicamente, escutando as palavras do amigo ecoarem mais
e mais vezes em sua cabeça, estremecendo seu corpo, mexendo com sua alma.
Correr atrás, retirar o medo dela.
Luke sorriu.
— Você tem razão! — exclamou ele,
fazendo com que o moreno à sua frente desse uma risada inesperada.
— O Dan sempre tem razão — ele deu de
ombros. Luke sorriu e retirou uma das mãos do volante para dar dois tapinhas no
ombro do amigo.
— Sim, dessa vez, você tem razão —
disse Luke, com o sorriso tomando conta de seu rosto com toda a voracidade. — E
você não vai acreditar na ideia que eu tive agora.
Notas Finais
OI, AMORES ÃPSLA~SLKA~SOPLASÃOPSLK
GENTE, EU TO MUITO CORRIDA. TENHO EXATOS NOVE MINUTOS PARA POSTAR PARA VOCÊS, ESCREVI ESSE FINZINHO DE CAPÍTULO CORRENDO, POR ISSO SÓ VOU FALAR DO QUE IMPORTA.
desligue o caps.
Bem, gente, esse é o penultimo capítulo. PENULTIMOOOOOOOOOO ASPOASLKOPAS Meu Deus, mal posso acreditar! Enfim, esse é o penultimo, mas isso não quer dizer que postagem é só no domingo que vem; não. Eu vou postar capítulo final e epílogo nessa segunda feira, após a twitcam de encerramento.
SIM, HAVERÁ UMA TWITCAM DE ENCERRAMENTO A~PLKAO~PSLASOPLAS E SIM, OLHA, LUKE TEVE UMA IDEIA. NO QUE SERÁ QUE NOSSO MENINO ESTÁ PENSANDO, ESSE ESPERTO? HMMMMMMMMMMMM A~PLAOPLKSÕPALS QUERO COMENTÁRIOS, QUERO IDEIAS, QUERO SUPOSIÇÕES! SEJAM LINDOS PARA A SARINHA.
Bem, gente, a twitcam de encerramento vai acontecer em mais um twitter que peguei emprestado, dessa vez do Diogo Marques, leitor fiel desde a OAV1. Por isso, SIGAM: @UmbraAngelus A twitcam acontecerá às 18h, horário de Brasília (para os leitores Portugueses, Ingleses, Americanos, Russos, Japoneses, Eslováquios, Guatemalos) OK? Após a twitcam, finalmente, CAPÍTULO FINAL E EPÍLOGO SERÃO POSTADOS. Eu tentarei gravar a twitcam pra postar no face depois, fine?
QUATRO MINUTOS! RUUUUUUUUUUUUUNNNNNNNNNNNN
É ISSO, GENTE. ME DIGAM O QUE ACHARAM DA CENINHA DE HENRY E LUKE, SOPH E LUKE, JULIA, ETC, TUDOOOOOOOOOOOO A~PSOALPSOLKAS EU AMEI ESCREVER ISSO, AMEI, AMEI, AMEI. AMEI DEMAIS. AMEI SUPER. VCS AMARAM COMO EU? ENFIM, AMORES. Até segunda!
Muito, muito amor,
PS: Merda de negócio que fica tudo junto. --' coé, blogger.Sarinha <3
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