Título original: The Hunger Games
Editora: Rocco
Ano: 2011
Páginas: 397
Após o fim da América do Norte,
uma nova nação chamada Panem surge. Formada por doze distritos, é comandada com
mão de ferro pela Capital. Uma das formas com que demonstram seu poder sobre o
resto do carente país é com Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao
vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de
cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte! Para evitar que
sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se oferece para
participar em seu lugar. Vinda do empobrecido distrito 12, ela sabe como
sobreviver em um ambiente hostil. Peeta, um garoto que ajudou sua família no
passado, também foi selecionado. Caso vença, terá fama e fortuna. Se perder,
morre. Mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que habilidade.
Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes?
É quinta, e a vossa resenhista universitária residente está
aqui para vocês! Não sentem já a animação crepitar no âmago do vosso ser?
Sentem? Bom, então espero que realmente seja apenas animação, e não a faísca da
rebelião (também conhecida por Katniss Everdeen).
Escolhi Jogos Vorazes para a
resenha de hoje, porque:
a) é provavelmente minha segunda saga favorita (não tenho que dizer
qual é a primeira, pois não?);
b) faltam cerca de dois meses para sair Em Chamas, a adaptação cinematográfica do segundo livro da saga;
c) você simplesmente tem que ler.
Isto é, se não o fez até agora (e você já deveria ter lido)! Todos
sabemos que o fenômeno de Jogos Vorazes
começou com o lançamento do primeiro filme da saga, onde Jennifer Lawrence dá
vida à feroz protagonista Katniss Everdeen. O mais provável é que você já tenha
até visto o filme… e amado, estou certa? E se ainda não se lançou à aventura
literária com o livro que o inspirou, foi porque ainda não encontrou um exemplar
perto de si.
Mas, meu querido, se esse é o caso, sugiro que não leia essa resenha.
Ela enumerará todas as razões pelas quais você está errado em ainda não ter
comprado a trilogia mais quente do momento – literalmente.
“E que a sorte esteja sempre a seu favor!”
1. O universo
Apesar de não ocorrer em nenhum tipo de universo alternativo, podemos
considerar que a história se desenrola, sim, num universo um pouco diferente do
nosso: o futuro. Na mente de
Suzanne, o futuro do nosso planeta encontra-se arrasado e enegrecido por toda a
poluição e destruição massiva a que nós, humanos, o iremos submeter nos
próximos séculos. Cenário totalmente plausível, diria eu, sobretudo à luz dos
últimos acontecimentos internacionais.
E no meio de todo o caos, o que acontece? O que sempre aconteceu ao
longo da história da humanidade: uma ditadura. É geralmente assim que as
populações lidam com os momentos mais difíceis. As crenças tornam-se mais
fanáticas, as opiniões mais radicais, e faz falta uma mão pesada que dê um murro
na mesa e controle as coisas.
Até demais.
E a forma como a tecnologia é incorporada – simplesmente genial! O
espólio tecnológico pertence somente aos ricos e poderosos, e é forçado a
existir nas mãos dos pobres só para servir o propósito de um Estado corrupto,
sendo que famílias de distritos da periferia só possuem televisões para serem
forçados a assistir ao sacrifício dos seus filhos. Acho que essa imagem do uso
da tecnologia diz muito em relação ao ponto que Suzanne tentou passar com a
história, porque, de certo modo, a pobreza e a fome coexistirem com aparelhos
tecnológicos avançados coloca em destaque a horrível crueldade de toda a
situação.
Pontuação:
2. A escrita e o enredo
Nesse tópico, toda eu sou elogios! Suzanne fez um trabalho excelente, tanto a nível de escrita como
de enredo.
A escrita é simples, direta, envolvente e apelativa. É realmente fácil
imaginá-la saindo da “boca” de uma garota de 16 anos. Além disso, o jeito como
a escrita e o enredo são coerentes torna a leitura extremamente prazerosa e
viciante, já que ambos estão constantemente marcando um ritmo acelerado e
imprevisível.
É certo que há momentos mais pausados – muitas vezes marcados pela
angústia dos personagens, o que os torna ainda mais pesados –, mas de forma
alguma acho que seria possível contar essa história sem recorrer a momentos
desses. É imperativo que, numa narrativa como essa, o leitor possa sentir o
desespero dos personagens juntamente com eles, e isso é impossível de fazer
enquanto o ritmo se mantiver intenso.
Por outras palavras, só quando a vida começa a abrandar é que as
pessoas são forçadas a lidar com os seus sentimentos, a realmente se entregar a
eles. E quando a pessoa em questão é um personagem do livro, o leitor tem que
sofrer junto. Por mais que custe.
Pontuação:
3. Os personagens
Acho que, de tudo aquilo que tenho para falar sobre essa saga, esse
tópico é o mais polêmico. Gale, Peeta, Katniss… todos eles têm tanto fãs
incondicionais como haters
incondicionais. Tem pessoas que amam a Prim, há pessoas que acham a Prim super chatinha;
há pessoas que idolatram o Cinna (levanta a mão pro céu), há pessoas que
não acham o Cinna tão especial assim; há pessoas que simplesmente amam a barbicha do Seneca, a malvadez do
Snow, o instinto assassino do Cato, Haymitch bêbado, o gato (!)…
A lista continua interminavelmente. As poucas personagens que
conseguem um consenso de todos os fãs provavelmente restringem-se a Rue e
Finnick (spoiler: a gente ama os dois; mas se você discorda dessa opinião,
deixe aí um comentário, para eu saber que estou errada).
Pessoalmente, eu tenho absolutamente zero contra personagens que
inspiram reações tão diferentes nos fãs, sabe porquê? Por que isso quer dizer
que eles estão bem construídos e que são realistas. Têm pontos bons e pontos maus,
e dependendo do leitor e das coisas que ele mais valoriza, ele tanto pode
prestar mais atenção às qualidades ou aos defeitos. E isso empresta à obra um
carácter subjetivo que só a enriquece.
Porém, essa subjetividade não te dá carta branca para odiar todo o
mundo. Use de seu senso comum e tente-se colocar no lugar dos personagens.
Talvez vocês se tivessem saído pior no lugar deles (sim, pessoas que querem o Gale morto, eu estou olhando para vocês).
Pontuação:
4. A temática
Meu Deus, a temática! Tinha como ela ter ficado mais clara? SPOILER
ALERT: essa saga é sobre riqueza e pobreza, opressão e liberdade, conformismo e
revolta, com um toque de amor à mistura. Desculpe arruinar a sua leitura,
aposto que você nunca imaginou que fosse esse o tema. *alerta de ironia*
Claro que a temática não se restringe unicamente a esses pontos:
também se fala imenso de amizade, laços familiares, solidariedade, ódio, fome
de poder… Outros assuntos menores no contexto geral da história, mas que se
enquadram totalmente nos temas principais e que dão um tom mais humano à
narrativa.
Na minha opinião, um livro de YA (young
adult – jovem adulto) que lida com temas tão profundos – e que ainda hoje
estão em permanente discussão e são, muitas vezes, desrespeitados – samba na cara
daqueles que julgam o gênero como fútil e romanceado. Não, minha gente, YA não
é apenas sobre amores adolescentes (e por isso é que acho irritantes aqueles
leitores que só falam do triângulo amoroso Gale-Katniss-Peeta… alô, gente? tem
mais história que isso) e coleções de clichés, fáceis de decifrar e criticar.
Esse YA, em particular, lida com temas absolutamente adultos e maduros, com
dilemas éticos e morais, com sofrimentos e torturas horrendas… Mas acima de
tudo, coloca em destaque a diferença que uma só pessoa, aparentemente
impotente, pode fazer, apenas por acreditar que a vida humana é mais valiosa
que qualquer espécie de poder.
Não me culpe por não ter mais palavras do que: genial.
Pontuação:
5. Tópico surpresa: A verdade,
nua e crua
Quando terminei de ler a saga, eu estava tocada e fragilizada ao ponto
de achar horrível que uma pessoa se pudesse declarar fã da saga. Achava horrível que houvesse páginas no facebook
fazendo piadas, que houvesse fanfictions sobre romances improvavéis, que houvesse
fã-clubes e role-playing’s e surtos e
fangirls. Achava impossível e inumano
que, depois de tudo aquilo, de tudo o que tinha acontecido, as pessoas pudessem
tratar aquela história como outra história qualquer.
Claro que eu estava errada, em parte. Devemos sempre celebrar aquilo que amamos – e surtar também é uma forma de
festejo. Hoje em dia, eu própria faço a maioria das coisas referidas acima.
Mas o que me incomodava – o que eu odiava
mesmo, pronto – era sentir que Suzanne tinha escrito toda essa obra, tido
todo esse trabalho, e que, mesmo assim, o verdadeiro ponto que ela queria
transmitir tinha passado ao lado da maioria dos leitores. Pense para você: você
acha que uma história dessas poderia realmente
acontecer? De verdade? E que você poderia fazer parte dela?
Bem, o certo é que já aconteceu. E que ainda hoje acontece. Há países
que vivem em ditaduras tão revoltantes quanto a de Snow. A distribuição mundial
da riqueza é simplesmente nojenta e repulsiva. Pessoas morrem, todos os dias,
do mesmo jeito e pelas mesmas razões fundamentais que ceifaram tantas vidas
ficcionais. Só que eram vidas reais, de pessoas
reais. O que Suzanne fez foi tirar um mero retrato dessa faceta da
realidade em que vivemos. Então compreendam por que me revoltava escutar
pessoas falando que “não, isso é só um livro de ficção” ou “sim, tem a ver com
a realidade por que os reality-shows
podem eventualmente chegar ao ponto de assistirmos pessoas morrendo ao vivo”.
Nós só não fazemos já isso, meus caros, por que preferimos virar a cara na
outra direção, enquanto os poderosos colocam a vida e dignidade humanas no
fundo da tabela de prioridades.
Pode chamar isso de consciência, eu tenho vontade de chamar de covardia.
E, se depois de ler essa trilogia, você ainda sonha com dinheiro e
poder acima da honestidade e solidariedade humanas… ou você é doente ou precisa
começar a prestar mais atenção à entrelinhas. E às próprias linhas. Está tudo
lá.
Qualquer semelhança com a realidade está longe de ser pura
coincidência.
Pontuação:
Conclusão
Com a trilogia de Jogos Vorazes,
Suzanne Collins apresentou-nos um trabalho realista, verdadeiro, complexo e,
mesmo assim, sem qualquer intenção de ser pretensioso. A profundidade da obra
surge dos temas com que ela lida, e não da forma como a autora os coloca – o
que, na minha opinião, é profundidade feita do jeito certo.
Ela toma valores que são inerentes à nossa humanidade e coloca-os em
perigo, ameaça-os, querendo que o leitor se insurja e se revolte juntamente com
a protagonista. Porém, Katniss não é mais que uma mera adolescente, presa
algures entre o peso da responsabilidade e a insegurança da juventude. Somos,
então, levados através de suas fraquezas e dores, de seus momentos de glória,
de júbilo, de felicidades e prazeres passageiros, de suas vitórias e
conquistas, derrotas e fracassos, até ao centro daquilo em que ela e nós
próprios acreditamos. Até ao centro do verdadeiro heroísmo e altruísmo, num
sacrifício pela justiça e liberdade.
Uma saga a se ler e reler, com gosto e empenho pessoal. Por que depois
de a ler, você não será mais o mesmo.
Pontuação final:
Ahhh eu comprei eles mês passado!! Mas ainda não pude ler por falta de tempo =(
ResponderExcluirAdorei a resenha!!
Beijo
http://agarotaeotempo.blogspot.com.br/
Que bom!!! Espero que possa ler logo, e então me dê sua opinião, ok? :DD Acho que você irá adorar!!!
ResponderExcluirBeijão, obrigada pelo comentário! Você é um amor! :D