23 de set. de 2012

Capítulo 16

A story, a fight and one love



— Claro que eu não vou reclamar se a Srta. aumentar minha média em inglês, sabe, de boa vontade — Lilian suspirou ao ouvir Sophie pedir mais um “favor”, naquele tom que ela andara usando nos últimos minutos.
Luke sorriu.
— E não seria mau se, sabe, por acaso, o Sr. Marshwell aumentar meu prazo pra entregar aquele relatório, não é? Eu ficaria tão agradecido... — Ele aprendera a usar o mesmo tom de Sophie, com um sorriso sapeca nos lábios.
Tudo bem, eles se odiavam. Mas não se podia negar que ambos eram bons com chantagens.
— Ok, ok, eu já entendi — Lilian suspirou. — Notas maiores? Certo, vocês terão. Dormir no meio? Tá bem, eu durmo. O que mais eu tenho que fazer pra essa chantagem acabar?
— Me conte a história — Sophie sorriu. — Sou fascinada por histórias de amor proibido.
— Fala sério, eca — Luke fez uma careta, debochando.
— Cale a boca, retardado. Não falei com você — Sophie tratou de cortá-lo bem rápido, como sempre fazia.
— E eu falei com você? Se enxerga, menina insuportável. Cala a boca você — ele retrucou no mesmo tom ofensivo. Lilian revirou os olhos. Tudo de novo...
— Gente, como eu te odeio, Davis... Como...
— Você sabe que eu te odeio mais do que tudo também, não é, Farro?...
— Certo! — Lilian explodiu. — OK! Vocês se odeiam! Não precisam ficar repetindo isso todo o tempo! Dá dor de cabeça.
Sophie a encarou, séria. Pensou em utilizar mais uma frase chantagista, mas depois, revirou os olhos e desistiu.
Os três estavam andando de volta a barraca. Depois de Sophie e Luke terem surpreendido os professores, o Sr. Marshwell concordou em sair primeiro. Luke, Sophie e a professora seguiriam depois, para não levantarem suspeitas.
Ignorando Luke totalmente, Sophie aliviou os traços faciais de tensão e se dirigiu a professora novamente.
— Vai contar ou não? — perguntou, esperando um sim como resposta.
— Devia ter de dado um romance do Nicholas Sparks de presente, viu...
— Luke, você decide: Vai calar a boca com ou sem os dentes? — ela parou de andar, encarando Luke de modo fatal.
Ele apenas gargalhou.
Sophie bufou e voltou a andar.
— E o Nicholas Sparks é muito bom. Não fale mal dele — ela disse logo depois em tom mais ameno. Luke fez que não com a cabeça, sorrindo sem som. — Prof. Lilian...
— Não tem uma história, ora — ela respondeu rapidamente, sabendo qual seria a pergunta de Sophie.
— Claro que tem — dessa vez, Luke se manifestou. — Sempre tem uma história. Sempre.
Sophie, de relance, lembrou da história dos pais.
Ela nem imaginava que por trás do casal briguento e engraçado que ela via com freqüência em casa, havia uma história de arrepiar.
Mas é claro que isso nem de longe a impediu de implicar com o seu odiado favorito:
— Não era você que não queria saber nada sobre isso? Sério, você é um idiota bipolar — ela disse revirando os olhos e Luke bufou.
— Vai à merda, sim? — ele revirou os olhos também, respirando fundo.
— Eu te od...
— Todos nós sabemos — Lilian a cortou. — Todos nós sabemos que vocês se odeiam, certo? Parem de repetir isso o tempo todo.
— Desculpe. É que o meu ódio por esse ser é incontrolável — fez Sophie, e Luke novamente revirou os olhos.
Lilian fez que não com a cabeça, tentando apertar o passo.
— Começamos a sair tem um mês, ok? — ela disse rapidamente. — Eu o via na escola, mas nós não tínhamos nenhum contato. Até que eu mudei de academia e ele estava nos meus horários. Fim.
— Eu sei que não é só — Sophie —, mas já estou contente com isso. Awn.
Lilian deixou uma pequena risada escapar.
— Na verdade, tem sim outro fato importante... — ela disse, ainda com um sorriso sem graça nos lábios.
— Claro que tem — Luke —, afinal, não vi nenhum motivo aparente pra você querer manter tudo isso em segredo.
— Exatamente — fez Lilian suspirando fraquinho.
— Qual é o fato? — Sophie perguntou.
— Só conto se vocês prometerem não contar isso pra absolutamente ninguém, certo?
— Não vamos fazer isso se aumentar nossas notas e dormir no meio, é o combinado — Sophie a relembrou, fazendo-a respirar fundo.
Talvez ela precisasse falar com alguém sobre isso.
Dois adolescentes que discutiam a cada trinta segundos e que estavam chantageando ela não era lá uma opção tão agradável. Mas... bem, agora tanto faz.
— A coordenadora de vocês, ela... — Lilian engoliu seco — ...já teve... um caso com ele. Eles namoraram durante um tempo.
Sophie deixou o queixo cair.
— Ah, meu Deus! — ela disse, ainda com o rosto de surpresa.
— Foi o que eu imaginei — Luke riu um pouquinho, sem surpresa.
— Se ela ficar sabendo, eu posso perder o emprego facilmente. Ela tem um certo poder, sabem? Não só na escola... no conselho escolar todo. Então eu não posso deixar isso chegar aos ouvidos de ninguém.
— Mas isso não é justo com vocês! — Sophie disse num tom de indignação.
Lilian riu sonoramente.
— Não, não é. Mas... o que eu posso fazer? Eu estou no melhor emprego que já tive. Nunca uma escola me pagou tão bem... e... sei lá. Concordamos que é melhor que ninguém saiba.
— Sinto muito — Sophie disse baixo.
— É, eu também — Luke concordou, logo em seguida.
— Não sintam — Lilian suspirou, ao ver que havia chegado à barraca. Abriu o zíper. — São vocês que vão ganhar pontos extras em inglês. — E sorriu.



[...]



Julia desligou e ligou o aparelho novamente, na esperança de que o sinal telefônico voltasse por pelo menos alguns minutos.
Mas, como esperado, não dera certo. O celular continuava sem sinal e ela continuava sem contato nenhum com seus pais... ou Nate.
Suspirou, ajeitando-se e sentando-se nas próprias pernas.
Ela estava dentro da barraca, em seu saco de dormir, desde cedo procurando sinal de celular. Queria muito escutar um “bom dia, minha chata” que fosse de Nate.
Não sabia se ela se incomodava mais com o lugar por não ter sinal ou consigo mesma por se apegar tanto a um garoto que ela começara a ficar não havia um mês.
Ela tinha um certo medo de se apegar. Quero dizer, não medo...
Julia não gostava de se apaixonar, apenas.
Simplesmente por que ela se achava chata e boba quando estava apaixonada. Ela não era bem aquele tipo de garota que se apaixona por todo garoto que conhece. Na verdade, ela quase nunca se apaixona.
Mas a coisa com Nate era tão diferente... que ela se irritava consigo mesma por gostar demais dele.
Julia sabia que era uma garota complicada, e que a maioria das pessoas não a entenderia se explicasse. Mas não ligava.
Fez o mesmo processo com o celular, novamente, cruzando os dedos para que ele desse um sinal apenas.
— Ora, ora, ora — ela suspirou ao escutar a voz irritante de Stephy ecoar, adentrando a barraca. Diferente da barraca de Sophie e Luke, a dela era bem espaçosa. O teto era de 1,30m e dava para se locomover bem dentro dela. De modo que Stephy apenas se abaixou um pouco para entrar. — Olha só quem está tentando achar o sinal do celular. Bem, eu acho que esse tipo de preocupação é bem comum quando se pega alguém para criar, não é?
Julia respirou fundo. Mesmo.
Não queria perder o controle. Era sábado! Por mais que odiasse tudo ali, ela não queria levar uma bronca. Só queria achar o bendito sinal e escutar a voz de Nate.
— Sim, Stephy, pois é. Você saberá o quanto é preocupante quando ficar grávida no ofício da prostituição. — Ela retrucou muito calmamente, religando o celular mais uma vez.
— Ha, ha — fez Stephy numa risada irônica. — Engraçadinha você. Deve trabalhar de palhaça em festinhas de aniversário, o que explica a atração por crianças...
— Antes ser atraída por crianças do que dar para qualquer um — Julia ainda tentava ser calma.
— Vamos lá, Julia — Stephy se sentou. — Me explica por que essa agonia em falar com o seu bebê! Que foi? Tá com medo de ele achar uma garota melhor que você e agarrá-la por lá? Você sabe, não é muito difícil o Nate agarrar uma garota, e menos difícil ainda achar uma melhor que você...
— Sabe o que é bem menos difícil de acontecer? Você continuar falando merda e perder esses seus belos dentinhos brancos.
— Oh, isso é uma ameaça? — Stephy pôs uma mão no peito, fingindo indignação.
Julia travou as teclas do celular e encarou Stephy.
— Entenda como preferir — disse, encarando-a. — Mas sabe — Julia decidiu entrar no joguinho —, eu realmente tento entender o que você quer implicando desse jeito. Afinal, o Luke não vai voltar pra você...
— Isso é o que veremos — Stephy ainda estava com o sorriso nos lábios.
— Sério? — Julia disse, fingindo surpresa. — Ah, legal! E o que você vai fazer para ter ele de volta? Arrumar briga com uma das melhores amigas dele? Melhor! Você vai escrever uma cartinha perfumada pedindo pra ele voltar... Sei que você é especialista em cartas.
— Você parece saber muito sobre mim, não é?
— Oh, não. Só o suficiente... sabe, não é difícil achar informações sobre as vadias de Nashville.
— Você só sabe fazer isso, não é? Pois saiba que as suas palavras não me afetam, Bynum. Até mesmo por que diferente de você, eu não tenho um namorado galinha e criança que já agarrou metade da cidade e pode muito bem estar agarrando uma neste exato momento. Você sabe como são os homens, não é? Como aquele velho ditado: “quando o gato sai, os ratos fazem a festa.”
— Não é da sua conta — Julia começou, farta —, mas eu e Nate não estamos com nada sério, e eu não ligo se ele quiser ficar com outra pessoa.
Claro que ela ligaria.
Mas realmente estava farta daquilo tudo.
— Ah, assim é melhor, não é? Por que além do Nate poder agarrar qualquer garota por lá, você pode facilmente manter o seu casinho com o Fletcher.
Julia riu, tamanha bobagem dita.
Riu de verdade.
Dan? Sério que aquela vadia tinha dito que ela tinha um caso com Dan?!
— Qual é a graça? — Stephy fez que ia rir também. — Serio, Juzy, você tem um caso com dois caras e a vadia aqui sou eu... ai, ai...
— Você precisa inventar uma história ridícula pra tentar conseguir alguma coisa... Deplorável isso. Aliás, você é toda deplorável.
— Eu sou deplorável? Pois é. Mas não sou eu que estou pegando dois caras ao mesmo tempo e ainda por cima, tem como melhor amiga a pior vadia de todas... Que além do mais é falsa, mentirosa, fútil, idiota...
Julia se sentiu farta. De verdade, farta.
Stephy já havia falado mal dela, de Nate, de Dan, e agora de Sophie. Todos os seus melhores amigos.
Agora, responda com sinceridade: ela não merece uma surra bem dada?
E foi por isso que Stephy nem sequer viu o momento em que a parte de trás da mão de Julia atingiu em cheio o seu rosto, fazendo-a cair para o outro lado. Julia foi tão rápida em seu tapa com as costas da mão que nem ela mesma notara o golpe, e Stephy só teve tempo de gritar depois. O rosto de Stephy ardeu com ferocidade e Julia caminhou rapidamente de joelhos para o local onde ela caíra.
Ajoelhou-se por cima de seus braços e lhe deu mais quatro bons tapas na cara, tão fortes que a mão de Julia doeu de verdade. Agarrou o cabelo de Stephy e a puxou para fora da barraca. Stephy gritava e tentou se segurar, mas Julia puxou com muita ferocidade — arrancando vários fios, inclusive — e conseguiu levá-la até o chão gramado fora da barraca.
— Cadê a sua marra, vadia? — ela perguntou, sentindo a adrenalina e a raiva correrem em suas veias. — Cadê? — já fora da barraca e com total liberdade de movimento, ela se levantou, puxando Stephy pelo cabelo que logo ficou de pé. Numa tentativa desesperada de parar de apanhar, Stephy levou uma mão ao pescoço de Julia e cravou as unhas ali, fazendo verdadeiros furos.
Julia ficou com mais raiva ainda. Muito mais.
Apertou a mão que ainda segurava a cabeleira loura de Stephy e lhe deu um bom soco na boca do estômago, fazendo-a soltar um grito abafado. Depois deu mais outro tapa com as costas da mão e soltou o seu cabelo, fazendo-a cair para o lado, sem equilíbrio.
— Agora me diz onde está aquela marra! A implicância! Cadê, Stephany? Cadê? — ela gritou mais uma vez e Stephy se contorcia no chão, segurando a barriga.
Julia nem percebeu, mas Jenny e Kate haviam corrido até elas o mais rápido que puderam. Kate foi socorrer Stephy e Jenny segurou o braço de Julia.
— Vamos sair daqui — ela disse, puxando-a.
— Se você vier me dar lição de moral por causa da sua prima eu bato em você também — Julia disse respirando pesado. Ainda estava morta de raiva e só não matara Stephy de pancada por que as garotas apareceram.
— Tô pouco me lixando pra minha prima, mas você tem que se acalmar — Jenny parecia calma. — Vamos, daqui a pouco a coordenadora vem puta da vida brigar com você, então vem tomar um ar.
Julia suspirou e concordou, deixando-se conduzir por Jenny. Ela levou-a a um lugar mais arvorejado.
— Sei que ela merecia e que você devia ter motivos fortes para bater na Stephy — Jenny começou assim que achou que devia. — Mas ela não merece nem isso, Julia, ok? Desculpa te falar, mas foi bobagem você ter feito isso agora, aqui. É muito provável que você pegue uma suspensão daquelas e você sabe que em menos de um mês as aulas acabam... isso vai te prejudicar.
Julia suspirou.
Sabia que Jennifer tinha razão, mas não se arrependia.
— Sei disso, mas não me arrependo — ela tornou palavras os pensamentos. — Desde que entrei nessa maldita escola aquela vaca tem me importunado. Bati mesmo e bato de novo se necessário.
Jenny sorriu, fazendo que não com a cabeça.
Mesmo que ela fosse controlada pela razão e não pelo impulso, não tinha como não dar razão a Julia. Nem como não gostar desse jeito espalhafatoso dela.
— Tá certo, tá certo... — Ela disse. — Não acredito em vinganças, mas... ela mereceu.
— Sim, muito. — Julia suspirou e olhou para a mão extremamente vermelha. Ela ardia pra valer.
Se a mão de Julia doía daquela forma, imagine o rosto de Stephy, então.
Riu desse pensamento. Sentia-se melhor por ter batido nela.
— Obrigada — ela disse para Jenny, que se surpreendeu. — Quer dizer, obrigada por fazer eu me acalmar e tudo mais, esse lugar é legal.
— Não precisa agradecer — ela riu.
— Bem, eu tenho uma suspensão para levar — Julia riu e começou a andar, fazendo Jenny segui-la, rindo também.
[...]
— Mano que história é essa que você deu uma surra na vadia? Meu Deus que orgulho de você Juzy que orgulho cara que orgulho! Ai meu Deus! Você é minha heroína pra sempre te amo. — Sophie soltou tudo de uma vez falando rápido e sem virgulas. Julia gargalhou do desespero de Sophie, que logo depois a abraçou forte.
— É verdade, obrigada e eu te amo também. — Ela disse rindo também e se separando de Sophie. — E aliás, descobri que a prima dela é uma pessoa legal.
— Eu sempre soube disso — Sophie sorriu.
Elas seguiram devagar até a mesa onde haviam alguns bolinhos, biscoitos e suco embalado em caixinha. Café da manhã.
— Mano, que história é essa que você deu uma surra na Stephy? — foi a primeira coisa que Dan disse, assim que viu Julia.
— Todo mundo sabe, é isso? — ela disse, assustada.
— Assuntos correm rápido — Sophie explicou.
— Sim, eu dei uma surra nela e levei cinco dias de suspensão, começando na segunda.
— Legal, parabéns! — Dan disse e saiu de perto, indo para perto de Luke.
Julia olhou interrogativamente para Sophie, como se dissesse “o que se passa pela mente insana desse garoto de Deus?”.
— Não olhe assim pra mim. Eu não sei. — Sophie torceu os lábios e colocou alguns biscoitos no pratinho. — Mas me conta, como foi brigar com ela?
— Olha só o que a vaca fez — Julia mostrou o pescoço com as marcas de unha, que estavam cobertas por sangue seco.
— E ela?
— Apanhou, né. Arranquei um monte de cabelo, dei uns bons tapas na cara e um soco no estômago. O nariz sangrou.
— Eu amo você, mano. Eu amo você. — Sophie repetiu mais uma vez e Julia gargalhou novamente. — O que ela fez pra você bater nela?
— Me insultou, falou mal do Nate, de você... e ah! Você acredita que a vadia disse que eu... — Julia riu, só de lembrar. — Ai, meu Pai. Você acredita que ela disse que eu tenho um caso com o Dan?!
— What?! O Dan?! — Sophie se surpreendeu.
— Sim. — Foi aí que as duas olharam para Dan, que acabara de enfiar quatro bolinhos na boca, enquanto Luke fazia uma careta.
Caíram na risada, naturalmente.
Depois de três minutos gargalhando sem parar, quando a barriga e bochecha das duas começaram a doer, elas se acalmaram.
— Ok, ela mereceu — Sophie disse rindo. — Onde vamos sentar?
— Vamos sentar com o meu casinho, ora — Julia disse, fazendo piada de si mesma. Sophie riu.
— Mas o Luke tá lá — ela disse, depois que se lembrou que Dan estava acompanhado.
— Fala sério, Soph. Você tá dormindo com ele, o que custa tomar o café com ele?
— Vamos arrumar isso aí — Sophie a fuzilou com os olhos. — Não estou dormindo com ele. Estou dormindo na mesma barraca que ele. Vamos parar com o duplo sentido.
Julia gargalhou.
— Eu não percebi, desculpa.
— Não teve graça — ela disse, seguindo Julia até uma árvore afastada, onde Dan e Luke haviam se sentado.
— Olha aí a nossa lutadora! Aprendendo o ofício com o peguete, que linda. Ele vai sentir orgulho de você! — Dan soltou uma de suas piadas, com a boca cheia de bolinho de milho, assim que Julia chegou e se sentou junto de Sophie.
— Ele, talvez sim. Mas duvido que o seus pais sentirão — Luke disse, rindo.
— Minha mãe, bem, ela vai entender. O meu pai que não, mas no fim ele faz tudo que ela quer. — Julia riu. — Quanto ao Nate... ele não precisa opinar.
— Ai, o amor... — Dan.
— Cala a boca — Julia bufou. — Mas e aí, Luke e Sophie, vocês dormiram bem?
Eles se entreolharam.
— Aham. (Sim). — Responderam, fingindo não ligar.
Não podiam contar o que haviam presenciado nessa madrugada. Eles necessitavam das notas altas.
Julia e Dan estranharam, mas deixaram pra lá.
— Mano — observou Julia. — Eu nunca tinha notado isso, Soph, mas você tem pernas muito grossas.
Sophie encarou Julia incrédula, sentindo as bochechas corarem levemente.
— Vamos parar, né — disse, ainda encarando Julia e sem acreditar que ela havia dito aquilo.
— É sério! — insistiu ela. — São tão grossas que dá até uma invejinha... Verdade. Não é, Dan? — Julia disse com um sorriso sapeca no rosto, vendo Sophie se sentir extremamente constrangida com a situação. Ela amava deixar a amiga envergonhada. Amava.
Dan parou de mastigar um segundo parar analisar as pernas de Sophie. Fez que sim com a cabeça.
— Aham — concordou. — Saúde, hein, filha?! — disse sorrindo e engolindo a comida que estava em sua boca.
Sophie já havia passado por todas as variações de vermelho naquele momento.
— Parem com isso — disse novamente.
— Mas é um elogio! Coxas grossas são bonitas — disse Dan, bebendo um pouco de suco. — Não é, Luke? Aposto que você concorda que as coxas da Soph são grossas.
Luke se engasgou com o seu suco ao ouvir Dan.
Ele havia notado isso desde a primeira frase de Julia e concordara mentalmente. Sophie estava usando um short jeans que ia até o meio das coxas, deixando boa parte a mostra.
— Sei lá — ele disse, recuperando-se da tosse. — Sim, eu acho. Tanto faz. — Ele tentou não demonstrar que havia olhado. Não conseguiu mentir.
Oras, ele era homem!
E as coxas dela eram sim, muito bonitas.
— Parem com isso, é sério — Sophie ordenou novamente, total e completamente envergonhada. Não sabia do que eles estavam falando! Para ela, a única coisa grande que havia em sua coxa era o hematoma que conseguira no estudo às rochas, ontem.
Julia deixou um sorriso escapar.
— Tio Josh e tia Hayley fizeram um bom trabalho — disse tomando mais um gole do seu suco. Sophie levou uma mão à cabeça enquanto Dan ria e Luke tentava não olhar novamente parar as pernas de Sophie, ingerindo assim o máximo de comida que podia.
— Gente, vamos parar — Dan. — Ela tá corada, que bonitinha! Tá mais corada do que quando eu disse pra ela que fiquei sabendo que ela e o Luke tinham se agarrado, awn.
Julia cuspiu o suco, se engasgando e arregalando os olhos.
— VOCÊS SE BEIJARAM? — ela perguntou, incrédula.
Sophie e Luke arregalaram os olhos.
— Sim, Juzy, eu já te disse, não foi? Éramos amigos quando crianças e eu beijei ele antes de ir pra Inglaterra. Por que a surpresa? — Sophie contornou rapidamente a situação, fazendo Luke suspirar de alívio. Dan abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas Luke lhe deu um chute que o fez cair na real e calar a boca.
— Ah — Julia disse. — Achei que fosse mais recente.
— Foi a única vez que nos beijamos — mentiu descaradamente Luke, tomando mais suco para inibir o nervosismo. — Mas tu não me falou o que aconteceu por você ter batido na Stephy. — Luke tentou mudar de assunto rapidamente, para fazer as pessoas se esquecer daquilo.
Mesmo que para isso precisasse falar em Stephy, o que não era uma coisa que ele gostava.
— Ela falou mal dos meus amigos e eu bati nela pra ela aprender. Fim. — Julia disse, comendo um pedaço do bolinho.
— Quantos dias de suspensão?
— Cinco — ela bufou. — Teriam sido duas semanas se a Jenny não dissesse que a Stephy estava “praticando bullying” comigo desde que entrei no colégio. Eu não chamaria aquilo de bullying, mas se vai reduzir o meu castigo, beleza.
— Desde o primeiro dia? — Luke a olhou confuso.
— Sim, lembra que eu te perguntei onde era a minha sala? Ela viu e me ameaçou.
— Mano — Luke bufou, meio surpreso. Detestava saber que tudo o que havia passado por Stephy.
— A Jenny te ajudou? Mas a Stephy não é prima dela? — Dan.
— Sim, é. Mas... surpreendentemente, a Jenny é decente e até legal.
Sophie deu uma risada aliviada. Seu coração batia rapidamente. Se Julia soubesse da sala de detenção, Nate saberia também. Se Nate e Julia soubessem, sua vida estaria acabada.
Já bastavam seus pais sabendo!
Eles continuavam comendo quando, de repente, eles escutaram um bip.
Julia, desesperadamente pegou o celular.
Mensagens.
Sinal.
Mensagens e sinal.
— SINAL! — ela gritou. — SMS E SINAL!
— Aê, agora vai falar com o seu amor — Dan disse, rindo, enquanto Julia ainda surtava.
Abriu a primeira mensagem de Nate.



“Não sei se tem sinal por aí, mas acho que não deve ter. De qualquer forma, são cinco da manhã e eu não consigo dormir. Sim, eu sonhei contigo, sua chata. Estou com saudades. Liga assim que puder, N.”


“Ok, aqui estou eu de novo. São seis e quinze da manhã. É que eu esqueci de dizer pra você tomar cuidado aí. Fiz uma pesquisa na internet e tem uns animais selvagens rondando por aí, então tenta ficar perto de um professor sempre, tá? Beijo, se cuida.”


“Tá, tá, eu sou idiota. Não era isso que eu ia dizer nas últimas duas mensagens. Bem, minha chata linda e minha, eu... bem, eu te amo, certo? Se cuida de verdade, estou com saudades. Mesmo. De verdade. Enfim, eu... tchau.”




Julia deixou a mão cair.
Com certeza ela não esperava ler aquilo. Estava pasma, surpresa, petrificada.
— Juzy? Oi? Julia? Terra para Julia — Dan passou a mão em frente ao rosto dela.
Sem respondê-lo ela releu a última mensagem.
Sorriu.
Mesmo, ela sorriu. Mas não foi qualquer sorriso. Foi sorriso. Aquele sorriso que faz com que a pessoa simplesmente não o consiga tirar do rosto. Aquele sorriso tão aberto que dá a impressão de que as bochechas vão rasgar.
Releu outra vez e sorriu mais.
— O que foi? Ele contou uma piada?
— Cala a droga da boca, Daniel — ela disse, tentando ofender, mas ainda rindo como uma boba.
Eu te amo, certo?
Eu te amo.
— Eu também. — Ela disse tão baixo que mal escutou sua própria voz.
— O quê? — Sophie perguntou. — Sério, o que é que tem aí? Você tá sorrindo feito uma boboca — Sophie pegou o celular da mão de Julia e leu a última mensagem. Deixou o queixo cair. — Uaaaaau! Dan, escuta isso: “Bem, minha chata linda e minha, eu... bem, eu te amo, certo? Se cuida de verdade, estou com saudades.”
— AAAAAWN! — Dan gritou, exibindo para o mundo os farelos de biscoitos que haviam em sua língua. — QUE COISA MAIS LINDA ESSE AMOOOOR!
— Peraí, o Nate disse que te ama? Meu Deus! — Luke exclamou.
— Que fofo! — Sophie disse, ainda com o mesmo tom de zombaria e fofura.
— Eu... vou ali — Julia disse, saindo.
Não queria escutar os amigos zoando aquilo.
Por que de repente, ela notou que não ligava para mais nada. Apenas queria se afastar e responder aquele SMS dizendo a mesma coisa que ele dissera para ela.
A mesma coisa.
Por que mesmo que ela estivesse com ele há pouquíssimo tempo, ela tinha a total certeza que sentia a mesma coisa. Ela o amava. E o resto que se dane.

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