Arrepiante...
Hey, lindos! Como vão?
Bem, estamos aqui nesta Trucker! Essa ideia doida que vocês, mais doidos
do que eu, estão se dando ao trabalho de ler. PAOSKAS
Não vou falar muito aqui também ASOPKASPOAKS Bem, só apresentando tudo
para vocês, a fic tem que fazer jus ao enredo e etc. Vocês viram na sinopse.
Nenhum dos personagens aqui são santinhos, e isso provavelmente vai fugir de
todo o contexto normal de uma fic de Paramore comum. Trucker não é comum.
Trucker significa "Caminhoneiro", para quem não sabe. Então
tenham uma ideia OPASKPAOKS
Outra coisa! Esse cap ficou grande. 5000 palavras. Não era pra ter
ficado tão grande, mas ao fim dele vcs vão entender o porque de eu não ter
dividido em dois. Anyway. Novamente eu digo, não fiquem surpresos pela falta de
formalidade na narrativa -- remember, a Renascer além de ser fic de época, é em
terceira pessoa. A Trucker vai ser a primeira fic que já escrevi na vida
COMPLETAMENTE pov. Hayley.
É isso.
Have fun! :3
E aqui estou eu, com uma mala na mão, com
fome, calor e dor, morrendo enquanto caminho em direção ao nada. Minha mãe
sempre me disse que um dia meu mau-humor me mataria.
Quem diria que seria hoje, hein?
Sinceramente, que tipo de macumba existia
nas mães para que tudo de ruim que elas dissessem acontecesse? A minha, por
exemplo, era mestra em lançar suas más premonições em relação a minha vida.
“Você vai pegar chuva hoje, se não levar a capa”. Acontecia! “Você vai quebrar
esse copo”. Quebrava! “Se comer queijo, vai ficar com dor de barriga”.
Urgh.
— Ei, gata, quer uma carona?
Apoiei a mala no all star que já devia ter
jogado fora há pelo menos quatro anos e analisei o perfil do senhor que havia
acabado de parar seu caminhão para mim. Estava usando um chapéu enorme de
vaqueiro, comum para aquelas bandas do Tennessee, e sua barriga era tão grande
que eu duvido que ele consiga enxergar seus próprios pés quando está ereto. No
retrovisor do carro, não havia nenhum crucifixo, sapinho de pelúcia ou foto da
família. Arregalei os olhos quando vi uma mulher sem sutiã na foto desgastada
no painel do carro.
Tenso. Se é pra morrer, não estou a fim de
fazê-lo estuprada por um caminhoneiro que fede a cigarro.
— Não, Senhor — disse eu, engrossando a voz
o máximo que podia. Minha mãe sempre disse que minhas calças e esse “piercing
ridículo” me fazia parecer um moleque de rua. Isso sem contar as tatuagens.
“Acentue
o positivo e elimine o negativo”, era o que eu tinha tatuado da primeira
vez, no meu antebraço. Mas minha mãe levou isso como se eu tivesse escrito “sou adepta à doutrina do satanás”.
Já citei que ela é meio religiosa? Pois é.
— Tem certeza, gatinha? Você parece perdida
— a voz esganiçada do caminhoneiro voltou a ecoar e eu quis vomitar. Tentei me
manter digna diante da situação.
— Não estou. Acabei de ligar para o meu
pai, que já está vindo com a viatura — eu dei de ombros e cuspi no chão. Eca. Tomara que isso pareça tão nojento
para ele quanto parecia para mim. — Por que, como ele está trabalhando, vai me
buscar no carro da polícia federal mesmo.
Não sei se foi minha mentira deslavada ou
meu cuspe no chão, mas o cara pareceu me avaliar durante um segundo antes de
dizer “não esquenta” e sair dirigindo seu caminhão idiota que transportava...
algo ensacado.
Eu tenho para mim que ele não me achou
suficientemente gostosa para valer um dia na cadeia, levando em consideração
que eu sou uma roqueira baixinha de cabelo laranja, tenho piercing no nariz e
uso uma simpática blusa do Iron Maiden no meio do sertão americano. E, claro,
também sou supostamente filha de um policial.
Às vezes a má educação, a capacidade de
mentir e a aparência estranha são a diferença entre ser morta de fome ou ser
morta por um caminhoneiro pervertido.
Agora, estava de volta à estrada, sozinha.
Meus pés estavam me matando. Aquele all star que em alguma época de sua vida
foi vermelho estava cobrando sua falta de aposentadoria no meu calcanhar e no
meu dedo mindinho. O calo que devia haver neles agora iria transformar meus pés
branquelos em uma aberração. Ah, tudo bem, eles já são lindos mesmo, não é?
Quero socar alguma coisa que não seja minha
mala. Meus dedos já estão doendo do tanto que a esmurrei desde que me vi
sozinha nesta viagem. Por que meus pais não puderam me ter em uma cidade grande?
Seria tão incrível. Mas, não, vamos conceber a Hayley no pior estado dos
Estados Unidos! Mississippi, uhu! E quando for embora, que papai vá para o
Tennessee! Legal! Cidade grande para quê, se podemos continuar caipiras por
toda a eternidade?
Juro que deve ser essa a linha de
pensamento deles.
Mas tudo bem, entre Mississippi e
Tennessee, eu fico com o Tennessee (não que minha mãe tenha me expulsado de
casa nem nada, que isso). Obviamente eu não queria ter de fazer o deslocamento
de um estado para outro a pé. Porcaria
de frota de ônibus. Se meu pai fosse um advogado, eu faria com que ele
processasse todos os que não podiam me processar por danos físicos e morais!
Deixe-me contar a história desde o início.
Meu nome é Hayley Williams, e eu tenho
dezessete anos. Vivi minha vida inteira em Meridian – Mississippi, parte dessa
vida com meu pai, mas a grande maioria com apenas a minha mãe, Cristi. Isso por
que quando eu tinha cerca de quatro anos, papai pulou a cerca com a secretária
do consultório dele, e desde então os dois vivem felizes na cidadezinha pacata
(só que não) de Franklin, o coraçãozinho do Tennessee. Li na Wikipédia que a
cidade foi nomeada de Franklin por causa do Benjamin Franklin. Isso seria muito
legal, se conhecimento histórico fosse útil para mim em alguma coisa.
Enfim, minha mãe, por sua vez, ficou fula
com meu pai, com o resto do mundo e da vida. Só há três anos que ela foi se
casar novamente, e o cara é tão passivo que eu acho que a maior aventura da
vida dele foi uma equação do segundo grau. Sei que ele é professor de inglês em
um cursinho, o nome dele é Michael, e ele só não consegue ser mais branco do
que eu. É alto e curvado de um jeito estranho. Mesmo tendo vivido na mesma casa
que o sujeito durante quase três anos e meio, acho que só ouvi a voz dele umas
dez vezes. Não que fizesse diferença pra mim, é claro.
Achei bom que Mike fosse do tipo quieto e
tudo o mais, por que é menos uma pessoa para que eu me estressasse. Digamos
apenas que eu não tenho um pavio longo. Na realidade, não sei nem se tenho
pavio. Devo ser uma daquelas dinamites com defeito que assim que você acende,
bum! Explode. Chad, meu último namorado, me apelidou de panelinha de pressão.
Bastante apropriado. Chad era muito legal,
se quer saber. Conseguiu me apelidar de uma maneira que não me fez odiá-lo ou
chutá-lo aonde dói (não que eu nunca tenha batido nele). A maior parte dos meus
amigos tem uma cicatriz causada por mim.
Infelizmente, tive que terminar com Chad
para poder vir ao Tennessee. Minha mãe decidiu, depois de dezessete anos
tentando me criar, que eu não tinha mais jeito. “Vá morar na casa do seu pai”,
disse ela, semana passada. Aceitei prontamente a proposta e deixei-a viver
sozinha com Mike.
Só que para isso, tive de deixar um bocado
de amigos lá em Meridian. Eles não entenderam que minha vontade de morar em
outra cidade com meu pai (que eu só vejo uma semana por verão) era mais forte
do que minha vontade de ficar no Mississippi e sair à noite para lugar nenhum.
Chad ficou bem chateado. Cortou meu coração vê-lo tão triste.
Mesmo assim, terminamos e eu decidi vir
para o Tennessee. Isso por que meu pai é simplesmente demais. Ele é um daqueles caras que está sempre de bom humor, e
impõe suas regras de um jeito que não sufoca. Nunca reclamou das minhas
tatuagens ou do meu piercing, mesmo que não concordasse com eles. Além disso, acho
que a culpa de eu nunca ter tido sequer uma cárie foi dele. Às vezes ele me
liga só para saber se eu fui ao dentista para fazer a lavagem com flúor.
A obsessão do meu pai com a minha saúde
bucal tem uma explicação. Ele é o melhor cirurgião dentista que Franklin já
viu.
Aposto que você está surpreso por ele não
ser um policial federal.
Claro que tem outros motivos que me levam a
querer vir à Franklin. Como por exemplo, minha irmã, McKayla. Ela tem apenas
quatro anos de idade e consegue ser a criança mais linda que esse mundo já viu,
apesar de eu achar que ela não se lembra de mim, por que eu só a vejo uma vez
por ano. Enfim. Ficar perto dela enquanto ela cresce é um dos motivos de eu
estar aqui.
Gosto de crianças. Na realidade, eu gosto muito de crianças. Como minha mãe não
gostava muito de me dar dinheiro para os shows, a guitarra ou as tattoos, eu
tinha de trabalhar para consegui-lo. Fui babá de três famílias, ganhando
duzentos dólares por mês de cada uma. Dava para me sustentar tranquilamente, e
por algum motivo, minha paciência não se esgota tão facilmente se eu estiver
lidando com um ser que seja menor que eu.
Mas não existem muitos seres menores do que
eu por aí.
Por isso, quando eu peguei o ônibus que
sairia de Philadelphia (sim, eu tive que pegar um ônibus de Meridian até
Philadelphia!) e iria até Nashville, achei que minha viagem de oito horas seria
tranquila. Colocaria fones de ouvido e fecharia os olhos até que acabasse.
Só que não. Meu celular, que era o único
meio de escutar música que eu tinha, foi brutalmente quebrado quando travou. E
é impossível dormir quando tem um pai idiota negando biscoito pra uma criança
de dois em dois minutos ao seu lado.
E então, quando parei em um posto de
gasolina para comprar Doritos em uma conveniência e fazer xixi em um banheiro
que não estava coberto de vômito — me lembre de nunca mais pegar ônibus de
viagem na vida —, percebi que meu belíssimo transporte barato havia partido sem
mim. Minhas duas malas estavam jogadas no chão.
Sinceramente, não sei por que fizeram isso.
Não sei por que me deixaram fora do ônibus.
Talvez o fato de eu ter batido no motorista
tenha influenciado em alguma coisa. Xingá-lo também pode não ter sido uma
atitude inteligente. Discutido com o resto dos passageiros também não. Quem
sabe... eu não deveria ter dado o biscoito para a criança depois de gritar com
o pai dela.
Vendo minhas malas do lado de fora da loja
de conveniências podre, decidi que não iria ficar ali esperando. Uma espécie de
bar, que tocava música de pior qualidade, estava lotado de homens bêbados que
me encaravam de um modo no mínimo assustador. Decidi que não queria ficar para
saber o que eles estavam pensando.
Com ódio, saí em direção à estrada, seguindo
as placas verdes. Já tem mais ou menos meia hora que eu passei por uma placa
que dizia “Pulaski” com seta para a esquerda, e “Franklin” com uma seta para
cima. Estou andando, sem saber a quantos quilômetros estou de Franklin, na
esperança de achar alguém não ameaçador que me leve em segurança até a querida
cidade do meu pai.
Dois caminhões já ofereceram essa carona,
mas os dois motoristas pareciam velhos pervertidos e fedidos. Não, obrigada.
Quero me manter viva. Sem os pés, mas viva.
Percebi que um caminhão estava vindo lá de
longe, no mesmo sentido que eu estava caminhando. Também carregava alguma
coisa, como de costume, e a frente dele era cinza. Respirei fundo, pedindo
ajuda a Deus, e joguei o polegar esquerdo para o lado. Era a primeira vez que
eu de fato pedia por carona. Sem
chance de contar a história do policial agora.
Havia duas pessoas nesse caminhão, eu
percebi quando ele se aproximou. Abaixei o polegar e vi que ele diminuía a
velocidade, até parar no acostamento, bem perto de mim. Vi que o motorista era
um senhor de cabelos curtos e pretos, no máximo cinquenta anos, e ele usava um
boné para esconder uma provável calvície. Em compensação, tinha um sorriso
quase simpático. Também vi o crucifixo e a foto de um monte de crianças no
retrovisor.
Mas meus olhos não pararam nesse senhor, e
sim no garoto que o acompanhava. Usava um chapéu de couro com um pingente, uma
cruz. Seu peito estava coberto com uma camiseta xadrez fina, azulada, parecendo
meio moderna demais para um caminhoneiro. Notei que a calça que ele usava
era... apertada. Mas em seus pés,
estavam all stars tão desgastados quanto os meus.
O quê?
All stars?! Que espécie de caminhoneiro era esse?
— Para onde está indo, mocinha? — a voz
amigável do senhor ecoou, retirando-me do transe enquanto secava descaradamente
o carinha que estava à minha frente.
— Hum... — tentei pronunciar alguma coisa,
minha cabeça enevoada por pensamentos inapropriados. Céus, que coxas. — Tennessee, Senhor.
Não conseguia olhar o rosto do menino, pois
ele quase o escondia com o chapéu e eu estava meio ocupada secando o corpo dele.
Mas vi que ele esboçou um sorriso.
— Já estamos no Tennessee, mocinha — disse
novamente o senhor. — Quero saber para que
cidade quer carona. Nós estamos indo para Franklin, logo mais a frente,
podemos te deixar em algum lugar?
Com um esforço tremendo, levei meus olhos
ao senhor. Ele esboçava um meio sorriso para mim, como se soubesse o que eu
estava fazendo. Apoiei o peso do corpo num pé e noutro.
— Franklin? — peguei-me dizendo as palavras
do homem. Sorri instantaneamente. — Eu teria que estar em Franklin. Quer dizer,
é onde eu precisaria estar, caso o ônibus... Enfim.
O senhor sorriu para mim outra vez,
parecendo, desta vez, mais simpático do que sacana. Mesmo que ainda me olhasse
como se soubesse que eu estava toda atrapalhada por que o garoto que se sentava
ao lado dele era descomunalmente gostoso. Pelo amor de Deus.
— O que aconteceu com o seu ônibus? —
perguntou ele, arqueando uma sobrancelha.
Dei de ombros, como se não fosse nada
demais.
— Me deixaram — disse bem tranquilamente. O
senhor sorriu, acompanhado do rapaz de coxas grossas. Menino, olhe para mim, deixe eu ver seu rosto.
— Deixaram? Por quê? — perguntou,
novamente, o motorista do caminhão. Olhei para ele e torci os lábios.
— Não sei! — disse eu, suspirando. — Quando
saí da conveniência do posto de gasolina, só vi minhas malas no chão. Justo eu,
que tanto preciso estar em Franklin ao fim do dia!
Um pouco de dramatização nunca é demais em
medidas desesperadas. Meus pés não aguentavam mais o peso do meu corpo e o
caminhoneiro parecia ser um cara legal que me levaria para Franklin em
segurança. Claro que eu corria riscos, mas também correria se ficasse sozinha
aqui nesse asfalto.
— Certo — disse o senhor, novamente, com
seu sorriso no rosto. — Estou levando meu filho para casa, e você pode subir. O
assento é grande, é só você se apertar com ele aí, conseguimos ir em segurança.
Josh, você pode colocar as malas dela lá atrás?
Uh, Josh. Pegue minhas malas, Josh.
— Claro — disse ele, ecoando sua voz pela
primeira vez, me fazendo estremecer por dentro. Puxa vida, Josh. Que voz. Ele
arrumou o chapéu em sua cabeça e levantou o rosto, mostrando seu meio sorriso
para mim. Deus do Céu, que homem é este
que fizeste? Ah, esses olhos. Os olhos de Josh eram castanhos e me
encaravam de um jeito... ok, sem adjetivos para descrever esse olhar. Mas foi
inevitável olhar para o sorriso dele. Com aquele lábio e aquele piercing no
inferior.
Espera,
piercing no lábio? Um
chapéu de cowboy? All Star? Camisa xadrez e calça apertada? Que tipo de garoto
é esse?
Não importa. Josh me cumprimentou com a
cabeça e pulou do caminhão, fazendo com que eu notasse que ele é bem mais alto
do que eu, o que não é anormal. O cabelo dele, liso, estava no meio de seu
pescoço. Se ele não fosse um caminhoneiro, diria que Josh fazia alguma espécie
de tratamento capilar. Os fios pareciam completamente comportados e bonitos.
Ele agarrou minhas malas pretas e cheia de
adesivos e eu vi os músculos das suas costas se contraírem enquanto ele
jogava-as no caminhão. Voltou até mim, sorriu, e sussurrou algo como “primeiro
as damas”.
Oh, Josh. Que espécie de caminhoneiro é
você?
O caminhão é alto, e eu percebi que é
necessário uma habilidade para subir nele. Segurei no banco e tentei me
impulsionar para cima, mas vou dizer uma coisa: não é fácil quando você já não
tem mais energias por estar morrendo de fome.
De repente, senti mãos na minha cintura e
eu fui erguida. Sentei-me no assento — que de fato era grande, comparado a um
carro, ou àquele ônibus nojento — e afastei-me o máximo para que Josh se
sentasse ao meu lado. Quando vi seu rosto, sorri para ele.
— Obrigada pela ajuda — disse eu, na voz
mais meiga que tinha. O que saiu como um murmúrio esganiçado e estranho.
Parabéns, Hayley. Nota dez pra você.
Recebi outro meio sorriso como resposta, e
vi que involuntariamente, Josh mordeu o piercing em seu lábio. Oh... eu gostaria de fazer isso.
Tudo bem, tudo bem. Hora de se controlar.
Sobretudo quando Josh não faz o meu tipo de cara. Mesmo esquisito, ele ainda é
um caipira. Ele pode ter esses all stars e o piercing, as coxas e tudo mais,
mas... ainda é um caminhoneiro. Não passa nem perto dos últimos quatro caras
que namorei em Meridian.
Percebi que não me importava com isso assim
que o caminhão começou a andar e meu corpo foi levemente prensado com o dele.
Suas mãos seguraram minha cintura levemente e eu me peguei prendendo o ar,
enquanto um arrepio avassalador correu todo o meu corpo.
Puta
merda.
— Então... qual é o seu nome, garotinha? — ainda
sofrendo, virei o rosto para o senhor quando o caminhão começou a andar. Meus
pés me agradeciam por estarem suspensos.
— Hayley — disse, respirando fundo e
sorrindo, só para ser simpática. Veja só, não é tão difícil ser legal. — Mas
não me chame de garotinha, por favor. Eu tenho dezessete anos. Chega de encher
o saco por causa da minha cara de criança.
Escutei a risada de Josh atrás de mim. Uhu,
meus pelos estão arrepiados. De novo.
— Fique feliz enquanto tem cara de criança,
Criança — disse o senhor, só para me irritar. Fiz que não com a cabeça, um
sorriso brincando no meu rosto. — Quando ficar velha vai fazer de tudo para
voltar a ter essa cara de criança.
— Não, não vou — neguei de imediato. —
Quando ficar velha vou apenas fazer algo para manter a cara de adulta, mas sem
espichar toda a minha pele como minha tia avó fez. Aquilo é estranho. E vou
fazer algum tratamento para crescer, também — eu meio que dei de ombros com
cautela, para não machucar o Josh. A sensação da pele dele tão perto da minha
era algo bem legal. Seria mais
incrível ainda se a camiseta dele não fosse de mangas longas.
— Como pegar a cabeça e os pés, e começar a
puxar até esticar? — o senhor fez piada e eu ri disso. Olhei para ele e assenti
com a cabeça.
— Claro, se funcionar — disse, novamente
dando ombros. Josh continuava rindo.
— Esse é o tipo de tratamento que minha
filhinha, Belle, adoraria fazer. Ninguém é mais maluco para crescer do que ela
— o homem disse, dirigindo sem muita dificuldade. Percebi que os olhos
castanhos dele, parecidos demais com os do Josh, começaram a brilhar. — Ela só
tem quatro aninhos.
— Deve ser uma fofura — disse eu, já
começando a ficar babona também. Não me leve a mal, fico assim sempre que uma
criança é citada no assunto. — Mas é supernormal, toda criança é assim.
— Belle é muito esperta — disse o homem.
— Esperta... — a voz de Josh ecoou, e eu
agradeci por virar o meu rosto e encontrar o dele, tão perto do meu. Ele havia
feito a barba ainda essa manhã. Cheirava bem. Bem demais. — Talvez. Para mim
ela só é hiperativa demais, sabe.
Ah, Josh, essa sua voz. Esses seus lábios
quando se movem. Esse seu pescoço.
— Só são você e Belle de irmãos? —
perguntei a ele, só para escutar sua voz novamente. Josh sorriu.
— Ah, não. A família Farro é um pouco mais
extensa — disse ele, como se aquilo fosse quase uma piada.
— Além de Josh e Belle, tenho mais três —
disse o Sr. Farro, pelo que eu pude concluir. Deixei minhas sobrancelhas se
arquearem e minha boca se entreabrir. — Nate, o primogênito, tem vinte anos.
Josh tem dezoito, Zac tem quinze, Jon tem cinco e Isabelle, quatro.
— Família grande — comentei, com um
sorriso. Tanto Josh quanto o Sr. Farro sorriram. — E só o Sr. trabalha com o
caminhão?
— Não me chame de Senhor, menina — disse
ele, sorrindo. — Pode me chamar de Rick. E, sim, apenas eu trabalho com o
caminhão por que, como você disse, minha família é grande e eu tenho que dar um
jeito de sustentá-la. Nate faz faculdade na capital, então quase nunca sai
comigo. Como estamos no verão, pude trazer meus garotos para o trabalho. Zac
veio no início, e agora, Josh veio comigo. Na realidade, Josh viaja comigo
sempre que pode desde os treze anos de idade.
Eu sorri para Josh e para Rick.
— Ele dirige bem? — perguntei para Rick em
tom de gozação.
— Sim, dirige muito bem — disse Rick,
sabendo que não conseguiria falar nada contra Josh. — Me ajuda muito. Nós
revezamos o volante e, assim, conseguimos entregar bem antes do prazo. E, nas
estradas, tempo é dinheiro.
Assenti com a cabeça tranquilamente,
concordando, mesmo que não soubesse nada sobre estradas. Minha mãe é contadora,
meu pai é dentista, e não acho que a vida de Michael seja mais interessante
como professor de inglês.
— O único problema de Josh são as músicas
que ele escuta — disse Rick, fazendo-me rir e Josh dar de ombros. E que ombros.
— Não tem nada de errado com as músicas que
escuto, pai — a voz de Josh voltou a ecoar. Tentei não olhar para a boca dele. Tentei.
— Que tipo de música você escuta, Josh? —
perguntei, novamente fazendo minha voz sair esganiçada. Pigarreei.
— Rock — disse ele, mordendo o piercing. Mordendo o piercing. — O bom rock.
Algumas bandas antigas, outras mais novas, desde que façam uma boa música.
Uh, Josh Gostoso Farro tem um gosto
musical. Bom saber. Muito bom saber.
— Mas e você, Hayley? — Josh voltou o rosto
para mim, os olhos penetrando minha alma, os dentes mordendo aquele maldito
piercing. Prendi a respiração sem perceber. — Não falou nada sobre você. Por
que está indo para Franklin?
Me perdoe, querido, mas se você não parar
de morder esse piercing, eu não vou conseguir sequer lembrar o meu nome. Quanto
menos dizer o porquê de estar indo para Franklin.
— Vou morar com o meu pai — consegui achar
as palavras para dizer. — Sempre passo uma semana do verão aqui, e minha mãe
achou melhor que eu passasse os últimos anos da minha adolescência com ele.
Na realidade, ela simplesmente desistiu de
mim e achou que eu fosse uma perdida na vida, fora do caminho que Deus traçou
para mim. Josh não precisava saber disso.
— Quem é o seu pai? Eu conheço quase todos
os caras daquela cidade... — disse Rick, os olhos grudados na estrada,
tranquilos.
— Joey Williams — disse eu, torcendo os
lábios. Rick nem sequer se esforçou para se lembrar.
— Ah! — exclamou ele. — O dentista!
— Isso — eu disse, sorrindo.
— Ele vai precisar me fazer um desconto no
aparelho do Zachary depois de saber que eu dei carona para a menina dele — Rick
disse com um sorriso no rosto, claramente brincando com a situação, e eu
deixei-me sorrir também. Olhei para minhas próprias mãos e esfreguei uma na
outra, só para que não notassem que meu subconsciente estava secando as pernas
maravilhosamente torneadas de Josh. Quase perguntei se ele jogava futebol ou
vôlei, mas achei melhor calar minha boca.
Perguntas idiotas previnem explicações
constrangedoras.
Felizmente (ou infelizmente, dependendo do
ponto de vista), não estávamos muito longe de Franklin. Rick Farro me contou
que, apesar de cada vez mais populosa, Franklin não era uma cidade extensa e
muito boa de andar — o que foi bom saber, uma vez que quando passo uma semana
aqui, geralmente só saio para onde meu pai me leva. Nunca aprendi o caminho de
uma rua à outra, por exemplo. De qualquer maneira, ele me assegurou de que eu
não me perderia por lá.
Logo passamos pela placa de boas vindas à
cidade, e foi aí que percebi que não sabia o endereço do meu pai. Na realidade,
ele disse que me pegaria na rodoviária às 17h, quando saísse do consultório.
Feliz, vi que no relógio ainda constava 16h40. Se eu chegasse em casa a tempo,
poderia avisar Cate — minha madrasta — para ligar e dizer que eu já havia
chegado. Agora só precisava saber como chegar
lá.
Droga. Podia estar com o meu celular.
— Vou deixar Josh na casa dele e levar o
caminhão para a garagem do outro lado da cidade. Onde podemos te deixar?
Estava tão absorta nos meus pensamentos que
não percebi que Rick falava comigo. Ainda meio zonza com a proximidade do corpo
de Josh em relação ao meu — não consegui me acostumar —, virei meu rosto e
torci os lábios.
— Poderia me deixar na casa do meu pai? —
perguntei inocentemente, torcendo que Rick não percebesse que eu não tinha
ideia de onde ela ficava.
— Ah, claro. Te deixo na avenida do parque,
onde vou deixar Josh, e você desce a rua — disse ele. Respirei fundo, me dando
conta de que ele achou que eu sabia exatamente onde a casa do meu pai ficava,
como eu queria. Mas não me ajudando da forma que eu precisava.
— Que rua? — perguntei, sorrindo, tentando
ser minimamente fofa. — É que meu pai ficou de me pegar na rodoviária às 17h,
por isso não sei como chegar lá.
Pronto, não havia sido tão difícil.
Rick sorriu.
— Somos quase vizinhos, Criança — disse
ele, tranquilamente. — Moramos a duas ruas de distancia. Josh pode te levar até
a sua casa.
— Claro que posso — disse Josh ao meu lado,
fazendo com que eu sentisse seu hálito no pé da orelha. Droga. Sua voz estava com uma pitada de malícia escondida ou isso
tudo era impressão minha?
Tentei sorrir, tonta demais.
— Legal, obrigada — disse, virando o rosto
e encontrando os olhos de Josh me encarando. Eram castanhos, vivos,
penetrantes. Pareciam ir além de mim, maliciosos, sombrios, malvados. Estremeci
mesmo sem querer.
Subitamente a ideia de ficar sozinha com
Josh fez meu estômago se revirar de ansiedade.
De fato, Rick só precisou andar com seu
caminhão vazio por mais quatro minutos até eu perceber que ele parava.
Despediu-se de mim enquanto Josh abria a porta e saltava para fora, e eu
retribuí com um sorriso, agradecendo a carona. Acho que em toda a minha vida,
eu nunca havia sido tão simpática.
Me virei pronta para saltar do caminhão,
mas Josh me esperava com um sorriso quase safado no rosto — ou talvez eu estava
vendo coisas demais. Estendeu uma mão pra mim, e a instrução era clara: se precisou de ajuda pra subir, vai precisar
de ajuda para descer.
Normalmente, eu o mandaria para o inferno e
daria um jeito de descer, mas por algum motivo não queria discutir com ele. Não
por ele querer me tocar. Por que, posso garantir, o toque de Josh é algo bem
legal de se sentir.
Por isso agarrei sua mão e quando saltei,
minha queda foi quase amortecida pela outra mão que ele passara pela minha
cintura. Senti meu rosto enrubescendo e agradeci enquanto me dirigia para a
caçamba do caminhão, onde minhas malas estavam guardadas. Arrastei-as até o
chão, fazendo-as cair, e logo o caminhão de Rick não estava mais a nossa
frente.
Dei uma volta completa, trezentos e sessenta
graus, procurando ver algo que achasse familiar. Via uma espécie de praça,
muitas árvores, balanços e um escorregador, algumas crianças brincando.
Provavelmente o parquinho ao qual Rick se referiu.
— Perdida, baby? — perguntou Josh, o mesmo
sorriso nos lábios.
Baby! Ok, o que mais me
incomodava naquele garoto era não saber o que ele estava pensando. Era mistério
demais. A coisa toda do chapéu e do all star, esse olhar
“porque-você-ainda-está-vestida?” e esse sorriso malicioso. Coisa demais para a
minha cabeça. Não sabia se ele estava caçoando de mim ou me cantando.
Sinto que terei muitos problemas com essa
cidade.
— Totalmente perdida — assumi, dando
ombros. Não iria demonstrar que estava a fim dele. Segurei a alça de uma das
malas e comecei a arrastar, enquanto Josh pegava a outra e carregava-a
tranquilamente.
Tranquilamente.
Sem
nenhuma dificuldade. A mala mais pesada!
Meu Deus.
— Sua casa fica por ali — ele apontou ao
norte, uma rua larga, casas coloniais com quintais enormes e verdes. Parecia uma cena de filme. — A minha fica para lá — ele apontou para o fim do parque, um
quarteirão depois, uma rua que eu não conseguia ver mas suspeitava que era
igual a minha. — Vamos?
Assenti, e começamos a andar um do lado do
outro pelos quintais das pessoas.
— Está em que ano? — Josh me perguntou e eu
demorei até perceber que ele falava de escola.
— Vou começar o terceiro depois desse verão
— disse eu. — E você?
— Também vou começar o terceiro — disse
ele, jogando a cabeça para trás. Seu chapéu com pingente de cruz caiu para
trás, preso agora pelo pescoço, mostrando seu cabelo liso grande e pouco
bagunçado. Seu rosto moreno era mais bonito ao sol. — Espero que peguemos as
mesmas aulas.
Sua voz tinha um tom gozado e malicioso ao
mesmo tempo em que me fazia estremecer por dentro. Como lidar com isso?
— Tomara, cowboy — disse eu, abusando de
meu tom malicioso também. Há! Nesse jogo jogam dois.
A brincadeira fez seu sorriso safado se
tornar uma risada.
— Gostei do apelido, baby — disse ele, os
dedos correndo pelos fios lisos e aparentemente grudados pelo suor.
Comecei a reconhecer a rua. Conseguia ver a
casa do meu pai a poucos passos de onde estávamos.
— Só você — disse no automático, e não me
arrependi. Baby não é um apelido que eu goste de receber. Mas algo me dizia lá
dentro que Josh nunca mais me chamaria de outro nome.
Tive que parar o passo de repente. Em meio
aos meus pensamentos, nem percebi que Josh se jogara a minha frente sem nenhum
aviso. Agora seus olhos me devoravam, intensos. Engoli em seco quando ele
retirou minha mão da mala lentamente, segurando-a com cautela, massageando o
polegar na palma.
— Não gosta de baby, baby? — perguntou ele,
aproximando seus lábios do meu rosto. Caramba.
Estava completamente perdida e sem reação.
Isso nunca havia acontecido antes.
— Não gosto, não — disse eu. Estava
tentando manter minha dignidade, mas tinha total consciência de que minha
expressão corporal devia estar dizendo algo como “me possua agora” a ele. Entretanto,
não conseguia me afastar. Não conseguia sair daqueles braços.
— Que pena... — sussurrou ele, a mão forte
correndo pela minha cintura. Autocontrole, Hayley! Isso não deveria estar
acontecendo! — Vamos ter que achar algo que você goste, baby.
Sem
que eu tivesse tempo para pensar em sua frase, de repente, os lábios de Josh
estavam grudados nos meus. E sentindo o gosto de seu hálito contrastando com
seu piercing gelado e delicioso, percebi que talvez ter xingado o motorista do
ônibus talvez não tenha sido uma ideia tão ruim assim.
E aí, deram umas risadas? AEHUAEUHAE
Adoro essa fic! Hayley é minha personagem mais foda, vcs puderam ver
s2s2 isso por que ela ainda não deu um ataque de nervos. Nota-se que ela é meio
irritada com tudo.
Isso quando Josh não está perto APOSKPOASK QUEM AMODOROU O JOSH LEVANTA
A MÃO PFVR. Já que temos uma Hayley pervertida, por que não um Josh pior? Ora
<3
ASOKAOAKLSOPKPÃOS GENTE, DAQUI A CINCO DIAS É ANIVERSÁRIO DO TAYLOR E
ETC. Tô pensando em fazer um especial (com a a participação ilustre de nossa
Natsssss <3). E também vou att nesse dia, uma fanfic, que pode ser qualquer
uma das três (Renascer, Trucker e Sex and Stuff, que virá hoje a noite). Por
favor, escolham uma :3
E... também tô fazendo um Fic Trailer pra Renascer que sairá em breve.
E... não tenho mais novidades. Por favor comentem pra mim *U*
LOVE YOU, babys.
(paslka~pslã´spl pfvr josh <3)
Muito amor,
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